domingo, 31 de janeiro de 2010

Ecologia do Desenvolvimento Humano


Link: Ecologia do Desenvolvimento Humano

São precisos novos planos para alunos em dificuldades


Os planos de recuperação nasceram através de um despacho de Dezembro de 2005 que instituiu, também, os planos de acompanhamento e os de desenvolvimento. Se estes últimos se destinam a estudantes com capacidades excepcionais, os de acompanhamento dirigem-se a crianças que ficaram já ficaram retidas e visam evitar reprovações repetidas, sendo aplicados desde o início do ano lectivo. Aos planos de recuperação são submetidos os alunos que apresentam indícios de que poderão vir a reprovar e que são identificados no final do primeiro período (se tiverem classificação negativa a três ou mais disciplinas) ou, então, nesta altura do ano, após os primeiros testes do período, antes das miniférias de Carnaval.

O objectivo dos planos é dar àquelas crianças tratamento especial e individualizado. Os de recuperação, nomeadamente, incluem medidas a desenvolver pela escola (como "acções de pedagogia diferenciada em sala de aula", actividades de compensação ou aulas extra) e implicam o envolvimento do próprio aluno (que se compromete a fazer os trabalhos de casa ou a estar atento nas aulas, por exemplo) e dos seus pais (a quem é pedido que se assegurem de aspectos como a assiduidade e a pontualidade dos filhos ou que vão observando os cadernos diários).

A questão é que os dados mais recentes que o Ministério da Educação (ME) disponibiliza, referentes ao ano lectivo 2007/2008, "não são animadores", como frisou, em declarações ao PÚBLICO, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida.

O que falhou?

Num universo de 764 mil alunos contabilizados (os do Centro do país não foram tidos em conta) foram aplicados, naquele ano, 187.638 planos de recuperação e 40.201 planos de acompanhamento, números que surpreenderam o próprio secretário de Estado que assinou o despacho, Valter Lemos. "Seria de esperar que não houvesse tantos alunos com tantas dificuldades", comentou, na altura.

No final do ano, os resultados escolares provocaram manifestações de regozijo comedidas entre os governantes. Apesar de uma ligeira melhoria em relação ao ano anterior, a taxa de reprovações manteve-se alta entre os alunos submetidos aos dois tipos de plano: cerca de um quarto dos elementos de cada grupo não transitou.

"É de saudar qualquer evolução positiva, nomeadamente o aumento das transições em nove por cento e a diminuição das retenções em oito por cento entre os alunos com planos de recuperação. Mas, globalmente, o número de retenções continua a ser uma tragédia", avalia Albino Almeida.

O presidente da Confap considera que "a falha" resulta do facto de os planos assentarem "num tripé - escola, aluno e família - com dois pés de duvidosa sustentabilidade". "A legislação manda que se envolva a família mas, na maior parte dos casos, os pais destas crianças estudaram menos do que os filhos ou já não se lembram do que aprenderam ou têm dois empregos para os sustentarem, não dispondo de conhecimentos e de tempo para os apoiarem", especifica.

"Processo burocrático"

Em relação aos alunos, "crianças completamente desmotivadas", Albino Almeida acredita que a solução é "antecipar a orientação vocacional e aumentar e diversificar as alternativas de formação profissional". Não culpa os professores: "Para além de ser difícil envolver o aluno e a família, o processo é complexo e burocrático", considera.

Aquela é uma ideia que Ana Paula Cardoso, docente de Português e membro do Conselho Nacional da Associação Nacional de Professores, reforça: "Passa pela cabeça de alguém que olhemos para um aluno com dificuldades e não façamos os possíveis e os impossíveis para o ajudar? Antes de a lei a isso obrigar já nós fazíamos o previsto nos actuais planos de recuperação; só não perdíamos tanto tempo a preencher papeladas."

Ana Paula Cardoso e Pedro Araújo, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, alertam que a "atenção individualizada a um aluno não se decreta". "É necessário criar condições que não existem: as turmas têm um número demasiado elevado de alunos, dos quais vários com planos de apoio e de recuperação; os programas das diversas disciplinas são extensos; não há professores disponíveis para darem o número de aulas de apoio que seria desejável...", enumera Pedro Araújo.

Ambos reclamam, como o presidente da Confap, a reavaliação das medidas. "Irão verificar que a maioria recupera à semelhança do que acontecia antes, sem despachos e burocracias", assegura Ana Paula Cardoso. Alerta que, "muitas vezes, um professor ter tempo para se sentar com um aluno e conversar durante uma hora é mais proveitoso do que dar-lhe cem horas de aulas de apoio". "Confiem em nós, deixem-nos trabalhar", pede.


C.M.

Legislação



 

Publicado em Diário da República

 
― Portaria n.º 25/2010. D.R. n.º 6, Série I de 2010-01-11, do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social
Aprova o regulamento de extensão das alterações dos CCT para o ensino particular e cooperativo não superior.
http://dre.pt/pdf1sdip/2010/01/00600/0015300154.pdf
 
― Despacho n.º 645/2010. D.R. n.º 6, Série II de 2010-01-11do Ministério da Educação ― Gabinete da Ministra
Designa como membro do conselho científico para a avaliação de professores o educador de infância Luís Alberto da Gama Freixo Silva Ribeiro.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/006000000/0118701187.pdf
 
― Despacho n.º 646/2010. D.R. n.º 6, Série II de 2010-01-11, do Ministério da Educação ― Gabinete da Ministra
Designa como membro do conselho científico para a avaliação de professores o professor Domingos Ferreira Pereira dos Santos.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/006000000/0118701187.pdf
 
― Acordo n.º 2/2010. D.R. n.º 6, Série II de 2010-01-11, do Ministério da Educação e Município de Estremoz
Acordo de colaboração celebrado entre a Direcção Regional de Educação do Alentejo e o Município de Estremoz.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/006000000/0120001200.pdf
 
― Acordo n.º 3/2010. D.R. n.º 6, Série II de 2010-01-11, do Ministério da Educação e Município de Évora
Acordo de colaboração celebrado entre a Direcção Regional de Educação do Alentejo e o Município de Évora.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/006000000/0120001201.pdf
 
― Despacho n.º 721/2010. D.R. n.º 7, Série II de 2010-01-12, da Presidência do Conselho de Ministros e Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social, da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Renova a comissão de serviço da licenciada Maria Isabel Duarte no cargo de directora da Agência Nacional para a Gestão do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/007000000/0136501366.pdf
 
― Despacho n.º 754/2010. D.R. n.º 7, Série II de 2010-01-12, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica em Animação em Turismo de Saúde e Bem-Estar proposto pela Escola Profissional Vértice.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/007000000/0143701439.pdf
 
― Despacho n.º 755/2010. D.R. n.º 7, Série II de 2010-01-12, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica em Aplicações Informáticas de Gestão proposto pela Escola Profissional Almirante Reis.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/007000000/0143901442.pdf
 
― Despacho n.º 756/2010. D.R. n.º 7, Série II de 2010-01-12, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica em Gestão da Qualidade e do Ambiente proposto pela Escola Profissional Tecnológica do Vale do Ave.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/007000000/0144201444.pdf
 
― Contrato n.º 17/2010. D.R. n.º 7, Série II de 2010-01-12, do Ministério da Educação e Município de Castelo Branco
Aditamento ao contrato de execução n.º 171/2009, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 140, de 22 de Julho de 2009 - Município de Castelo Branco.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/007000000/0145301453.pdf
 
― Resolução do Conselho de Ministros n.º 1/2010. D.R. n.º 8, Série I de 2010-01-13, da Presidência do Conselho de Ministros
Ratifica actos procedimentais praticados no âmbito do concurso público n.º 01/DREC-ASE/2009, para a adjudicação do fornecimento de refeições escolares no ano lectivo de 2009-2010.
http://dre.pt/pdf1sdip/2010/01/00800/0016500166.pdf
 
― Despacho n.º 829/2010. D.R. n.º 8, Série II de 2010-01-13, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica em Condução de Obra, proposto pela Escola Profissional de Torredeita.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/008000000/0167201674.pdf
 
― Despacho n.º 830/2010. D.R. n.º 8, Série II de 2010-01-13do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica de Animação em Turismo de Saúde e Bem-Estar, proposto pela Escola Profissional de Torredeita.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/008000000/0167401675.pdf
 
― Despacho n.º 831/2010. D.R. n.º 8, Série II de 2010-01-13, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Cria o curso de especialização tecnológica em Automação, Robótica e Controlo Industrial proposto pela Escola Profissional de Torredeita.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/008000000/0167501677.pdf
 
― Acordo n.º 4/2010. D.R. n.º 8, Série II de 2010-01-13, do Ministério da Educação e Município de Alvito
Acordo de colaboração para a construção da Escola Básica do Alvito, celebrado entre a Direcção Regional de Educação do Alentejo e o Município de Alvito.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/008000000/0168501685.pdf
 
― Despacho n.º 877/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, da Presidência do Conselho de Ministros e Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação
Nomeia para a Agência Nacional para a Qualificação, I. P., os seguintes órgãos: Prof. Doutor Luís Manuel Antunes Capucha, para o cargo de presidente, e para os cargos de vice-presidentes, mestre Maria do Carmo Gomes e licenciado Paulo Alexandre Faria Condeça Feliciano.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0185501855.pdf
 
― Aviso n.º 919/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação - Inspecção-Geral da Educação
Abertura de concurso para destacamento nas escolas europeias.
Inscrições para a docência no Ciclo Primário na Escola Europeia de Luxemburgo I, no Luxemburgo.
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189401895.pdf
 
― Aviso n.º 920/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação - Inspecção-Geral da Educação
Abertura de concurso para destacamento nas escolas europeias (código de recrutamento 500).
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189501896.pdf
 
― Aviso n.º 921/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação - Inspecção-Geral da Educação
Abertura de concurso para destacamento nas escolas europeias (código de recrutamento 300).
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189601896.pdf
 
― Aviso n.º 922/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação - Inspecção-Geral da Educação
Abertura de concurso para destacamento nas escolas europeias (código de recrutamento 520).
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189601897.pdf
 
― Acordo n.º 5/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação e Município de Lagos
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189701897.pdf
 
― Acordo n.º 6/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação e Município de Lagos
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189701898.pdf
 
― Acordo n.º 7/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação e Município de Loulé
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189801898.pdf
 
― Acordo n.º 8/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação e Município de Portimão
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189801899.pdf
 
― Acordo n.º 9/2010. D.R. n.º 9, Série II de 2010-01-14, do Ministério da Educação e Município de São Brás de Alportel
http://dre.pt/pdf2sdip/2010/01/009000000/0189901899.pdf
 
 
 
Para publicação em Diário da República
 
― Despacho da Ministra da Educação
Nomeia a Mestre Maria Margarida Dias Pereira de Matos, para exercer o cargo de subdirector-geral da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação.
 
― Despacho da Ministra da Educação
Nomeia para exercer o cargo de subdirector-geral da Direcção -Geral dos Recursos Humanos da Educação, do Ministério da Educação, a Licenciada Maria Helena Serol Mascarenhas.
 


Informações Gerais
 
― Dia do DNA
Concurso europeu organizado pela Sociedade Europeia de Genética Humana (ESHG), dirigido a alunos do ensino secundário entre os 14 e os 18 anos.
Para mais informações: www.drec.min-edu.pt/
 
― GRIPE A (H1 N1)
Consulte toda a informação, documentação e propostas de actividades para crianças e jovens em idade escolar no site da Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC).
Para mais informações: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/
 
― 1.º Concurso de Árvores de Natal e Presépios de 2009
A Direcção Regional de Educação do Alentejo lançou o 1.º Concurso de Árvores de Natal e Presépios de 2009, com o objectivo de mostrar as Boas Práticas das nossas escolas, relacionadas com esta época festiva.
Para mais informações: www.drealentejo.pt/
 
― Concurso de Criatividade Grande C
Trata-se de um projecto dirigido aos alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, sobre os temas do Direito de Autor e Direitos Conexos.
A inscrição pode ser feita entre 15 de Janeiro e 31 de Março de 2010 .
Para mais informações: Concurso de Criatividade Grande C
 
― Mostras em Educação
As Mostras em Educação pretendem divulgar projectos de escolas, bem como dar visibilidade a programas e projectos desenvolvidos pela DGIDC.
Para mais informaçõeswww.dgidc.min-edu.pt
 
― Informações-Exame 2009-2010
Encontram-se disponíveis as informações relativas aos exames que se irão realizar no corrente ano lectivo.
Para mais informações: GAVE: Informações-Exame 2009-2010
 
― Educacao Inclusiva: da retórica à pratica
Encontra-se disponível, para consulta, publicação que descreve de forma sucinta as mudanças mais significativas ocorridas entre 2005-2009 no domínio da Educação Especial. Este documento testemunha o trabalho realizado e ajuda a esclarecer o enquadramento que hoje existe em Portugal nesta área da educação.
Para mais informações: sitio.dgidc.min-edu.pt


sábado, 30 de janeiro de 2010

Pai foi à escola agredir criança

O que parecia ser um conflito entre crianças acabou por levar um pai a agredir um aluno do Infantário e Escola Primária de Eiras, em Paradela do Vouga, no concelho Sever do Vouga. O caso aconteceu no final da semana passada, está a ser investigado pelas autoridades, e levou a escola a proibir a entrada dos pais no estabelecimento de ensino.

Já há mais de um ano que os problemas entre uma menina de seis anos e três outros alunos eram do conhecimento da direcção da escola. "Os professores já tinham chamado o meu filho e outros dois para uma reunião, no final do ano passado", refere Dina Manuela, mãe de uma das crianças. Em causa estavam alegadas agressões de que era alvo a menina, que frequenta o 1º ano.

Na semana passada, o pai da menina, engenheiro de profissão, pediu para entrar na escola para ir à casa de banho. Já lá dentro, pediu à filha para lhe indicar quem eram as crianças que alegadamente lhe batiam, dirigiu-se a um deles e agrediu-o. "O meu filho diz que nunca lhe bateu. Dava-lhe empurrões, mas nunca a magoou", referiu Dina Manuela, mãe da criança agredida. "Disse às crianças que lhes tirava os olhos e que os matava, puxou as orelhas ao meu filho, de 9 anos, empurrou-o contra os cabides e só parou porque apareceram as funcionárias da escola e uma professora", remata.

C.Manhã


Estudo Acompanhado - Ficha de Trabalho de Matemática



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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Pais preocupados, escola a tempo inteiro e… novas oportunidades


Muitas das crianças e jovens que hoje integram o Sistema Escolar são, literalmente, filhos do insucesso e do abandono, questionamos toda uma organização que reduz o tempo de convívio diário entre pais e filhos.

O discurso em torno de uma suposta situação calamitosa do Sistema Escolar Público e, consequentemente, dos alunos que o frequentam é recorrente. Por força de uma mediatização cirurgicamente exponenciada da voz de diversos fazedores de opinião transformados em especialistas ad-hoc da coisa da educação, aquele discurso tem vindo a engrossar os contributos do neoliberalismo para o enfraquecimento do público em favor do privado.

Além do tratamento indiscriminado que globalmente apresenta de educação e ensino, trata-se de um discurso falacioso que, sob a capa de crítica à instituição escolar, mais não faz do que veicular despudoradamente a lógica neoliberal e conservadora de responsabilização das vítimas pelos seus próprios insucessos.

Entre outras dimensões ou vectores de análise esquece que muitas das crianças e jovens que hoje integram o Sistema Escolar são, literalmente, filhos do insucesso e do abandono. Embora longe de perspectivas determinísticas ou fatalistas da análise social, queremos com isto dizer que basta resgatar para essa análise as estatísticas sobre o insucesso e o abandono escolares das últimas décadas para rapidamente se poder concluir que o que realmente está em causa é a injustiça social que tem grassado na sociedade portuguesa e, consequentemente, a desigualdade no acesso aos mais diversos meios indutores e facilitadores do desenvolvimento.

Se é verdade que temos vários problemas no ensino que urge resolver, o que, do nosso ponto de vista, passa pela reconfiguração da própria instituição escolar, dos seus desígnios e dos seus modus operandi, considera-se que o que realmente se coloca em questão na actualidade são questões de educação, no seu sentido mais vasto, que embora se situem a montante da sala de aulas e da escola consubstanciam de forma omnipresente tudo quanto nelas se passa no seu quotidiano.

Vem isto a propósito de uma situação recentemente vivida: a D. Carla, chamemos-lhe assim, é mãe de um menino de 8 anos que frequenta o 3º ano de escolaridade. Empregada fabril que trabalha por turnos e que tem que deixar os filhos bem cedo entregues a uma ama, é uma mãe muito presente na escolaridade do filho e com permanentes preocupações relativamente ao seu desempenho escolar. Contacta amiúde com o professor para obter informações e gizar com ele estratégias de acompanhamento ao estudo em casa. Vive intensamente as dificuldades escolares do filho. Diz que já não sabe mais o que lhe há-de fazer até porque lhe dizem que o pai da criança também era um pouco assim. Diz que já não o consegue aturar e que até pensou que o melhor será reprová-lo para ver se melhora. Diz que já lhe prometeu uma “moto-quatro”, mas que por enquanto não vê jeitos de lha poder dar… “Ó senhor professor, olhe que nem com isto ele lá vai! O que é que eu faço?”.

Situações deste tipo não constituem algo de novo, ou extraordinário, no dia-a-dia de uma escola, no entanto, colocam, hoje, os professores que com elas são confrontados perante novas e muito pertinentes questões.

Desde logo, o acompanhamento que os pais fazem da vida escolar dos seus filhos, quando a actual equipa do Ministério da Educação enaltece as virtualidades do denominado programa de “Escola a tempo inteiro” e o dirigente máximo da Confederação Nacional das Associações de Pais advoga o alargamento do período de funcionamento das escolas da rede pública para as doze horas diárias. Pois, se somos defensores de uma escola pública que vá ao encontro das necessidades dos cidadãos, sejam eles pais trabalhadores com horários de trabalho alargados e desregulados, ou crianças provenientes de estratos sociais desfavorecidos que de outra forma não teriam acesso a uma refeição quente ou a aulas de Educação Musical, questionamos vivamente toda uma organização societal que tem reduzido a níveis muito preocupantes o tempo de convívio diário entre pais e filhos.

Interrogamo-nos também se a facilidade e rapidez com que as “novas oportunidades” concedidas àqueles que se viram precocemente afastados da escola – os pais das crianças que frequentam actualmente as nossas escolas – permitem que estes obtenham um diploma, não estará a contribuir para que os seus filhos – que hoje iniciam um percurso que a breve trecho terá obrigatoriamente doze anos – encarem com algum desmazelo as suas tarefas escolares, sabedores de que no futuro lhes será concedida uma “nova oportunidade”, eventualmente menos trabalhosa.




Joaquim Marques
ICE - Instituto das Comunidades Educativas
Rui Pedro Silva
CICS - Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho

I FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA DA JUVENTUDE


A República da Eslováquia está a organizar o I FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA DA JUVENTUDE, que decorrerá entre 8 e 11 de Julho de 2010 na cidade de Bratislava, e que visa reunir jovens músicos provenientes de vários países do mundo, proporcionando-lhes uma experiência única, nos domínios artístico e cultural.

Assim, considerando o interesse deste Festival para a promoção da inclusão social e cultural e para o estabelecimento de parcerias, convidam-se os alunos de todos os níveis e modalidades de ensino a participar nesta iniciativa, que terá lugar na Performing Arts University de Bratislava, nas categorias de Coro e de Orquestra.

Para mais informações consultar http://www.choral-music.sk/en/festival/detail/5 e contactar o Director Artístico do Festival, Dr. Milan Kolena através do seguinte endereço electrónicoinfo@choral-music.sk.


Os concorrentes deverão inscrever-se até ao dia 15 de Abril de 2010, 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

São precisas mais escolas de segunda oportunidade em relação à escolaridade formal


EDUCAÇÃO DE SEGUNDA OPORTUNIDADE

Todos os anos, cerca de quinze mil jovens portugueses saem da escola sem completarem o nono ano de escolaridade, aumentando as fileiras de cidadãos desqualificados. A Educação de Segunda Oportunidade, lançada na Europa em 1995, quer assumir-se como uma resposta educativa alternativa em relação sos sistemas formais de educação e formação. Para saber mais sobre este projecto, conversámos com Luís Mesquita, um dos mentores deste projecto em Portugal e presidente da Associação para a Educação de Segunda Oportunidade (AE2O).

Em que contexto surge esta escola?

Esta escola surge no âmbito do Projecto Europeu das Escolas de Segunda Oportunidade, projecto-piloto da Comissão Europeia iniciado em 1999 e prolongado até 2004, através do qual se criou uma rede de escolas - na qual chegou a estar incluída uma escola localizada no Seixal que, no entanto, acabou por encerrar. É em 2004, precisamente quando este projecto-piloto estava na sua fase final, que um grupo de professores destacado numa escola do concelho de Matosinhos abrangida pelo Programa Integrado de Educação e Formação na Escola (PIEFE), onde eu próprio me incluía, toma conhecimento dele. Na altura pareceu-nos que os intercâmbios internacionais previstos no projecto poderiam, de alguma maneira, ajudar os nossos alunos, pelo que estabelecemos um intercâmbio com uma escola dinamarquesa que integrava a rede. Nesse mesmo ano decidimos fundar a Associação para a Educação de Segunda Oportunidade (AE2O) e iniciamos o caminho que nos levou à abertura desta escola.

A associação tem um âmbito europeu e nacional?

O financiamento do projecto foi assegurado pela Comissão Europeia até 2004. Quando ele cessou muitas escolas fecharam portas. Depois disso, as escolas que permaneceram em funcionamento criaram uma rede a nível europeu através de uma associação de carácter não-governamental. Esta rede europeia, porém, é mais do que uma mera associação de escolas, porque inclui também autarquias e outras associações não-governamentais. Tem, por assim dizer, três níveis de filiação. Neste momento somos membros dessa rede como organização, porque o nosso processo de acreditação como escola está ainda a decorrer.

Esta escola distingue-se das do ensino formal sobretudo pela especificidade da sua oferta educativa. Pode elucidar-nos acerca deste aspecto?

Estas escolas surgem na medida em que existe um público europeu jovem, na faixa etária dos 15 aos 25 anos, caracterizado por baixas qualificações, pelo risco de exclusão social e, consequentemente, pela dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, para o qual as respostas educativas formais são inadequadas. Neste sentido, as escolas de segunda oportunidade constituem sobretudo uma proposta motivacional, proporcionando uma oferta educativa que desperte interesse a estes jovens e lhes permita, entre outras coisas, regressar a um percurso formativo.

Cada formando tem à disposição oficinas vocacionais – electricidade, electrónica, construção civil, cozinha, hotelaria, turismo, multimédia e informática - onde ocupa a parte mais significativa do seu horário, complementada com actividades de educação artística, que incluem dança, música, grafitti, teatro, malabarismo, etc, representando cerca de um quinto do horário semanal de formação. Parte desta formação é dada por formadores estrangeiros convidados e por parceiros de projectos de outras organizações europeias.

Esta oferta concretiza-se não só através de uma componente vocacional associada a actividades de formação profissional, que procuramos serem ajustadas às necessidades do mercado de trabalho local, mas também a uma componente de aconselhamento e orientação, desenvolvida por um conjunto de técnicos que, assumindo um papel de tutor, se preocupam com os problemas destes jovens, estabelecendo com eles relações fortes de comunicação. Ou seja, ocupamo-nos de questões que não se limitam ao foro educativo, nomeadamente com os rendimentos das famílias, com a preocupação em assegurar o rendimento mínimo, a habitação, etc.

Estas escolas não estão incluídas na rede de ensino formal...

Não. Estas escolas resultam essencialmente de um esforço conjunto da comunidade local, desde os responsáveis educativos, às empresas, passando pelos organismos locais. Cada país tem, no entanto, um modelo próprio. Na Dinamarca, por exemplo, é um sistema público, em cada município existe uma escola de segunda oportunidade integralmente financiada pelo Estado.

No nosso caso resulta de uma parceria entre o Ministério da Educação, a Câmara Municipal de Matosinhos e a nossa associação. Uma das exigências deste modelo de escolas, aliás, passa pelo envolvimento de uma autoridade local.

Pelas características que nomeou, o projecto educativo deve assentar sobretudo em planos individuais de formação...

Precisamente. Um plano individual de formação onde procuramos combinar os interesses dos jovens com as ofertas da escola, o equilíbrio entre aquilo que os motiva e aquilo que precisam para desenvolver um conjunto de competências pessoais e sociais. A nossa principal ambição é manter estes miúdos connosco. Abrimos a escola com 45 jovens e decorridos quatro meses não temos nenhuma desistência. Para nós isso é uma vitória.

Paralelamente, temos também o objectivo de certificar a aprendizagem. Apesar de este tipo de escola não ter como principal objectivo a certificação, ela foi incorporada no nosso projecto educativo porque estes jovens precisam dela. E muitas vezes temos de negociar esse percurso com os jovens, porque eles acabam por ter actividades de formação de que não gostam muito, mas que são indispensáveis para entrar nesse percurso de certificação.

De que forma se processa essa certificação?

Actualmente temos dois percursos de certificação, um correspondente ao 6º ano, outro ao 9º ano. Até porque temos também dois tipos de público: os jovens adultos, maiores de 18 anos, para os quais existe um protocolo com os centros de novas oportunidades – a formação é da nossa responsabilidade, a certificação cabe ao CCRV; e os mais jovens, em que o processo de certificação é feito em colaboração com a Escola Secundária Óscar Lopes, em Matosinhos, ou com centros de formação profissional com quem articulamos a formação correspondente ao 9ºano. É um modelo muito flexível, os problemas vão sendo resolvidos à medida que vão aparecendo. Estamos a aprender fazendo.

Para além do protocolo existente entre o ME e a autarquia de Matosinhos, com que tipo de apoios institucionais e financeiros contam?

Este projecto nasceu do impulso da nossa associação. É, acima de tudo, um projecto associativo que congrega profissionais de educação que não se conformam com a situação destes e de outros jovens. Nós pensamos que o abandono escolar resulta de uma dupla realidade: é feito de abandonantes e de abandonados – porque, num certo sentido, o sistema educativo os abandonou a eles. Nós sentimos que as escolas têm uma responsabilidade para com estes jovens e achámos, nesse sentido, que fazia falta este tipo de resposta. Basta dizer que começamos com 45 jovens e temos uma lista de espera enorme. Nos primeiros três meses de funcionamento fomos contactados diariamente por instituições como as comissões de protecção de menores, equipas da segurança social e instituições que trabalham com crianças e jovens a sinalizarem-nos casos. Isto significa que este tipo de resposta é indispensável e que existe uma franja de jovens a que não estamos a conseguir responder.

Será que a resposta a este tipo de problemas não passará, entre outras possibilidades, por uma nova oferta curricular e por um leque mais alargado de currículos vocacionais nas escolas do ensino regular?

Eu acho que este é um trabalho que deveria envolver um maior número de instituições. As estatísticas mostram que em Portugal cerca de 20 por cento dos jovens não conclui o 9º ano. O que é muito preocupante, não existe outro país na Europa na mesma situação. E o problema não está na falta de respostas, está no modelo dessas respostas, que não conseguem envolver todos os jovens. É preciso, portanto, haver propostas de maior retaguarda em relação às respostas formais. E porventura outro tipo de respostas ainda mais recuadas em relação àquelas que nós oferecemos, porque existem jovens que nem sequer para este tipo de oferta educativa estão preparados.

Estes jovens contam com algum tipo de apoio à saída?

Nós encaramos este projecto de uma perspectiva socioeducativa, cujo objectivo passa, acima de tudo, por ajudá-los a prepararem-se para enfrentar os espaços de formação nos quais possam vir a reingressar ou directamente os espaços de trabalho. Eu acredito que eles próprios, resolvendo alguns dos seus problemas e estruturando-se pessoalmente, serão capazes de responder e de se integrarem de forma capaz. Temos noção, porém, que as oficinas de formação vocacional, ao prestarem serviços à comunidade, podem assumir um papel importante nessa reintegração. E esse é um trabalho no qual estamos também apostados, o de criar uma rede de locais de estágio, trabalhando em parceria com empresas e instituições que se queiram articular connosco.

Partindo deste relativo curto período de experiência, que outros desafios se colocam a um projecto desta natureza?

Eu julgo que existem resultados muito positivos nestes quase cinco meses de trabalho. Estamos a trabalhar com 45 jovens que estavam em abandono escolar, muitos deles há três, quatro, cinco anos, que nunca haviam estado mais do que uma semana em lado nenhum. E aqui estão há cinco meses, diariamente, o que na minha opinião é um resultado absolutamente extraordinário.

Partindo daqui, penso que o principal desafio será agora estruturar melhor o nosso trabalho. Apesar de termos trabalhado neste projecto praticamente dois anos, ele foi lançado muito em cima do início do ano lectivo e tivemos, por isso, muito pouco tempo para o desenvolver. O desenho curricular, por exemplo, foi sendo aperfeiçoado numa altura em que a escola já se encontrava em funcionamento. Apesar desta contrariedade, penso que durante este ano iremos ser capazes de estruturar melhor a nossa aposta. Compreendermos melhor a nossa missão e aperfeiçoar a resposta será, em síntese, o nosso principal desafio.

A Associação para a Educação de Segunda Oportunidade tem outros projectos, nomeadamente expandir-se a outros pontos do país?

A AE2O é uma pequena associação que congrega técnicos e profissionais de educação, pessoas interessadas, que tinham este sonho, um bocadinho impossível, de abrir uma escola em Matosinhos. Ao longo destes cinco anos de existência fomos participando em outras iniciativas e desenvolvendo outros projectos, que lhe conferem uma dimensão internacional. Neste contexto, integramos não só a rede europeia de escolas de segunda oportunidade, mas estamos a ajudar a criar uma outra rede europeia de organizações que, tal como nós, trabalham com jovens em risco, realizando um trabalho de cariz cultural.

Por outro lado, e embora estejamos sediados em Matosinhos, estamos a responder a solicitações que se estendem um pouco por toda a Área Metropolitana do Porto. E sentimos que esta resposta não é suficientemente abrangente. Só em Matosinhos existiam, em 2005, cerca de 4000 jovens que tinham abandonado a escola sem o 9º ano de escolaridade. Costumamos dizer, por graça, que a este ritmo irá demorar mais de cem anos para resolver este problema, só no concelho. Não quero com isto dizer que devamos multiplicar esta resposta. É importante que se dê tempo à consolidação desta experiência e avaliá-la. Mas acho, seguramente, que precisamos de encontrar mais respostas para além das que existem actualmente.



Luís Mesquita

Ricardo Jorge Costa

Estudo Acompanhado - Ficha de Trabalho



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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

“Trabalhos de Casa”


As crianças, no seu papel de alunos, não se questionam e aceitam as regras de um jogo que não foi com elas negociado, pois não o aceitarem pode condicionar as suas vidas e, portanto, o seu “sucesso”.

Como todos sabemos, à maioria das crianças são propostos como “trabalhos de casa” tarefas que incluem cópias de textos, repetições de palavras (várias vezes), fichas com contas e problemas diversos que na maior parte das vezes se limitam a reproduzir os conteúdos dos livros ou o que eventualmente foi feito e explicado na aula. Para muitas crianças, os “trabalhos de casa” consistem no acto de abrir a pasta, tirar os cadernos, os livros e os lápis, fazer o que a professora mandou, fechar o caderno e voltar a guardar. Este ritual é para muitas crianças, sobretudo para as mais pequenas, tudo o que elas conhecem como próprio do acto de estudar. De facto, ao confundir-se estudar com este tipo de “trabalhos de casa”, estamos a afastar a hipótese das crianças se familiarizarem com o interesse pelo conhecimento satisfazendo a sua curiosidade natural através da pesquisa.

O conceito de estudar é muito confuso, e as crianças só o vão percebendo com o decorrer da escolaridade e à medida que se vão confrontando com outras situações – como, por exemplo, estudar a tabuada, estudar para um teste – e, mesmo assim, tudo isso depende delas. A função de estudar, não sendo uma operação muito concreta e codificada, é algo que não é muito claro para as crianças e, provavelmente, para os adultos com quem convivem. A maior parte das crianças não gosta de fazer “trabalhos de casa”, mas aceita a obrigatoriedade da tarefa mais ou menos pacificamente. Outras, contudo, manifestam-se: É uma seca... Tenho de estar sempre a escrever... cansa a mão... Já estou cheio. Apesar das dificuldades (não sabem fazer ou estão cansadas após um dia na escola), os “trabalhos de casa” aparecem sempre como alguma coisa que faz parte dos seus quotidianos, que está naturalizada e que, portanto, não se questiona – temos de fazer todos os dias e muitos... – ou cuja realização é condicionada pelo medo – se não fizer a minha professora ralha-me.

Para a criança ou para o adolescente, o trabalho escolar, com tudo o que ele comporta de actividade, representa o exacto equivalente ao trabalho profissional de vida de um adulto. Mas, enquanto a duração do trabalho profissional exige um grande descanso para a maioria dos adultos, o trabalho escolar é cada vez mais desenvolvido tanto dentro como fora da sala de aula. Há mais de 20 anos que se denuncia este excesso de trabalho e os consequentes malefícios físicos, psicológicos e morais para as crianças. Sabe-se que, para a maior parte dos adolescentes, a vida é dividida segundo um esquema condenado por todos os que se têm dedicado ao assunto e que se traduz em trabalho excessivo, que deveria ser seguido de repouso. Mas, em vez disso, é o lazer que é banido, salvo se houver um feriado ou férias. A psicologia da infância e da adolescência, assim como as ciências da educação e a sociologia, têm denunciado e reagido a este regime de trabalho escolar que continua não só a ser praticado como até desenvolvido, vulgarizado e disseminado. As crianças vão reagindo a este esquema quase por defesa natural: distraem-se na sala de aula, negligenciam no trabalho escolar, olham o tecto e o vazio, fazem pequenos desenhos nos cantos dos livros, falam sozinhas com os cadernos, riscam as secretárias, “aldrabam” os educadores fingindo que já fizeram tudo, vão “milhares” de vezes ao quarto de banho e fazem as mais diversas perguntas sobre coisas que não estão relacionadas com o que estão a fazer, trauteiam baixinho, etc. Ou seja, inventam toda a espécie de tarefas e de desculpas para não fazerem o que têm pela frente, ensaiando formas múltiplas de resistência a um trabalho cujo sentido não é explícito e que lhes é imposto do exterior. Não se conhecem ainda os benefícios que se podem tirar de tanto excesso, mas na maior parte dos casos os malefícios vêem-se generalizados nas revoltas das crianças. Neste caso, o ensino parece-nos estar atrasado em relação ao processo civilizacional. De facto, tal como o ser humano não se criou e não se cria somente pelo trabalho profissional, também as crianças não se formam somente pelo estudo formal. O conceito de trabalho de casa aglomera um conjunto de práticas e de efeitos que só aparentemente têm o mesmo sentido e intuito (sucesso, mobilidade social, emprego, integração...), para as mais diferentes motivações: as crianças parecem querer corresponder às expectativas dos pais e professores; os professores aparentemente querem corresponder às expectativas sociais; outros técnicos de educação dizem querer ajudar as crianças a ter melhores desempenhos escolares; os pais parecem querer proporcionar uma maior mobilidade social através da escola; e os técnicos da área social, por sua vez, defendem porventura esses trabalhos como um instrumento para ajudar as crianças a sair dos ciclos de reprodução da pobreza e da exclusão.

Muitas crianças evidenciam comportamentos agressivos, cansaço e dificuldade de adaptação ao trabalho que trazem da escola para fazer. Trata-se de um trabalho rígido, limitado e repetitivo, marcado pela necessidade e sobrevivência do aluno/a, construído a partir de uma visão conservadora da escola, contra uma visão “progressista” que procura um trabalho significativo, que ajude a compreender o significado emancipatório do conhecimento. Um conhecimento que fará com que as crianças compreendam a sociedade em que vivem e consigam adquirir os instrumentos para lidar com ela, tendo em conta os constrangimentos com que se deparam diariamente.

Em suma, as crianças, no seu papel de alunos, não se questionam e aceitam as regras de um jogo que não foi com elas negociado, pois não o aceitarem pode condicionar as suas vidas e, portanto, o seu “sucesso”. Aliás, como diria Bourdieu, é esta crença e aceitação das regras do jogo (a illusio) a condição da sua perpetuação. Este tipo de trabalho, não parece contribuir para o bem-estar e auto-estima das crianças, nem sequer para o seu sucesso. No entanto, compreendemos que o assumem como fundamental para não terem aborrecimentos, obter reconhecimento, uma nota ou passar no final do ano. Para muitas crianças, os estudos tornam-se, assim, um mal necessário, uma etapa a transpor, esperando a verdadeira vida anunciada, no futuro e sempre para depois da escola.


Maria José Araújo


Bibliografia

Araújo, Maria José (2004) ATL - Actividades de Tempo Livre Sem Tempo nem Liberdade. Dissertação de Mestrado. Porto: FPCE-UP.
Barrère, Anne (s/d) O Trabalho dos Alunos. Porto: Rés-editora
Bourdieu, Pierre (1979) La Distinction, Critique Sociale du Jugement, Paris: Minuit.
Duru-Bellat, Marie e Zanten, Agnés Van (1999) Sociologie de l'école. Paris: Armand Colin
Glasman, Dominique (2001) L'Accompagnement Scolaire. Paris: PUF.
Laloup, Jean (1962) Le temps du loisir. Paris: Casterman.
Ribeiro, Agostinho (1988) Brincar, Sonhar e Criar: Para uma psicopedagogia da Criatividade. Porto: FPCE-UP.