domingo, 25 de setembro de 2011

Imagem - Vulcões


O sorriso dos professores

Sebastião Salgado publicou, com palavras de Cristovam Buarque, um álbum de fotografias chamado “O berço da desigualdade”. As fotografias são de escolas em todo o mundo e trazem-nos os limites materiais das escolas dos pobres com uma força que só, talvez, as imagens em P&B permitam.

Um dos fotógrafos brasileiros mais preocupados com as lutas populares é Sebastião Salgado. No Brasil, ele publicou, com palavras de Cristovam Buarque, político brasileiro e ex-Ministro da Educação, no primeiro governo Lula, um álbum chamado “O berço da desigualdade”. As fotografias são de escolas em todo o mundo e trazem a nós os limites materiais das escolas dos pobres com uma força que só, talvez, as imagens em P&B permitam. Trazem, também, tanto a importância que se dá, em todos os lugares, a essa instituição, não só para crianças – meninos e meninas -, mas para os jovens e os adultos – como a que próprio fotógrafo nela percebe e nos indica com as fotografias feitas e escolhidas para esse álbum.

Nos países mais pobres - dos campos de refugiados palestinos à escola no fundo da selva da Indonésia; de uma prisão na Coréia do Sul para as famílias refugiadas da Coréia do Norte a escolas do Movimento dos Sem-terra no Brasil – Salgado fotografa os alunos e alunas com um material escolar mínimo: um caderno com poucas folhas, um lápis, raros livros, quadro-negro e giz...

Em várias delas, aparece, na cena fotografada, o professor que atende àqueles alunos. Delas, escolhi duas nas quais aparecem professores homens – existem também de professoras, mas seriam demais para o espaço com que contamos. Convido para que busquem ver o álbum e possam ver a miséria e a grandeza desses professores e professoras.

Mas o que é bom ver nessas fotografias com professores é a animação que transmitem e a relação que mantêm com a classe. Em uma, grandes braços abertos convidam a uma resposta sobre uma borboleta desenhada no quadro-negro e para dá-la braços se levantam entusiasmados. Na outra, um sorriso sedutor e braços erguidos para o céu convidam, também, para uma resposta que outros braços ao ar querem dar, mostrando que a lição foi bem aprendida. A primeira foi feita no Líbano em uma escola para crianças palestinas refugiadas (p. 102-103), a segunda em uma escola no Quênia na região do lago Turcana (p. 166-167).

Trabalhando em regiões pobres, dentro de conflitos muitas vezes violentos, em duras condições sempre, professoras e professores parecem ter a certeza de que as crianças têm direito à escola e à alegria de saber. Nessa situação, eles estão com elas, trabalhando e fazendo com que sejam melhores, talvez. Juntos, pensando – quem sabe? – que um mundo melhor é possível...

Mais do que uma terrível imagem de muitos mortos dentro de uma escola, em Ruanda (p.126-127) que é possível ver em uma das fotografia, estas imagens chamaram minha atenção porque vi nelas possibilidades de respostas a questões que, hoje, todos nos colocamos nas escolas, sobre nossas ações como professores.

Ao contrário disto – quem sabe? – tomei conhecimento na França, há alguns dias, com um esforçado professor, do site que organiza (www.aideauxprofs.org) para ajudar professores a encontrarem uma outra profissão, deixando para atrás uma que eles não querem mais, que não suportam mais...

Todos pertencem a um mesmo mundo? A força e o sorriso dos professores fotografados mostram que, em circunstâncias dificílimas, trabalham com entusiasmo e fazem trabalhar seus alunos. Por que na França – e na Europa toda sentimos isto, de certa maneira – os professores estão abrindo mão de ser professores? Não agüentam mais? Em que momento e por que isto se deu?

Nos trabalhos que desenvolvemos no Brasil com professores e professoras atuando na escola básica, sentimos que estão cansados com o profundo desprezo que as autoridades parecem ter por eles quando “encomendam” estudos de diferentes ordens para mostrar: 1) que aumento salarial não faz aumentar a qualidade do ensino – ao ver estes estudos que são mais ‘declarações’ do que outras coisas, sempre me pergunto curiosamente: o que faria, então? 2) que os professores não sabem e não querem usar as tantas tecnologias que colocam à disposição na escola pra “facilitar”o trabalho deles – nesse caso, verifico, com freqüência que, nestes tempos de wi-fi na orla de Copacabana (sim! Quem vai à paria pode usar internet), as escolas na cidade do Rio de Janeiro, em sua grande maioria, têm um só ponto de internet, localizado na sala da diretora para contatos com a Secretaria de Educação com que a escola se relaciona.

No meio a estas tantas dúvidas e incoerências, confesso que amo ver o sorriso dos professores nas fotografias de Sebastião Salgado.

Referência bibliográfica

SALGADO, Sebastião e BUARQUE, Cristovam. O berço da desigualdade. Brasília: UNESCO, 2005.

Nilda Guimarães Alves

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Imagem - Exemplos de Fósseis


*Os três **professores*

Três professores próximos da reforma ( *90, 88 e 86 *anos) de idade
trabalhavam na mesma Escola.

Um dia o de* 90 *entra numa sala de aula, põe um pé dentro, faz uma
pausa.... e grita:

- Alguém sabe se eu estava a entrar ou sair da sala de aula?

O de *88* responde:


- Não sei, já desço aí para ver....


Começa a descer as escadas, faz uma pausa, e grita:


- E eu estava a subir as escadas, ou a descer?


O mais novo, de* 86*, que estava no sala de professores a preparar uma
reunião, abana a cabeça e pensa:



"Na verdade, espero nunca ficar assim tão baralhado" e, com este pensamento,
bate três vezes na madeira da mesa e logo responde:


- Já vou ajudá-los,só um momento para ver quem está a tocar á porta!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Imagem - Vulcões


A tela substitui o quadro negro

Não virá longe o dia em que a tela substitua nas escolas o quadro negro, chegando a afirmar-se que uma «bobina de película vale mais do que uma prelecção.

Citação datada de 1932, que pode ser lida no preâmbulo do Decreto-lei 20:859 de 4 de Fevereiro. Com este diploma foi criada a Comissão do Cinema Educativo no Ministério da Instrução Pública, com o objectivo de “promover e fomentar nas escolas portuguesas o uso do cinema como meio de ensino e de proporcionar ao público em geral a apreensão fácil de noções úteis das ciências positivas, das artes, das indústrias, da geografia e da história” [Artigo 1º].

Esta visão excessivamente optimista, para a época, da utilização da tecnologia ao serviço do ensino tornou-se realidade no século XXI. O quadro negro está a ser substituído pela tela, não apenas de cinema, mas também a tela/o quadro interactivo onde o texto, as imagens, os sons ganham vida e com os quais podemos interagir. Esta mudança está a acontecer não porque foi publicado um Decreto-lei, mas por um acto político também emanado pelo Governo, o Plano Tecnológico de Educação.

Assim, na era digital em que vivemos e em que o próprio Estado incita o uso das tecnologias da informação e da comunicação, no exercício da actividade profissional dos docentes, e em que devido à evolução tecnológica, se assiste a uma explosão e divulgação de informação escrita e de imagens fixas e em movimento na internet, produzidas não só por máquinas fotográficas, câmaras de vídeo, mas também pelos telemóveis, pelos computadores, os professores têm um grande desafio pela frente para se apropriarem e integrarem estas novas ferramentas digitais ao serviço da prática lectiva, não como um obstáculo, algo que dá mais trabalho, que se torna penoso, mas como um instrumento criador e criativo que possibilita uma melhor organização dos materiais pedagógicos (textos, imagens, filmes, sons) e consequentemente uma maior diversificação de estratégias de apresentação de conteúdos.

Como sabemos, sempre que há mudanças, há pessoas que tentam resistir, que apresentam argumentos contra os avanços. Vejamos a título de exemplo o que aconteceu quando o cinema se tornou sonoro (1927, o ano em que foi realizado o primeiro filme denominado sonoro, The Jazz Singer). Um grupo de realizadores soviéticos, entre os quais destaco Eisenstein, escreveu em 1928 o manifesto «Contraponto Orquestral», que dá conta da tomada de consciência de que os recursos técnicos que os cineastas soviéticos dispunham, não lhes permitiam ter um êxito rápido no caminho do som e de que a coincidência da palavra dita com o movimento dos lábios no ecrã e sobretudo a passagem para o cinema dos dramas da literatura e as tentativas de invasão do teatro no cinema, seriam nefastas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da montagem.

Actualmente, os resistentes à mudança não podem invocar a inexistência de meios tecnológicos, mas sim outro tipo de argumentos: a sua não formação na área das tecnologias da informação e da comunicação e o sentimento de que os alunos as «dominam» e por isso, o seu receio em utilizá-las.

Uma das questões que se coloca então é a de como preparar estes docentes para a escola do século XXI. Através da inclusão, no curriculum da formação inicial, de uma disciplina de Tecnologias da Comunicação, onde as tecnologias de registo da memória, isto é, o cinema e a fotografia também sejam trabalhados, a nível da técnica de produção de imagens e a nível da construção e produção de sentido. E para os professores que já leccionam há muitos anos? Neste caso, a formação contínua tem um papel importante na oferta de acções/oficinas/cursos de formação que poderão colmatar as deficiências de formação neste domínio.

Outra das questões que se põe é a do facilitismo em que se pode cair na utilização de produtos multimédia e hipermédia, na sala de aula e, consequentemente, no voltar ao paradigma organizador do ensino, assente na transmissão de conteúdos, agora não pelo professor, mas pelos produtos multimédia cuja função é a de substituir essa metodologia de ensino.

Acredito que os professores saberão ultrapassar mais este desafio nas suas carreiras, tornando-se agentes criativos e criadores investidos de um papel mais exigente, que lhes demanda o conhecimento não apenas dos saberes específicos do seu campo disciplinar, mas também o conhecimento e domínio das tecnologias digitais, que passarão a usar a tela para estimular os seus alunos a apropriarem-se e a construírem os saberes de forma partilhada e interactiva!


Maria Fátima Nunes

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Imagem - Exemplos de Fósseis


Uma educação para a solidariedade

Os frutos colhidos pela Escola são, em si mesmo, também um estado de espírito de pessoas que se assumem livres e felizes, comprometidas pelo contributo para um mundo mais livre e feliz.

Na terminologia da política de educação é manifesto um certo pudor em relação à referência de valores como os da felicidade, da liberdade e da solidariedade. Em parte, esta omissão de tais valores, enquanto desígnios elementares da formação sobre que recai a responsabilidade da Escola, pode dever-se ao facto de se terem adquirido os pressupostos de que a felicidade cabe ao foro íntimo da pessoa, que de forma redutora a conquista de forma estritamente individual, como o de que a liberdade é uma virtude incontestável do regime democrático instituído, e de que a solidariedade se confina ao espaço restrito da moral e da necessidade em mitigar os males colectivos com o voluntarismo e o alívio do egoísmo que, por antítese, é reforçado pelos laços que a Escola induz. A reflexão que se exige, numa realidade global sobre que se opera a cada gesto, com cada decisão, à luz da intervenção ideológica e das práticas sociais, e municiados dos fluxos de comunicação e informação que são os catalisadores privilegiados das relações entre os povos, e dos seus efeitos, aquela reflexão, dizia, é a da forma em como os problemas e as conquistas do outro influenciam a nossa realidade pessoal. Um exercício que a compreensão das interacções sociais ajuda a contextualizar conforme a maturação intelectual que lhe está subjacente.

No plano restrito da teoria, a experiência de sociabilização que recai sobre o indivíduo no universo da Escola, e em que ela se inicia por excelência, tem por objectivo a aquisição de competências formais, de iniciação a códigos e cálculos, de interpretação, de iniciação no tempo e no espaço sobre que se alarga a compreensão conforme a criança se adapta. Nessa etapa preliminar, o primeiro exemplo de uma relação solidária emana da relação recíproca entre família e a Escola. Da intuição de que uma é extensão da outra, nas responsabilidades, nas rotinas, no ludismo, na complexidade da sua própria estrutura, resulta um benefício que não se restringe ao sucesso que se convencionou quantificar. Toda a prática de entreajuda, de sensibilização para a realidade social, de reforço da noção de capacidade instrumental para harmonizar aquela realidade, é o fundamento de uma aprendizagem em cuja razão se acredita. O sucesso das primeiras experiências de cooperação será porventura importante na atitude dos cidadãos responsáveis.

Contudo, se o relevo da figura da família-cooperante nos êxitos da aprendizagem é consensual, omite-se, por condição ou estatuto, a necessidade de um professor-amigo, do companheiro respeitado que não é senão o pedagogo. Aquele que, com a capacidade de abrir fronteiras para além dos curricula, atende à tão espontânea satisfação do ensino que estrutura a retórica, que é sensível à saciedade da curiosidade e revela as competências latentes dos discípulos. Será sobretudo esta dualidade que acrescenta o valor à política de educação, mas que, de todo, transcende a sua área restrita de intervenção. Poder-se-ia dizer que os frutos colhidos pela Escola são, em si mesmo, também um estado de espírito de pessoas que se assumem livres e felizes, comprometidas pelo contributo para um mundo mais livre e feliz.

O empenho e a aposta numa geração de homens honestos, conscientes, esclarecidos, livres dos constrangimentos do trabalho que se justifica e esgota na sobrevivência, inventivos e solidários, requer que se sedimente uma noção da responsabilidade.

Assim, todo o jovem adulto com imputabilidade jurídica e capacidade eleitoral não se pode abster dos conhecimentos inerentes à organização política e administrativa (sem qualquer laivo de catequização), como deve ter uma formação académica que integre a visão lata dos instrumentos ao dispor da sua profissionalização em prol da humanidade. Não se trata tão só de diluir as identidades culturais, mas de as reforçar na sobrevivência de um mundo em que a disparidade económica, e o mais que acarreta, se inverta no sentido dessa solidariedade que sendo fraterna é justa. Essa felicidade, a que todo o homem tem direito por natureza, não encerra nada de metafísico, tão pouco se persegue apenas com a postura missionária. Ela será produto de uma diplomacia cívica, que se baste na partilha do saber e das virtudes da ciência, que colha das soluções que suscitam as grandes questões do mundo com os gestos que a educação para a solidariedade e para a paz possam alimentar.

A política de educação não deve querer dar por feito um esforço que não foi começado, como não pode pedir competências para as quais não há objectivos colectivos concretos. À margem da sua gestão tem de privilegiar os interlocutores que possam acolher os formandos de modo que a que o universo da população activa em preparação tenha espaço, voz e a sua própria estratégia.

O último erro em que devemos incorrer é o de ignorar a importância em ouvir, dialogar, ou o de ignorar a única forma de ultrapassar obstáculos que não são fáceis: o esforço de equipa em que cada um de nós, na sua esfera de influência e de conhecimento, pode liderar. No dia em que houver bom senso serão os conselhos dos sábios a ser pedidos e considerados. E isto só poderá ser construído de raiz.


Luís Miguel Brandão Vendeirinho