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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Recreios vigiados evitam agressões


Mais do que uma prática condenável, o bullying começa a ser visto como um fenómeno que influencia a saúde e o desenvolvimento das crianças. Numa tese de doutoramento,a investigadora Sónia Seixas concluiu que as vítimas de bullying são as que têm "mais queixas de saúde e também mais probabilidade de desenvolver doenças do foro psicológico", como ansiedade e depressão. Já os agressores têm "elevada auto-estima e gostam de dominar os outros".


O bullying – violência física ou psicológica, intencional e repetida, praticada por um indivíduo ou grupo sobre outro incapaz de se defender – é um fenómeno que está a crescer em Portugal. Para Sónia Seixas, os dados são 'assustadores'.

A docente da Escola Superior de Santarém considera que a 'estratégia de intervenção' passa por avaliar a situação em cada escola, estabelecer regras de conduta e incentivar a supervisão por parte de adultos, sobretudo nos recreios. É também urgente 'romper com o pacto de silêncio' existente. 'Quando os agressores não confessam e as vítimas não se queixam, o que podemos fazer?'

À procura de resposta, um grupo de investigadores da Universidade Complutense de Madrid desenvolveu o IeSocio, programa informático para identificar potenciais vítimas de bullying através de testes sociométricos, usando fotografias dos alunos. 'Esta ferramenta é muito vantajosa, mas não chega; há todo um trabalho de equipa a fazer e a prevenção deve começar no Pré-escolar', salvaguarda a investigadora.

ANTIBULLYING

O IeSocio está disponível na internet (http://www.iesocio.es) e já foi testado com sucesso numa escola de Madrid.

O MEU CASO DAVID GOUVEIA: TORTURADO TRÊS MESES POR COLEGAS

Durante três meses, David Luís Gouveia sofreu em silêncio. Tinha 16 anos e era aluno do 9º ano na Escola EB 2,3 Dr. Daniel de Matos, em Vila Nova de Poiares, quando começou a ser vítima da chamada 'ida ao poste' – uma brincadeira perigosa em que um rapaz é atirado de pernas abertas contra uma árvore ou poste.

A tortura começou em Dezembro de 2005 e só terminou em Fevereiro de 2006 quando David não aguentou mais e contou aos pais que o levaram ao médico. O jovem apresentava lesões graves nos órgãos genitais e acabou por ser operado, tendo estado em risco de perder um testículo. 'Era sempre eu que ia ao poste. De vez em quando levavam outro colega, mas a mim era sempre', conta David, lembrando que o medo era tanto que no final de cada aula arrumava os cadernos à pressa para ser o primeiro a sair e fugir dos colegas.

'Na escola ainda me disseram que o culpado era eu', recorda. Os pais do jovem ponderaram apresentar queixa às autoridades, o que só não aconteceu 'porque se tratava de crianças'. Em Maio do ano passado, a situação voltou a repetir-se na mesma escola com uma criança de 11 anos.

CM

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