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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Medicina já não é tão procurada pelos melhores alunos


A média de entrada no curso de Medicina continua alta, mas agora não está sozinha no topo da lista das notas mais elevadas. Medicina continua a ser um dos cursos com uma das maiores taxas de empregabilidade no nosso país, mas já não é tão procurada pelos melhores alunos que saem do Secundário. Neste ano letivo, os três melhores alunos que entraram na Universidade do Porto não optaram por Medicina. Nuno Oliveira, de 17 anos, de São João da Madeira, é um desses estudantes. Entrou com a melhor nota, 19,88 valores, no curso de Bioengenharia. 

“Nunca tive aquela atração particular pela Medicina. Esse estigma de quem tira boas notas tem de ir para Medicina está a passar, espero eu”, diz ao EDUCARE.PT. Nuno Oliveira sempre gostou de Química, de Física, de Biologia. Estudou numa escola pública, na Secundária João da Silva Correia, em São João da Madeira, e foi no 12.º ano que decidiu candidatar-se ao curso de Bioengenharia, depois de ainda ter pensado em Engenharia Química numa vertente mais virada para a Biologia. 

Com média de quase 20 valores não foi problema entrar na universidade. A sua escolha foi pensada para não fechar possibilidades. “Não queria deixar assuntos de parte”, explica. Ou seja, não queria escolher apenas uma abordagem e assim optou por um curso abrangente que não o obrigasse já a decidir uma área específica. São cinco anos com mestrado integrado. Depois de terminar o curso, Nuno pretende dedicar-se à investigação numa área que lhe interesse, que entretanto lhe capte toda a atenção. Ainda não sabe bem qual é. 

“Gostaria de trabalhar em investigação e ter margem para o fazer de forma razoavelmente livre e digna”, adianta. No nosso país, se possível. “Queria trabalhar em Portugal, pelo menos no início, mas não fecho portas.” Nuno é um aluno de excelência, média de 19,88, e garante que não há mistérios à volta disso. Qual o segredo? “Não há um segredo escondido. É uma questão de gostar das coisas, estar atento, e trabalhar bastante tanto nas aulas como em casa. Gostar do que se está a estudar”, responde. Estudou Música na Academia de São João da Madeira, aprendeu a tocar piano, concluiu o 8.º grau de música. Gosta de estar com os amigos, não passa todos os minutos do dia a estudar, e é focado. “Fui tendo professores bons que me despertaram interesse para as coisas”, sublinha Nuno, filho de uma professora de Educação Visual e de um empresário do ramo da Segurança Alimentar. 

Além de Nuno Oliveira, os dois alunos com médias mais altas que este ano entraram na Universidade do Porto também não escolheram Medicina. Rodrigo Albuquerque, de 17 anos, do Porto, entrou com 19,85 valores no curso de Economia. Maria Teresa Teixeira, de 18 anos, de Braga, entrou com 19,83 no curso de Engenharia e Gestão Industrial. 

“Mentalidade absurda”
Pedro Escaleira, de Sátão, Viseu, entrou com 19,1 valores em Engenharia Informática na Universidade de Aveiro. Medicina nunca lhe passou pela cabeça na hora de decidir. “Não houve quaisquer dúvidas. Esta decisão estava tomada desde o meu 9.º ano.” Sempre se interessou pela forma como os aparelhos eletrónicos funcionam e porque trabalham de uma forma e não de outra. A decisão foi fácil, mas não ter optado por Medicina causou “algum espanto” em alguns seus conhecidos. 

“Infelizmente hoje em dia, em Portugal, quem é médico parece ter adquirido um estatuto social muito mais elevado do que as outras pessoas e, devido a esta mentalidade absurda, nos últimos anos a procura por este curso chegou a níveis surreais”, refere. Pedro sabe que há casos e casos, há quem siga Medicina por paixão e quem o faça por outras razões mais ligadas ao estatuto social. “Na realidade, é um curso no qual não me consigo imaginar e que não iria seguir pelo simples facto de alcançar esse referido mérito social.” 

“Tudo o que sobe demasiado, tem mais facilidade em cair. Neste momento, há ainda uma forte procura de Medicina, apesar da ascensão notória das engenharias, que, penso, dentro de poucos anos, serão também os cursos mais procurados. E tudo pode mudar em pouco tempo. “Toda esta sucessão de ‘subidas e descidas’ acontece consoante as necessidades da sociedade, e aí reside o facto do aumento da procura por cursos de Engenharia em detrimento de Medicina, neste momento”, acrescenta. 

Depois do curso, Pedro quer tirar o mestrado em Engenharia Informática, porque na Universidade de Aveiro não está integrado na licenciatura, e começar a trabalhar em part-time numa empresa da área. Admite que o curso não é fácil, mas está a gostar dos temas apresentados, dos colegas, da praxe e da universidade.

Marta Ferreira é colega de curso de Pedro Escaleira, em Aveiro. Entrou com 17,8 valores e sempre soube que não iria escolher um curso ligado à saúde. Sangue? Nem vê-lo. As seis opções na candidatura de acesso ao Ensino Superior foram todas preenchidas na área das informáticas. “Medicina nunca fez parte dos meus planos.” E, de qualquer forma, a média final do liceu não chegava para entrar nesse curso. 

Satisfeita com o seu desempenho escolar no Secundário, que fez em Oliveira do Bairro, Marta seguiu o seu caminho. “Estou contente com a escolha que fiz. As engenharias são altamente valorizadas.” Agora é um ano de cada vez. “O curso está a ser desafiante.” E as aplicações informáticas continuam a despertar-lhe bastante interesse. 

Informação retirada daqui

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