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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Aves citadinas usam beatas na construção do ninho para repelir parasitas


Num estudo publicado na revista Biology Letters uma equipa de investigadores mexicanos revela que o pardal e outra espécie de ave citadina comum no norte do continente americano usam o conteúdo das beatas como substituto de vegetação fresca para repelir parasitas, como é o caso dos ácaros.

O estudo teve como objetivo determinar se o recurso às folhas de tabaco no interior das beatas vulgar em aves urbanas, poderia ser uma variação do comportamento ancestral das aves que utilizam para revestir os ninhos certo tipo de vegetação rica em compostos que afugentam parasitas.

Para tal, a equipa liderada por Monserrat Suaréz-Rodríguez, do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autónoma de México, começou por identificar, no campus universitário, vários ninhos de pardais (Passer domesticus) e de Carpodacus mexicanus, uma espécie de pássaro do mesmo género que o pintarroxo-vermelho (C. erythrinus), de ocorrência rara em Portugal.

Depois, mediram a composição, de um componente das beatas – acetato de celulose - dos ninhos e contabilizaram o número de ácaros presentes, tendo observado que, quanto mais representativa a matéria das beatas, menor o número de parasitas.

Numa segunda fase, os investigadores quiseram comprovar que era o conteúdo em nicotina do material das beatas que era responsável pela reduzida presença de parasitas, e não outras características, como a sua estrutura. Para tal, colocaram armadilhas em 28 ninhos. Cada armadilha atraía os parasitas recorrendo ao calor, e possuía fibras de celulose, filtros de cigarros usados ou intactos e fita-cola. Passados apenas 20 minutos, verificou-se que, entre os ninhos com ovos, aqueles que possuíam filtros de cigarros intactos, apresentava o dobro de parasitas dos ninhos que possuíam beatas.

Desta forma os autores concluem que os meios urbanos colocam novos desafios às aves, que se adaptam com base em adaptações evoluídas noutros contextos. Para além disso, os investigadores alertam que, embora este estudo sugira que as beatas pareçam ser úteis para as aves urbanas, o seu aproveitamento pode ter consequências nefastas para a sua saúde, dado que muitos dos componentes das beatas são carcinogénicos e alguns são usados como pesticidas.

Fontes: Filipa Alves/www.nature.com e rsbl.royalsocietypublishing.org

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