sábado, 5 de julho de 2008

Alunos internos chegam aos 14 valores de média na Matemática

Uma melhoria astronómica. Esta é a única forma de qualificar os resultados da Matemática A nos exames nacionais do secundário, onde a disciplina atingiu uns imprevisíveis 12,5 valores de média, chegando ao 14 entre os alunos internos, e contabilizou apenas 7% de negativas. Para o Ministério da Educação, não restam dúvidas: na origem dos resultados está muito suor. Mas a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) garante que tal progresso é "impossível" e até o gabinete ministerial responsável pelas provas reconhece não se poder assegurar que os ganhos se devem apenas ao trabalho.

Comparando os resultados da Matemática A, feita por 36674 alunos, com anos anteriores, verifica-se que, em 2007, a mesma prova contabilizou 9,4 valores de média e 18% de reprovações. Em 2006, os valores não foram além dos 7,3 e os chumbos à disciplina chegaram aos 29%. Por outras palavras, em apenas dois anos, os valores globais quase duplicaram e as negativas caíram para menos de um quarto.

Em comunicado, o Ministério elencou os factores cujo "efeito combinado" terá contribuído para tão dramática subida: "Mais tempo de trabalho e de estudo", "provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo para a sua realização [30 minutos extras]", e ainda um "maior alinhamento entre o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores" - o diferencial entre as classificações internas e as provas é de apenas 0,76 valores, lembrou a tutela.

Autores das provas cautelosos

Porém, foi o próprio director do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), responsável pelos exames, quem num encontro com jornalistas ontem à tarde, antes da divulgação dos resultados, evitou fazer este tipo de associações .

"Nas provas de aferição empenho as minhas barbas quando digo que os resultados melhoraram. Nos exames, se houve melhorias, terão a ver com uma confluência de factores. Não posso garantir que os resultados correspondam a melhorias nas qualidades das aprendizagens", disse Carlos Pinto Ferreira.

Na altura, o director do GAVE explicou que as provas de aferição são sujeitas a mecanismos de controlo prévio com amostras de estudantes (ver texto nesta página), o que permite "congelar" a dificuldade média dos testes, precisamente por se destinarem a analisar o sistema educativo. Já em relação aos exames, tal não acontece, não só por questões de "segurança", mas também porque a meta é saber se os alunos têm conhecimentos para aprovar ou reprovar.

Porém, Pinto Ferreira rejeitou qualquer interferência externa no sentido de condicionar os exames: "Nunca nenhum ministro ousou dar instruções ao GAVE para fazer as provas mais fáceis ou mais difíceis", afirmou, acrescentando que, da sua parte, a única recomendação dada às equipas que produzem as provas foi para que estas fossem "justas", reflectissem os "programas" e não contivessem "minas e armadilhas" que poderiam atrapalhar os alunos.

Resultados "impossíveis"

Já a Sociedade Portuguesa de Matemática, que tem criticado as provas desde a divulgação dos enunciados, não hesita em considerar que os exames foram "demasiado simples" para poderem sequer ser comparáveis com anos anteriores.

"Nós somos uma sociedade científica. Não julgamos intenções ministeriais", disse ao DN Nuno Crato. "O que dizemos é que os exames foram demasiado simples para que se possa perceber o eventual impacto das medidas referidas pelo Ministério. Resultados tão espectaculares são impossíveis em tão pouco tempo. As pessoas que tirem as suas ilações".

Nuno Crato não deixou, no entanto, de considerar que "o sinal dado aos alunos por estes exames é de que não vale a pena trabalhar".

DN

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