Nos anos 60, Portugal era um país fechado, onde quem mandava era o estado e a igreja. Só predominava a religião católica, só se falava português. Pouco se viajava para o estrangeiro, o governo proibia os partidos. Filmes e musicas estrangeiras eram censurados pela PIDE, até o correio era confiscado.
No princípio dos anos 60 vivia-se com medo. As mulheres eram reprimidas, na sua maioria, eram destinadas a ser donas de casa, cuidando dos filhos e da casa, não trabalhavam fora, não entravam em cafés sem a companhia do homem, o comprimento das saias era estabelecido pelo governo, não fumavam. As professoras e as enfermeiras tinham de pedir autorização ao estado para casar. As hospedeiras nem podiam faze-lo.
Os sentimentos eram socialmente reprovados, o divorcio e os filhos de pais divorciados eram excluídos.
Na Beira interior assim como todo o Norte, salvo algumas pequenas excepções, não existia a generalização da grande propriedade assim quase todas as pessoas possuíam um pouco de terra, herança dos seus antepassados. Terra que não dá para nada, mas que chega para se entreterem plantando umas couves, semeando umas batatas, feijão, milho, para o seu próprio sustento.
A situação económica do País na década de 60 propiciava a emigração e imigração. Do interior vinham para a cidade, essa na altura proporcionava, mais postos de trabalho, uma melhoria significativa a nível social.
As mulheres, provavelmente, foram as que mais sentiram esta mudança.
Os portugueses começaram a ver o mundo lá fora.
Começaram a ir para o estrangeiro, a atracão era tão forte que muitos saíram clandestinamente. França, Alemanha e Angola eram os destinos mais procurados.
Existem enumeras causas que levam às migrações, para mim a causa principal prendesse com motivos económicos. A procura de uma vida melhor.
Este rápido aumento dos contingentes migratórios para Angola e Moçambique relaciona-se com o crescimento económico destes territórios no período da Segunda Guerra Mundial, tornando-os destinos atractivos aos olhos dos potenciais emigrantes portugueses.
No caso de Angola, que me toca particularmente pois é a minha terra natal.
Falo por experiência própria, em 1958 os meus pais emigraram para Luanda, terra onde eu vim a nascer, tendo em vista um futuro melhor.
Primeiro, o meu pai, como funcionário do então “Governo da metrópole” e meses depois a minha mãe. Luanda era, na altura, uma cidade em expansão, onde nada faltava e as relações entre os naturais os emigrantes eram pacíficas, criando-se até, no nosso caso relações de amizade.
Porém, consta-se que, por conflitos gerados no nosso passado longínquo (a quando da deportação de presos para Angola) que originaram até, situações de escravatura, ficou um “ódio” racial que se foi fomentando ao longo dos anos, camufladamente, mas acabando por “explodir” com o ressurgimento da guerra colonial e o massacre sangrento que vitimou, sobretudo muitos naturais de Portugal.
A grandeza deste imenso território, catorze vezes e meia maior que Portugal continental, a sua enorme riqueza em solo e subsolo possuidor de enormes jazidas de petróleo, ouro, diamante, ferram... um dos maiores produtores de café do mundo, além do algodão, açúcar, sisal, banana e um infindável número de outras riquezas a explorar, associadas à ambição de outros povos, ditam o seu fatal destino.
Surgiu a independência e os meus pais e eu, tal como a maioria dos portugueses já com o governo do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), vimo-nos obrigados a regressar, deixando tudo para trás, todos os nossos bens construídos ao longo de 17 anos de trabalho.
Já em Portugal, se não foce o cargo que o meu pai ocupava no governo e que o manteve quando chegamos, as dificuldades tinham sido inúmeras, pois fomos recebidos com alguma hostilidade, apelidando-nos de “retornados” que vínhamos tirar o lugar aos que cá estavam, atribuindo, até, muitas vezes, o que de menos bom surgia.
Sempre por razões que se prendem não só com a evolução económica dos países além-mar mas ainda com as necessidades de mão-de-obra sentidas na Europa, os novos destinos da emigração portuguesa, traçados desde os finais do século XIX, alteraram-se no decurso do século XX conduzindo à redução drástica da emigração transoceânica em detrimento da emigração intra-europeia. Para tanto terão contribuído a proximidade e as facilidades de transporte, os melhores salários e nível de vida que vieram a fomentar estas saídas em direcção aos países do ocidente europeu.
E como foi notado, tendo em conta as características desta mão-de-obra, fracamente especializada, este movimento alastrou a todas as regiões do país contribuindo para engrossar os contingentes de emigrantes portugueses que se espalharam pelos mais diversos países da Europa e do resto do mundo.
Mas estará a ocorrer uma nova vaga de migração Portuguesa?
Tudo parece apontar nesse sentido, com outro contexto e outra atitude e com outros interesses.
É verdade que, esta situação voltou-se a repetir, há já algum tempo, que assistimos a um êxodo de portugueses e empresas portuguesas para outros países pelas razões já nossas conhecidas. Lembremo-nos que a economia europeia se encontrava em crescendo já nós, portugueses, residíamos nesta crise económica.
Portugal é actualmente um dos países com mais cidadãos a viver na União Europeia, fora do seu país de origem, cerca de 1 milhão. Em França, por exemplo, os portugueses representam a primeira nacionalidade estrangeira.
Saem, anualmente, de Portugal cerca de 35 mil cidadãos nacionais. Os destinos preferidos são a França, Alemanha, Suíça, Angola e o Reino-Unido. Dentre os países alvos da emigração portuguesa há a destacar Angola.
Um país 14,5 vezes (aproximadamente) maior que Portugal cuja língua oficial é o português, País riquíssimo no que respeita a recursos naturais (tem petróleo, ouro, diamantes, etc.) e por construir, sem qualquer tipo de infra-estruturas. É um país com grande oferta de trabalho e que tem tudo para que dê certo, embora exista riscos inerentes assim como em qualquer investimento. Grande oferta de trabalho propiciado por tudo o que há para fazer, poderemos dizer de forma estereotipada que é um País por construir, e que tem como pagar. Vejamos se a política interna e externa desse País o irá permitir, é aí que irá residir o risco de quem optar por emigrar.
Com isto tudo ainda falta salientar a presença dos imigrantes no nosso país.
Hoje centenas de milhares de estrangeiros, habitam paredes meias com os portugueses.
Nos dias de hoje e ao longo dos últimos 40 anos, fomos invadidos pelas mais diversas línguas, terra onde só predominava o português (anos 60), hoje ouve-se de tudo, espanhol, brasileiro, ucraniano, chinês, francês…as mais variadas culturas e costumes entram-nos porta dentro.
Através da televisão, jornais, revistas e rádios. O país fechado passou á história.
De um país de emigração, Portugal tornou-se, na última década, um país de imigração.
Estabelecem-se em Portugal muitos profissionais altamente qualificados, provenientes de países da União Europeia com altas taxas de desemprego e em falta no mercado de trabalho português. O caso dos médicos, provenientes de Espanha, é um caso paradigmático.
Tradicionalmente, os fluxos migratórios provêm das antigas colónias portuguesas, nomeadamente dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Trata-se, na generalidade, de mão-de-obra pouco qualificada, que se insere, sobretudo, no sector da Construção Civil e Obras Públicas, em grande desenvolvimento em Portugal.
Os imigrantes extra-comunitários desenvolvem a actividade profissional predominantemente nos sectores da Construção Civil e Obras Públicas, Indústria Transformadora, Alojamento, Serviços de Limpeza, Trabalho Doméstico, Restauração e Comércio.
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