quinta-feira, 9 de julho de 2015

Notícia - Habitação "low-cost"

Construir uma casa, mudá-la à medida das necessidades, acrescentar quartos ou eliminá-los, sem necessidade de obras, sem os inconvenientes do tijolo e do betão, sem sujidades e incómodos, respeitando o ambiente e com toda a segurança, a um preço baixo. Um sonho longínquo? Talvez não! As casas acessíveis estão aí e prometem dar resposta a tudo isto.

O desafio da ArcelorMittal, o maior grupo mundial da indústria do aço, foi lançado aos 16 grupos de investigação que constituem a Rede Científica Internacional de Estruturas Metálicas, uma organização que reúne as universidades líderes em investigação nesta área, do Brasil, da China, da Índia, da Polónia, de Portugal, da República Checa, da Roménia e da Suécia. Os investigadores das 16 instituições aceitaram-no e responderam com projectos de fácil implementação no mercado dos respectivos países.

Em Portugal, a tarefa foi entregue a doze investigadores de diversas áreas, da engenharia à arquitectura, liderados pelo professor Luís Simões da Silva, do Instituto para a Sustentabilidade e Inovação em Engenharia Estrutural da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que apresentaram um novo conceito de habitação construída com recurso a aço leve. A solução desenvolvida assenta na definição de uma configuração de base que permite uma boa organização funcional a partir de um número limitado de formas originais, como no popular jogo de computadores Tetris. A utilização de aço leve, nome popular para a utilização de perfis em aço enformado a frio, permite materializar facilmente uma combinação muito versátil das várias formas originais. "Os objectivos a responder eram a modularidade, a adaptabilidade, a sustentabilidade, o conforto, a segurança das pessoas e a eficiência energética", refere o coordenador do projecto, adiantando que o custo das novas casas "é muito baixo: são cerca de 550 euros por cada metro quadrado construído, o que equivale a uma redução de 28 por cento dos custos de construção".

Simões da Silva frisa também que o projecto da FCTUC responde ao critério da evolução familiar. "É fácil de construir e de desconstruir. À medida que a família aumenta, pode-se sempre acrescentar mais um módulo. Num dia, as pessoas podem reformular a casa e passar de dois quartos para um, ou aumentar um, porque todo o processo é modular e é muito fácil ampliar a casa e mudar a tipologia, sem ter de sair de casa."

"As casas tradicionais perdem muito espaço em áreas não utilizáveis, como é o caso dos corredores. Percebendo o transtorno causado em obras de adaptação, há uma aposta em novos modelos de espaço utilizável e em módulos facilmente desmontáveis e manipuláveis", afirma o docente. Sobre a arquitectura, afiança que se mantém a traça original da casa portuguesa.

Bons isolamentos

Simões da Silva garante também que os testes desenvolvidos às novas construções, "em termos de conforto térmico e isolamento acústico, entre outros, revelaram performances muito melhores do que as da construção convencional". No Verão, estas casas não têm praticamente requisitos de arrefecimento, e, de Inverno, a necessidade de aquecimento é muito inferior à de uma construção comum. Os testes às condições funcionais das habitações evidenciaram ganhos significativos na eficiência energética e no conforto térmico, e as simulações numéricas dinâmicas validaram estes resultados.

A facilidade de transporte e a rapidez de execução da obra são outro lado positivo destas novas casas: "Uma vez construídas, cabem num contentor. Podemos produzi-las em Portugal e construí-las na Austrália com a mesma qualidade de estética e conforto para os utilizadores. São casas que estão imediatamente prontas a habitar e respondem a todas as exigências, incluindo as climatéricas." O conceito é extensível a blocos de apartamentos até quatro andares, respondendo assim a mais de 90 por cento das necessidades do país. A apresentação mundial da solução para blocos de apartamentos será feita em Setembro, em Istambul (Turquia).

Luís Simões da Silva explica que, para a casa ser viável em qualquer região do país e obedecer às regras de construção em vigor, foi projectada para a pior região sísmica, o Algarve, para ter neve correspondente à zona da Serra da Estrela e vento correspondente à zona costeira. Quer isto dizer que, com sol ou com neve, com vento ou com chuva, nada prejudica estas casas, que deixam ainda de ter, quando devidamente montadas, os inconvenientes da construção tradicional, incluindo o que se refere a infiltrações de água, humidades, bolores, etc.

Por outro lado, os perfis em aço leve são extremamente resistentes, o que se traduz em construções mais ligeiras e com menores emissões de dióxido de carbono (cerca de um terço quando comparadas com soluções arquitectónica e funcionalmente equivalentes com recurso à construção tradicional). Assim, a solução desenvolvida vai também ao encontro de lógicas mais amigas do ambiente, já que, "pela sua natureza construtiva, foi uma preocupação inicial a possibilidade de reciclagem e de reutilização exaustiva das matérias-primas usadas". "Ao optar por uma estrutura de utilização de aço intensiva, é possível ter o mesmo grau de isolamento térmico com paredes mais finas, ou seja, numa mesma área de construção, temos mais espaço útil, sem aumentar os custos", explica o investigador.

Talvez, afinal de contas, a tal casa de sonho esteja prestes a chegar a uma grande superfície perto de si. Sim, porque estas serão casas de comprar e montar. Fique atento!

M.M.

Torre transportável representa Portugal na Expo Xangai 2010

A presença portuguesa na Exposição Mundial de Xangai, a maior de sempre desde 1865, tem um segundo espaço, para além do pavilhão nacional forrado a cortiça. É a Torre Turística Transportável (TTT), um projecto com tecnologia e desenvolvimento cem por cento portugueses.

Com nove metros de altura, três de largura e outros tantos de profundidade, a TTT, que se integra no tema da Expo Xangai 2010, Melhor Cidade, Vida Melhor, possui três pisos na sua posição vertical. Funcionando como espaço autónomo, divide-se em cozinha e espaço de refeições, zona de estar e escritório, quarto, varanda exterior e duas instalações sanitárias.

O projecto português é potencialmente auto-suficiente e, dado o reduzido impacto construtivo, vocaciona-se para o turismo de Natureza, podendo ser incluído em cenários naturais e ambientes diversos onde não haja infraestruturas, como é o caso de praias, florestas ou campos.

A torre pode ainda ser colocada na posição horizontal, como é transportada, dando resposta simultânea ao mercado residencial, incluindo em contexto urbano.

A TTT foi concebida pelo arquitecto José Pequeno, com o apoio da empresa DST (Domingos da Silva Teixeira) e da Universidade do Minho, e assume-se como um projecto multifuncional de arquitectura sustentável que privilegia simultaneamente a evolutividade urbana, a modularidade, a integração ambiental e a mobilidade turística.

Além de poder ser visitado, este segundo pavilhão português em Xanghai pode ser visto a partir de um ecrã instalado no pavilhão de Portugal. Existe ainda uma réplica à escala 1:3 na Área de Boas Práticas Urbanas, um espaço da exposição reservado aos melhores exemplo no âmbito da arquitectura sustentável e das soluções urbanas.

José Teixeira, CEO do grupo DST, que pretende iniciar a produção em série da TTT já em 2011, explica que este projecto vai estar patente diante de cerca de 70 milhões de pessoas, pelo que "a empresa está bastante confiante de que irão surgir novas oportunidades de negócio para um produto industrializado e pré-fabricado que representa um novo conceito turístico e habitacional".

Definida como tendo "design minimal e forte imagem expressiva, audaz ao nível da solução estrutural", a TTT combina iluminação natural e potencial energético, tendo também sido estudada para evitar dissonâncias com o ambiente, optimizar os processos de construção, reduzir os resíduos resultantes e diminuir os consumos energéticos do edifício.

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