Os «boatos» sobre a vacina contra a gripe pandémica chegam mais depressa à população do que a informação científica, causando dúvidas e «ruído» à volta da vacinação, afirma o director da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP)
Constantino Sakallarides, que falava hoje à Lusa à margem da conferência ‘A importância e os limites da lei na protecção da saúde pública’, que decorreu em Lisboa, comentava a recusa de alguns elementos de grupos prioritários em tomar a vacina da gripe A (H1N1).
«No mundo actual, há um contraste crescente entre a rapidez com que os modernos meios de informação - Internet, redes sociais, Youtube, Twitter - espalham rumores e boatos com alguma aparência de credibilidade» e o «processo ainda clássico de formação de opinião científica que demora tempo», sustenta.
No entanto, está convicto de que «a adesão à vacinação vai aumentar à medida que as pessoas vão tendo mais informação científica e vão surgindo mais casos» de gripe A H1N1.
O director da ENSP lembra que os primeiros trabalhos sobre os ensaios da vacina foram publicados a 10 de Setembro. «Essa publicação dá origem a formar opinião de carácter científico que depois é transmitida aos meios profissionais», explica.
Mas há um «tempo de latência entre a produção desta informação científica e a adesão das pessoas e a sua compreensão», que é «maior, menos eficaz e dá resultados práticos mais tardios do que a circulação do rumor e do boato que os meios de informação permitem», justifica.
De alguma forma, acrescenta, «é natural este ruído. O que esperamos é que, com a acção dos líderes científicos, dos profissionais e da comunicação social» as pessoas aceitem a base científica das recomendações.
A questão de tomar ou não a vacina suscita algumas perguntas como «Qual é o estatuto legal das boas práticas» e, no caso, de um profissional de saúde aconselhar um doente a ser vacinado e este recusar e ter uma complicação grave que consequência poderá ter.
«A resposta dos juristas [a estas questões] foi que as orientações de boas práticas não têm estatuto legal, mas o não seguimento dessas orientações e as suas consequências devem ser argumentadas e justificadas por quem não as seguiu», afirma Sakallarides.
«Cabe a quem não seguiu as boas práticas explicar em caso de complicações porque é que tomou essa decisão», acrescenta.
Por outro lado, o responsável adiantou que a vacinação nunca deve ser feita sob «ameaça» de uma acção coerciva que «provoca reacções negativas nas pessoas».
«As pessoas querem ser convencidas de que a vacina é boa e que é segura, não querem ser obrigadas a tomá-la», defende.
Constantino Sakallarides afiança que o «meio académico está centrado em ajudar a dar uma boa resposta ao problema».
Neste momento, anuncia, existe um esforço do Ministério da Saúde em fazer uma melhor integração da base de dados com informação relevante para a gripe pandémica.
Os dados serão das consultas dos centros de saúde, das urgências e consultas hospitalares, da Linha Saúde 24 para permitir ter um retrato local da evolução da gripe, avança.
Para Constantino Sakallarides, é «muito importante que essa informação seja tornada pública logo que possível», porque «uma informação precoce sobre surtos locais é um elemento crítico para localmente se implementar um plano de contingência».
Lusa / SOL
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