sábado, 28 de outubro de 2017

Incêndios causaram pico de poluição. Fumos chegaram a países bálticos


Episódio começou a 6 de outubro, com níveis altos de dióxido de azoto e de ozono. No dia 15, com os ventos vieram as poeiras do Norte de África, e com os fogos um excesso de partículas inaláveis

Os piores incêndios florestais de sempre em Portugal, que nos dias 15 e 16 deste mês queimaram de uma só vez um recorde absoluto de mais de 220 mil hectares, causando 44 mortos, mais de 70 feridos e prejuízos de muitas centenas de milhares de euros que ainda estão a ser contabilizados, originaram também um episódio severo de poluição atmosférica.

Os fumos e as partículas viajaram até ao Norte de França e Sul de Inglaterra, onde foram suficientes para embaciar o sol, e chegaram ainda ao Norte da Alemanha e aos países bálticos (ver mapa, em baixo). No país, as estações de medição do ar registaram, nos dias 15 e 16 , em todo o território, níveis de partículas inaláveis muito acima dos limites legais.

O episódio de poluição, no entanto, já vinha de trás, desde o dia 6, por causa das condições meteorológicas, com calor intenso e falta de vento, que causaram concentrações elevadas de poluentes (dióxido de azoto e ozono) na camada de ar junto ao solo. Depois, os incêndios e a circulação atmosférica, determinada pelo furacão Ophelia, que trouxe vento forte do Sul, e com ele as poeiras do deserto do Norte de África, fizeram o resto.

Naqueles dois dias de incêndios, "houve estações de medição da qualidade do ar em que se registaram valores quatro vezes acima do valor limite diário", adianta Francisco Ferreira, professor e investigador da Universidade Nova de Lisboa na área da qualidade do ar e presidente da associação ambientalista Zero.

Uma delas foi a de Montemor--o-Velho, na região centro. Mas, no dia 15, o Porto Litoral, Estarreja, Aveiro, o Centro Litoral, a região de Lisboa e Vale do Tejo, o Alentejo Litoral e o Algarve não escaparam às concentrações excessivas de partículas inaláveis no ar.

A situação repetiu-se - e agravou-se - no dia 16, com as estações em todo o território a registarem valores de partículas inaláveis acima do limite, que é de 50 microgramas por metro cúbico (mg/m3). "Houve estações no país que chegaram aos 300, e na Galiza, onde também houve incêndios, atingiram-se os 600 mg/m3, em Vigo e Santiago de Compostela, nesses dias", adianta Francisco Ferreira.

No Índice de Qualidade do Ar, a classificação foi nesses dias de "mau", a pior da escala, que se manteve na manhã de 17, mas que melhorou depois ao longo do dia com a chuva e o vento de oeste que contribuiu para limpar a atmosfera. No dia 18 a classificação da qualidade do ar já era "muito bom" e "bom" em todos as estações do país.

Grandes concentrações de partículas inaláveis, como as que se registaram nos dias 15 e 16, têm impactos na saúde. Sabe-se que contribuem para o agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares, sobretudo nos grupos mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e as pessoas com doenças respiratórias, pelo que, em circunstâncias com estas, "devem ser mais sistemáticos os avisos à população sobre esses riscos", defende Francisco Ferreira. "Nestes casos as pessoas não devem, por exemplo, fazer exercício físico no exterior."

Informação retirada daqui

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