n. 11 de janeiro de 1802.
f. 19 de fevereiro de 1881.
Vedor honorário da Casa Real, par do reino; 7.º senhor de Fronteira, 8.º senhor dos morgados da Torre da Vargem, senhor de Coculim e Verodá, na Índia; 15.º senhor da quinta das Chantas, no termo de Santarém; 13.º senhor da quinta da Goncharia, em Almeirim; donatário na mordomia-mor de Faro; marechal de campo reformado; grã-cruz da Ordem de Cristo; comendador na mesma ordem, das comendas de Santa Cristina, de Afife, de N. Sr.ª da Conceição, de Rosmaninhal; de S. Miguel, de Linhares; de S. Nicolau, de Carrazedo de Monte Negro; de S. Tiago de Fonte Arcada; de S. Tiago de Torres Vedras. Grã-cruz da Ordem da Torre e Espada, oficial e cavaleiro da mesma ordem; grã-cruz das ordens de Carlos II de Espanha; da Águia Vermelha da Prússia; de S. Gregório Magno de Roma; de Alberto o Valoroso da Saxónia; de S. Maurício e S. Lázaro de Itália e da Rosa do Brasil; condecorado com a medalha das campanhas da Liberdade, algarismo 9, e com as medalhas por Bons Serviços, Valor Militar e Comportamento Exemplar.
Nasceu em Lisboa a 11 de janeiro de 1802, e faleceu na sua quinta de Benfica, a 19 de fevereiro de 1881. Era filho de D. João José Mascarenhas Barreto, 6.º marquês de Fronteira, e de sua mulher, D. Leonor Benedita de Oyenhausen e Almeida.
Mal conheceu seu pai, que faleceu em 1806, e herdou todos os bens da casa; o príncipe regente D. João o agraciou com os títulos e bens da Coroa, de que os seus antepassados gozavam, em portaria de 17 de maio de 1811, e suplementos de 24 de setembro de 1814 e 26 de abril de 1815. Assentou praça de cadete a 8 de maio de 1818, tendo dezasseis anos, na primeira companhia de Granadeiros do Regimento de Infantaria n.º 4, sendo promovido a alferes do regimento n.º 1 da mesma arma em 10 de dezembro de 1820. Em 14 de fevereiro de 1821 casou com D. Maria Constança da Câmara, dama da Ordem de Santa Isabel, mais tarde, dama de honor das rainhas D. Maria II, D. Estefânia e D. Maria Pia; era filha de D. Luís Gonçalves da Câmara Coutinho Pereira de Sande, 11.o senhor das Ilhas Desertas, de Regalados, e do morgado da Taipa; alcaide-mor de Torres Vedras, casado com D. Maria de Noronha, filha dos 7.os, condes dos Arcos.
Em 1820, o chefe da revolução liberal, o general Sepúlveda, o nomeou seu ajudante de campo, conservando-o no seu estado-maior até à queda do governo constitucional. Não querendo anuir ao movimento da Vilafrancada em maio de 1823, foi colocado no 7.° Regimento de Cavalaria, de guarnição em Torres Novas. Voltou depois a Lisboa, e foi mandado servir no regimento n.º 4 da mesma arma, poucas semanas antes da revolta de 30 de abril de 1821. Esteve então preso na torre de Belém, e depois na praça de Peniche, correndo os mais sérios perigos de vida, pois esteve quase a ser fuzilado. Saindo da prisão obteve licença para sair do reino, e em companhia de sua mulher percorreu parte da Europa, regressando à pátria depois de ser outorgada a Carta Constitucional em 1826. Foi eleito par do Reino, por carta régia de 30 de abril deste ano, não tomando logo posse, por estar ainda na menoridade, que então se contava de vinte e cinco anos.
Começando as lutas do partido do infante D. Miguel, o general conde de Vila Flor tomou o comando das armas da província do Alentejo nos fins de Novembro do referido ano de 1826, e nomeou o marquês de Fronteira seu ajudante de campo. Tomou parte no combate de Arronches, e foi recomendado pelo seu comportamento nesta acção, sendo ele o portador da participação do combate à, regente, a infanta D. Isabel Maria. O conde de Vila Flor passou ás províncias da Beira, Trás-os-Montes e Minho, conservando sempre o marquês ás suas ordens. Nesta qualidade esteve na batalha de Coruche, e nos combates de Ponte da Barca e do Prado. Tendo em 9 de janeiro de 1827 deposto as armas os corpos rebeldes, findou a campanha, conservando-se o marquês no quartel general do conde de Vila Flor, que teve a nomeação de governador das armas do partido do Porto, e nele igualmente se conservou, quando aquele general comandou a força armada de Lisboa. Em julho de 1827 houve tumultos sérios na capital, com o fim de obrigar a regente a nomear um ministério que fosse presidido por Saldanha. Aos miguelistas convinha acusar de cumplicidade nestes tumultos pessoas importantes pela sua hierarquia social, e por isso o intendente da polícia recebeu varias denúncias em que se acusava o marquês de Fronteira de ter empenhado os seus esforços na direcção daqueles movimentos. A esta revolução se ficou chamando a Archotada. Na sessão da Câmara dos Pares de 5 de fevereiro de 1828 prestou juramento e tomou posse o marquês de Fronteira, e logo o ministério público remeteu à câmara um processo em que o novo par estava pronunciado como cabeça de motim. Em 22 de fevereiro seguinte ficou absolvido, quando o infante D. Miguel chegou a Lisboa. Constando-lhe que pretendiam prendê-lo, apesar de ter sido absolvido, emigrou para Inglaterra, passando depois a Paris. Tendo adoecido nessa cidade, não tomou parte na conhecida tentativa do vapor Belfast, onde vieram à costa do Porto, Saldanha, Palmela e o conde de Vila Flor, mas o governo de D. Miguel, acreditando que ele fora um dos da expedição, mandou-o processar com os outros, e sequestrou lhe os bens. Sabendo, porém, mais tarde que o marquês estava doente em Paris mandou suspender o processo e levantar o sequestro. O marquês declarou então no Journal des Debats, que se não tinha tomado parte na expedição de Belfast, fora por motivo da doença, e que não reconhecia outra rainha senão D. Maria II. Esta declaração valeu-lhe um novo sequestro, ficando privado de todos os seus bens até à entrada do exército libertador na capital.
Assim que o ordenaram, reuniu-se ás forças que sustentavam a dinastia e a Carta nos Açores. Partiu para a ilha Terceira, e continuou no lugar de ajudante de campo do general conde de Vila Flor; desembarcou com ele nas praias do Mindelo, a 8 de julho de 1832, e às suas ordens entrou na batalha de Ponte Ferreira, a 23 de julho, em que foi graduado no posto de capitão; e quando se reformou a ordem da Torre e Espada, foi condecorado com a medalha de cavaleiro, com a data do dia da batalha. Assistiu também ao combate de Souto Redondo, e todo o tempo que o conde de Vila FIor comandou o exército liberal durante o cerco do Porto, esteve seu ajudante de campo. Quando D. Pedro IV assumiu o comando em chefe, nomeou o seu oficial ás ordens. Tomando o conde de Vila Flor o comando da ala direita das linhas do Porto e da 1.ª divisão do Exército, o marquês voltou ao seu quartel-general. Foi também recomendado pela sua conduta no combate das Antas. Acompanhou o general, já, então duque da Terceira, na expedição do Algarve, fez a campanha desta província e a do Alentejo, esteve na batalha de Cacilhas, continuando sempre ás ordens daquele general durante os sítios de Lisboa e de Santarém, e acompanhou-o depois ao norte do país. Assistiu à entrada de Coimbra e à batalha de Asseiceira, onde recebeu o grau de oficial da Torre e Espada. Estava em Evoramonte quando se deu a convenção em 27 de maio de 1834, e o duque da Terceira lhe deu ordem de acompanhar o general Lemos aos postos avançados do exercito de D. Miguel, sendo em seguida mandado como parlamentar à praça de Elvas comunicar ao governador o resultado da convenção, e intimá-lo a render-se.
Terminada a campanha da Liberdade, o marquês de Fronteira foi colocado no Regimento de Lanceiros n.º 1, que se organizou naquela época, sendo nomeado comandante do 3.º esquadrão. Convocadas as cortes foi um dos 13 pares, que, guardando com a devida honra o seu juramento à Carta e à dinastia, instalaram novamente a referida câmara. A revolução de 8 de setembro de 1836 suprimiu a câmara, e em 1837 instaurou-se o Congresso Constituinte, em que o marquês de Fronteira foi eleito deputado por Lisboa. Depois de votada a nova constituição de 1838, foi também deputado, eleito por Bragança. Em 1840 organizou o 2.° Batalhão do Comércio, mas teve de abandonar o comando para acompanhar o duque da Terceira ás províncias do Norte. Em 1842 restabeleceu-se a Câmara dos Pares, e nesse ano, comandando o duque da Terceira a 1.ª Divisão Militar, realizou-se no Porto a restauração da Carta, e a Junta que a proclamara, marchou sobre Coimbra; a rainha ordenou então ao marquês de Fronteira o desempenho da comissão espinhosa de ir ao encontro da junta e das forças da província do Norte, comandadas pelo barão de Santa Maria, e no regresso à capital foi elogiado pelo ministro da Guerra, José Jorge Loureiro pela forma como se houvera no cumprimento daquela comissão. Em 1846 rebentou a revolução chamada da Maria da Fonte, e o marquês de Fronteira foi nomeado governador civil de Lisboa, cargo que exerceu, com uma pequena interrupção, até 1851. Nesta época foi encarregado pelo primeiro-ministro, o general Saldanha, de organizar os corpos de voluntários nacionais da capital, e de tomar o comando geral desses corpos. Antes da batalha de Torres Vedras em 23 de dezembro de 1846, estando Lisboa ameaçada pelas forças da Junta do Porto, ocupou as linhas da capital com os ditos corpos, merecendo elogios do governo pelo bom serviço que fizera. Em 1847 foi elevado a grã-cruz da Ordem da Torre e Espada. Conservou o comando dos corpos nacionais e o cargo de governador civil até 1851, como dissemos, ano em que rebentou a revolta conhecida pela Regeneração, tendo ele empregado todos os meios de que podia dispor, para evitar que a revolta triunfasse na capital. Saldanha foi nomeado presidente do Conselho de Ministros, e o marquês entendeu na sua dignidade demitir-se dos cargos que exercia. Saiu brigadeiro por antiguidade, em 10 de julho de 1851, e não lhe convindo ficar por mais tempo no serviço efectivo, pediu e obteve a reforma no posto de marechal de campo, reforma, que lhe foi melhorada por um decreto honroso, em 11 de maio de 1869, pelo ministério Sá da Bandeira.
Por ocasião do casamento de D. Pedro V, em maio de 1858, foi nomeado mordomo-mor da Casa da Rainha D. Estefânia, cargo que exerceu até ao falecimento daquela virtuosa senhora, sucedido em Julho de 1859. Quando faleceu D. Pedro V e o infante D. João, em 1861, o duque de Saldanha, que era o mordomo-mor da Casa Real, adoeceu, e o marquês de Fronteira foi substitui-lo nesse elevado cargo. No casamento de D. Luís I, em 1862, foi nomeado mordomo-mor da Casa da Rainha senhora D. Maria Pia. Alguns anos depois, por motivos particulares, pediu a demissão, que lhe foi concedida.
O marquês de Fronteira era neto pelo lado de sua mãe, da grande poetisa, marquesa de Alorna (V. este título). O titulo de marquês de Alorna foi-lhe dado em 22 de outubro de 1839, ficando desde então reunido ao de Fronteira, que lhe* foi renovado em Julho de 1844. Diz-se que deixou manuscritas algumas memórias valiosas. Do seu matrimónio houve uma única filha e herdeira, D. Maria Mascarenhas, que nasceu a 27 de maio de 1823, e casou com Pedro João de Morais Sarmento, elevado pelo seu casamento a conde da Torre, e depois a marquês de Fronteira (V. o artigo seguinte). O ilustre fidalgo assistiu em França à coroação de Carlos X e a todas as festas que por essa época se realizaram nas Tulherias. Tinha verdadeira paixão pelas artes, e em Roma viveu na convivência do nosso pintor Sequeira.
Nota:
Publicadas por Ernesto de Campos de Andrada em 1926 com o título Memórias do Marquês de Fronteira e d'Alorna, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, ditadas por ele próprio em 1861 e publicadas em Coimbra pela Imprensa da Universidade.
Biografia retirada daqui
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