sábado, 21 de outubro de 2017

Notícia - Descoberto ácaro do lagarto-de-água

Não há espécie que esteja livre de parasitas, no lagarto-de-água, endémico da Península Ibérica, foi descoberto mais um, o Ophionyssus schreibericolus - um ácaro que vive nas escamas do réptil e que poderá aumentar o conhecimento sobre os modelos de parasitismo e sobre os mecanismos evolutivos e de resistência dos hospedeiros.

O estudo, publicado na revista espanhola Zootaxa, foi feito por uma equipa internacional de investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, a que pertence Raquel Godinho, e contou com a colaboração de Maria Moraza, da Universidade da Navarra, especialista em taxonomia de ácaros.

A descoberta do ácaro deveu-se ao interesse evolutivo do lagarto-de-água, uma espécie que não está ameaçada. O Lacerta schreiberi está distribuído pelo noroeste peninsular e no sistema central espanhol, com duas populações muito distintas a nível genético. Estas duas unidades encontram-se apenas na Serra da Malcata, que está na fronteira luso-espanhola.

"Temos dedicado muito tempo ao estudo da zona de contacto, não só em termos genéticos para compreender a extensão e o tipo de hibridação entre as duas grandes populações deste lagarto, como para estudar outras características de possível diferenciação, como a morfologia e a cor", explicou à Lusa Raquel Godinho.

Na sequência desse trabalho, a equipa do Porto focou-se em alguns parasitas internos e externos do lagarto. Quando encontraram o ácaro entraram em contacto com os colegas espanhóis, especialistas nesta área. "Foi depois da equipa da Universidade da Navarra observar os exemplares do ácaro que se percebeu que se tratava de uma espécie inteiramente nova para a Ciência", observou a investigadora portuguesa.

“Este parasita alimenta-se do sangue e dos fluidos existentes nos tecidos e encontra-se em 65 por cento dos répteis analisados [127], com um nível de parasitismos de cinco ácaros por réptil”, disse Maria Moraza ao Science Daily.

O Lacerta schreiberi vive na Península Ibérica há 1,8 milhões de anos e sobreviveu aos vários ciclos glaciares, desde os últimos dez mil anos que as duas populações têm vindo a divergir. Os investigadores vão tentar verificar agora se o ácaro (que acabou por ser acarinhado com o nome do lagarto) só parasita uma das linhagens do réptil, se parasita as duas ou se também existe noutras espécies da mesma família.

Para além disso vai ser analisado o ADN dos ácaros. Segundo Stuart Baird, investigador da equipa do Porto, esta análise vai servir "para compreender melhor as causas da formação de novas espécies e conhecer em detalhe a história evolutiva da Península Ibérica e a forma como a natureza responde às alterações climáticas."

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