No dia 29 do fatídico mês de Agosto, de 1935, uma rainha adorada pelo povo morria num desastre de viação aos 29 anos. Astrid da Bélgica deixou três filhos pequeninos, um marido inconsolável, um povo de luto e o mundo inteiro consternado.
Astrid, princesa da Suécia, a terceira filha do príncipe Óscar Carlos da Suécia, irmão do rei Gustavo e de sua mulher Ingeborgn nasceu em Estocolmo em no dia 17 de Novembro de 1905, e viria a ser a quarta rainha dos belgas. A sua educação foi de grande liberdade de movimentos, sem a costumada educação espartana que se verifica na Grã Bretanha. Os pais de Astrid quiseram que as filhas aprendessem o mesmo que qualquer menina burguesa e assim aconteceu. Aprenderam a cozer, cozinhar e tratar de crianças. Margarida, Marta e Astrid estavam assim preparadas para viver num país onde a democracia era já uma realidade. Astrid frequentou a Universidade feminina de Upsala e tirou um curso de Puericultura.
Astrid desde pequena que gostava de ler e praticar desporto. Com as irmãs costumava visitar os doentes nos hospitais e preferia conversar com os mais pequenos. Astrid conheceu aquele que seria seu marido num dos muitos encontros entre as famílias reais europeias.
Decorria o mês de Março de 1926 e depois de várias semanas de convívio, Leopoldo e Astrid sentiram-se atraídos um pelo outro. Ele era o príncipe herdeiro da Bélgica, filho de Alberto I e da rainha Isabel. Leopoldo era o protótipo do príncipe perfeito. Bonito, inteligente, rico e simpático. Astrid e Leopoldo amaram-se, como se podia amar naquele tempo, com uma certa distância. Ficaram noivos e casaram, sem qualquer entrave. O casamento foi primeiro uma cerimónia civil em Estocolmo, a 4 de Novembro de 1926, na presença dos reis da Suécia, Bélgica, Dinamarca e Noruega e de muitos convidados da nobreza europeia. A noiva tinha a religião luterana e o noivo era católico.
Para a realização da cerimónia religiosa, Astrid foi levada pelo pai e comitiva para a Bélgica, no Fylgia , um deslumbrante barco branco, onde a princesa viajou envergando, como não podia deixar de ser, um vestido também branco. Por ser do país das neves e vestir-se de branco, começaram logo a chamaram-lhe « Princesa das Neves».
A comitiva real chegou à cidade de Antuérpia onde era esperada, no cais, pelo apaixonado noivo, que a beijou na face, sem se preocupar com protocolos e que uma multidão curiosa saudou e aplaudiu. Diferente do que viria a ser mais tarde o enlace de Carlos de Inglaterra e Diana, este não foi um casamento de Estado, imposto. Foi na verdadeira acepção da palavra um casamento de amor. A cerimónia religiosa realizou-se em Bruxelas, no dia 10 de Novembro, na basílica de Santa Gúdula. Astrid lindíssima ostentava um vestido com uma cauda de dez metros de comprido e na cabeça um diadema que lhe segurava um véu de renda de Bruxelas.
A Bélgica, como sabemos, é um país recente, apenas independente dos Países Baixos, desde 1830. País próspero e de uma riqueza imensa em património monumental, as suas principais cidades são capitais de cultura, de grande comércio e, nos anos 30 do séc. XX, uma das suas principais riquezas era a extracção de carvão de minas.
Os noivos, Astrid e Leopoldo, foram viver para um pavilhão anexo ao palácio, chamado Belle Vue. Astrid aprendeu a língua flamenga e melhorou o seu francês por serem as duas línguas oficiais da Bélgica.
Educada de modo informal, Astrid teve a primeira filha Josefina Carlota, em 1927 e educou-a como fora educada, com o mínimo de protocolos. Porque as crianças, todas, filhas de monarcas ou dos comuns dos mortais, devem ter desde que nascem liberdade e muito afecto. Os belgas cedo se habituaram a ver uma mãe com os filhos ( que por acaso, era princesa) a passear, o carrinho com o bebé pelos jardins de Bruxelas.
Astrid, deu-se logo muito bem com a sua nova família. O casal viveu uma lua-de-mel de nove anos, que só a morte trágica da rainha viria interromper.
O ano de 1930 foi o ano do primeiro centenário da Bélgica como País. Houve enormes comemorações que culminaram com o nascimento, a 7 de Setembro, do filho, que viria a ser o herdeiro do trono – Balduino, que foi rei entre 1951 e 1993.
Como herdeiro do trono, Leopoldo com o título de duque de Brabante e Astrid fizeram diversas viagens, nomeadamente ao Congo (ex-Congo Belga), às chamadas Índias Holandesas e à Ásia meridional. Em 1932 visitam a Indochina francesa e as Filipinas. Também, nos momentos de lazer passavam temporadas na Suiça, normalmente incógnitos, porque, embora nesse tempo ainda não houvesse os terríveis paparazzi, já havia muitos repórteres que perseguiam as figuras reais. Astrid e Leopoldo, viajavam com o título de condes de Rethy e conseguiam normalmente passar despercebidos. Astrid gostava de ir a Paris fazer compras. Numa dessas estadias, fora do país, souberam que o rei Alberto I, pai de Leopoldo, que tinha a paixão pelo alpinismo, fora vítima de uma queda, ao escalar uma montanha rochosa perto de Namur, que lhe provocou a morte. Foi uma tragédia. Alberto I era casado com Isabel, duquesa da Baviera, filha da infanta portuguesa Maria José de Bragança. Era o ano de 1934.
Um novo capítulo se abre para Astrid. Agora é rainha dos belgas. A simpatia do povo por ela aumentou, porque passaram a vê-la ainda mais. Reparavam na sua doçura, a timidez que foi perdendo e adoravam vê-la dedicada aos filhos e conversar com pessoas que a saudavam na rua. Profundamente preocupada com obras sociais, a nova rainha visitava regularmente creches e protegia os mais carenciados, quando havia crises de desemprego, fruto da situação geográfica da Bélgica, muitas vezes impotentes perante as grandes potências vizinhas como a Alemanha, a França e a Grã Bretanha. No entanto, nos períodos mais graves, Astrid tomava a iniciativa de pedir donativos, que eram entregues no palácio, para serem distribuídos pelas famílias mais pobres, normalmente as dos mineiros.
Nem toda a sociedade, principalmente os mais conservadores, via com bons olhos esta preocupação da rainha pela classe operária e chamavam-lhe «rainha dos operários», mas, para aqueles que ela apoiava generosamente este era um «título honorífico». O terceiro filho, Alberto nasceu em Junho de 1934 e é o actual rei dos belgas, desde 1993.
Em 1935 foi inaugurada a Exposição Internacional de Bruxelas. O rei comprara um belo automóvel, um Packard descapotável, último modelo. Em Agosto de 1935 o casal real instalou-se com os filhos e uma pequena comitiva numa aldeia suíça. Iam praticar alpinismo, gosto que Leopoldo herdara do pai. No dia 29 de Agosto o casal real, acompanhado por amigos que viajavam noutro carro partiram para as montanhas equipados para praticar o seu desporto preferido. O motorista e a dama de companhia da rainha viajavam no banco de trás. Tudo parecia sorrir naquele belo dia de Verão. Astrid, de mapa na mão seguia o itinerário e dava indicações ao marido dos locais onde gostava de parar para apreciar a paisagem, mas, num gesto impensado, a rainha, virando-se para o marido mostra-lhe algo no mapa e este, num segundo de distracção, perde o controlo do carro e vai embater violentamente contra uma árvore. O corpo de Astrid da Bélgica é brutalmente projectado, partindo com a cabeça o vidro e o seu corpo cai ensanguentado, tendo, segundo os especialistas tido morte imediata. O carro, segundo testemunhas, iria apenas a 60 km/hora. O automóvel acabaria por se precipitar no lago Lucerna, num local baixo, daí só parte ter ficado submersa, como mostram as fotos da época.
Depois... Tudo foi complicado e lento. O auxílio foi pedido por um amigo do rei que viajava noutro carro, mas tudo demorou demasiado tempo. Ninguém na Suiça sabia quem eram aqueles estrangeiros sem documentos e a polícia também demorou a perceber quem eram os sinistrados. O rei Leopoldo e os outros ocupantes do carro tiveram ferimentos pouco graves. Chegaram mais tarde os socorros e um padre, mas a rainha já tinha falecido.
A brutal notícia foi transmitida pela rádio e foi a consternação geral, no mundo inteiro. A imprensa de todo o mundo deu notícias pormenorizadas. Em França os jornais fizeram edições especiais, em Itália, onde era então rainha uma irmã de Astrid, foi uma comoção generalizada e os jornais esgotaram-se em toda a Europa. De todo o mundo chegaram flores e condolências.
O corpo embalsamado da rainha Astrid chegou, de combóio a Bruxelas e foi levado para o palácio real. Durante vários dias as lágrimas dos belgas correram, sem cessar, pela sua rainha. Astrid, tinha vivido, primeiro como princesa e depois como rainha, apenas nove anos na Bélgica, mas o povo amava-a como se ela sempre ali tivesse vivido.
Estiveram presentes nas exéquias, que tiveram lugar no dia três de Setembro, monarcas e príncipes, chefes de Estado de inúmeros países, mas a grande homenagem, que ela teria apreciado, foi prestada pelos mineiros, que ela protegera e que fizeram questão de desfilar envergando os seus fatos de trabalho, de ganga azul com os típicos lenços vermelhos ao pescoço e nas mãos as lâmpadas acesas das lanternas com que desciam às minas. Foi comovente.
Com 29 anos desaparecia a «rainha dos operários» deixando órfãos três filhos pequeninos, um povo, que a amava e um marido inconsolável, que fez questão de seguir a pé no cortejo fúnebre. Quem o viu testemunhou que se chegou a temer pela sua saúde. Estava devastado pela dor. Por diversas vezes se viu o monarca limpar as lágrimas, gesto que nenhum protocolo conseguiria jamais impedir .
Em 1936 foi construída uma capela na cidade suíça de Kussnacht, perto do local onde a rainha Astrid perdeu a vida.
Informação retirada daqui
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