terça-feira, 21 de março de 2017

Biografia - Isabel II


            Isabel de Windsor tinha 25 anos quando o pai, Jorge VI, morreu em 6 de Fevereiro de 1952, às 7,30 horas. Como se encontrava em viagem no Quénia e o regresso demorou 24 horas foi declarada rainha in absentia, isto é, estava ausente do país quando foi declarada oficialmente monarca, facto que não acontecia desde o reinado de Jorge I (1714-1727). 
             Subiu ao trono com o título de «Isabel II, rainha do Reino Unido e da Irlanda do Norte». Em Fevereiro de 1952 a jovem rainha presidiu à primeira cerimónia pública. Os funerais do pai ocorreram no dia 15 de Fevereiro e no dia 5 de Maio a rainha, o marido, Príncipe Filipe e os dois filhos, Carlos e Ana, foram viver para Buckingham Palace. 
             A 4 de Novembro abertura do Parlamento com a presença da nova rainha. Esta é uma das cerimónias mais importantes da vida política da Grã-Bretanha, a que a rainha preside todos os anos. Em cinquenta anos, Isabel II apenas não abriu o Parlamento nos anos de 1959 e 1963. Para esta cerimónia há uma coroa específica e um traje especialmente concebido para este dia. A rainha desloca-se em coche do Palácio para o Parlamento. Muita gente vai para as ruas ver esta cerimónia. 
             A 25 de Dezembro de 1952 Isabel II leu a sua primeira mensagem de Natal, transmitida pela rádio, para toda a Commonwealth.
             A 2 de Junho de 1953 foi coroada rainha numa cerimónia sem precedentes, com milhares de convidados do mundo inteiro. Foi a primeira transmissão directa pela BBC de uma cerimónia com a monarquia. Ainda não havia muitas casas com aparelhos de televisão no Reino Unido, daí as famílias juntaram-se para não perderem tão importante e tão sumptuoso acontecimento. Em Novembro Isabel II e o marido fizeram a primeira grande viagem (cinco meses e meio) aos países da Commonwealth: Canadá, Bermudas, Jamaica, Ilhas Fidgi, Panamá, Tonga, Ilhas Coccos, Ceilão, Aden, Líbia, Malta e Gibraltar. Na Nova Zelândia e Austrália o casal real permaneceu três meses. Visitaram ainda a África do Sul e o Norte dos EUA.
             Em Maio de 1954 os príncipes Carlos e Ana foram transportados no novo iate real o Britânia até Gibraltar, onde os pais os esperavam. O primeiro-ministro Winston Churchill juntou-se à comitiva nos últimos dias da longa viagem de regresso.
             Em 1955 Isabel II posou para o pintor Pietro Annigoni. Dezasseis anos depois o mesmo pintor executaria novo retrato da rainha. A 4 de Abril Isabel II jantou com o primeiro-ministro Winston Churchill, em 10 Downing Street, residência oficial dos primeiros-ministros, na véspera do seu pedido de retirada da vida política. Em Junho o primeiro-ministro da Índia, Jawaharial Nehru visitou a rainha, em Londres. Nehru foi um homem fundamental na mudança de liderança na Índia. Quando da independência, em 15 de Agosto de 1947 assumiu a chefia do Governo. Em Agosto estalou o «escândalo» dos amores da princesa Margarida, irmã da rainha, com Peter Townsend, divorciado. Margarida renunciaria ao casamento por imperativos de Estado e por amor à irmã.
             No ano de 1956 a rainha e o Duque de Edimburgo realizaram uma viagem de três semanas à Nigéria. Foram recebidos por chefes tribais. Em Lagos foram homenageados com uma dança protagonizada por dez mil guerreiros com os seus trajes de festa. Em Abril a rainha recebeu Nikita Khrushchev, da URSS. O dirigente soviético escreveria, mais tarde, nas suas memórias, que a monarca britânica «era o género de rapariga que qualquer rapaz gostaria e encontrar a passear na Rua Gorky, num fim de tarde de Verão.»
             No início de Janeiro de 1957 o Governo britânico passou a contar com Harold Macmillan como primeiro-ministro. As conversas sobre assuntos de Estado da rainha com os primeiros-ministros são, ontem como hoje, extremamente importantes. A rainha está sempre bem informada. O seu Secretário todos os dias lhe dá conta dos factos relevantes do mundo. Neste ano Isabel II e o marido estiveram em visitas de Estado a Portugal, no mês de Fevereiro; em França, em Abril; na Dinamarca em Maio e no Outono Canadá e EUA tendo a soberana discursado na Assembleia-Geral da ONU. Em Portugal foi uma visita de cinco dias. Isabel II e o marido foram recebidos pelo Presidente da República, general Craveiro Lopes e mulher. Para lá do protocolo sabe-se que a rainha conversou muito com o general, que sendo de cavalaria era um entendido em assuntos de raças e performances de cavalos como o é a rainha. 
             A visita ao nosso país foi toda ela uma recepção sem precedentes na vida portuguesa, porque saíram dos museus bergantins (barcos a remos de grandes dimensões) e coches que foram restaurados para a ocasião. Portugal tem uma das mais ricas colecções de coches do mundo. Isabel II esteve também no Mosteiro da Alcobaça, tendo a rainha visitado os túmulos dos amantes infelizes Pedro e Inês, de quem conhecia a história. Também ali está sepultada a que foi rainha de Portugal, D. Filipa da Casa de Lencastre, que como sabemos era inglesa. Nessa altura Isabel II era jovem, bonita e trouxe um guarda-roupa extremamente elegante. O casal real esteve, a título privado, em casa dos duques de Palmela, por os ligar uma velha amizade. 
             No Natal a soberana inglesa leu a primeira mensagem dirigida a todos os países da Commonwealth, através da televisão.
             Em Março de 1958 a casal britânico retribui a visita da rainha Juliana dos Países-Baixos. Em Julho Isabel II concedeu ao filho primogénito, Carlos, o título de Príncipe de Gales, embora a cerimónia da investidura, só tivesse ocorrido em 1969. 
             Em Julho de 1958 a rainha pôs fim a uma tradição. O baile das debutantes, em Buckingham Palace. A chamada apresentação das meninas-família à rainha.
             O Presidente dos EUA Eisenhower e mulher visitaram a monarca em 1959 no castelo de Balmoral, tendo a rainha convidado famílias da aristocracia terra-tenentes para estarem presentes. «Ike» como era conhecido o Presidente dos EUA, era velho amigo de Jorge VI e tratava a rainha como se fosse uma «sobrinha» querida o que não desagradava a Isabel. Sabe-se pelas cartas que trocaram, que a rainha lhe mandou a receita da barbecue que tinham degustado em Balmoral. Muito festejada foi a notícia, em Agosto, de que a rainha ia ser novamente mãe. Carlos tinha doze anos e Ana dez.
             Uma das mais importantes visitas de Estado à Velha Albion foi, sem dúvida, em 1960, a do Presidente da República francesa, Charles de Gaulle, resistente e herói da 2ª Grande Guerra. A Grã-Bretanha honrou-o com manifestações de enorme apreço e admiração e, na ocasião o fotógrafo da Corte Cecil Beaton foi agraciado com a Legion d’Honneur, a mais alta condecoração francesa. Mais tarde outro Presidente francês seria recebido pela rainha, Jacques Chirac, em 1996, mas não foi mais do que uma visita entre outras. 
             Em Maio casou a irmã da rainha, princesa Margarida de quem fizemos uma biografia por ocasião da sua morte, em Fevereiro deste ano. 
             Também os monarcas da Tailândia e do Nepal foram recebidos em Buckingham Palace em 1960.
             Isabel II e o Duque de Edimburgo iniciaram o ano de 1961 com uma viagem à Índia, Paquistão, Nepal e Irão. Foi mais uma vez recebida com a tradição e beleza dos indianos, onde pontoaram os elefantes de Benares, luxuosamente ajaezados e pintados na própria pele, que deram aquele toque de exotismo que faz com que a Índia seja uma atracção para os europeus. A rainha vestiu trajes de linho, em homenagem à Índia que enquanto colónia britânica fez dessa indústria uma das mais prósperas do país. Em Maio a rainha esteve no Vaticano com o Papa João XXIII. 
             Nas décadas de 60 e 70 a monarquia britânica detinha grande prestígio, porque ainda se não avizinhavam as tormentas familiares dos anos 80 e 90. O príncipe Filipe sempre foi conhecido pelas suas afirmações directas aos jornalistas, às vezes pouco convenientes. O jornal Guardian era conhecido pelas suas «alfinetadelas» à monarquia, mas, como se sabe nas democracias é mesmo assim... 
             Em 1961 a Grã-Bretanha, depois de acesas discussões, entrou para a CEE, hoje União Europeia. Era então “A Europa dos Seis”! 
             Em Junho o Presidente dos EUA John Kennedy e a elegante Jackie visitaram a rainha, que gostou muito da senhora Bouvier. No ano seguinte a rainha convidou Jacqueline para uma visita privada a Londres.
             A vida da monarquia passou a pouco e pouco a ser mais familiar para o cidadão comum. Um filme sobre a família real no seu dia a dia foi realizado em 1959 e em 1962 foi aberta ao público uma galeria no palácio de Buckingham. 
             Acontecimento importante e repassado de significado foi, sem dúvida, a ida da soberana à Alemanha Ocidental, onde parou junto do Muro de Berlim, quando a unificação da Alemanha era um facto desejável, mas extremamente remoto.
             E como nem tudo pode correr de feição no «País das brumas», houve, em 1963 o chamado caso Profumo com contornos “politicamente incorrectos” com ministros de Sua Majestade envolvidos em casos sexuais e espionagem. 
             Também a visita dos reis da Grécia, Paulo e Frederica decorreu com alguns incidentes, dadas as simpatias, quando jovem, da rainha Frederica pela juventude hitleriana. O próprio líder do partido trabalhista, Harold Wilson manifestou reprovação ao não comparecer ao banquete dado em honra dos convidados. Em Outubro a rainha conheceu o novo primeiro-ministro inglês, precisamente Harold Wilson. Isabel II teve uma relação de franca amizade com o primeiro-ministro Macmillan, que deixou o cargo, depois de seis anos, por motivos de saúde. Quando este foi internado num hospital, a rainha, contra as regras do protocolo, foi visitá-lo bastante emocionada, como contou o médico, sir John Richardson. Em Novembro a rainha fez-se representar no funeral do presidente Kennedy, assassinado em Dallas.
             Em Março de 1964, vinte e uma salvas de canhão anunciaram o nascimento de mais um varão na família real, Eduardo António Ricardo Luís. Este viria a ser o filho mais amado da rainha, segundo os mais próximos, até porque só saiu de casa, para casar, em 1999.
             Em 1965 são prestados funerais de Estado a Winston Churchill, provavelmente um dos dez mais importantes estadistas do século XX. Cerimónia de pompa e brilho à inglesa. E como a rainha tem sempre visitas agendadas, neste ano deslocou-se ao Sudão e à Etiópia, em visita ao imperador Haile Selassie. Em Maio esteve na Alemanha durante dez dias, terminando com um banquete no seu iate Britânia. 
             No dia 26 de Outubro os Beatles foram condecorados por Sua Alteza Real, em Buckingham Palace. O mundo exultou, porque já nada faltava à mais famosa banda rock do mundo! 
             A rainha soube que o seu tio, o Duque de Windsor, ia ser sujeito a uma intervenção cirúrgica em Londres. Sabe-se que a rainha «ignorou» sempre os duques de Windsor. Qual seria a sua atitude perante o tio, agora com setenta e um anos? A rainha fez o mínimo que a decência ordenava, telefonou para o Hospital para saber como correra a operação. À imprensa estava ávida de notícias. 
             E as damas de companhia da rainha e os criados tiveram que fazer de novo as malas para a viagem da soberana e do marido rumo às Caraíbas.
             Muito mais interessante terá sido, em 30 de Julho de 1966, em Wembley entregar à equipa inglesa, campeã do mundo de futebol a almejada taça.
             Como durante todo os anos do seu reinado Isabel II e o Duque de Edimburgo visitaram e visitam países, nomeadamente o Canadá e no final do ano de 1967, receberam o Presidente da Turquia e mulher. A mensagem de Natal foi vista pela primeira vez com a rainha a cores na televisão!
             O Governo aprovou novas leis sobre o divórcio, embora a doutrina da Igreja Anglicana continue a não o aceitar. Nesse ano o conde de Harewood, filho da princesa real e primo direito da rainha divorciou-se, o que provocou bastantes dissabores à rainha. Numa política de abertura o banquete oferecido ao Presidente da República italiana, em 1968, foi filmado pela televisão e em 1969 todos puderam saber mais da família real com um documentário de hora e meia. A BBC transmitiu-o em Julho. Assim muita gente disse que não fazia ideia nenhuma como viviam a sua rainha e os familiares. Foi um filme didáctico, contando como era um ano da vida da soberana e a sua relação com os filhos. A partir desta data as viagens da rainha passaram a ser filmadas, como, em Novembro de 1968 na viagem ao Brasil.
             As primeiras férias de Verão de Isabel II e família fora do país só aconteceram, pela primeira vez, em Agosto de 1969. Viajaram no iate Britânia até aos fiordes da Noruega.
             No ano seguinte, 1970, mais uma vez a rainha viajou para o Canadá, Nova Zelândia e Austrália, desta acompanhada dos filhos Carlos e Ana. No Canadá juntou-se ao grupo o Duque de Edimburgo que passeara pelo México. O já mencionado filme sobre a soberana com o título Royal Family, tinha tido grande impacto nas comunidades de língua inglesa e foi um sucesso a chegada da rainha com os príncipes Carlos e Ana.
             Em 1971 começou a ser discutida a fortuna da rainha, dos seus gastos e das despesas com a Civil List. Assunto longamente discutido no Parlamento. Os tempos eram outros e o Governo de um país democrata exigia, mesmo à mais importante monarca europeia, uma atitude de maior transparência. Sim, porque os palácios da família real: Buckingham, Windsor, Holyrood House, Sandringham e Bolmoral tinham grandes despesas e os parlamentares queriam saber como eram geridos. Hoje sabemos que a monarquia britânica é altamente rentável. 
             Em Outubro de 1971 o velho imperador do Japão, Hirohito e a imperatriz visitaram a rainha. Foi a primeira visita de um monarca japonês, desde a 2ª Grande Guerra, onde, como sabemos, o Japão esteve contra a Grã-Bretanha.
             E o ano de 1972 assinalou vinte anos de reinado de Isabel II. E houve as celebrações que se impunham. Nem vale a pena falar das viagens que são sempre uma parte considerável da sua vida como monarca. E foram-na visitar a rainha Juliana e o Príncipe Bernardo dos Países-Baixos. Isabel II esteve em França e esteve com o tio, o Duque de Windsor, muito doente. Não perdeu as corridas de cavalos em Longchamp antes de estar com o tio. Tinham passado trinta e três anos desde que o Duque de Windsor fora «banido» da corte e da memória da rainha, da rainha-mãe e da maior parte da família real. O Duque morreu poucos dias depois e, apesar de muitas reuniões entre os conselheiros, a rainha e o Governo foi-lhe proporcionado um enterro real. O seu corpo esteve em câmara ardente dois dias na capela de São Jorge em Windsor. E a duquesa de Windsor voltou a pisar solo britânico. No funeral, e por um dia Wallis Simpson foi tratada como viúva de um rei. 
             Em Outubro deste ano (1972) a rainha e o duque visitaram a Jugoslávia. Foi a primeira visita da rainha a um país comunista. O ano terminou com os festejos das bodas de prata de casamento de Isabel e Filipe. 
             Os príncipes Carlos e Ana foram notícia. Carlos optou por ingressar no Royal Navy College, em vez da Universidade de Cambridge e Ana distinguiu-se em competições equestres e foi declarada «A desportista do Ano» (Sportswoman of the Year). É sabido que a princesa ganhou uma medalha de prata num Campeonato Europeu e que participou nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976.
             O casamento da única filha da rainha foi anunciado. Casou pela primeira vez em Novembro de 1973. Neste ano a rainha esteve presente na gala em honra do Reino Unido ao entrar para o Mercado Comum.
             Em Março de 1974 foi reeleito primeiro-ministro Harold Wilson. Inovador mesmo, foi o facto da cerimónia de Abertura do Parlamento ter sido simples, sem procissão, e com a rainha envergando um fato normal.
             Em 1975 entre muitas outras viagens Isabel II esteve em Hong Kong antes de seguir para o Japão para retribuir a visita dos imperadores.
             Harold Wilson anunciou a sua retirada da vida política em 16 de Março de 1976 e a rainha aceitou o convite deste para um jantar na sua residência oficial. Este facto só acontecera com Churchill, vinte e um anos antes. Em 21 de Abril Isabel II celebrou o seu 50º aniversário do seu nascimento, em Windsor. Em Julho a soberana visitou os EUA, nas celebrações do bicentenário, e de seguida esteve presente com os filhos e marido na abertura dos Jogos Olímpicos de Montreal. E foi este o ano da separação da princesa Margarida de lorde Snowdon.
             Em 1977 comemorou-se o Jubileu de Prata do reinado de Isabel II, com imensos acontecimentos, festas, exposições e o esplendor a que os ingleses nos habituaram. Não houve latinha de bombons, nem cidadezinha que não tivesse retratos da rainha. Houve também vozes discordantes por parte de alguns e na Irlanda do Norte o clima era adverso. Em Novembro de 1977 a rainha foi avó pela primeira vez, visto a sua filha Ana ter tido um filho.
             O Presidente da República portuguesa, António Ramalho Eanes e mulher visitaram oficialmente o Reino Unido, em 1978, numa altura em que a democracia era já uma realidade no nosso país.
             O Médio Oriente foi o destino de mais uma viagem da monarca britânica, em 1979, passando pelo Kuwait, Bahrein, Arábia Saudita, Qatar, Oman e Emiratos Árabes Unidos. Aqui punham-se alguns problemas protocolares, dado os árabes não reconhecem uma mulher como rainha, apenas como rei e não admitirem mulheres jornalistas. Por fim os Emiratos Árabes cederam à entrada das jornalistas, que tiveram de se vestir segundo os costumes, isto é, não podiam ter os braços nem as pernas destapados. A rainha que tem costureiros e conselheiros nestas áreas não teve qualquer problema. Usou vestido comprido, écharpe e luvas altas. «Em Roma sê romano!» 
             E, caso inédito no Reino Unido, em Maio de 1979, «o» primeiro-ministro passou a ser uma primeira-ministra, aquela que ficaria famosa como «a dama de ferro» Margaret Thatcher. O seu polémico desempenho terminou, sem glória, em 1990, quando pediu a demissão, na sequência de um imposto muito impopular. Sucedeu-lhe John Major também pelo partido conservador. 
             O ano terminou com um profundo desgosto para Isabel II e para o duque de Edimburgo. Foi o assassinato de lorde Mountbatten e Burma, pelo IRA. O tio da rainha fora o último Governador da Índia e tinha sido como que um segundo pai para o marido da rainha.
             Isabel II tem dado durante o seu reinado vários passos no sentido de uma aproximação à Igreja Católica, e nesse sentido esteve, mais uma vez no Vaticano, em Outubro de 1980, para conversar com João Paulo II. 
             O Zimbabué tornou-se independente da Grã-Bretanha.
             O ano de 1981 traria uma verdadeira revolução na vida da família real, quando o príncipe Carlos casou com a jovem e muito bonita lady Diana Spencer, que viria a ser até 1997, data da sua trágica morte, a verdadeira «rainha» em popularidade e glamour do Reino Unido e de todas as monarquias europeias.
             E nova década no reinado de Isabel II, em 1982. Dois factos importantes da Historia de Inglaterra foram a primeira visita de um Papa aquele País. Desde que o rei Henrique VIII, em 1531, cortara a ligação com a Igreja de Roma e se assumiu como chefe supremo da Igreja de Inglaterra. João Paulo II teve esse privilégio. O segundo grande acontecimento foi a viagem da rainha à China, tendo sido a primeira vez que um rei inglês visitou aquele imenso país. Os fotógrafos não deixaram de fixar o grande acontecimento da rainha e do duque de Edimburgo na muralha da China, nessa memorável visita. 
             O primeiro filho dos príncipes de Gales nasceu em 21 de Junho de 1982. Guilherme Artur Filipe Luís é, como se sabe, o segundo na linha de sucessão ao trono do Reino Unido. 
             Foi também neste ano que um facto deixou absolutamente estarrecidos os súbditos de Sua Majestade. Um intruso conseguiu penetrar nos aposentos da rainha, não lhe provocando qualquer dano e a rainha conversou com ele até que a segurança do palácio se apercebesse do incrível facto. 
             Incrível foi também o conflito nas Ilhas Malvinas ou Falklands (perto da Argentina, mas sob domínio britânico), ainda hoje com contornos pouco nítidos, para onde seguiu num navio de guerra, o terceiro filho da rainha, o príncipe André. O casal Reagan visitou a Grã-Bretanha. Foi o primeiro presidente dos EUA a ficar hospedado no castelo de Windsor.
             Em 1983 os Conservadores ganham as eleições por larga maioria e a senhora Thatcher permanece como Primeira-ministra. A rainha esteve, em Março no rancho do Presidente Reagan, e em Novembro, mais uma vez, viajou para a Índia onde concedeu a Ordem de Mérito à Madre Teresa de Calcutá, pelo seu empenhamento na melhoria das condições de vida das crianças pobres de Calcutá. Indira Gandhi, então primeira-ministra, conversou com a rainha em Nova Delhi e sabe-se que falaram de cooperação tecnológica e desenvolvimento.
             Em 1984 o IRA lançou bombas e matou mais uma vez. Mas as viagens da rainha continuam sempre. Neste ano visitou o rei Hussein da Jordânia. Em Setembro nasceu o segundo filho dos príncipes de Gales. Henrique Carlos Alberto David. A monarquia britânica está bem assegurada.
             E Portugal teve mais uma vez a honra de receber Sua Majestade, numa visita semi-privada em 1985. A rainha visitou Sintra.
             No Verão de 1986 casou o príncipe André com Sarah Ferguson e o filho segundo de Sua Majestade passou a usar o título de Duque de Iorque.
             Em Março de 1987 o rei Fahd da Arábia Saudita foi a Londres retribuir a visita da rainha. Como se sabe por detrás destas viagens há aspectos económicos significativos, que o Governo e os empresários tratam de ultimar. E como sempre acontece nas grandes famílias o filho mais novo da rainha, o príncipe Eduardo, depois de ser aluno brilhante no Colégio de Jesus em Cambridge, anunciou à família que se ia dedicar ao teatro. Causou algum desconforto e foi considerado um rebelde. Viria depois a dedicar-se a fazer pequenas metragens para televisão, até se casar, em 1999 com Sophie Rhys-Jones. Depois de ambos quererem continuar as suas carreiras, acederam a serem “apenas” membros da família real e a representar a monarquia.
             O livro The Enchanted Glass: Britain and its Monarchy, editado, em 1988, pelo ensaísta socialista da esquerda radical veio acender a polémica sobre a monarquia, afirmando que ela (monarquia) permanece por existir a nostalgia dos tempos do império, e o autor reconhece que a «mística» da monarquia é ainda muito forte, mas apelava a um «novo republicanismo.» E a rainha neste ano foi mais uma vez avó, desta vez de Beatriz Isabel Maria, filha dos duques de Iorque.
             O presidente da URSS, Mijail Gorbachev almoçou com a rainha no Castelo de Windsor, em Abril de 1989. Este foi o ano da queda do muro de Berlim, provavelmente o mais importante acontecimento da segunda metade do século XX. E O presidente George Bush foi recebido pela rainha no seu palácio.
             Em 1990 foi exaustivamente revisto o montante que o Governo deveria atribuir à família real, porque se falou em luxos que o País não podia arcar, mas tudo acabou em concórdia.              Glasgow foi em 1990 a Capital Europeia da Cultura e a princesa Eugénia Victória, irmã de Beatriz nasceu em Março. Em Agosto o líder do Iraque, Saddam Hussein invadiu o Kuwait e desencadeou-se a Guerra do Golfo, onde participou o Reino Unido como membro da Nato.
             Em 1991 regressam a casa as forças armadas britânicas no Golfo, que a rainha e os seus súbditos receberam numa parada especialmente concebida para o efeito. O novo primeiro-ministro, John Major beijou as mãos de Sua Majestade no final de Novembro. Dentre os oito primeiros-ministros que a rainha conheceu durante o seu reinado, John Major foi, como Churchill um dos que manteve a mais estreita relação de amizade com a família real, particularmente com a rainha. Isabel II esteve nos EUA, em Maio de 1991, tendo proferido um discurso no Congresso, em Washington. Foi o primeiro Chefe do Estado britânico a falar naquela Assembleia.
             1992 foi o annus horribilis para a rainha. Os casamentos dos dois filhos Carlos e André desmoronaram-se. Em 9 de Dezembro foi anunciada oficialmente a separação dos príncipes de Gales. Para terminar o ano, um pavoroso incêndio destruiu grande parte do Castelo de Windsor, o que deixou a rainha absolutamente inconsolável. As obras começaram quase imediatamente.
             Inédito, a rainha passou a pagar impostos, em 1993, ano em que várias salas do palácio de Buckingham foram abertas ao público. A rainha inaugurou com o Presidente Mitterand, de França o Túnel entre os dois países, que passa por baixo do Canal da Mancha.
             Em Junho de 1994 são comemoradas no Norte de França os 50 anos do Dia D, dia do desembarque dos Aliados na Normandia, com a presença de Isabel II. Em Outubro o Duque de Edimburgo visitou a Rússia a convite do Presidente Yeltsin e mulher.
             Em 1995 a rainha visitou o Presidente Mandela da África do Sul. Este líder carismático, que esperou décadas para ter um país independente governado por negros. Isabel de Windsor era ainda princesa quando visitara aquele território, em 1947.
            Em 1996 Nelson Mandela foi a Londres agradecer a visita. 
            Durante o seu longo reinado Isabel II conviveu também com membros das embaixadas e figuras das Artes e Cultura nos famosos garden parties, nos jardins de Palácio. A rainha e vários membros da família, além do duque de Edimburgo e os duques de Kent, primos da rainha chegam a receber por ano trinta mil convidados. Consoante a importância das pessoas podem aproximar-se mais ou menos da rainha ou do Duque, seu marido. A rainha festejou os 70 anos, a 21 de Abril.
             Pode dizer-se que o mundo ocidental parou ao ouvir a notícia da morte trágica de Diana de Gales, em Paris, no dia 31 de Agosto, de 1997, na sequência de um aparatoso e violento acidente de automóvel. Durante os dias e os meses subsequentes foi notícia de primeira página. Isabel II foi quase «forçada» pelo primeiro-ministro Tony Blair, a regressar de férias e mandar pôr a bandeira a meia haste no seu palácio, porque a reacção popular era de enorme indignação enquanto a rainha não apareceu a demonstrar o seu pesar. Depois foi o que todos sabemos. A pouco e pouco a vida da família real voltou à normalidade. Carlos, agora viúvo, passou a dedicar mais tempo aos filhos e o seu caso com Camilla Parker Bowles passou de «escândalo» a apenas o reatar de uma amizade iniciada em 1971, quando e ambos eram solteiros e jovens. Hoje as revistas dedicadas às monarquias, como o Point de Vue são muito favoráveis a esta mulher que soube esperar a sua oportunidade, sem se querer impor. Provavelmente um dia poderão casar. Também em 1997 foi inaugurado o real website: www.royal.gov.uk.
             Com 50 anos completados em 1998, o herdeiro do trono parece ganhar mais popularidade e aparece mais descontraído nestes últimos tempos.
             E em 1999 partiu Sua Majestade para a Coreia. O filho mais novo de Isabel II casou com Sophie Rhys-Jones, em Junho, e Hong Kong deixou de pertencer ao Reino Unido, mas em contrapartida Moçambique entrou para a Commonwealth.
             E chegou-se ao último ano do séc. XX. O acontecimento do ano 2000 no Reino Unido foram as comemorações dos 100 anos da rainha-mãe, em Agosto. Brilho, cor e festa! A respeitável rainha foi amada e respeitada por todos e um verdadeiro ícone do país. Para muitos a monarquia é um foco de unidade nacional. E o novo milénio trouxe mais paz à família real. O herdeiro do trono Guilherme (William) entrou para uma Universidade na Escócia e passou a ser o alvo dos fotógrafos, porque é muito fotogénico. O marido da rainha, o duque de Edimburgo, agora com 80 anos, completados em Junho, será ao lado da rainha o príncipe consorte que soube permanecer na sombra de uma monarca durante mais cinquenta anos. Teve os seus deslizes, mas quem os não tem? Se o Jubileu de Ouro é de Isabel II, também cabe ao marido uma parte do mérito, pois ser apenas rei consorte não é fácil. 


Informação retirada daqui
Bibliografia principal - PIMLOTT, Ben, The Queen: Elizabeth II and the Monarchy, Golden Jubilee Edition, Londres Harper Collins, 2001.

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