terça-feira, 7 de novembro de 2017

Biografia - Karl Landsteiner


A ideia surgiu ao ler uma biografia de Karl Landsteiner; porque não escrever pequenas biografias sobre grandes génios? Porque não falar sobre aqueles, que por ainda ninguém ter descoberto a vida eterna, não se encontram já entre nós?...
Pois bem, é isso que eu proponho fazer, falar sobre grandes génios, dando uma visão global da sua vida cientifica e, na medida do possível, da sua vida pessoal.
Há um século atrás, em 1900, Karl Landsteiner descobriu os grupos sanguíneos humanos tornando assim possível efectuar com êxito transfusões sanguíneas - até à data apenas uma pequena percentagem das transfusões realizadas tinha sucesso, sendo mesmo proibida a sua prática.

Karl Landsteiner nasceu a 14 de Junho de 1868 em Viena. O seu pai, Leopold Landsteiner, era um proeminente jornalista e um dos fundadores do jornalismo moderno austríaco, que vem a falecer aos 57 anos de ataque cardíaco após uma crise financeira e profissional.

Após perder prematuramente o pai, Karl Lansteiner, com apenas 7 anos, viveu com a sua mãe em completa reclusão. A devoção que lhe dedicava era tão profunda, que manteve a máscara funerária da mãe no seu quarto durante toda a sua vida.

Estudos

Cursou medicina na Universidade de Viena onde se dedicou ao estudo da Anatomia, Botânica e Histologia. Ainda durante o curso ofereceu-se como voluntário e cumpriu o serviço milita,r tendo sido destacado para um hospital ambulante. Na Universidade fez pós-graduações em Química e Ciências Cirúrgicas, tendo oportunidade de trabalhar com Anton Weichselbaum (descobridor do meningococos) e com Fränkel (co-descobridor do pneumococos).

Apesar de ter nascido judeu, converteu-se ao catolicismo, como era hábito entre as famílias "intelectuais" de judeus na época. No entanto, a prática religiosa não significava muito para Karl Landsteiner; a conversão ao catolicismo afastou-o do seu ambiente natural, o que lhe permitiu entregar-se totalmente ao seu trabalho cientifico.

A Investigação

As suas primeiras publicações foram sobre os glicolaldeidos e sobre a relação entre o diazobenzol e o permanganato de potássio. Neste último estudo, Landsteiner apercebeu-se do valor potencial desta relação na compreensão da especificidade das relações antigénio-anticorpo. Apesar dos seus primeiros trabalhos serem sobre química, em 1897 tornou-se assistente do director do Instituto de Anatomia Patológica de Viena, executando um quinto das autópsias realizadas por esta instituição. Durante este período publicou diversos artigos, na sua maioria sobre serologia, mas também sobre bacteriologia, virologia e anatomia patológica.

No 13º artigo de Karl, escrito em 1900, descrevia a aglutinação em glóbulos vermelhos humanos, em nota de rodapé. Nesta nota, ele chamou à atenção para o comportamento fisiológico da reacção de aglutinação entre misturas de amostras de sangue humano, discutindo a possibilidade de ocorrência de variações individuais. Noutro artigo publicado posteriormente, Karl chega a uma regra que ainda hoje é aplicada, em que "os antigénios e os anticorpos correspondentes não coexistem fisiologicamente no sangue do mesmo indivíduo". Ironicamente, Karl não reconheceu a importância da sua descoberta, por isso publicou-a em rodapé, tendo escrito num dos artigos: "Espero que isto venha a ser útil para a humanidade"! Alguns dos seus pares e assistentes desenvolveram, nos anos seguintes, as suas ideias chegando à actual nomenclatura do sistema AB0.
Após a morte da mãe em 1902, Karl deu início a uma investigação profunda como Director de Patologia e Professor Assistente de Anatomia Patológica no Hospital Wilhelmina em Viena.

Já com 48 anos e alguns anos após a morte da mãe, casa com Helena Wlasto, que lhe deu um filho, Ernest Karl, que viria a ser um cirurgião largamente conhecido em Rhode Island, onde praticava medicina.

Após a I Guerra Mundial

No final da primeira Guerra Mundial, Viena estava devastada e a população com fome. Esta situação levou Karl a aceitar um lugar como técnico de dissecção de anatomia no R.K. Ziekenhuis, um hospital católico em Haia. Nesta instituição executava análises clínicas de rotina à urina e ao sangue, exames post-mortem e exames histológicos. Toda esta actividade tinha lugar numa única sala. As condições de vida na Holanda eram melhores do que na Áustria, mas Landsteiner sentia-se desapontado com a sua actividade profissional e as perspectivas científicas. Aceitou, por isso, o convite de trabalho do Instituto Rockfeller em Nova Iorque mudando-se para lá com a família. Esta decisão provavelmente salvou a sua vida e a do filho de morrerem numa câmara de gás nazi, alguns anos mais tarde.

Também o trabalho em Nova Iorque decepcionou Landsteiner, devido à gestão inflexível do Instituto e ao pequeno espaço que lhe foi cedido para trabalhar, até à data em que recebeu o Prémio Nobel. No Instituto dedicou-se à investigação nas áreas da Imunologia, Serologia, Genética e Imunoquímica.

Neste período, Landsteiner, em conjunto com Philip Levine descobriu os antigénios M, N e P. Esta descoberta foi relatada em 18 linhas - a brevidade desta comunicação rivalizava com a nota de rodapé na qual Landsteiner "descobriu" o grupo sanguíneo AB0!

Prémio Nobel

Em 1930 Landsteiner recebeu o Prémio Nobel, a notícia foi-lhe dada por 2 dos seus assistentes, mas ele ignorou-a. Quando, durante o mesmo dia, a rádio e os jornais anunciaram a notícia do prémio, Landsteiner continuou a não acreditar! E não mencionara o facto à mulher com receio que ela mais tarde viesse a ficar desapontada.

Existem 2 aspectos nunca explicados acerca do comportamento de Landsteiner durante as cerimónias de entrega do Prémio Nobel:

não se fez acompanhar da mulher nem do filho a Estocolmo
nas fotografias oficiais todos os laureados se encontravam de frente para a câmara, excepto Landsteiner que se sentou de perfil.
Para além da contribuição para a Medicina Transfusional, Landsteiner realizou outros estudos em diversas áreas, igualmente importantes.

Aos 71 anos (1939) aposentou-se do Instituto Rockfeller, mas continuou a trabalhar num pequeno laboratório com alguns dos seus assistentes. Os seus últimos anos de vida foram despendidos em estudos sobre tumores malignos, por surgirá sua mulher uma neoplasia na tiróide, da qual viria a morrer.

"Assim, através da pesquisa infatigável efectuada na tranquilidade do seu laboratório, Landsteiner tornou-se um dos maiores benfeitores da humanidade. Onde quer que no mundo de hoje se efectue uma transfusão, onde quer que uma mãe preocupada descubra que a vida do filho foi salva, Landsteiner estará ao seu lado a acompanhá-la, embora não o possamos ver." 
Prof. Herman Chiari

Glória Almeida

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