domingo, 9 de outubro de 2011

Imagem - Exemplos de Fósseis


Os Azuis

O professor diz aos alunos:

- A partir de hoje não há mais racismo na minha sala de aula! A partir de hoje já não há aqui brancos e pretos, passamos a ser todos azuis! Agora vá, azuis clarinhos cá para a frente e azuis escuros lá para trás!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Imagem - Vulcões


Formação inicial de professores a interculturalidade em contexto de estágio

O alargamento temporal da formação para 5 anos, incluindo um mestrado, desafia a exigência e amplia as condições para a realização de formações reflexivamente fundamentadas, em domínios estruturantes das competências docentes

O tema da interculturalidade e da educação e diversidade tem sido, com regularidade, objecto de artigos de diversos colaboradores de A Página. Este texto mantém essa regularidade. Visa contribuir para a (re)contextualização do tema enquanto conteúdo do novo modelo (3+2 anos) da formação inicial de professores e educadores (FIPE). Apesar da inadequação de alguns aspectos da estrutura proposta, o alargamento temporal da formação para 5 anos, incluindo um mestrado, desafia a exigência e amplia as condições para a realização de formações reflexivamente fundamentadas, em domínios estruturantes das competências docentes. A preparação para o trabalho em contextos escolares caracterizados pela diversidade é, seguramente, um desses domínios. A FIPE é a etapa estruturante de concepções coerentes e pluralistas para a gestão do currículo pelos futuros docentes. A fundamentação teórica e reflexiva de práticas, em contexto de estágio, envolvendo a diversidade dos alunos, é condição para a consolidação de tais concepções. Não tem sido, no entanto, uma dimensão particularmente considerada na organização, na dinâmica e na supervisão dos estágios. Por razões sociologicamente explicadas, tem prevalecido alguma desvalorização ou ocultação de situações de natureza intercultural e racial, vividas ou observadas pelos estudantes. E, como referi no número de Verão de 2009 de A Página, tem sido frágil o protagonismo da investigação como prática ou como explicitação do observado e do realizado nos estágios. Independentemente da modalidade adoptada para o trabalho final – dissertação, trabalho de projecto ou estágio com os respectivos relatórios - a investigação, enquanto atitude e prática, deve constituir um elemento distintivo do 2º ciclo/mestrado. As decisões, as práticas, as situações e as interacções, vividas pelo formando em tempo de prática, e o desejo de antecipar bons desempenho como docente, acentua a sua disponibilidade e sensibilidade para questões que possam melhorar aquele desempenho no futuro. Assim o supervisor o oriente para o aprofundamento da relevância do que vive e do que observa no contexto do estágio!

Seja qual for a modalidade do trabalho final no 2º ciclo da FIPE (dissertação, trabalho de projecto ou estágio), as intervenções educativas proporcionam, de diversos modos, oportunidades formativas e a emergência de temas e processos, no domínio da educação e diversidade, que podem fundamentar trabalhos finais com níveis esperados num mestrado. Entre esses temas podem referir-se: a permeação do projecto curricular com a dimensão intercultural ajustando-o à diversidade dos alunos, contrariando assim práticas educativas monoculturais; a identificação e o aprofundamento, de acordo com metodologias de investigação, de questões/problemáticas interculturais; o desenvolvimento de trabalhos centrados no ethos escolar, na caracterização da classe, da escola e da comunidade em termos culturais, étnicos e sociais. Ao nível da sala de aula, são diversos os domínios, com relevância intercultural, geradores de questões para trabalhos mais aprofundados: interacções interculturais, constituição e funcionamento dos grupos, lideranças, culturas na sala de aulas (na gestão e realização do currículo, nas interacções), discursos, materiais, adequação curricular, etc.

A constituição, com maior ou menor institucionalização, na escola de formação, de linhas de investigação – por exemplo: educação e diversidade - alimentadas pelos trabalhos dos estudantes, ajudaria a consolidar práticas, percursos e culturas de exigência na FIPE.

Carlos Cardoso

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Imprensa estrangeira noticia corte de 600 milhões na Educação em Portugal

O Governo português prevê cortar em 2012 o seu orçamento em Educação em mais de 600 milhões de euros, noticia a agência espanhola EFE, citando o ministro Nuno Crato.
Num encontro com a imprensa estrangeira, Crato precisou que esta diminuição na despesa é equivalente a oito por cento do orçamento total do sector, estimado em 7.800 milhões de euros.
"É uma redução significativa, mas tem em conta que é um sector em que os gastos sempre subiram", disse o ministro, matemático de formação e chegado à política no passado mês de Julho, quando foi nomeado pelo Governo conservador português, para titular da Educação, escreve a EFE.
O ministro precisou, no entanto, que essa poupança não levará a uma redução do plano já existente, embora obrigue a reduzir as novas contratações e a redistribuir professores.
Contactado pela agência Lusa, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), afirmou que os 500 milhões de euros a cortar no Ensino Básico, juntamente com 108 milhões no Superior deixarão Portugal com "sistema educativo ao nível do terceiro mundo".

Para o líder da maior organização sindical de professores, o Governo está a levar a cabo "uma irresponsabilidade".
Mário Nogueira recordou antigas declarações de Nuno Crato a propósito da máquina burocrática do Ministério da Educação antes de integrar o Governo: "Dizia que queria implodir o Ministério da Educação, mas o que está a fazer é explodir o sistema educativo".

domingo, 25 de setembro de 2011

Imagem - Vulcões


O sorriso dos professores

Sebastião Salgado publicou, com palavras de Cristovam Buarque, um álbum de fotografias chamado “O berço da desigualdade”. As fotografias são de escolas em todo o mundo e trazem-nos os limites materiais das escolas dos pobres com uma força que só, talvez, as imagens em P&B permitam.

Um dos fotógrafos brasileiros mais preocupados com as lutas populares é Sebastião Salgado. No Brasil, ele publicou, com palavras de Cristovam Buarque, político brasileiro e ex-Ministro da Educação, no primeiro governo Lula, um álbum chamado “O berço da desigualdade”. As fotografias são de escolas em todo o mundo e trazem a nós os limites materiais das escolas dos pobres com uma força que só, talvez, as imagens em P&B permitam. Trazem, também, tanto a importância que se dá, em todos os lugares, a essa instituição, não só para crianças – meninos e meninas -, mas para os jovens e os adultos – como a que próprio fotógrafo nela percebe e nos indica com as fotografias feitas e escolhidas para esse álbum.

Nos países mais pobres - dos campos de refugiados palestinos à escola no fundo da selva da Indonésia; de uma prisão na Coréia do Sul para as famílias refugiadas da Coréia do Norte a escolas do Movimento dos Sem-terra no Brasil – Salgado fotografa os alunos e alunas com um material escolar mínimo: um caderno com poucas folhas, um lápis, raros livros, quadro-negro e giz...

Em várias delas, aparece, na cena fotografada, o professor que atende àqueles alunos. Delas, escolhi duas nas quais aparecem professores homens – existem também de professoras, mas seriam demais para o espaço com que contamos. Convido para que busquem ver o álbum e possam ver a miséria e a grandeza desses professores e professoras.

Mas o que é bom ver nessas fotografias com professores é a animação que transmitem e a relação que mantêm com a classe. Em uma, grandes braços abertos convidam a uma resposta sobre uma borboleta desenhada no quadro-negro e para dá-la braços se levantam entusiasmados. Na outra, um sorriso sedutor e braços erguidos para o céu convidam, também, para uma resposta que outros braços ao ar querem dar, mostrando que a lição foi bem aprendida. A primeira foi feita no Líbano em uma escola para crianças palestinas refugiadas (p. 102-103), a segunda em uma escola no Quênia na região do lago Turcana (p. 166-167).

Trabalhando em regiões pobres, dentro de conflitos muitas vezes violentos, em duras condições sempre, professoras e professores parecem ter a certeza de que as crianças têm direito à escola e à alegria de saber. Nessa situação, eles estão com elas, trabalhando e fazendo com que sejam melhores, talvez. Juntos, pensando – quem sabe? – que um mundo melhor é possível...

Mais do que uma terrível imagem de muitos mortos dentro de uma escola, em Ruanda (p.126-127) que é possível ver em uma das fotografia, estas imagens chamaram minha atenção porque vi nelas possibilidades de respostas a questões que, hoje, todos nos colocamos nas escolas, sobre nossas ações como professores.

Ao contrário disto – quem sabe? – tomei conhecimento na França, há alguns dias, com um esforçado professor, do site que organiza (www.aideauxprofs.org) para ajudar professores a encontrarem uma outra profissão, deixando para atrás uma que eles não querem mais, que não suportam mais...

Todos pertencem a um mesmo mundo? A força e o sorriso dos professores fotografados mostram que, em circunstâncias dificílimas, trabalham com entusiasmo e fazem trabalhar seus alunos. Por que na França – e na Europa toda sentimos isto, de certa maneira – os professores estão abrindo mão de ser professores? Não agüentam mais? Em que momento e por que isto se deu?

Nos trabalhos que desenvolvemos no Brasil com professores e professoras atuando na escola básica, sentimos que estão cansados com o profundo desprezo que as autoridades parecem ter por eles quando “encomendam” estudos de diferentes ordens para mostrar: 1) que aumento salarial não faz aumentar a qualidade do ensino – ao ver estes estudos que são mais ‘declarações’ do que outras coisas, sempre me pergunto curiosamente: o que faria, então? 2) que os professores não sabem e não querem usar as tantas tecnologias que colocam à disposição na escola pra “facilitar”o trabalho deles – nesse caso, verifico, com freqüência que, nestes tempos de wi-fi na orla de Copacabana (sim! Quem vai à paria pode usar internet), as escolas na cidade do Rio de Janeiro, em sua grande maioria, têm um só ponto de internet, localizado na sala da diretora para contatos com a Secretaria de Educação com que a escola se relaciona.

No meio a estas tantas dúvidas e incoerências, confesso que amo ver o sorriso dos professores nas fotografias de Sebastião Salgado.

Referência bibliográfica

SALGADO, Sebastião e BUARQUE, Cristovam. O berço da desigualdade. Brasília: UNESCO, 2005.

Nilda Guimarães Alves

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Imagem - Exemplos de Fósseis


*Os três **professores*

Três professores próximos da reforma ( *90, 88 e 86 *anos) de idade
trabalhavam na mesma Escola.

Um dia o de* 90 *entra numa sala de aula, põe um pé dentro, faz uma
pausa.... e grita:

- Alguém sabe se eu estava a entrar ou sair da sala de aula?

O de *88* responde:


- Não sei, já desço aí para ver....


Começa a descer as escadas, faz uma pausa, e grita:


- E eu estava a subir as escadas, ou a descer?


O mais novo, de* 86*, que estava no sala de professores a preparar uma
reunião, abana a cabeça e pensa:



"Na verdade, espero nunca ficar assim tão baralhado" e, com este pensamento,
bate três vezes na madeira da mesa e logo responde:


- Já vou ajudá-los,só um momento para ver quem está a tocar á porta!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Imagem - Vulcões


A tela substitui o quadro negro

Não virá longe o dia em que a tela substitua nas escolas o quadro negro, chegando a afirmar-se que uma «bobina de película vale mais do que uma prelecção.

Citação datada de 1932, que pode ser lida no preâmbulo do Decreto-lei 20:859 de 4 de Fevereiro. Com este diploma foi criada a Comissão do Cinema Educativo no Ministério da Instrução Pública, com o objectivo de “promover e fomentar nas escolas portuguesas o uso do cinema como meio de ensino e de proporcionar ao público em geral a apreensão fácil de noções úteis das ciências positivas, das artes, das indústrias, da geografia e da história” [Artigo 1º].

Esta visão excessivamente optimista, para a época, da utilização da tecnologia ao serviço do ensino tornou-se realidade no século XXI. O quadro negro está a ser substituído pela tela, não apenas de cinema, mas também a tela/o quadro interactivo onde o texto, as imagens, os sons ganham vida e com os quais podemos interagir. Esta mudança está a acontecer não porque foi publicado um Decreto-lei, mas por um acto político também emanado pelo Governo, o Plano Tecnológico de Educação.

Assim, na era digital em que vivemos e em que o próprio Estado incita o uso das tecnologias da informação e da comunicação, no exercício da actividade profissional dos docentes, e em que devido à evolução tecnológica, se assiste a uma explosão e divulgação de informação escrita e de imagens fixas e em movimento na internet, produzidas não só por máquinas fotográficas, câmaras de vídeo, mas também pelos telemóveis, pelos computadores, os professores têm um grande desafio pela frente para se apropriarem e integrarem estas novas ferramentas digitais ao serviço da prática lectiva, não como um obstáculo, algo que dá mais trabalho, que se torna penoso, mas como um instrumento criador e criativo que possibilita uma melhor organização dos materiais pedagógicos (textos, imagens, filmes, sons) e consequentemente uma maior diversificação de estratégias de apresentação de conteúdos.

Como sabemos, sempre que há mudanças, há pessoas que tentam resistir, que apresentam argumentos contra os avanços. Vejamos a título de exemplo o que aconteceu quando o cinema se tornou sonoro (1927, o ano em que foi realizado o primeiro filme denominado sonoro, The Jazz Singer). Um grupo de realizadores soviéticos, entre os quais destaco Eisenstein, escreveu em 1928 o manifesto «Contraponto Orquestral», que dá conta da tomada de consciência de que os recursos técnicos que os cineastas soviéticos dispunham, não lhes permitiam ter um êxito rápido no caminho do som e de que a coincidência da palavra dita com o movimento dos lábios no ecrã e sobretudo a passagem para o cinema dos dramas da literatura e as tentativas de invasão do teatro no cinema, seriam nefastas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da montagem.

Actualmente, os resistentes à mudança não podem invocar a inexistência de meios tecnológicos, mas sim outro tipo de argumentos: a sua não formação na área das tecnologias da informação e da comunicação e o sentimento de que os alunos as «dominam» e por isso, o seu receio em utilizá-las.

Uma das questões que se coloca então é a de como preparar estes docentes para a escola do século XXI. Através da inclusão, no curriculum da formação inicial, de uma disciplina de Tecnologias da Comunicação, onde as tecnologias de registo da memória, isto é, o cinema e a fotografia também sejam trabalhados, a nível da técnica de produção de imagens e a nível da construção e produção de sentido. E para os professores que já leccionam há muitos anos? Neste caso, a formação contínua tem um papel importante na oferta de acções/oficinas/cursos de formação que poderão colmatar as deficiências de formação neste domínio.

Outra das questões que se põe é a do facilitismo em que se pode cair na utilização de produtos multimédia e hipermédia, na sala de aula e, consequentemente, no voltar ao paradigma organizador do ensino, assente na transmissão de conteúdos, agora não pelo professor, mas pelos produtos multimédia cuja função é a de substituir essa metodologia de ensino.

Acredito que os professores saberão ultrapassar mais este desafio nas suas carreiras, tornando-se agentes criativos e criadores investidos de um papel mais exigente, que lhes demanda o conhecimento não apenas dos saberes específicos do seu campo disciplinar, mas também o conhecimento e domínio das tecnologias digitais, que passarão a usar a tela para estimular os seus alunos a apropriarem-se e a construírem os saberes de forma partilhada e interactiva!


Maria Fátima Nunes