terça-feira, 31 de outubro de 2017
Biografia - Richard Boyle
(1627 - 1691) Químico e físico irlandês naturalizado britânico, natural de Lismore Castle, em Lismore, Irlanda, redirecionador metodológico da física e da química modernas em função da valorização das medidas e da racionalidade das deduções experimentais. Um dos catorze filhos de Richard Boyle, o primeiro conde de Cork, estudou em Eton e em vários centros culturais europeus, desenvolvendo conhecimentos com as principais correntes do pensamento da época e tornando-se um admirador da obra de Galileu. Viajou vinte anos pela Europa, inicialmente se dedicando à difusão da fé cristã e ao estudo das línguas orientais, além de se aprofundar na pesquisa científica. De volta à Inglaterra, escreveu diversos ensaios filosóficos e começou seus estudos de física e química. Embora seu principal interesse fosse a química, era também fascinado pelas propriedades físicas do ar. Foi um dos fundadores da Royal Society, a partir de um movimento iniciado entre os cientistas da época (1644).
Transferiu-se para Oxford (1654), onde realizou sua maior produção científica. A partir dos trabalhos de Von Guerrick, incentivou Hooke a aperfeiçoar a bomba de vácuo e ambos construíram uma máquina pneumática para desenvolvimento de pesquisas com gases (1659), especialmente com o ar. Publicou Novas experiências físico-mecânicas, tocando a mola do ar (1660), sobre máquinas propulsoras de ar e geradoras de vácuo, criadas juntamente com Robert Hooke. Ambos construíram uma bomba pneumática, que permitiu demonstrar a impossibilidade de se obter o vácuo absoluto.
Analisando o ar, descobriu que ele servia de meio para a propagação do som e que era compressível por ser constituído de partículas minúsculas que se movem no vácuo. Verificou também que seu volume era inversamente proporcional à pressão a que era submetido (anos depois o abade francês Edme Mariotte deu maior precisão a essa lei, observando que só era válida sob temperatura constante). Outra de suas descobertas importantes foi a de que a água se expandia ao se congelar.
Notabilizou-se pelos desenvolvimento de estudos sobre a dilatação dos gases, publicados em The Sceptical Chymist (1661), um dos primeiros textos científicos em que a química se diferencia da alquimia e da medicina. Nela atacou a teoria aristotélica dos quatro elementos (terra, ar, fogo e água) e também os três princípios (sal, enxofre e mercúrio) propostos por Paracelso, desenvolvendo o conceito de partículas primárias que, por combinação, produziriam corpúsculos. Todos os fenômenos naturais, por conseguinte, se explicavam não pelos elementos e qualidades aristotélicas, mas sim pelo movimento e organização de partículas primárias.
Também com Hooke publicou Alguns ensaios fisiológicos (1662), onde formulou a importante Lei de Boyle. Foi a partir de suas definições químicas e reações que se iniciou a separação entre química e alquimia. Estabelecendo-se em Londres (1668), foi eleito presidente da Royal Society (1680), mas declinou da honra por não concordar com os termos do juramento de posse. Os seus múltiplos interesses intelectuais levaram-no a montar uma gráfica em que imprimiu diversas traduções da Bíblia. Durante alguns anos dirigiu a Companhia das Índias Orientais e, sem abandonar a pesquisa, dedicou os últimos anos de vida a pregação religiosa.
Biografia - Angelica Catalani
Uma das maiores sopranos do seu tempo. Nasceu em Senigallia, Marca de Ancona, Estados da Igreja [actualmente Itália] a 10 de Maio de 1780; morreu em Paris, França, a 12 de Junho de 1849. O pai, primeiro baixo no coro da Sé Catedral de Senigallia, e ourives, entregou a sua educação ao maestro da capela Pietro Morandi, que a integrou no coro do Convento de S. Luzia em Gubbio, perto de Roma. Como tinha uma voz naturalmente bonita e ágil, e os progressos tinham sido rápidos, devido à ajuda paterna, o empresário Cavos não hesitou em apresentá-la no teatro La Fenice, de Veneza, em 1797. O público foi indulgente com a imaturidade vocal e cénica da nova cantora de dezassete anos, e aplaudiu-a na Lodoiska de Johann Simon Mayr, ópera que tinha sido estreada no ano anterior naquele mesmo teatro. Regressou a Veneza em 1798 e no Carnaval de 1800, tendo cantado Carolina e Mexicow e Il Ratto delle Sabine de Niccolò Antonio Zingarelli, e Lauso e Lidia e Gli Sciti de Mayr, assim como a Morte di Cleopatra de Sebastiano Nasolini, na nova versão de Gaetano Marinelli. Em 1800 cantou em Trieste Gli Orazi e i Curiazi de Domenico Cimarosa, em 21 de Janeiro de 1801 no Scala de Milão, e depois seguiram-se actuações em Florença e no Teatro Argentina de Roma.
Em 27 de Setembro de 1801 estreou-se em Lisboa cantando a Cleopatra de Nasolini, e em 23 de Dezembro cantou La Morte de Semiramide de Marcos Portugal, de acordo com Ruders. Tinha vindo de Génova, segundo Fonseca Benevides. Em 1804 casou com um oficial francês, Paul Valabrègue, adido à embaixada do seu país em Lisboa. Ficará até 1806 em Portugal, tendo ido nesse mesmo ano para Paris, passando por Madrid.
Cantou três vezes para Napoleão Bonaparte no Palácio de Saint-Cloud. O público da ópera de Paris pôde ouvi-la em duas árias de Cimarosa, assim como em duas de Marcos Portugal, retiradas das óperas Semiramide e Zaira, uma de Niccolini e uma de Niccolo Piccini. O Imperador francês tentou retê-la em Paris, mas a cantora decidiu-se por Londres, para onde partiu clandestinamente, sem passaporte, embarcando em Morlaix. Ficará no Reino Unido até 1813.
A sua estreia na capital britânica realizou-se em 13 de Dezembro de 1806, no King's Theatre, com a ópera de Marcos Portugal, La Morte de Semiramide, tendo as récitas seguintes continuado a agradar. Nos seis meses seguintes cantou Il ritorno di Serse e La morte de Mitiridate do compositor português, Il Fanatica per la musica de Mayr e a Cleopatra de Nasolini. Na temporada de 1807, de durou de Janeiro a Agosto, foi contratada para cantar duas vezes por semana por mais de 5.000 libras, numa época em que o normal seria receber 500. Em 1809 não foi contratada, mas no ano seguinte regressou ao King's Theatre, para as quatro temporadas seguintes, tendo em 1812 sido Susana na estreia londrina da ópera de Mozart Le nozze di Figaro. As suas interpretações do God Save the King e do Rule Britannia, provocavam grandes manifestações patrióticas em Inglaterra, tendo passado a fazer parte do seu repertório.
Regressou a Paris em 1814, após a Restauração da monarquia, e Luís XVIII acolheu-a muito bem, tendo a cantora assumido a direcção da Opéra-Italien na Salle Favart, com um subsídio de 160.000 francos. A companhia faliu devido à ingerência do marido e Angélica Catalani acabou por abandonar a França, devido ao regresso de Napoleão. Viajou pela Europa do Norte, tendo actuado na Alemanha, Dinamarca e Suécia, onde poderá ter sido ouvida novamente por Carl Israel Ruders. Com a Segunda Restauração voltou a Paris e reassumiu a direcção do mesmo teatro, abandonando-o de novo em Maio de 1816.
Realizou tournées na Alemanha, tendo sido ouvida por Goethe em 1818, tendo estado em Berlim em 1827, em Itália, assim como na Polónia, na Rússia e em Inglaterra onde actuou pela última vez em 1824, regressando várias vezes a Paris. Em 1826 esteve em Itália, passando por Génova, Roma e Nápoles. Retirou-se em 1828, com quase cinquenta anos para uma villa em Florença, onde criou uma escola gratuita para futuras cantoras de ópera. Morreu em Paris em 1849, tentando fugir da epidemia de cólera que assolou a Itália nesse ano, e que acabou por a vitimar.
Fontes:
Enciclopedia dello Spettacolo, Roma, Casa Ed. Le Machere, 1954;
Carl Israel Ruders, Viagem em Portugal, 1798-1802, trad. de António Feijó, pref. e notas de Castelo Branco Chaves, Lisboa, Biblioteca Nacional («Série Portugal e os Estrangeiros»), 1981; tradução parcial de Portugisk Resa, beskrivfen i bref til vanner, 3 vols., Stockholm, 1805-1809;
Francisco da Fonseca Benevides, O Real Theatro de S. Carlos de Lisboa desde a sua fundação em 1793 até á actualidade: estudo historico, Lisboa, Typ. Castro Irmão, 1883.
Conteúdo - Baruch Espinoza - Conteúdo Filosófico - Substãncia
Espinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.
A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísmo e de monismo, porém não por Espinosa, que era um racionalista e, por extensão, se teria um acompanhamento intelectual do Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".
Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por que agimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Espinosa não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente porque as coisas deverão acontecer de determinada maneira.
A filosofia de Espinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estoicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.
Para Espinoza, a substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma, ou seja, uma causa sui. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma. Por ser causa de si, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois sua existência basta-se em si mesma. Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar seu conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.
Pela proposição VI da Parte I da Ética, ele afirma: "Uma substância não pode ser produzida por outra substância", portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível, pois, do contrário, ao ser dividida ela, ou conservaria a natureza da substância primeira, ou não. Se conservasse, então uma substância formaria outra, o que é impossível de acordo com a proposição VI; se não conservasse, então a substância primeira perderia sua natureza, logo, deixaria de existir, o que é impossível pela proposição 7, a saber: "à natureza de uma substância, pertence o existir". Assim, a substância é indivisível.
Assim, sendo da natureza da substância absolutamente infinita existir e não podendo ser dividida, ela é única, ou seja, só há uma única substância absolutamente infinita ou Deus.
Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra, o que, para Espinoza, é absurdo, como foi explicado no parágrafo anterior). Consequentemente, o Deus de Espinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.
Subscrever:
Comentários (Atom)




