terça-feira, 12 de junho de 2018

Parlamento francês proibe telemóveis nas escolas

Os deputados franceses aprovaram hoje um projeto de lei que proíbe no próximo ano letivo telemóveis e outros aparelhos conectados nas escolas públicas, incluindo universidades, com exceção dos usados para fins educacionais ou para portadores de deficiência.

O projeto foi hoje votado e vem no seguimento de uma promessa de campanha do Presidente francês, Emmanuel Macron, devendo ser apresentado em breve ao Senado. 

Na defesa do projeto esteve o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, que o considerou uma “lei do século XXI, uma lei de entrada na revolução digital”, enquanto a oposição considerou que a iniciativa não passa de cosmética. 

“Estar aberto às tecnologias do futuro não significa que tenhamos de as aceitar para todos os fins”, afirmou o ministro, falando dos “maus usos” como o assédio cibernético, a consulta de páginas pornográficas ou a dependência dessas tecnologias.

A lei agora aprovada não fixa multas nem a forma como se aplicará a proibição. Mas tendo em conta que não é permitido revistar as mochilas dos alunos estes poderão sempre usar os telemóveis nas salas, desligados ou não, segundo alertas da imprensa francesa sobre a matéria.

Em França, o Código de Educação proíbe desde 2010 o uso de “laptops” em qualquer atividade de ensino e em locais previstos por regras internas mas o ministro defendeu a necessidade de uma base legal “mais forte”. 

A lei alarga a proibição a todos os objetos conectados e a locais ao ar livre, como aqueles onde os jovens fazem desporto.
As escolas terão de decidir depois os termos da proibição, como os lugares e as condições. 

A oposição criticou o texto, que considerou de pura propaganda e cosmética, que não deu qualquer ferramenta aos diretores das escolas, e que a lei até já existe e que o problema é a sua aplicação.

No texto do projeto considera-se que o uso dos telemóveis “provoca várias disfunções incompatíveis com a melhoria do clima escolar” e que a sua proibição permitirá garantir um ambiente que favoreça a concentração. 

Mesmo no recreio, acrescenta-se, o uso do telemóvel “pode ser prejudicial por reduzir a atividade física e limitar as relações sociais”. 

Segundo um inquérito feito no ano passado 93% dos jovens franceses entre os 12 e os 17 anos tinham telemóvel, contra 72% em 2005.

https://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=136189&langid=1

Pouco mais de metade dos inscritos nos exames nacionais quer seguir para o superior


Pouco mais de metade dos alunos inscritos nos exames nacionais tencionam prosseguir estudos no ensino superior e não chegam aos 800 os inscritos vindos do ensino profissional, segundo dados divulgados hoje pelo Ministério da Educação.

Este ano há 159 650 alunos matriculados nos exames nacionais do ensino secundário, de acordo com os dados do Júri Nacional de Exames, que revelam uma quebra de inscritos provenientes do ensino secundário face a 2017 (161.306), com impacto no número de alunos que admite querer seguir para um curso superior, também mais baixo do que no ano anterior. 

Este ano há 87 765 candidatos declarados ao ensino superior, que representam 55% do total, contra os 90 467 (56%) registados em 2017. 

Os inscritos vindos do ensino profissional são 773, número ligeiramente superior aos 744 de 2017. 

Os alunos internos inscritos para exame, ou seja, aqueles que frequentaram as aulas durante o ano letivo, são 122 606.

Os alunos com origem nos cursos do ensino regular em Ciências e Tecnologia são quase metade dos inscritos nos exames (70 780 que representam 44% do total), uma proporção semelhante ao ano anterior.

O exame nacional de Português, um dos exames mais pedidos por universidades e politécnicos como prova de acesso à generalidade dos cursos superiores, como habitualmente, é o que regista o maior número de inscritos (77 086), seguindo-se os outros três que costumam registar o maior número de inscrições: Biologia e Geologia (48 155), Matemática A (47 956) e Física e Química A (47 426).

A 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário arranca este ano em 18 de junho com a prova de Filosofia, às 09:30, e termina em 27 de junho com as provas de Geometria Descritiva A e Literatura Portuguesa marcadas para esse dia.

No que diz respeito às provas finais do ensino básico (9.º ano de escolaridade), há este ano 101.627 inscritos, dos quais a quase totalidade (101.448) são alunos internos. A grande maioria realiza as provas dentro do intervalo de idades esperado para um percurso sem retenções: entre os 14 e os 15 anos.

Ao contrário do ensino secundário, o número de inscritos nas provas finais do 3.º ciclo é maior do que no anterior, quando o total de inscritos foi de 100.063 e o total de internos era inferior a 100 mil alunos.

https://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=136059&langid=1

Ministro convidado a validar todo o tempo de serviço dos professores


Grupo de docentes da Iniciativa Legislativa de Cidadãos escreveu uma carta aberta a Tiago Brandão Rodrigues para que o ministro marque uma audiência ou assine uma proposta de contagem integral do tempo congelado. O assunto é delicado. Entretanto já estão marcadas greves para 14 de setembro, primeiro dia de aulas do próximo ano letivo, e para a primeira semana de outubro.

O ministro da Educação é desafiado a defender os direitos dos professores numa carta aberta escrita pela comissão representativa da Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC), constituída por oito docentes, que quer que a contagem integral do tempo de serviço docente seja debatida na Assembleia da República e que seja feito um projeto de lei que efetive essa vontade. Uma vontade que conta já com mais de 75% das assinaturas necessárias, na plataforma eletrónica do Parlamento, para que, na prática, se abra um processo legislativo sobre esta matéria. 

A carta aberta solicita uma audiência ao ministro para um diálogo sobre a iniciativa dos professores ou então que Tiago Brandão Rodrigues assine essa proposta. “Podemos contar que defenda assim, ‘radicalmente’, os direitos dos professores?”, perguntam no final da carta. Uma assinatura que, para a ILC, demonstraria que o ministro “finalmente percebe que nenhuma das reformas que projeta fazer na Educação se fará com os professores injustiçados nos seus direitos salariais”. A contagem do tempo congelado aos docentes permanece na ordem do dia. A greve às avaliações vai avançar e entretanto marcaram-se greves para o primeiro dia de aulas do próximo ano letivo, 14 de setembro, e para a primeira semana de outubro. 

No convite feito ao ministro, para que valide a proposta de resolução que permite contar todo o tempo de serviço congelado aos professores, estão 12 pontos que detalham o delicado momento que se vive na Educação. “As propostas são justas e exequíveis: os docentes trabalharam nove anos, quatro meses e dois dias, tendo-lhes sido retiradas as legítimas expetativas legais à progressão de carreira, no período de suspensão, à semelhança de todos os funcionários públicos. A suspensão mantém-se ainda hoje, em contradição flagrante com o que o Governo afirma, desde há três anos (isto é, desde o início da legislatura): que a austeridade findara e o Governo teria, entre os seus objetivos, a reparação das injustiças passadas”, lê-se na carta aberta. 

O grupo de docentes quer que o Estatuto da Carreira Docente seja respeitado e cumprido e que o relógio não ande para trás, sem atrasos e sem injustiças. Até porque, sublinha nessa missiva, os professores estão a ter prejuízos mensais, prejuízos legais, prejuízos nas suas expetativas. Entre parênteses, pede-se que não haja recurso “a habilidades ardilosas, como sejam interposição de vagas, pagamentos parcelares ou considerações de avaliações de desempenho”. “Tudo isto deve ser encarado sem discursos distorcidos que manipulem o custo real da reposição da justiça, insistam em retroativos ficcionados ou veiculem uma suposta falta de dinheiro que, pelo contrário, até parece abundar para outras escolhas alternativas em contraste com a Educação”.

O ministro é assim desafiado a entrar pela via parlamentar, até para evitar que haja impedimentos por parte do Ministério das Finanças. O grupo assume que Tiago Brandão Rodrigues, “pessoa que reputamos de honesta e franca, irá lutar pelos direitos dos professores, pelas suas condições de vida e de salário, como elemento essencial para melhoria do sistema de ensino português”. “Afinal não são só os alunos que fazem as escolas e dificilmente estas serão melhores, ou sequer absorverão todas as mudanças que Vossa Excelência quer aplicar, já no próximo ano, se os professores continuarem a ver a sua motivação degradada pela instalação de injustiças permanentes como lógica de funcionamento da sua carreira”.

“Sem truques, sem estatísticas truncadas” 
O grupo de professores considera que o Governo tem condições para resolver o problema e pede que não se prolongue a reposição além desta legislatura que acaba já em 2019. “Não por razões eleitoralistas, mas porque foi o prometido e só assim não se mantém o esbulho, que faz dos professores e educadores os maiores credores do Estado, de dívida que mensalmente cresce e que este se recusa a reconhecer e pagar”, refere.

O professor Paulo Guinote, que apoia a ILC, refere que esta é uma iniciativa que se destina “a demonstrar que os professores ainda têm capacidade para reagir em defesa dos seus direitos, à margem dos constrangimentos organizacionais com agendas políticas próprias e calendários que nem sempre coincidem com o das ‘bases’ nas escolas”. Além disso, sublinha, é uma iniciativa que se “destina a forçar uma clarificação em tempo útil das posições dos vários partidos com assento parlamentar sobre este assunto, sem arrastamentos indefinidos de negociações ou ameaças de ‘lutas’ convencionais”. 

“É uma iniciativa de cidadãos que pretendem que uma lei que consideram ser justa seja analisada e votada pelo Parlamento, de modo a que possam formar a sua própria posição acerca do interesse em votar (ou não) em alguns desses partidos, em especial confrontando aquilo que assinaram há poucos meses e o que estão dispostos a cumprir”, acrescenta. O professor não acredita que o ministro assine a proposta da ILC, “atendendo à falta de coerência entre a forma como aceitou ser porta-voz das Finanças contra o que ele próprio tinha declarado em novembro do ano passado”. A ILC é também, na sua perspetiva, uma forma de “expor a hipocrisia reinante na classe política e governamental a este respeito”.

Paulo Guinote defende que este assunto da contagem do tempo de serviço dos docentes deve ser debatido “com seriedade e sem truques de retórica política ou estatísticas truncadas”. “É tempo de abandonarmos esse nível muito rasteiro de argumentação, que voltou a ser usada nas últimas semanas, fazendo recordar o pior de há uma década”. Depois, na sua opinião, é necessário assumir “com clareza que os valores adiantados para os custos da recuperação do tempo de serviço contabilizam como ‘despesa’ parcelas que no Orçamento de Estado aparecem como ‘receita’  em outras rubricas”, referindo-se à parcela do salário nominal dos professores que fica nas mãos do Estado logo à partida - IRS, CGA/Segurança Social, ADSE, “assim como a TSU não pode ser apresentada como uma ‘despesa’, pois o Estado paga-a a si mesmo”.

“Os sindicatos e o Governo deveriam perceber que não são as suas posições e estratégias políticas e partidárias que estão em causa, mas o respeito devido a uma classe profissional que desempenhou as suas funções em condições muito adversas, contribuindo para a melhoria do desempenho dos alunos portugueses, e apenas quer que isso lhe seja reconhecido. Em nenhum momento alguém reclamou retroativos como alguns políticos e opinadores ligados ao PS disseram ou escreveram na comunicação social”, afirma o professor. 

Para Paulo Guinote, as negociações não precisam de ser frequentes ou demoradas, mas sim devem ser feitas com seriedade, e não se devem assinar resoluções parlamentares ou entendimentos que se percebe, desde o primeiro momento, que não são para cumprir. “Ao longo destes dois anos e meio que passaram isso não tem acontecido, em especial em tudo o que se refere aos professores que já estavam na carreira antes deste mandato ou do anterior”.

https://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=136290&langid=1

Faseamento da recuperação total do tempo de serviço, na Madeira, vai ser negociado


O Governo Regional da Madeira reconheceu razão aos professores perante a sua luta organizada que se iniciaria amanha, 12 de junho. Proposta para negociação pode e deve ser melhorada. A negociação inicia-se no dia 25 de julho, às 15h00.

Segundo a Secretaria Regional da Educação, trata-se de "uma primeira proposta de decreto legislativo regional que define os termos e a forma como se processa a recuperação do tempo de serviço prestado em funções docentes não contabilizado para efeitos de progressão, entre 30 de agosto de 2005 e 31 de dezembro de 2007 (854 dias) e entre 1 de janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2017 (2.557 dias), num total de 3.411 dias".

Iniciou-se nesta região autónoma o caminho para a contagem de 9 Anos, 4 Meses e 2 Dias.

Vale a pena lutar, quando se tem razão. Porque quem não luta perde sempre.

Ler proposta da SRE-RAMadeira

Ministério da Educação tenta impor práticas ilegais; FENPROF apela aos professores para não se atemorizarem e às direções das escolas para não assumirem a ilegalidade


Para evitar a greve que se iniciará no próximo dia 18, o Governo deveria optar pelo caminho do diálogo e da negociação, concretizando, por essa via, o compromisso assumido em novembro, cumprindo a Lei do Orçamento do Estado e respeitando a Resolução 1/2018 da Assembleia da República. Se o fizesse, garantiria a recuperação de todo o tempo de serviço perdido pelos professores durante os períodos de congelamento, negociando o prazo e o modo de o fazer; garantiria, ainda, que a tranquilidade regressaria às escolas neste momento tão importante do ano letivo.

Mas a atual equipa do Ministério da Educação preferiu ser igual a anteriores e acirrar o confronto com os professores, emitindo uma nota informativa, assinada pela Diretora-Geral dos Estabelecimentos Escolares, que inclui orientações que não têm enquadramento legal.  A FENPROF não deixará passar em claro esse facto e pediu já um parecer aos seus juristas, no sentido de apresentar queixa contra a responsável por esta nota informativa, tanto junto da Inspeção-Geral de Educação, como do Ministério Público.

Lamentável é, ainda, o facto de, através desta nota informativa, a DGEstE/ME que poderá levar diretores a adotar procedimentos que, não tendo enquadramento legal, são passíveis de os tornar vítimas de ação disciplinar. A este propósito, torna-se público que, por terem violado a lei da greve, designadamente o acórdão sobre serviços mínimos em dia de exame, foram instaurados 17 processos disciplinares a diretores (que estão curso), aguardando-se, ainda, decisão dos tribunais relativamente aos casos de violação mais grave.

Quanto à nota informativa que a DGEstE/ME fez chegar às escolas, a FENPROF destaca:

- A ordem que é dada aos diretores para que convoquem as reuniões não realizadas para o dia seguinte, quando nos termos legalmente estabelecidos elas poderão ser convocadas até 48 horas depois (números 1 e 2);

- Os números 3 e 4 apontam para uma prática ilegal, logo, punível disciplinarmente: o diretor de turma não pode recolher antecipadamente os elementos relativos à avaliação dos alunos. O professor só está obrigado a disponibilizar essa informação na reunião de conselho de turma e não deve, nesta situação de luta em que se encontra, disponibilizá-la antes ou lançá-la em qualquer plataforma criada pela escola para esse efeito;

- ainda sobre o número 3, não há nenhum enquadramento legal que permita, em situação em greve, a realização da reunião de conselho de turma à terceira convocatória, ainda que estejam ausentes alguns dos seus elementos;

- Também o número 5 aponta para uma prática ilegal, caso a ausência do diretor de turma se deva à sua adesão à greve;

- Relativamente ao número 6, que se refere às reuniões de conselho de docentes do 1. Ciclo do Ensino Básico, estes não podem ser realizados se estiverem ausentes 50% ou mais dos seus elementos; 

- Os pontos 7 e 8 também são de legalidade duvidosa, ainda que, por exemplo, em relação ao número 7, a atual equipa ministerial adote a prática da que a antecedeu.



Sobre os aspetos que, como antes se refere, não têm enquadramento legal

- Não há enquadramento legal para que a reunião se realize à terceira convocatória

O disposto no artigo 23.º, n.º 8, do Despacho Normativo n.º 1-F/2016, de 5 de Abril, e no artigo 19.º, n.º 4, da Portaria n.º 243/2012, de 10 de Agosto, não se aplica a ausências de curta duração, pelo que não se pode aplicar a situações de greve. Com efeito, no artigo 23.º, n.º 8, do Despacho Normativo n.º 1-F/2016, de 5 de Abril, é referido expressamente a aplicação apenas a ausência “superior a 48 horas”, enquanto artigo 19.º, n.º 4, da Portaria n.º 243/2012, de 10 de Agosto, refere-se a uma ausência “presumivelmente longa”.

Ora, a adesão à greve constitui uma ausência (não uma falta) que se presume de curta duração, já que o trabalhador pode, a qualquer momento, decidir sobre a sua adesão à greve, bem como sobre o termo dessa mesma adesão. Isto é ainda mais verdade quando a greve convocada pela FENPROF não é a todo o serviço, mas apenas às reuniões de avaliação, ou seja, é claro que o docente não se encontra ausente da escola, podendo estar presente na reunião seguinte na qual, contudo, poderá estar ausente outro professor.

- Não pode ser exigida a disponibilização prévia dos elementos de avaliação

Afirma-se que, incidindo os pré-avisos de greve apenas sobre as reuniões de conselho de turma, os mesmos não afastam nem o dever de recolher, nem o dever de facultar os elementos de avaliação. Isso é verdade, mas só no caso de uma ausência “presumivelmente longa”, ou seja, pelo menos, “superior a 48 horas”, o que, como antes se refere, não acontece quando se trata de greve.

O Secretariado Nacional

Greve às Avaliações


segunda-feira, 4 de junho de 2018

Resumo - A Necessidade de existência do Direito



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Resumo - A problemática da ordem social



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Resumo - A pessoa, fundamento e fim da ordem jurídica


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Powerpoint - As causas da crise financeira internacional


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Powerpoint - Fontes de Informação e Conhecimento sobre a UE


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Powerpoint - As falhas de mercado e do Estado


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Powerpoint - Indicadores de curto prazo


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Powerpoint - Indicadores de longo prazo


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Biografia - Papa Dâmaso I


Nasceu em Guimarães ou Idanha-a-Velha em c. 305; 
morreu em Roma em 384.

Filho de António e Laurentina, pensa-se que nasceu na Península Ibérica porque o Liber Pontificalis (O Livro dos Papas), a história dos Sumo Pontífices, que começa com São Pedro e que na sua forma primitiva ia até ao Papa Estevão V (885-891), afirma que «Damasus, natione hispanus, ex patre Antonio ...», mas a frase pode só significar que a família, ou o pai, era oriunda dessa região o que não implica que tivesse nascido na Península. Muitas localidades ibéricas afirmam ser o berço do seu nascimento, havendo quem defenda que, para além das duas povoações já citadas, possa ter nascido em Arguelaguer, Madrid ou Tarragona. 

Foi André de Resende que no seu Breviário de Évora de 1548 afirmou que o «... B. Damasus ... patria Vimaranensis ex Bracarensi Provincia», isto é, que São Dâmaso tinha nascido em Guimarães, no  Arcebispado de Braga.

A verdade, é que Dâmaso aparece ainda criança em Roma, onde o pai era Secretário de São Lourença, Mártir, um dos sete diáconos da Igreja de Roma, martirizado durante a perseguição do Imperador Valeriano realizada em 258. A sua vida até ser eleito Papa, é muito resumida afirmando-se unicamente que era dotado de grande cultura e santidade.

Foi eleito Papa em 1 de Outubro de 366, por larga maioria, mas alguns seguidores do anterior Papa Libério, próximos do Arianismo, consagraram o diácono Ursino, criando um Antipapa para tentar depor Dâmaso I.

Fonte:
The Catholic Encyclopedia, Volume IV
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura - Verbo, Lisboa, Verbo, 1967, vol. 6, cols. 742-743

Biografia - Santa Clara

Nasceu em 1194 (ou 1193) numa família nobre e rica, na cidade de Assis. Foi uma jovem alta e loira de grande beleza que esteve prometida em casamento a grandes senhores feudais. A sua recusa ao casamento inseriu-se na “profunda inquietação religiosa” que muitos homens e mulheres sentiram nos séculos XII e XIII e que os levou ao retorno a uma vida ascética e desprovida de bens materiais. Clara era de uma grande exigência para consigo própria. A opção pela mais absoluta pobreza, para melhor viver o cristianismo, faz dela uma mulher admirável para os parâmetros da sua época e para a eternidade. 

No oitavo centenário do seu nascimento, Assis, a cidade símbolo mundial do espírito cristão da pobreza e da paz, comemorou, desde 11 de Agosto de 1993 até 5 de Outubro do 1994, o seu nascimento. Em Portugal, o Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro assinalou esta data com uma pequena mas belíssima exposição biblio-iconográfica.
Clara era neta e filha de fidalgos guerreiros das mais ilustres e poderosas famílias de Assis. Viviam num palácio na cidade, possuíam um castelo nos arredores e consideráveis propriedades. 

O pai, Favarone Scifi, era conde e como todos os cavaleiros feudais deixava a educação das filhas a cargo de sua mulher e das numerosas damas do palácio. Como guerreiro cabia-lhe também participar nas cruzadas contra os infiéis, mas a sua religiosidade não iria muito além destas belicosas investidas. O avô de Clara pertencia à nobre família dos Offreducci. Seu filho mais velho, Monaldo, tio de Clara, era um guerreiro brutal e sem escrúpulos, mas na família havia outros parentes cuja generosidade aquela menina loira e sensível iria imitar.  Ortolana Fiuni, antes mesmo da sua filha Clara nascer, pediu autorização ao marido para fazer uma peregrinação à Terra Santa, facto que era comum na época, principalmente na nobreza. 

Foi acompanhada da sua grande amiga, Pacífica de Guelfuccio, e integradas num grupo maior de peregrinos. Só a muita fé fazia esquecer a travessia do mar em más condições, as caminhadas longas sob diversos perigos, o calor, a escassez de água e alimentos. Toda a adversidade era compensada pelo momento inesquecível da chegada a Jerusalém, e o privilégio de poderem ajoelhar-se perante o Santo Sepulcro. Nessa viagem, Ortolana irá também a Roma. Após o regresso a casa, sabe que vai ser mãe. A lenda diz que a mão de Clara de Assis ouviu um dia vozes que lhe anunciam que a criança que ia nascer iria ser um clarão de luz para todo o mundo.  Em Roma era papa Celestino III. Corria o ano de 1194.

Clara é baptizada na mesma igreja onde, doze anos antes, recebera o baptismo Francisco de Assis (teve na pia baptismal o nome de João). As suas vidas vão para sempre estar ligadas por uma grande amizade espiritual. Mas se São Francisco, o santo padroeiro dos ecologistas que tratava os animais e as plantas por “irmãos” e “irmãs” e por quem os adultos e as crianças têm uma ternura muito especial, continua, decorridos tantos séculos, a ser conhecido e venerado, o mesmo não se passou com Clara que é pouco conhecida fora de Itália. Ela foi, porém, a feição feminina do franciscanismo na sua mais absoluta pobreza. Foi a fundadora das Clarissas, que se estenderam rapidamente por todo o mundo. Portugal teria o seu primeiro convento de Clarissas, em Lamego, antes de 1260. 
             
Os franciscanos e as clarissas vão operar uma profunda reforma nos costumes do seu tem po, numa recristianização da sociedade. A espiritualidade franciscana apontava para uma vida de despojamento de bens materiais e uma verdadeira recusa à subserviência ao dinheiro e ao luxo. Para Francisco de Assis a santificação pessoal era uma obra colectiva, numa união estreita com os outros, fazendo da divulgação da palavra de Cristo uma componente essencial dessa espiritualidade.   Regressemos ao século XlI e a essa bela cidade situada no cimo de uma montanha — Assis. 
             
Clara foi a mais velha de cinco ir mãos — Inês, Beatriz e dois irmãos. A sua infância e juventude foi a de uma menina fidalga. Gostou de vestidos de seda bordados, usou muitas vezes jóias quando com a família ia às festas da sua cidade ou assistia aos torneios onde a destreza dos irmãos e amigos era certamente para ela um motivo de aplauso. Aos doze anos era considerada de uma beleza fora do vulgar e os seus dotes artísticos eram o orgulho da mãe e do pai. Este, achou que era chegada a idade de a casar, mas Clara foi dizendo que não estava preparada.Nesse tempo nem a própria mãe, profundamente religiosa, poderia adivinhar o futuro daquela filha que viria influenciar toda a família. 
             
Clara teria pouco mais de treze anos quando Francisco, filho de Pedro Bernardone, o rico fabricante e mercador de tecidos: resolveu tomar atitudes “bizarras”, começando por dar os seu ricos fatos e o seu cavalo a um pobre e depois desaparecendo de casa para se refugiar numa ermida abandonada a um quilómetro da cidade, recolhido em oração. Não se falava de outra coisa em Assis depois de Francisco ter roubado peças de tecido ao pai que vendeu para com o dinheiro reconstruir a capela de São Damião. Mais tarde a sua comunidade muda-se para Santa Maria dos Anjos. Francisco contava vinte e cinco anos. Passara já pelos prazeres dos jovens da sua idade, amante de mulheres, festas e folguedos, fora guerreiro, enfim, podemos dizer que a sua decisão nada tinha de imaturo, mas a sociedade em que vivia não o podia entender, O pai, tomando-o por louco, vai prendê-lo em casa e pô-lo a pão e água. 
             
Mas o tempo viria provar que aquele homem tinha sido tocado por algo transcendente e que iria seguir uma vida diferente. Com o tempo, outros jovens ricos vão juntar-se a Francisco e formarão uma nova comunidade religiosa a quem o papa Inocêncio III, em 1209, vai autorizar a pregação, como se fossem sacerdotes ordenados, embora, de início, a Igreja não entendesse muito bem o que pretendiam estes novos monges, que receberam sempre grande apoio dos beneditinos. Durante um ano, Clara vai à Capela de Santa Maria dos Ajos ouvir a pregação de Francisco e conversa com ele. Vai vestida de maneira discreta, sobre a cabeça põe um manto pesado para não ser reconhecida e faz-se acompanhar de uma amiga de confiança. 

Clara não mais vai esquecer essas conversas nem a forma humilde como ele se vestia - descalço, uma túnica de pano grosseiro, apanhada na cintura com uma corda e um cajado encimado de uma cruz e aquele olhar sereno e feliz. Aquela felicidade que só alguns conseguem atingir.
Durante quatro anos, silenciosamente, sem mesmo dizer à mãe o que se passava no seu pensamento, Clara vai meditar na sua vida. Aos dezoito, no dia 18 de Maio de 1212, sai de noite de casa, acompanhada da amiga fiel, Filipa de Guelfuccio, descem a encosta até à Porciúncula onde Francisco, outros frades e freiras de outros mosteiros as esperam. Leva por baixo do manto um vestido de noiva, adornada com jóias: é o costume que ainda hoje se mantém nas tomadas de hábito das freiras que depois despem as vestes da “riqueza mundana” para envergarem o hábito da pobreza. Neste caso a verdadeira pobreza franciscana — o véu branco da pureza e o negro símbolo da penitência. 
             
Na cerimónia de profissão de fé de Clara, no mosteiro de Francisco, é e!e próprio quem lhe vai cortar os cabelos. Diz-se que ao ver cair aqueles fios doirados no chão, o santo terá deixado rolar uma lágrima. A família, ao dar pelo desaparecimento de Clara, desencadeia as buscas, tendo à frente o tio de Clara. Pensa-se primeiro num rapto da autoria de algum jovem, o que era vulgar na época (eram chamados os “casamentos por rapto”) mas depois descobre-se que ela se recolhera junto da comunidade de Francisco. O tio Monaldo diz que a culpa é desse “doido” e jura que a trará para casa. Mas quando chega ao mosteiro das beneditinas de S.Paulo, em Bastia, próximo de Assis, onde Clara se recolhera, vê a sobrinha descalça, vestida pobremente que com serenidade e segurança lhe diz que não mais voltará para casa dos pais, porque é aquela a vida que escolheu. Fica indeciso. Ainda tenta forçá-la a segui-lo. Porém, Clara — para que ele perceba que a sua opção não foi um impulso passageiro tira o véu e mostra-lhe a cabeça rapada. O tio solta um grito de raiva. Aqueles cabelos de oiro, elogiados por toda a cidade, já não cobriam a bela cabeça da sobrinha e, meio descontrolado, retira-se com os seus soldados. Como a família de Francisco, também a de Clara teve de encarar a escolha da filha como algo mais forte que os poderes terrenos. 
             
Ortolana, ao princípo, não percebe bem o alcance do gesto da filha porque pensa que ela poderia ter escolhido ser freira num convento rico, para onde iam tantas meninas da nobreza.  Inês, irmã de Clara, quinze dias de pois fará o mesmo e a própria mãe, mais tarde, já viúva, vai também entrar num convento.Um dia, Frederico II, com o seu exército composto por sarracenos, desde que fizera uma aliança com o sultão do Egipto, aproxima-se do convento de S. Damião. Na sua fúria contra a Igreja católica, tenta penetrar no mosteiro onde se encontra Clara e a sua comunidade. Quando os soldados que tentavam o saque se aproximam, as freiras em pânico vão avisar Clara que, sem ter qualquer meio de defesa, vai à capela e pega na custódia, peça do culto onde se coloca a hóstia, normalmente de ouro ou pra ta, e empunhando-a com as duas mãos levanta-a de modo a que seja vista pelos invasores. Conta a lenda que os raios de Sol, reflectindo-se nela, teriam assustado os guerreiros que, em debandada, fugiram. Será esta a cena mais representada nas gravuras e pinturas que se têm feito de Santa Clara, sendo de referir que Portugal possui inúmeros quadros desta Santa, nomeadamente no mosteiro da Madre de Deus, em Xabregas. 

A exigência espiritual de Clara de Assis diferenciava-se das outras comunidades de freiras, principalmente num aspecto — além de ser uma ordem contemplativa, vive o “privilégio da pobreza”. Esta recusa total dos bens terrenos era perfeitamente inaceitável na época e, daí, Clara ter toda a vida lutado para que a sua Regra fosse aceite pelo Papa que a considerava de uma tal exigência que seria difícil de cumprir. Gregório IX confirmará a nova ordem monástica, em 1228. É difícil, nos nossos dias, compreendermos o que é este espírito de pobreza de Francisco e Clara. Seria preciso penetrarmos na mentalidade da época, onde a pobreza era una humilhação, mais do que uma ausência de bens. Os pobres eram, de algum modo, marginais que viviam da bondade de quem lhes dava esmola. 
             
Hoje, fala-se de outra pobreza que é o fruto de calamidades naturais e da responsabilidade dos governos de países, exclusivamente preocupados com o progresso material, como se o ser humano só precisasse de bens palpáveis. Clara de Assis, na sua pequena comunidade com as outras “senhoras pobres”, como se chamaram de início as Clarissas, vai aceitar, apesar de uma primeira recusa, ser a abadessa, sempre como apoio espiritual da comunidade de Francisco. Vão instalar-se num mosteiro beneditino de Sant’Angelo de Ponzo. Inês, que também vai seguir a vida monástica, irá para outro convento e as duas irmãs ficarão trinta e cinco anos sem se encontrar. 
             
Francisco de Assis, já por muitos considerado um santo, morre em 3 de Outubro de 1226. O povo de Assis vai--lhe prestar uma homenagem simples e sentida. Cada habitante da cidade levou na mão um raminho de fores e uma vela acesa. O cortejo fúnebre sai de Santa Maria dos Anjos e, antes de chegar a Assis, vai passar em S. Damião para que Clara, muito doente, possa dizer o último adeus ao seu guia espiritual, ao seu grande amigo e protector. Clara chorou sem cessar a perda de Francisco. Sentia-se desamparada. Tinha 32 anos e iria viver até aos 60 sempre em S. Damião. 
             
Entretanto, a fama de Clara espalhava-se, gente dos arredores vinha pedir-lhe conselhos e ela, através da oração, fazia curas ditas milagrosas. Surdos que passaram a ouvir, mulheres estéreis que tiveram filhos e muitos outros factos fora do vulgar. 
Clara de Assis foi canonizada em 1255, apenas dois anos após a sua morte. Poderíamos chamar-lhe a santa das santas”. 

Informação retirada daqui

Biografia - João Batista e Salomé

"Salomé - a sua luxúria um abismo. A sua perversidade um oceano". Salomé foi, depois de Eva, considerada a mulher mais malvada da história judaico-cristã. Há poucas figuras femininas no Antigo Testamento que tenham merecido por parte de escritores, autores de teatro, gravadores, pintores e compositores musicais a atenção que mereceu a jovem Salomé, filha de Herodias e sobrinha do tetrarca da Galileia - Herodes Antipas.
À partida, pela sua beleza e sendo de estirpe real, Salomé teria nascido para fazer feliz qualquer mortal, mas o capricho de exigir a cabeça de João Baptista, transformou-a numa proscrita: a jovem que, sob um ar angelical, é possuidora da pior das perfídias, por usar o dom da sedução e o erotismo para conseguir os seus intentos. A Natureza, rezam os historiadores e a lenda, dera-lhe dons magníficos - um corpo escultural, cabelos negros sedosos, olhos de pantera, boca, braços e pernas perfeitos, como os de uma Vénus - e, foi todos estes atributos que usou para mandar executar João Baptista.
Herodes Antipas, nascido no ano 10 a. C., era filho de Herodes o Grande. Calígula, Imperador romano, dera-lhe o governo da Galileia e de Pereia. Herodes Antipas repudiara a mulher legítima e passara a viver com Herodias (ou Herodíades) sua cunhada. Pior, decidiram mesmo casar-se, ignorando a lei que o interditava. O incesto foi e é, desde tempos imemoriais e em muitíssimas culturas, em diversas partes do mundo, condenado como crime grave. Herodes e Herodias viviam um idílio só interrompido pela voz de um homem estranho, de nome João, que, vindo do deserto, parecia disposto a perturbar o tetrarca e a recente mulher.  Esse homem que vivia numa pobreza assumida, como forma de despojamento dos bens terrenos, e se vestia apenas com uma pele de camelo, apertada com um cinto, passara muitos anos no deserto, que percorrera alimentando-se apenas de água da chuva, frutos silvestres, gafanhotos e mel, como conta a tradição. João, sem qualquer poder visível, tinha uma imensa multidão que o seguia, que ouvia as suas palavras e não deixava de clamar contra Herodes e Herodias, pelo modo desregrado em que viviam. Se Herodes não admitia ser importunado por João, a mulher ia mais longe: odiava João Baptista e esperava a melhor ocasião para o fazer desaparecer. 
A bela Salomé, filha de Herodias, que fora viver com a mãe para o novo palácio, depois de o pai ter sido preso injustamente pelo irmão, passeava, cheia de mistério, com vestes finas, deixando tudo e todos envoltos no poder da sua sensualidade, a que não ficavam alheios os olhos do tio, dos guardas e de todos os servidores do palácio. A beleza tem um poder imenso.
Salomé era jovem, certamente virgem e o prazer de ser desejada, de momento, satisfazia-a. Mas Salomé não tem apenas uma história. Flaubert, Oscar Wilde, Mallarmé e Eugénio de Castro, para só referirmos alguns, vestiram e despiram Salomé a seu bel-prazer. Deram-lhe e tiraram-lhe ingenuidade e candura ou carregaram-na com paixões mórbidas e a mais repugnante perfídia, conforme a veia criativa os inspirou.
É certo que esta bela jovem da Galileia teve existência real. Para lá dos mitos criados nos 20 séculos passados sobre a sua morte, Salomé mantém-se uma figura histórica inesquecível e para sempre ligada ao nome de João Baptista. No Evangelho de Mateus, aparece apenas com uma simples referência: "Ela dança e agrada a Herodes e aos convivas." O historiador hebreu Flávio Josefo também se refere a ela, dizendo: Aquela que pediu, por conselho da mãe, Herodias, a cabeça de S. João Baptista, por ter dançado airosamente" (Tesouro Bíblico ou Dicionário Histórico - do Antigo e Novo Testamento, p. 263, Lisboa, 1785). 
João era conhecido por João Baptista, porque baptizava nas águas do Jordão todos aqueles que acreditavam que um dia a lei dos homens seria alterada com a chegada de um "messias". Como sabemos, foi S. João quem baptizou Cristo, quando este iniciou a sua vida de pregador. João Baptista é uma das figuras mais respeitadas da história judaico-cristã e a sua vida é também admirada pelos muçulmanos. Tem um culto assinalável na Turquia, bem como em várias zonas do Oriente. Envolve-o uma aura de homem bom, num sentido universal e muito mais vasto que o da santidade da Igreja Católica.
João era filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus de Nazaré, que ainda não iniciara a sua vida pública. Isabel concebera-o em idade avançada e João, desde o seu nascimento, tinha a missão de anunciar a chegada do Salvador - de Jesus Cristo. Mas as profecias, mesmo para Herodes Antipas, eram para respeitar e João Baptista tinha o condão de o perturbar. Herodes era um homem pouco culto, medroso, ignorante, pouco mais do que um nómada, e tinha medo do profeta. O tetrarca mandou que o trouxessem à sua presença, pois queria ouvi-lo. João repetiu-lhe o que já dissera antes, que o casamento dele com a cunhada era "sacrílego" segundo as leis. E mais, disse-lhe que a repudiasse e que voltasse para a mulher legítima, que expulsara injustamente, e que, se não o fizesse, cairia a maldição sobre Israel. Herodes, sob pressão de Herodias, mandou-o encarcerar numa prisão-cisterna.
A história dos Hebreus é longa e complexa. Vaguearam pelo deserto em busca da Terra Prometida e, desde sempre, os profetas anunciaram que um dia viria um redentor. Ora, Herodes não ignorava que a religião era algo a respeitar. Vivia torturado entre o prazer e o dever. Era fraco. Não resistia às artimanhas da cunhada, agora sua mulher, que se dizia ter casado com ele apenas por interesse. Ora Herodes nada tinha que se comparasse com o pai, Herodes, "o Grande", que, na religião católica, ficou conhecido por ter ordenado a "matança dos inocentes", isto é, ter mandado executar todas as crianças com menos de dois anos, quando ouviu dizer que um novo rei viria. Esse rei era afinal e apenas "o menino de Nazaré" e o seu reino não seria deste mundo. Não há dados históricos deste facto e, em História, é preciso conhecer as várias versões.
Herodes, "o Grande", filho de Antípatro, foi desde 39 a. C. governador da Galileia e soube enten-der-se com os imperadores de Roma. César deu-lhe o governo da Galileia e durante a vigência do Imperador António (o da paixão por Cleópatra) Herodes obteve o reino da Judeia. Herodes, "o Grande" tomou Jerusalém em 37 a. C. e mandou fazer grandes obras de arquitectura sendo o palácio a obra mais importante, que demorou oito anos a construir. O seu reinado foi uma época de riqueza.
Não podemos esquecer que o cognome de "o Grande" foi usado pelos historiadores, durante séculos, para homens e mulheres que fizeram grandes conquistas e construções majestosas, não estando os atributos morais em causa. Sobre Alexandre, "o Grande", ainda hoje recaem suspeitas se terá ou não estado envolvido na morte do pai; Catarina, "a Grande" (da Rússia) mandou matar o marido, que era o legítimo herdeiro do trono. E, mesmo que Herodes, "o Grande", tivesse mandado matar milhares de crianças, é preciso não ignorarmos que, nesse tempo, imperadores, reis e grandes senhores tinham poder de vida e de morte sobre a família e súbditos. Mas regressemos à bela Salomé. Herodes Antipas quis esquecer que as palavras de João o torturavam e não o deixavam dormir. Era o seu aniversário e quis festejá-Io com toda a pompa. Os seus territórios eram vastos, chegavam bem para lá do rio Jordão e a festa deveria ser falada por toda a parte. Foram convidados todos os príncipes, que acorreram da Judeia e da Galileia e trouxeram os seus séquitos. Bailarinas de longes paragens vieram com a sua graça animar o banquete. Foram preparadas as melhores iguarias.
Entre cada prato servido, tocava-se música e as bailarinas núbias e egípcias, ao som de alaúdes e flautas esvoaçavam entre os convivas. Os vinhos de Chipre e da Grécia enchiam taças de metais preciosos e reinava a alegria. Na sala do banquete só era permitida a entrada a elementos do sexo masculino. Bailarinas e escravas, não eram consideradas pessoas. Estavam ali para o prazer dos convidados. Era o costume do tempo.
De repente, reza a lenda, a orquestra faz silêncio e, para surpresa de todos, aparece uma bailarina desconhecida acompanhada de escravas. Todos esquecem a refeição e não tiram os olhos daquela beleza sem rival - era Salomé. Ela vai dançar. As escravas passam-lhe pelo corpo perfumes, sândalo e outras essências. Colocam-Ihe nos braços e tornozelos pulseiras. Salomé está descalça e as suas vestes são tules e finas musselines transparentes, a fazerem adivinhar um corpo perfeito... e então Salomé começa a dançar. Eugénio de Castro, no seu poema lírico, descreve-a assim:

"Radioso véu, mais leve que um perfume,
Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,
Dos seus dedos flameja o precioso lume
E em cada mão traz uma pálida açucena.
E a infanta avança. ao som dos burcelins...
Como sonâmbula perdida
Em encantos, místicos jardins,
Dir-se-ia que dança desmaiando
Ao perfume das flores que estão em roda...
Dir-se-ia que dança e está sonhando...
Dir-se-ia que a estão beijando toda..." 

Salomé termina a dança. Os aplausos são entusiastas. Os convidados de Herodes querem mais. E Herodes, louco de desejo, pede: "Salomé, dança mais uma vez!" Ela recusa, esquiva, mas de novo o tetrarca seu tio insiste: "Dança para mim outra vez! Se o fizeres, pede-me o que quiseres que te darei, nem que seja metade dos meus reinos. Tudo será teu!" Salomé hesita, mas depois, num relance, percebe que tem, naquele momento um poder imenso e vai usá-lo. Como? Caprichosa, e sem pestanejar, como quem tira um fruto maduro de uma taça, diz: "Quero a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata." Herodes Antlpas fica branco, quase petrificado, não acredita no que ouve e diz-lhe para escolher algo diferente. Que peça jóias, tecidos caros mandados vir de longínquas paragens, os luxos mais inatingíveis, mas a cabeça do profeta não. Herodes tem medo, não é a bondade que o faz agir assim, ou talvez, lá no fundo, pense que aquele homem não merece a morte, porque não é um criminoso, não atentou contra a vida de ninguém, embora nesse tempo mandar matar fosse quase uma banalidade.
Imperturbável, Salomé repete, sem hesitar: "Danço outra vez para ti, se me trouxerem a cabeça de João Baptista." E Herodes cede. Tem de cumprir a palavra dada perante tantas testemunhas e manda que as suas ordens se cumpram. Entrega ao chefe da guarda pessoal o seu anel, para que este o mostre ao carrasco e para que este execute, sem demora, a sentença. A prisão onde estava João Baptista distava ainda alguns quilómetros do palácio. Terá havido um silêncio arrepiante? Ou a música e o festim prosseguiram?
Um pouco mais tarde, a cabeça de João Baptista é trazida à presença de Salomé. Esta olha-a, ainda ensanguentada. A partir daquele momento, João Baptista é um mártir, é o santo que tantos séculos depois a humanidade não esqueceu. É evocado no dia do seu nascimento - 24 de Junho -, mas, em alguns locais, também se comemora a sua memória a 29 de Agosto, dia em que foi degolado. Desde logo, S. João foi respeitado e o imperador Constantino mandou edificar a basílica de São João de Latrão. Roma possui mais de 20 igrejas consagradas ao santo degolado por ordem de uma mulher.
Quanto a Salomé, tudo o mais é lenda. Há várias versões para o fim que teve Salomé. Temos de voltar à fantasia de quem a pintou e de quem sobre ela escreveu páginas de literatura. Para Oscar Wilde (1854-1900), o autor da mais famosa peça sobre Salomé, escrita para o teatro e para a actriz francesa Sarah Bernhardt, Salomé é a encarnação da perfídia, porque ela amara João, que a não desejou, por isso ela agiu por vingança. Quando lhe trouxeram a cabeça do mártir ela beija-o na boca, desesperada. A peça é tão impressionante e tão contra os cânones da época que foi proibida em Inglaterra, na Áustria, na Suécia e noutros países. Só em França foi representada, com sucesso, em 1896.
Depois da peça de Oscar Wilde, Richard Strauss fez a música da ópera do drama de Salomé e João Baptista. Houve quem compusesse bailados sobre o tema, mas é na iconografia sobre Salomé que encontramos o maior e mais diversificado número de interpretações: gravuras, desenhos, telas de pequenas e grandes dimensões, esculturas. Quase todos os grandes museus do mundo têm quadros com João Baptista e Salomé, Há representações remotas, sendo conhecidas obras de toda a Idade Média. De referir, em particular, um belíssimo quadro de Filippo Lippi (1406-1469), uma gravura de 1583 da Bíblia Sacra de Antuérpia e outra, também de Antuérpia, de 1715. Portugal tem no Museu de Arte Antiga quadros sobre o tema e o museu de Tomar alberga, da Escola de Gregório Lopes, do século XVI, um exemplar belíssimo sobre o tema da mulher má e do santo degolado.
Leonardo da Vinci, Ticiano, Caravaggio, Bernardo Luini, Veronese, Pedrini, Rembrandt, Regnault, Eduardo Toudouze, Max Slevogt, Hugo von Habermann, Delacroix, Otto Friedrich, Klimt, Lovis Corinth, Fritz Erler, Juana Romani e Ella Ferris Pell são alguns artistas que se deixaram seduzir por Salomé. Até Picasso e Dali não resistiram ao seu erotismo. Uns vêem uma Salomé sanguinária, a completa encarnação da maldade, outros uma Salomé ingénua, que terá apenas obedecido à mãe, que lhe sugere o tenebroso pedido. Fosse como fosse, nenhuma mulher foi ou será considerada tão pérfida como Salomé. O grande, o maior pintor de Salomé foi Gustavo Moreau, que, entre esboços, desenhos e telas, terá dado vida a uma única Salomé em mais de uma centena de versões.
Talvez Salomé jamais mereça perdão, não só por ter mandado executar um homem bom, de nome João Baptista, mas porque continua a seduzir-nos por detrás daqueles olhos belos e provocantes, quando a olhamos, bem de frente, nos museus de todo o Mundo.

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