sábado, 30 de março de 2019

A Charola do Convento de Cristo


Datada do século XII, esta Igreja redonda foi o primeiro oratório românico dos Templários na cidade de Tomar. A célebre Charola tem arquitetura inspirada nos Templos de Jerusalém, com planta centrada, em formato octogonal. Porque aqui, longe dos lugares da Terra Santa que defenderam à espada, os cavaleiros continuavam a ser fiéis servidores de Cristo. O monumento é um dos mais originais e emblemáticos da ordem fundada em 1118.
Da época de Gualdim Paes, mestre da Ordem  dos Templários em Portugal, são o castelo de Tomar e a Charola, primitiva igreja construída “em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo”. O santuário com espaço litúrgico em forma octogonal «que define um amplo deambulatório», por onde os monges-cavaleiros andavam à volta em oração, terá a sua arquitetura inspirada em dois edifícios míticos de Jerusalém: a Igreja do Santo Sepulcro e a Mesquita da Cúpula do Rochedo, sublinha Paulo Pereira, autor de referência em História da Arte, neste extrato do programa Visita Guiada.

Mas à românica Igreja Templária do século XII foram sendo acrescentadas outras construções e decorações por iniciativa de infantes e reis. Com D. Manuel I, por exemplo, o santuário é engrandecido em esculturas, pinturas e talha dourada. Os dois mil metros da Charola vão ganhando a exuberância de outros estilos – gótico, manuelino, renascimento maneirismo -,  como acontece com todo o Convento de Cristo, monumento único, classificado como Património Mundial pela UNESCO, em 1983.

Manuel Cargaleiro, uma vida dedicada à arte da olaria


É um desenhador e pintor conceituado, mas foi a forma como trabalhou a cerâmica que lançaram o seu nome no mundo artístico. Manuel Cargaleiro é reconhecido dentro e fora do país continuando empenhando em projetos numa altura em que chegou aos 90 anos.
Nasceu em 1927 e foi na infância que descobriu a arte da cerâmica numa olaria próximo de casa. Foi no princípio dos anos 50 que começou a participar em mostras e exposições em Portugal. É ainda nesta década que recebe os primeiros prémios artísticos.

Estudou posteriormente em Itália e França, tendo fixado residência neste último país. Ao longo da sua vida participou em inúmeras exposições coletivas por todo o mundo e, individualmente, o seu trabalho foi mostrados em cidades como Genebra, Milão, Lausanne, Paris, Brasília, Lisboa, Portalegre ou Reims.

Para além da cerâmica, do desenho e da pintura, Cargaleiro também se dedicou, no final do século XX, à  tapeçaria. O artista também desenvolveu uma ligação especial à cidade italiana de  Vietri Sul Mare, atualmente sede da Fondazione Museo Artistico Industriale Manuel Cargaleiro.

O surgimento do Zé Povinho


O jornal satírico “Lanterna Mágica” publicou, a 12 de junho de 1875,  uma caricatura alusiva ao Santo António, que se celebra no dia seguinte, 13 de junho. No desenho está representado um peditório para o santo, com um altar e um rapaz que pede dinheiro a quem passa: só que o rapaz tem a cara de António Serpa Pimentel, ministro das Finanças, e o Santo António é, na verdade, Fontes Pereira de Melo, o chefe do governo, que tem ao colo um menino com a cara do rei D. Luís.
Sentado ao lado, com ar severo e de chicote, está o comandante da guarda municipal. Quanto à pessoa que passa e é abordada para dar dinheiro, é um personagem de barba, que coça a cabeça com ar desconcertado enquanto paga. Escrito nas suas calças pode ler-se “Seu Zé Povinho”. Nascia assim uma figura emblemática do imaginário nacional, uma espécie de símbolo do povo português, com uma das suas marcas características: o pagamento de impostos, o peso fiscal, a espoliação por parte dos políticos. Foi a criação mais importante de Rafael Bordalo Pinheiro, cujo nome ficou para sempre associado a esta figura.

Quem era Rafael Bordalo Pinheiro?
Bordalo foi o mais célebre artista plástico, caricaturista e ilustrador português do século XIX. Ao contrário do Zé Povinho, Bordalo não tinha nada de rústico: provinha de uma família da burguesia lisboeta e nasceu e morreu na capital. Bordalo Pinheiro estudou no Conservatório, na escola de Belas Artes, em Letras e na escola de Arte Dramática, mas foi a sua atividade como jornalista e caricaturista que o tornou célebre. Produziu uma grande quantidade de desenhos, litografias e ilustrações, que foram publicadas em diversas revistas e jornais, tanto em Portugal como no estrangeiro.

Fundou e dirigiu publicações satíricas, nomeadamente o periódico O António Maria, que consagrou definitivamente a figura do Zé Povinho. “António Maria” refere-se aos dois primeiros nomes da figura política mais importante daquela época, António Maria Fontes Pereira de Melo. Paralelamente, Rafael Bordalo Pinheiro desenvolveu uma importante atividade como ceramista na fábrica de faianças das Caldas da Rainha, onde criou um estilo próprio que subsiste ainda hoje. Uma parte substancial da sua obra encontra-se reunida no museu com o seu nome, em Lisboa.

Qual o motivo do sucesso da figura do Zé Povinho?
O Zé Povinho teve sucesso imediato e rapidamente ultrapassou a figura de Bordalo. Foi imediatamente adotado por outros caricaturistas e ilustradores, que reconheceram o seu potencial criativo: é a figura do homem comum eternamente explorado e enganado pelos políticos. Mais tarde, e já depois da morte de Bordalo Pinheiro, o Zé Povinho foi utilizado como símbolo republicano, numa altura em que a República emergia como uma esperança para a saída da profunda crise em que o país estava mergulhado.

Mas após a proclamação da República, em 1910, o Zé foi novamente usado como expressão do desalento e da desilusão, quando a opinião pública se apercebeu que o novo regime tinha os mesmos defeitos do anterior, nomeadamente no que dizia respeito à instabilidade política, ao aumento do custo de vida e da carga fiscal. A censura que vigorou durante o Estado Novo limitou drasticamente a tradição satírica e crítica da imprensa portuguesa, mas não evitou que o Zé Povinho se tornasse um ícone importante no imaginário popular.