terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotoprotesto contra exames nacionais vai estender-se a todo o país

Catarina Albuquerque, Beatriz Pinto, dois baldes de cola, uma escova de pelo grosso e 120 cartazes com estudantes de todo o país dispostos a “dar a cara contra os exames”, fizeram o fotoprotesto organizado esta segunda-feira, de manhã, no Porto, no dia em que decorre a prova nacional de Português do secundário. A organização espera chegar a todo o país.

As duas estudantes, envolvidas num movimento contra estas provas que funciona nas redes sociais como o Facebook, preencheram o muro situado em frente à Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) com uma carta aberta ao ministro da Educação e fotografias com rostos de quem quer denunciar uma prova que aumenta as desigualdades e favorece os mais fortes no sistema de ensino.

“Não queremos facilitar nada. Não defendemos que o ensino seja facilitado. Queremos apenas uma avaliação mais justa que coloque os estudantes em pé de igualdade, uma avaliação contínua que tenha em conta factores como a progressão do aluno e a participação nas aulas”, explica Catarina Albuquerque, 18 anos, estudante do 12.º ano que também trabalha em part-time.

A desigualdade, explica, encontra-se de várias formas. Desde as condições dos estabelecimentos de ensino num cenário onde vemos “quem tenha tudo e mais alguma coisa” e também “escolas com tectos a cair, pragas de insectos, sem material adequado”. Está também nos alunos que vivem “este stress dos exames de forma diferente”, “alguns têm possibilidades de ter explicações por razões económicas enquanto outros não têm essa vantagem” e, no mundo das coisas desiguais, nota-se ainda que há quem tenha mais condições de preparação para os exames e quem não tenha sequer manuais de apoio para estudar. Depois, adianta Catarina, está nas provas que avaliam, em duas horas, um percurso de estudo de vários anos.

O fotoprotesto foi organizado com base numa recolha das fotos de estudantes de todo o país, através do Facebook. Os cartazes que foram colados em frente à DREN são a preto e branco, têm a foto do estudante com o nome e a escola a que pertence e a frase “Dá a cara contra os exames!”.

Hoje, Catarina e Beatriz vão deixar ali 120 fotografias num fotoprotesto que se deverá repetir noutras cidades. “Sabemos que somos muito mais do que 120”, diz Catarina que adianta que esta foi a forma encontrada para “dar vida ao protesto e às vozes de todos os colegas que estão contra os exames nacionais”.

“Os exames nacionais, desde que foram aplicados (em 1996), nunca fizeram mais pelo ensino que não elitizá-lo”, acredita Catarina Albuquerque. “Se colocarmos, lado a lado, os estudantes das escolas públicas e os das escolas privadas, essas diferenças são ainda mais evidentes, pelo que a injustiça ainda é maior. Podemos concluir, portanto, que os exames nacionais não colocam todos os estudantes em pé de igualdade, mas evidenciam as suas diferenças, dando prioridade a quem tem mais condições e recalcando aqueles não as têm”, refere a convocatória para o protesto.

No mesmo documento propõem: "Os estudantes deviam ser avaliados, apenas e só, de uma forma contínua e justa, que tenha em conta as características de cada aluno, os seus progressos e participações nas aulas. Por isso, defendemos que a escola deveria ser pública, gratuita e de qualidade para todos, para que essa mesma avaliação contínua seja possível e chegue a todos”.

Por fim, os estudantes avançam ainda uma explicação sobre os conhecidos maus resultados nos exames do 4.º e 9.º anos: “Se os resultados foram inferiores ao que era esperado, não será por os jovens de hoje terem menos apetência, mas sim porque o ensino está mais degradado. Mais uma vez, prova que as lacunas não podem ser preenchidas com exames, que simplesmente ‘tapam o sol com a peneira’; é necessária uma reestruturação no ensino, é necessário financiamento nas escolas, é necessário um real acompanhamento a este sector”.

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