A Paulownia Tomentosa, espécie permitida em Portugal, é uma árvore de crescimento rápido e as suas utilizações são múltiplas, desde a madeira à biomassa, passando pelo mel e forragem para o gado. José Bernardino do ICNF de Castelo Branco considera-a “potencialmente interessante para zonas de proteção dos aglomerados populacionais e outras faixas de redução de combustíveis, e também em terrenos agrícolas abandonados”.
O técnico do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) falava no colóquio: “Paulownia – A árvore do futuro em Portugal?”, organizado pelo Centro Ciência Viva da Floresta, em Proença-a-Nova, a 11 de novembro, onde afirmou que Portugal tem “potencialidade e capacidade para aceitar outras espécies que não as que existem”, acrescentando que “a Paulownia, árvore originária da Ásia, é uma das espécies que podemos cada vez mais equacionar numa região como esta [distrito de Castelo Branco], ainda por cima sabendo os problemas sanitários que as outras espécies têm”.
José Bernardino salientou que “neste momento, como esta é uma espécie exótica e nova ainda não tem qualquer problema fitossanitário”, adiantando: “Falamos apenas de Paulownia Tomentosa porque é a única que se enquadra no Decreto-Lei 565/99 que regulamenta a introdução de espécies exóticas no País”.
Por seu lado, em declarações à VIDA RURAL, o gerente da Neres & Neres, também de Castelo Branco, que vende plantas de Paulownia Tomentosa – salienta que esta árvore produz “uma madeira nobre, muito leve, e ao fim de oito anos cada árvore dá cerca de 1,3m³ de madeira e regenera-se cerca de oito vezes”. José Neres tem uma empresa dedicada à Paulownia em Marrocos já há cinco anos e trabalha há cerca de ano e meio no nosso país em conjunto com a Paulownia DF Portugal (Mangualde), empresa que faz a propagação da planta em laboratório e também as comercializa.
O gerente desta empresa diz-nos que tem sócios holandeses (uma vez que viveu naquele país durante 43 anos), sendo que um deles é negociante de madeira de Paulownia há mais de 30 anos e trabalha em cerca de 11 países. Manuel Duarte frisa que “há plantações de Paulownia em vários países europeus, como Espanha e França, onde a sua implantação tem vindo a crescer, inclusive de outras espécies, como a Paulownia Elongata, que até cresce mais rápido e dá melhor rendimento”, por isso, acrescenta: “vamos continuar a tomar diligências para que esta espécie também possa ser plantada em Portugal”.
A empresa de Manuel Duarte tem viveiros em Mangualde, “principalmente para armazenarmos as plantas quando vêm dos laboratórios, porque os clones selecionados de melhores plantas são propagados em dois laboratórios – um em Lisboa e outro na Holanda”, assegura que “já temos cerca de 500 mil árvores de Paulownia plantadas em Portugal, de Monção a Faro e da fronteira espanhola até ao mar” e se a procura continuar admite “fazer um outro laboratório em Mangualde, onde poderemos criar mais empregos”.
O responsável diz que “a planta prefere solos com ph entre os 5,5 e os 8 – o que cobre cerca de 80% do território nacional –, adaptando-se bem aos diversos tipos de terreno” devendo apenas haver o cuidado de não a plantar no inverno em zonas sujeitas a encharcamento. Um dos constrangimentos é que “para ter um crescimento ótimo, a Paulownia deve ser regada, idealmente, nos dois primeiros anos”.
A questão da rega foi precisamente um dos pontos apontados pelo dono de uma das plantações da zona de Proença-a-Nova que a VIDA RURAL visitou, no Pucariço, com cerca de seis meses. Bernardino Antunes disse estar “muito satisfeito com o crescimento das plantas, tenho plantas com quase dois metros”, mas dá algum trabalho e requer algum investimento trazer para aqui bidões de mil litros para as regar”. Mas, salienta “mesmo assim acho que foi uma boa opção, olhe à sua volta e está tudo ardido aqui num incêndio que houve há dois anos e quando procurei alternativas o Eng. Neres convenceu-me”.
Manuel Duarte esclarece, no entanto, que as necessidades de água são reduzidas: “A planta precisa de cerca de 10litros por semana no início, mas no segundo mês já pode dar só 10 litros de duas em duas semanas porque a planta deixa humidade no solo e depois vão-se espaçando cada vez mais as regas”.
O proprietário não estava, ainda assim, totalmente convencido com a indicação dada tanto por José Neres, como Manuel Duarte, de que assim que caírem as folhas todas (o que já estava a começar a acontecer à data da reportagem no final de novembro) as árvores devem ser cortadas a 5cm do solo para depois rebentarem e crescerem muito mais fortes e ainda com mais rapidez. Manuel Duarte assegura que “daqui por um ano, se entretanto se for também podando de maneira a ficar só o tronco principal, terá árvores com nove metros de altura”. Para garantir que tudo será feito como deve ser, o gerente da Paulownia DF Portugal acabou por oferecer ao Sr. Bernardino Antunes a sua equipa que anda no terreno a fazer este trabalho – principalmente nas plantações de mais de 1 hectare, uma vez que o acompanhamento técnico está incluído no contrato, bem como a compra da madeira resultante do primeiro corte, aos oito anos. “Asseguramos todo o acompanhamento e a compra da madeira a um excelente preço no mercado (900€/m³), isto nos contratos que temos principalmente para plantações acima de 1ha, mas como é uma árvore nova, as pessoas não sabem como fazer e por vezes desconfiam do que lhes dizemos, como queremos que tudo corra bem, acabamos por dar assistência a praticamente todos os nossos clientes”.
Carlos Gonçalves, empresário da Europoste, investiu numa plantação com 3 hectares, em Sarnadas, Vila Velha de Ródão e explica-nos o porquê da escolha desta árvore: “Como sabe estou ligado às madeiras, principalmente ao pinho, porque faço estacas de madeira para vedações, como não queria colocar eucalipto optei por esta árvore. Se calhar foi um devaneio porque estava previsto gastar dez mil euros e já gastei trinta mil, mas gosto de apostar em coisas em que os outros não apostam. Mas não estou arrependido, até vou fazer mais plantação, possivelmente no terreno ao lado”, adiantando que “o objetivo é a venda da madeira mas também colocar colmeias para aproveitar o mel”.
O responsável da Neres & Neres salienta que “é proibida a venda de semente destas árvores em Portugal, para evitar que a planta se torne invasora, apenas podem ser transacionadas em clones que vendemos com cerca de um mês, prontos a plantar”, adianta.
José Neres e Manuel Duarte reforçam o que o técnico do ICNF disse no colóquio em Proença-a-Nova: que apesar de a produção de madeira ser um dos objetivos mais apetecíveis devido ao facto de ser muito leve (0,25/0,30 de densidade) mas forte e resistente, há muito usos para ela, como a biomassa, a utilização da folha como forragem para o gado ou até mesmo para chá, e o uso da flor para mel, que também é muito valorizado, ou para a indústria da cosmética.
“Tenho até vários clientes no Alentejo que pretendem melhorar o pasto para os animais, criando mais zonas de sombra e aproveitando também a folha”, explica-nos Manuel Duarte.
Paulownia: uma boa alternativa para a nossa floresta?
“Ao fim de oito anos cada árvore dá cerca de 1,3 m3 de madeira e regenera-se cerca de oito vezes”, diz José Neres
José Neres refere ainda duas caraterísticas desta árvore que, “a tornam numa excelente opção: é amiga do ambiente porque liberta dez vezes mais oxigénio do que as outras, consumindo 27,8kg de CO2 por dia e tem uma enorme resistência ao fogo uma vez que o ponto de ignição é acima dos 400°”. Além disso, a bibliografia também afirma que regenera os solos e que é resistente a temperaturas extremas (de -17° a 45°) bem como a secas moderadas (um-dois anos).
Para a utilização de biomassa podem plantar-se até cerca de 1.600 árvores por hectare e efetuar o primeiro corte aos dois/três anos e para madeira a plantação pode rondar as 600/800 árvores/ha, com o primeiro corte a ser feito em torno dos oito anos.
Pasta de papel?
Sobre a possibilidade de a Paulownia poder ser usada também para o fabrico de pasta de papel, Manuel Duarte garante que isso já acontece em alguns países e que “a qualidade é muito boa”.
Há vários estudos neste sentido mas existe um (realizado por uma aluna de mestrado da Universidade de Aveiro em 2009, Catarina Cardoso Novo), que analisou o Cozimento e Branqueamento da Pasta Kraft da Paulownia (Elongata), mostrava que esta madeira tem potencial para a indústria da pasta de papel.
Todavia, Carlos Vieira, diretor-geral da Associação da Indústria Papeleira (CELPA), ressalvando que conseguiu obter muito poucas informações sobre a Paulownia, referiu que dada a baixa densidade desta madeira a quantidade necessária para obter a pasta tornaria o seu custo inviável, salientando que melhor opção seria a venda de madeira para usos nobres.
Voltando ao colóquio que teve lugar no Centro Ciência Viva e da Floresta, em Proença-a-Nova, e sobre a necessária restruturação da nossa floresta José Bernardino salientou que “temos de saber produzir riqueza e na floresta o curto prazo são dez anos”, adiantando que “gostamos todos muito da floresta mas a realidade é que qualquer empresário só faz floresta se lhe der rendimento” e “esta é uma espécie que me tem aberto horizontes”.
Paulownia: uma boa alternativa para a nossa floresta?
Bernardino Antunes disse estar “muito satisfeito com o crescimento das plantas. Tenho plantas com quase dois metros”, com seis meses
O técnico do ICNF lembrou ainda que “sendo um híbrido estéril propaga-se por via vegetativa, por isso não há semente” e como “são árvores que têm folhas muito grandes e que têm grande valor nutritivo [a bibliografia fala em cerca de 20% de proteína], podem constituir um bom suplemento alimentar para os animais. Porque na nossa zona, por exemplo, temos muitos sobreiros e azinheiras mas só podemos fazer podas destas árvores a partir de 1 de novembro”.
Mas frisa José Bernardino, “não esqueçam que é uma arborização e segundo a Lei 77/2017, que vai entrar em vigor a 17 de fevereiro de 2018, qualquer ação de arborização (em terreno que nos últimos dez anos não tenha tido qualquer ocupação florestal) ou rearborização carece de autorização, sendo gratuita a submissão destes processos ao ICNF, mas necessário ser feita por um técnico florestal”.
O técnico explicou que o pedido de autorização é obrigatório em todas as áreas ardidas; nas restantes estão isentas de pedido apenas as áreas inferiores a 0,5 hectare e onde que não haja outras espécies em redor; exige-se apenas uma comunicação nas áreas entre 0,5 hectare e 2ha; daí para cima requer sempre autorização.
Paulownia
-Árvore originária da Ásia, de folha caduca
– Regenera-se facilmente após corte, até oito vezes
– Resiste a condições de seca moderada uma vez desenvolvida (1-2 anos)
– Resistente ao frio (-17°C) e ao calor (+45°C)
– Permite a redução do efeito de estufa por sequestro de carbono
– Descontaminação do solo (nitratos, nitritos, arsénio, metais pesados,…)
– Uma única árvore pode fornecer 1m3 de madeira em 8 anos
– Resistente a pragas, doenças e adaptável a diferentes tipos de solos e climas
– Produz madeira, biomassa, mel, fertilizante natural e forragem para os animais
– Permite a reabilitação de locais poluídos, explorados em excesso ou abandonados
– Regenera o solo, luta contra o deslizamento das terras e permite a cultura intercalar
Madeira:
– A sua temperatura de inflamação é elevada
– Ponto de ignição acima de 400°C
– Muito leve (0,25 a 0,30 de densidade)
– Forte e resistente
– Seca rapidamente, não racha, não entorta e é fácil de manipular
https://www.vidarural.pt/insights/paulownia-boa-alternativa-nossa-floresta/
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