Graças à atribuição do Booker Prize em 1998, Arundhaty Roy obteve a consagração literária aos 38 anos com a publicação de um primeiro romance que passou a constituir um macro fundamental na literatura indiana. Situado na região de Kerala, no sul do subcontinente, de onde a autora é oriunda, O Deus das Pequenas Coisas narra a saga de uma família hindu convertida ao cristianismo, cujos membros se dispersam pelo mundo para, no termo de três gerações, se reunirem na terra natal e aí fazerem o balanço das experiências vividas. Como numa metáfora da união-separação, o protagonismo é assumido por um par de gémeos, Esthappen e Rahel, irmão e irmã, o que fica e a que parte, a que volta e o que permaneceu, Oriente e Ocidente ou vice-versa – e o tema fulcral da narrativa, misteriosamente aberto até à última página, é a possibilidade – impossibilidade de reencontro entre mundos separados por uma violência que ultrapassa a carne. Para dizer esta tragédia, social, familiar e individual, A. Roy transpõe os limites do romanesco convencional, entra no território velado da poesia, socorre-se do poder mágico do mito. O resultado é um livro que não se parece com nenhum outro e lembra, vagamente todas as hipóteses de livro sobre épocas convulsas e bastardas. Arquitecta de formação, argumentista de cinema e televisão por ocupação, militante feminista e ecologista (lutou contra o armamento nuclear da Índia) por influência de uma mãe avançada demais para o lugar e a época, Arundhaty põe nesta obra a máxima sabedoria que é possível ter-se sobre o passado que nos prende e o presente que nos asfixia. Recentemente, publicou o ensaio Pelo Bem Comum (2001), onde contesta a construção de uma mega-barragem que, em nome do progresso, vai desalojar centenas de milhar de pessoas. Pertence à categoria de escritores para quem a literatura, sem abdicar de uma busca estética, se insere num vasto projecto ético.
Informação retirada daqui
Sem comentários:
Enviar um comentário