As árvores mais antigas, raras e notáveis
Algumas árvores destacam-se pela idade e por estarem cravadas na memória das populações. Outras foram testemunhas de factos históricos e sociais relevantes. Há ainda as que brilham por serem bizarras ou de dimensões descomunais.
Portugal tem a lei de protecção de árvores mais antiga da Europa. O decreto é de 15 de Fevereiro de 1938 e protege as que merecem a designação de “interesse público”. São assim classificadas as que se distinguem pela idade, pelo porte, pela raridade ou pelo desenho e que, ao mesmo tempo, mantêm resistência estrutural, crescimento natural e sistemas autoprotectores intactos. António de Campos Andrada, técnico da Autoridade Florestal Nacional (AFN) e responsável por esta área, decifra a segunda metade da equação: “Devem ter fustes, pernadas e braças fortes e resistentes até às partes mais altas, capazes de suportar os embates do mau tempo, e ostentar uma copa homogénea.”
A AFN admite que a legislação precisa de ajustes e revela estar a concluir uma proposta de alteração. O técnico explica: “Há parâmetros subjectivos, como a beleza ou a sua importância histórica, que não são fáceis de quantificar.” O objectivo do novo texto é “criar critérios para avaliar estas variáveis”.
Qualquer intervenção nos monumentos vivos, como movimentação de terras ou a impermeabilização do solo, está sujeita a aprovação prévia e à orientação técnica da AFN. O corte e desrame também. Aos proprietários, cabe mantê-los em bom estado de conservação. A desclassificação é possível. Campos Andrada resume os motivos que podem causá-la: “Perda de características, morte ou danos sérios, seja por causas naturais, físicas ou biológicas, como pragas e doenças.”
Lisboa é a região com mais classificações: 65 árvores isoladas e 19 arvoredos, provenientes de todos os continentes. O sucesso deve-se a dois factores, no parecer do especialista. Primeiro, a capital goza de um clima temperado de características mediterrânicas: “O Verão é seco e quente, a Primavera relativamente fresca e o Inverno chuvoso e moderado”, simplifica. A região está ainda “sujeita à acção amenizadora do Atlântico e do Tejo”. Em segundo lugar, Campos Andrada refere “a existência de muitas quintas da aristocracia, cujos proprietários, impulsionados pelo romantismo, plantaram árvores para dar distinção às casas”.
Em Portugal continental, estão registadas 431 árvores de interesse público e 74 arvoredos, mas é provável que a lista se alargue, brevemente, com mais 21 exemplos. Todas estão registadas numa base de dados nacional que pode ser consultada online.
Para classificar uma árvore, não é preciso confirmar cientificamente a sua idade. Campos Andrada esclarece que, por regra, a estimativa baseia-se “em testemunhos históricos e na tradição oral”. A única datada de modo científico foi a oliveira de Tavira. O método utilizado foi o carbono 14, e o resultado mostrou que a árvore foi contemporânea de Cristo!
Obras notáveis
Por vezes, isoladas não se destacam, mas em conjunto são admiráveis. Dos arvoredos classificados, distinguimos dois: a colecção de cameleiras da Quinta de Santo Inácio de Fiães, em Vila Nova de Gaia, e os plátanos do Jardim da Cordoaria, no Porto. A primeira é a maior da Europa. Estende-se por quatro hectares e reúne dois mil exemplares. Só tem variedades oitocentistas, a maior parte importadas. No entanto, uma das camélias portuguesas mais antigas, a Picturata plena portuensis, foi ali obtida, em 1844. O segundo caso conta com 37 plátanos que se destacam pela forma bizarra dos troncos, curtos e grossos, o que poderá dever-se a uma doença que os deformou.
As colecções dos jardins botânicos e dos parques da Pena, de Monserrate e do Buçaco não fazem parte da base de dados nacional, por estarem inseridas em áreas protegidas. No entanto, contam com algumas das maiores árvores do país, como é o caso da Araucaria bidwillii, de Monserrate, que ultrapassa os 35 metros de altura.
Os arquipélagos da Madeira e dos Açores também não constam na base de dados, por terem regimes próprios. Para esta lista das árvores mais notáveis de Portugal, Anabela Miranda Isidoro, directora regional dos Recursos Florestais dos Açores, seleccionou um exemplar “com mais 200 anos”: um dragoeiro integrado no bosque exclusivo daquela espécie que circunda o Museu do Vinho, na ilha do Pico. “O elevado número de dragoeiros que compõem a mata é um caso raro, se não actualmente único, de propagação”, justifica. A Direcção Regional de Florestas da Madeira escolheu um til do Parque Florestal do Fanal, no concelho de Porto Moniz, uma espécie característica da floresta de laurissilva madeirense.
J.O.B.
SUPER 155 - Março 2011
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