segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ministra da Educação visita Escola Portuguesa em Macau

A Escola Portuguesa de Macau deve ser «internacionalizada», permitindo o acesso ao ensino superior na Europa a alunos de várias origens, defendeu este domingo em Macau a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.

A ministra, que chegou hoje ao território acompanhada do secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, vai manter até quinta-feira encontros e reuniões de trabalho sempre com a Escola Portuguesa no centro dos trabalhos.

A mudança de instalações, a flexibilização dos currículos e a internacionalização são os três temas principais da visita da ministra.

Sobre a mudança de instalações, a ministra é prudente e diz apenas que irá analisar o assunto, mas que a decisão cabe às autoridades de Macau.

«A escola está bem, tem óptimos resultados escolares (...) e a questão das instalações está do lado das autoridades da Região Administrativa Especial e nós respeitamos integralmente o que decidirem sobre a matéria e aguardamos tranquilamente que haja uma decisão segura e que garanta a continuação do bom funcionamento da escola», afirmou.

Já sobre a internacionalização e flexibilização dos currículos que, entre outros aspectos, poderiam permitir cativar mais alunos para a instituição e contrariar a tendência de perda que se tem verificado desde a abertura, a ministra foi mais específica.

«É muito importante que a escola se afirme com um espaço de excelência, atractivo para a comunidade portuguesa aqui residente mas também para jovens com outras origens, outras culturas, que se afirme como espaço de excelência para a formação de jovens de Macau», sublinhou.

O objectivo é, garante, ter uma «escola portuguesa internacionalizada que permita o acesso às universidades da Europa a partir da formação que recebem na escola» pelo que será «absolutamente essencial flexibilizar os currículos».

Na segunda-feira, Maria de Lurdes Rodrigues visita na Escola Portuguesa de Macau a exposição dos 10 anos da instituição seguindo-se uma reunião com a direcção e administradores e, ao final da tarde, com a Associação de Pais.

Maria de Lurdes Rodrigues - que visita Macau pela segunda vez - vai também manter em Macau encontros com os responsáveis governamentais da área da educação, nomeadamente com o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Fernando Chui Sai On, e com o chefe do Executivo, Edmund Ho.

Nos contactos políticos, o tema central será a mudança de instalações da escola que é discutida há vários anos, existindo um protocolo entre os dois Governos para um trabalho conjunto de análise e decisão da questão.

A última solução avançada seria a transferência da escola para as antigas instalações do hotel Estoril, um espaço que seria alvo de obras de adaptação para tornar a escola autónoma no seu funcionamento sem estar dependente de instalações terceiras como os pavilhões gimnodesportivos, devendo a ministra manifestar a concordância de Portugal ao Executivo de Macau.

Diário Digital / Lusa

domingo, 6 de julho de 2008

ME terá de equacionar medidas para recuperar no Português

O Ministério da Educação (ME) "terá que equacionar medidas de apoio e de reforço de ensino de português no secundário" devido à quebra de resultados nos exames de Português do 12º ano, disse hoje o secretário de Estado da Educação.
A média de notas no exame de Português do 12º deste ano ficou abaixo dos 10 valores pela primeira vez em três anos, situando-se nos 9,7 valores face aos 10,8 de 2007.

Dos 60.281 alunos que este ano fizeram a prova de Português "chumbaram" 8 por cento (um acréscimo face aos 5 por cento verificados em 2007 e 2006).

A média de notas tem vindo a decrescer: dos 11,6 valores de 2006 passou-se para 10,8 valores no ano passado e para os 9,7 valores deste ano.

"Esta pequena quebra, que não é muito significativa mas suficiente para nos preocupar, leva-nos necessariamente a ter que equacionar algumas medidas de apoio e de reforço no ensino de português no secundário ", afirmou hoje Valter Lemos em declarações à Agência Lusa.

Ainda que o resultado final não seja "um resultado muito mau", uma vez que "está no limiar da positiva", o secretário de Estado da Educação reconheceu que a baixa dos resultados a Português causa preocupação.
"Isto deixa-nos alguma preocupação para eventualmente ter que implementar algumas medidas de apoio e de reforço" da disciplina no Secundário, reiterou, lembrando que os indicadores que o Ministério da Educação tinha apontavam para existência de "mais problemas" no ensino básico.

"Provavelmente o facto de os resultados no secundário ser historicamente nos últimos anos um resultado razoável não nos deixava tanta preocupação", afirmou Valter Lemos.

"Teremos agora que fazer alguma revisão em alta desta nossa preocupação. Vamos trabalhar para que no próximo ano possamos ter algumas medidas de apoio e reforço ao ensino português no ensino secundário para evitar que isto não seja uma tendência, mas sim meramente uma oscilação natural, e para manter um resultado em Português, que historicamente é positivo", acrescentou.

Em relação aos restantes exames, o tom é de satisfação.

"Estamos satisfeitos com os resultados obtidos, porque em geral revelam uma melhoria dos resultados finais, designadamente nas disciplina nas quais tem havido um esforço muito grande de concentrar uma série de medidas de apoio e de reforço ao ensino e a aprendizagem, como a Matemática, a Química, Física e Biologia".

A taxa de reprovação no exame de Matemática A do 12º deste ano baixou para 7 por cento, contra os 18 por cento do ano passado, numa prova em que a média de notas foi de 12,5 valores.

A taxa de reprovação de 7 por cento dos 36.674 alunos que fizeram este ano a prova de Matemática A é menos de metade da verificada no ano passado (18 por cento) e cerca de um quarto da de 2006 (29 por cento), indicam os dados oficiais distribuidos hoje à tarde pelo Ministério da Educação (ME).

Na Matemática B (prova realizada por 6.731 alunos), a média de resultados foi de 11,4, uma subida em relação aos 7,5 valores verificada em 2007.

A taxa de "chumbos" neste exame foi igualmente de 7 por cento contra os 24 por cento de 2007 e os 30 por cento em 2006.

Quanto aos exames na área de Ciências, registou-se uma melhoria nos resultados da Física e Química A, que ainda assim registou uma taxa de "chumbos" de 22 por cento (a mais alta percentagem de reprovações em todos os exames) face aos 31 por cento de 2007 mas superior aos 21 por cento de 2006.

Os 31.760 alunos que fizeram esta prova obtiveram uma média de 9,3 valores (contra os 7,2 valores de 2007 e os 7,4 de 2006).

Quanto a Biologia e Geologia, dos 39.890 alunos que fizeram a prova chumbaram 8 por cento (uma melhoria face aos 12 por cento de 2007 e aos 9 por cento de 2006).

A média de Biologia e Geologia passou de 9,1 valores em 2007 para 10,5 valores este ano.

"Creio que o esforço que tem sido realizado nessa áreas - traduzido em mais tempo de trabalho dos alunos e professores e melhores instrumentos de trabalho como testes intermédios - tem sido bem usado, o que produziu melhores efeitos finais e demonstram alguma consistência nos ultimos anos", sublinhou Valter Lemos.

Diário Digital / Lusa

Professores duvidam de "milagre" na Matemática

A Associação de Professores de Matemática não acredita que a melhoria nos resultados dos exames nacionais da disciplina corresponda a uma diferença efectiva na aprendizagem dos alunos. "Acredito que haja um maior empenho das escolas, dos professores, dos alunos, mas uma diferença tão grande não é explicável por isso", diz Rita Bastos, presidente da associação, que não tem dúvidas de que os exames foram "acessíveis".

Por outro lado, os professores também não estão de acordo com a análise da ministra da Educação, que atribuiu a subida a mais trabalho e aos efeitos do Plano de Acção para a Matemática. Até porque o Plano se destina a alunos do ensino básico, até ao 9.º ano, e por isso, "não é possível que estes resultados sejam um reflexo disso", explica Rita Bastos.

Também Manuela Mendonça, da Fenprof, salienta esta "incorrecção" nas razões apresentadas por Maria de Lurdes Rodrigues. Mas vai mais longe e considera o discurso da ministra "demagógico". "Ainda que as medidas implementadas resultassem, e temos muitas dúvidas, não teriam resultados tão expressivos no imediato", diz a dirigente sindical.

"Há a tentativa de criar uma realidade virtual através das estatísticas, que não tem correspondência ao nível da melhoria da aprendizagem", acusa. "São demasiados os indícios de que houve interferências do Ministério para conseguir estes resultados."

Para o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, é necessário comparar as notas dos exames com as avaliações dos alunos nos último três anos. "Se estiveram em linha com as notas anteriores, ficam mal aqueles que falam de facilitismo, se foram diferentes, então é preciso levar as críticas a sério." Até esse trabalho estar feito, "a Confap não vai alinhar no festival dos que falam em milagres a matemática, nem dos que falam em tragédia a português", diz, salientado que embora se tenha falado de exames mais fáceis, os resultados foram bem diferentes, já que a português pioraram.

dn

sábado, 5 de julho de 2008

Entrevista com a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues


O rosto da primeira grande contestação contra o Governo mantém-se resistente à frente da pasta da Educação. Apesar de afirmar não ser imune às contestações sociais, parece passar-lhes ao lado. Nega querer governar para as estatísticas e apesar das críticas de facilitismo, diz que "o ensino é hoje mais exigente".


Sempre teve um discurso de grande exigência, mas os exames deste ano levam a questionar: Onde está essa exigência?
Não tenho a ideia de que os exames sejam pouco exigentes. É o que se diz mas quem o diz não o provou. A elaboração dos exames exige muito trabalho técnico, muita coordenação e leva meses a fazer. Não tenho nenhuma razão para pensar que houve pouca exigência. Pelo contrário, as instruções dadas ao instituto que elabora os exames eram de dar a garantia de que se reforçassem os mecanismos de auditoria para termos exames de melhor qualidade. Há críticas pouco exigentes com elas próprias, porque não provam o que dizem. Dizer que há uma ou três perguntas fáceis não chega. Desde há três anos que insisto na necessidade de melhorar os resultados a matemática. Divulguei publicamente os resultados do PISA porque era necessário dar dimensão política a esse problema.

Reduziu-se para metade as notas negativas na prova de aferição do 6º ano. Se as provas forem muito mais fáceis, melhoram naturalmente as notas. Pode ser um método estatístico de governar?
Não estou de acordo. Fazer isso seria muito fácil. Quem acusa o Governo de manipulação estatística não explica como é que isso se faz. Eu não sei como se manipulam estatísticas dessa maneira.

As ordens que deu ao GAVE não foi: facilitem?
Evidentemente que não. Nós necessitamos de ter provas com mais exigência, de ter provas de qualidade, de ter provas sem erros.

As provas são cientificamente correctas, mas fáceis...
Não sei se são fáceis. Pode olhar para o parecer da Sociedade Portuguesa de Física, que diz que é uma prova exigente e talvez a mais bem feita dos últimos 30 anos. São críticas fáceis que não apontam um caminho para melhorar. Temos que ter confiança nos organismos que trabalham para os exames há muito tempo. E não podemos ter a atitude de que quando as estatísticas confirmam os nossos preconceitos estão bem e quando não confirmam, estão mal.

Mas o país desconfia desses organismos e tem a noção de que o sistema de educação se tem vindo a deteriorar nos últimos 20 anos.
Nós temos um problema do que são as apreciações públicas das políticas e não só as da educação.

Mas no seu tempo o sistema educativo era ou não mais exigente do que é hoje?
Não se pode fazer uma apreciação dessa forma. Aquilo em que nos podemos basear para fazer comparações são os relatórios internacionais e o PISA é um bom instrumento. Mas não podemos alimentar a ideia de que a educação falhou. A educação não falhou. A educação tem cumprido uma missão que é hoje muito, muito exigente. A escola do nosso tempo não tinha uma missão tão exigente como a de hoje. Hoje a escola tem a missão de escolarizar todos. Antigamente tinha a missão de seleccionar. Temos é que elevar a qualidade média do sistema de ensino.

Como já admitiram, os resultados dos exames do 9º e do secundário não são comparáveis com os do ano passado porque tiveram mais meia hora de tolerância e uma estrutura diferente. Como vai apresentar os resultados? Se forem melhores vai dizer que são fruto de mais trabalho?
E se houver mais notas negativas? O objectivo dos exames não é comparar.

Mas comparou os resultados do 4º e do 6º ano, porque a taxa de negativas passou para metade a matemática...
Nós acreditamos que com mais trabalho os alunos recuperam. Há milhares de alunos que começam com negativa e recuperam ao longo do ano. As explicações eram a forma como as famílias resolviam as aprendizagens: escola pública de manhã e privada à tarde. No caso específico da matemática, pedimos às escolas que organizassem a recuperação dos alunos no interior da própria escola. E não podemos desvalorizar o que as escolas fizeram nestes últimos dois anos sob o risco de desacreditar o próprio processo de aprendizagem. Eu acredito que trabalhando se aprende. Por isso, é preciso trabalhar mais. É preciso que os alunos com dificuldade sejam acompanhados. E eu acredito que o trabalho das escolas dê resultados.



Maria de Lurdes Rodrigues diz estar «convicta» de que o seu modelo de avaliação dos professores vai ser aplicado, mas que não depende dela a decisão dos sindicatos
Como é que esse trabalho pode ser aplicado em relação aos chumbos. A senhora disse que em Portugal se chumba muito, que chumbar é ineficiente e que sai muito caro ao país e que se combate com mais trabalho.
Eu não disse que era muito caro chumbar. Eu disse quanto custava um chumbo por aluno. Repare que o Plano de Acção para a Matemática custa muito dinheiro, mas ninguém me ouve falar se é caro ou barato. Não propus às escolas um determinado "plafond" financeiro. Propus que dissessem o que necessitavam e tiveram resposta. Devemos esperar o retorno desse investimento. Eu acho pessoalmente que a repetência nos sai cara. Permanentemente no sistema educativo temos 40% de alunos repetentes. Ou seja, o sistema investe com eles o dobro ou o triplo do que investe com os outros alunos.

O que se faz com esses alunos?Não se consegue com métodos de ensino iguais em todo o lado. As 10% de crianças que chumbam no 2º ano porque não conseguem atingir um nível de competência em leitura são crianças com dificuldade de variado tipo. O ensino hoje é muito mais difícil porque tem que atender a todos. Se há alunos que dizem que não querem, então temos que decidir a idade a partir da qual aceitamos esse "não quero". Não é possível desistirmos de uma criança de 7 anos, nem de 10 nem de 12. Uma criança que seja acompanhada desde a primeira manifestação de problemas pode chegar aos 18 anos com um percurso escolar normal.

"O que os sindicatos decidem não depende de mim"
Como podemos ter confiança num sistema de ensino onde a quase totalidade dos professores não quer ser avaliada?
É preciso ter um maior distanciamento nestas análises. O que se exige hoje aos professores é o oposto do que foram as propostas que lhes foram feitas desde há muito tempo. Durante anos construiu-se uma carreira docente baseada em pressupostos, como os de que no inicio da carreira eram necessários sacrifícios, mas a partir dos 45 anos começava-se um processo de afastamento da escola e podiam reduzir as componentes lectivas. Agora está-se a normalizar a carreira docente. Em 1974 tínhamos 26 mil professores e apenas 6 mil profissionalizados. Hoje temos 150 mil. O esforço de recrutamento e de formação de professores é absolutamente brutal para o país.

Esperava que pedir aos professores para serem avaliados colocasse 100 mil professores na rua contra a sua política?
Há dois elementos na mudança que se está a propor que contrariam muito a lógica dos últimos 30 anos. Um deles é a estruturação vertical com a criação de duas categorias. Os sindicatos e as associações de professores trabalharam mais de 30 anos para anular todas as diferenças e construir uma carreira homogénea. A única variável que os professores aceitam para os distinguir é a variável tempo, os tempos de serviço.

Está confiante de que o modelo de avaliação que propõe e que vai entrar em experimentação no próximo ano vai de facto ser aplicado?
Está a ser aplicado de modo simplificado aos professores contratados e está a ser aplicado como previsto no decreto regulamentar a todos os outros professores, porque os ciclos de avaliação são ciclos de dois anos e há algum trabalho que já se está a fazer.

Mas em Julho de 2009 vai ser feita uma avaliação do modelo de avaliação. Os sindicatos já disseram que vão apresentar um modelo alternativo. Acha que vai conseguir levar para a frente este modelo em ano de eleições?
As escolas estão a trabalhar. A comissão científica da avaliação está a trabalhar. Os sindicatos têm uma comissão paritária e estão a analisar os resultados. Espero que estas instancias formais de negociação e, eventualmente, a apresentação de propostas para o ajustamento do modelo sejam suficientes.

Mas não está muito convicta?
Estou convicta. Mas o que os sindicatos decidem não depende de mim.

Quando é que descentraliza e passa as escolas para as competências das autarquias?
Também aí temos um problema de mudança de paradigma. Herdámos um modelo centralizado de escola fechada, em que o que se exige não é a participação dos agentes de proximidade, mas o fechamento. Antes do 25 de Abril proibia-se a entrada dos pais nas escolas. A escola era um braço executivo do Ministério da Educação sem nenhuma autonomia. Hoje é consensual a ideia de que o sistema ganharia eficiência se houvesse um envolvimento de proximidade. A ideia de mais autonomia e mais descentralização é consensual. O problema é a metodologia de transição. Que a transição se vai fazer não tenho nenhuma dúvida. As orientações curriculares, a afectação de recursos eventualmente, a avaliação e a inspecção caberão ao ministério. Acho que o caminho é esse. E acho que este Governo inovou na procura de metodologias para esta transição, com a aproximação que fizemos às autarquias.

A senhora ministra fala como o chefe da aldeia gaulesa, ainda não é amanhã a véspera desse dia...
Depende do que as autarquias quiserem fazer nesta matéria e há autarcas muito desiguais. Há uns que se sentem com confiança e com recursos para a partir de amanhã tomarem conta desta área. Outros estão muito receosos. Por isso a contratualização dos autarcas pode ser o motor de uma transferência mais rápida ao criar confiança noutros autarcas.

Está previsto que o novo regime de gestão das escolas entre em vigor no próximo ano lectivo. A Fenprof já entregou uma petição pública na AR contra o que considera ser um modelo anti-democrático por pôr em causa os princípios de elegibilidade, colegialidade e participação. Está confiante de que vai para a frente este novo modelo de gestão?
Pode ter a contestação de alguns sindicatos mas não de todos. Não tem a da FNE. Pode ter a oposição de alguns professores, mas não de todos. Tem os conselhos executivos e as autarquias totalmente de acordo. Apesar de tudo há uma base social de apoio a este modelo. Ele já está a ser concretizado em muitas escolas. Os autarcas estão a fazer nomeações muito exigentes. As autarquias estão a fazer-se representar ao mais alto nível. Este modelo responde ao que eram os anseios de quem hoje dirige as escolas e qualifica a participação dos pais e dos autarcas.

Alguma vez pôs a hipótese de as suas reformas não se concretizarem?
É sempre possível. Mas não significa que não se faça tudo para as coisas se concretizarem. Tenho uma orientação muito pragmática. Tenho muito mais preocupação em concretizar as coisas do que em definir grandes enquadramentos jurídicos. Tenho uma maior preocupação com os agentes de proximidade que devem concretizar as políticas, com os conselhos executivos, com as autarquias.

As suas políticas têm sido alvo de grande contestação. A senhora é imune a esta contestação. O facto de estar no 12º andar do ministério afasta-a da rua?
Não estou de maneira nenhuma fechada na 5 de Outubro. E não sou imune à contestação social. Acho que é necessário ter a consciência clara de que o que se está a fazer é imprescindível, é necessário e permite melhorar. E ter a consciência do quanto isso altera os interesses. Mas o que importa é fazer prevalecer o interesse público. No caso dos sindicatos, apesar de serem bastante diferentes e terem níveis de representatividade diferentes, procuraram criar uma certa ilusão de que os interesses dos sindicatos são os interesses da escola pública. E penso que quase nunca os interesses dos sindicatos, que representam os professores e os interesses dos professores, são os interesses da escola pública.

Os sindicatos têm prejudicado a escola pública?
Não diria tanto. Diria que algumas linhas de política prejudicaram a escola pública. Por exemplo, não tenho dúvidas que o modelo centralizado de concurso é o exemplo da política aparentemente justa e igualitária do ponto de vista dos professores e dos sindicatos que prejudica.



Resistente à contestação que levou 100 mil professores à rua, afirma que se saísse agora "sairia convicta do dever comprido"
A contestação dos professores que levou ao adiamento do modelo de avaliação não prejudicou a escola pública? A pressão dos sindicatos levou a um recuo?
O que chama de recuo, eu chamo de uma ponderação do tempo. É trabalhar na melhor forma de concretizar um objectivo comum. Não podemos desistir de introduzir a avaliação mas podemos trabalhar num modo de introduzi-la para diminuir angústias, medos, etc., sem perder de vista os objectivos. A política de colocação centralizada anos a fio permitiu coisas como 83% dos professores que iam a concurso concorrerem para 13% das escolas. Ou seja, os recursos mais qualificados estão concentrados em meia dúzia de escolas deixando as outras a descoberto. Uma política aparentemente igualitária, provocou enormes injustiças e desigualdade na escola pública.

Partilha das preocupações do PGR sobre a violência nas escolas?
Apesar de tudo no nosso país a violência nas escolas é um fenómeno bastante circunscrito. Com a dimensão que o país tem e que o sistema tem é possível identificar e actuar nessas escolas e procurámos fazê-lo. Tomámos medidas de discriminação positiva em algumas escolas e obtivemos muito bons resultados. Aquilo que mais me preocupa, porque é mais disseminado e mais difícil de resolver é o problema da indisciplina. As situações de violência estão circunscritas e permitem intervenções cirúrgicas. Mas o fenómeno da indisciplina é mais difuso, tem expressões por vezes mais ambíguas. É mais difícil de qualificar e de prevenir. É um problema de que se fala menos, mas que tem reflexos mais negativos no insucesso educativo, nas condições de aprendizagem. Isso preocupa-me mais porque vejo com mais dificuldade o como se resolve.

Diz que cumpriu as 70 medidas a que se propôs e que entre as que lhe são mais caras estão a integração escolar, ou a escola a tempo inteiro. Acha que está tudo na perfeição?
Nunca está tudo na perfeição. Era preciso ser-se pouco exigente para considerar que fazemos e está feito. É sempre possível melhorar. O trabalho tem uma herança e um futuro. Temos que pensar que o trabalho que fazemos é resultado das circunstâncias e que temos um futuro e que haverá quem, a partir do nosso contributo, possa fazer mais e melhor. É isso que também procuro fazer em relação ao passado. Há futuro e esse futuro sobreviver-nos-á.

O programa novas oportunidades é-lhe também querido, mas não faltam críticas.
Desafio-vos a irem assistir a uma das provas públicas. O programa tem mecanismos de controlo e de auditoria como não tem nenhuma outra formação no país. O sistema universitário não tem os sistemas de controlo que tem o programa novas oportunidades.



A ministra que "nunca" se ri foi descontraindo ao longo da entrevista que durou quase duas horas
O ensino deve caminhar numa aposta mais centrada na pedagogia do que no conhecimento?
Não existe essa oposição. A pedagogia é um instrumento e propõe diferentes técnicas por exemplo para o ensino da leitura. Acho é que é necessário ter uma atitude de grande abertura e não ser fundamentalista. A obrigatoriedade da escola é ensinar todas as crianças a ler. Há umas que aprendem com um método e outras com outro.

Como socióloga não acha que o fecho de escolas contribuiu para a desertificação do país?
Há mais de 20 anos que o país tinha decidido fechar essas escolas. É uma ilusão pensar que a escola vai atrair pessoas. Os interesses das crianças e do país não se podem subordinar a uma ideia que não passa por esta política educativa. Acho que salvámos estas 10 mil crianças das cerca de 2 mil escolas que fechámos. Basta ir às escolas que as acolheram. São crianças de meios rurais que passaram a ter acesso a outros recursos, desde logo a outras crianças para brincar.

"Todos nos sentimos cansados"
Diz que já cumpriu o que se propôs. Se tivesse que sair hoje, sairia convicta do dever cumprido?
Isso em qualquer dos dias. Sairia convicta do dever cumprido, não hoje mais do que há um ano ou há dois anos.

Tem consciência de que é o primeiro rosto da contestação ao Governo? Que é o 1º membro do Governo a colocar milhares de pessoas na rua contra as políticas governativas? Não a incomoda?
São ou não necessárias estas mudanças? Esta é que é a questão com que nos debatemos. Contestação haverá sempre e será tanto maior quanto forem melhores as condições para essa contestação e quanto mais profunda for a mudança de paradigma. São mudanças muito radicais em relação à tendência dos últimos 30 anos.

No meio da grande contestação de que tem sido alvo, nunca pensou demitir-se? Na altura em que Correia de Campos se demitiu , também se pensou que a senhora iria abandonar o Governo.
Não lhe vou responder a isso.

Não se sente cansada ou desgastada?
O cansaço é normal em quem trabalha. Todos nos sentimos cansados. Todos temos uns dias em que estamos mais motivados do que noutros.

Como é que gostava de ser recordada?
Não penso nisso. Não trabalho para a memória. Não me faça perguntas dessas que me deixa atrapalhada.

Pensa filiar-se no PS?
Sim, não é uma questão problemática para mim.

Então porque ainda não o fez?
Porque entendo que é necessário disponibilidade para a vida partidária. Encaro a vida partidária como um desafio importante e um dever cívico. Já pensei filiar-me várias vezes mas ainda não aconteceu. Não me faz trabalhar pior, nem melhor filiar-me no PS.

Acha que o PS tem condições para renovar a maioria absoluta e deve pedi-la?
Eu gostaria muito que o PS voltasse a ter maioria absoluta e farei o meu melhor para que isso aconteça. Mas acho que falta muito tempo.

Se o Eng. Sócrates ganhar outra vez as eleições está disponível para mais quatro anos?
Não estou a pensar nisso. Isso não depende de mim, mas sobretudo do Eng. Sócrates.

No dia em que foi convidada alguém a aconselhou a não aceitar o convite?Há sempre de tudo.

Houve um ex-ministro da administração interna que disse algo do género: "estes não são os meus polícias". Estes são os seus professores?
Esta é a comunidade educativa do meu país e tudo farei para dar o meu contributo.

Disse que perdeu os professores mas ganhou o país...
Dou um prémio a quem encontrar essa minha frase. Há diferentes interesses que devem ser ponderados, os dos professores, os dos alunos, os das famílias, das autarquias, os do país. O que a frase pode simbolizar no aspecto mais positivo é que há vários interesses que têm de ser ponderados. A política da educação não pode estar reduzida à condição dos professores.

Já foi sindicalizada? Que visão tinha e tem hoje dos sindicatos?
A minha experiência de sindicalizada é insignificante para o caso. A minha visão mais elaborada sobre os sindicatos vem de ter estudado o sindicalismo e de leccionar sociologia do trabalho.

Expresso

ME terá de equacionar medidas para recuperar no Português

O Ministério da Educação (ME) "terá que equacionar medidas de apoio e de reforço de ensino de português no secundário" devido à quebra de resultados nos exames de Português do 12º ano, disse hoje o secretário de Estado da Educação.
A média de notas no exame de Português do 12º deste ano ficou abaixo dos 10 valores pela primeira vez em três anos, situando-se nos 9,7 valores face aos 10,8 de 2007.
Dos 60.281 alunos que este ano fizeram a prova de Português "chumbaram" 8 por cento (um acréscimo face aos 5 por cento verificados em 2007 e 2006).
A média de notas tem vindo a decrescer: dos 11,6 valores de 2006 passou-se para 10,8 valores no ano passado e para os 9,7 valores deste ano.
"Esta pequena quebra, que não é muito significativa mas suficiente para nos preocupar, leva-nos necessariamente a ter que equacionar algumas medidas de apoio e de reforço no ensino de português no secundário ", afirmou hoje Valter Lemos em declarações à Agência Lusa.
Ainda que o resultado final não seja "um resultado muito mau", uma vez que "está no limiar da positiva", o secretário de Estado da Educação reconheceu que a baixa dos resultados a Português causa preocupação.
"Isto deixa-nos alguma preocupação para eventualmente ter que implementar algumas medidas de apoio e de reforço" da disciplina no Secundário, reiterou, lembrando que os indicadores que o Ministério da Educação tinha apontavam para existência de "mais problemas" no ensino básico.
"Provavelmente o facto de os resultados no secundário ser historicamente nos últimos anos um resultado razoável não nos deixava tanta preocupação", afirmou Valter Lemos.
"Teremos agora que fazer alguma revisão em alta desta nossa preocupação. Vamos trabalhar para que no próximo ano possamos ter algumas medidas de apoio e reforço ao ensino português no ensino secundário para evitar que isto não seja uma tendência, mas sim meramente uma oscilação natural, e para manter um resultado em Português, que historicamente é positivo", acrescentou.
Em relação aos restantes exames, o tom é de satisfação.
"Estamos satisfeitos com os resultados obtidos, porque em geral revelam uma melhoria dos resultados finais, designadamente nas disciplina nas quais tem havido um esforço muito grande de concentrar uma série de medidas de apoio e de reforço ao ensino e a aprendizagem, como a Matemática, a Química, Física e Biologia".
A taxa de reprovação no exame de Matemática A do 12º deste ano baixou para 7 por cento, contra os 18 por cento do ano passado, numa prova em que a média de notas foi de 12,5 valores.
A taxa de reprovação de 7 por cento dos 36.674 alunos que fizeram este ano a prova de Matemática A é menos de metade da verificada no ano passado (18 por cento) e cerca de um quarto da de 2006 (29 por cento), indicam os dados oficiais distribuidos hoje à tarde pelo Ministério da Educação (ME).
Na Matemática B (prova realizada por 6.731 alunos), a média de resultados foi de 11,4, uma subida em relação aos 7,5 valores verificada em 2007.
A taxa de "chumbos" neste exame foi igualmente de 7 por cento contra os 24 por cento de 2007 e os 30 por cento em 2006.
Quanto aos exames na área de Ciências, registou-se uma melhoria nos resultados da Física e Química A, que ainda assim registou uma taxa de "chumbos" de 22 por cento (a mais alta percentagem de reprovações em todos os exames) face aos 31 por cento de 2007 mas superior aos 21 por cento de 2006.
Os 31.760 alunos que fizeram esta prova obtiveram uma média de 9,3 valores (contra os 7,2 valores de 2007 e os 7,4 de 2006).
Quanto a Biologia e Geologia, dos 39.890 alunos que fizeram a prova chumbaram 8 por cento (uma melhoria face aos 12 por cento de 2007 e aos 9 por cento de 2006).
A média de Biologia e Geologia passou de 9,1 valores em 2007 para 10,5 valores este ano.
"Creio que o esforço que tem sido realizado nessa áreas - traduzido em mais tempo de trabalho dos alunos e professores e melhores instrumentos de trabalho como testes intermédios - tem sido bem usado, o que produziu melhores efeitos finais e demonstram alguma consistência nos ultimos anos", sublinhou Valter Lemos.
Diário Digital / Lusa

Alunos internos chegam aos 14 valores de média na Matemática

Uma melhoria astronómica. Esta é a única forma de qualificar os resultados da Matemática A nos exames nacionais do secundário, onde a disciplina atingiu uns imprevisíveis 12,5 valores de média, chegando ao 14 entre os alunos internos, e contabilizou apenas 7% de negativas. Para o Ministério da Educação, não restam dúvidas: na origem dos resultados está muito suor. Mas a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) garante que tal progresso é "impossível" e até o gabinete ministerial responsável pelas provas reconhece não se poder assegurar que os ganhos se devem apenas ao trabalho.

Comparando os resultados da Matemática A, feita por 36674 alunos, com anos anteriores, verifica-se que, em 2007, a mesma prova contabilizou 9,4 valores de média e 18% de reprovações. Em 2006, os valores não foram além dos 7,3 e os chumbos à disciplina chegaram aos 29%. Por outras palavras, em apenas dois anos, os valores globais quase duplicaram e as negativas caíram para menos de um quarto.

Em comunicado, o Ministério elencou os factores cujo "efeito combinado" terá contribuído para tão dramática subida: "Mais tempo de trabalho e de estudo", "provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo para a sua realização [30 minutos extras]", e ainda um "maior alinhamento entre o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores" - o diferencial entre as classificações internas e as provas é de apenas 0,76 valores, lembrou a tutela.

Autores das provas cautelosos

Porém, foi o próprio director do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), responsável pelos exames, quem num encontro com jornalistas ontem à tarde, antes da divulgação dos resultados, evitou fazer este tipo de associações .

"Nas provas de aferição empenho as minhas barbas quando digo que os resultados melhoraram. Nos exames, se houve melhorias, terão a ver com uma confluência de factores. Não posso garantir que os resultados correspondam a melhorias nas qualidades das aprendizagens", disse Carlos Pinto Ferreira.

Na altura, o director do GAVE explicou que as provas de aferição são sujeitas a mecanismos de controlo prévio com amostras de estudantes (ver texto nesta página), o que permite "congelar" a dificuldade média dos testes, precisamente por se destinarem a analisar o sistema educativo. Já em relação aos exames, tal não acontece, não só por questões de "segurança", mas também porque a meta é saber se os alunos têm conhecimentos para aprovar ou reprovar.

Porém, Pinto Ferreira rejeitou qualquer interferência externa no sentido de condicionar os exames: "Nunca nenhum ministro ousou dar instruções ao GAVE para fazer as provas mais fáceis ou mais difíceis", afirmou, acrescentando que, da sua parte, a única recomendação dada às equipas que produzem as provas foi para que estas fossem "justas", reflectissem os "programas" e não contivessem "minas e armadilhas" que poderiam atrapalhar os alunos.

Resultados "impossíveis"

Já a Sociedade Portuguesa de Matemática, que tem criticado as provas desde a divulgação dos enunciados, não hesita em considerar que os exames foram "demasiado simples" para poderem sequer ser comparáveis com anos anteriores.

"Nós somos uma sociedade científica. Não julgamos intenções ministeriais", disse ao DN Nuno Crato. "O que dizemos é que os exames foram demasiado simples para que se possa perceber o eventual impacto das medidas referidas pelo Ministério. Resultados tão espectaculares são impossíveis em tão pouco tempo. As pessoas que tirem as suas ilações".

Nuno Crato não deixou, no entanto, de considerar que "o sinal dado aos alunos por estes exames é de que não vale a pena trabalhar".

DN

“Dei orientação para os exames não terem rasteira”

Carlos Pinto Ferreira, director do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), responsável pela elaboração dos exames, assumiu ontem que mandou fazer provas sem ‘rasteiras’.




"Dei orientação para os exames não terem rasteiras. Acho que não deve haver ‘perguntas diabólicas’, é aleatório e não mede competências. Um aluno pode estar num dia mau", disse, negando ter recebido indicações do Governo: "Nunca um ministro ousou dar orientações para um exame ser mais fácil. Sinto-me ofendido com insinuações que põem em causa a minha seriedade."

Pinto Ferreira explicou todo o processo de elaboração dos exames, admitiu que "há sempre variação" no grau de dificuldade. E criticou a Sociedade Portuguesa de Matemática: "Têm uma visão da matemática que tem 50 anos."

CM

“Foi um descalabro, mas não nos surpreende”


Edviges Ferreira, Vice da Associação Professores de Português, falou ao 'CM' sobre os resultados dos exames de Português do 12.º ano.


Correio da Manhã – Como avalia os resultados dos exames de Português do 12.º ano, em que a média desceu para 9,7 valores?

Edviges Ferreira – Estes resultados são um descalabro mas não surpreendem a Associação de Professores de Português (APP). Logo na altura da prova apontámos algumas coisas que podiam levar a uma queda de resultados, nomeadamente a formulação pouco clara da pergunta 2 do I Grupo e o facto de no III grupo, no tema para desenvolvimento, ter sido escolhido um texto do Padre António Vieira, que era do programa do 11.º, provocando confusão e levando muitos alunos a falar só do Padre António Vieira.

– A grande maioria dos agentes educativos acusou o Ministério de elaborar exames demasiado fáceis...

– Mas esse não foi o nosso caso, nunca dissemos que o exame de Português era acessível e até apontámos aspectos que podiam levar a uma classificação mais baixa. O resultado está à vista e a média foi negativa.

– Quem são os responsáveis?

– É lógico que há sempre responsáveis mas não queremos acusar ninguém. Se a prova tivesse sido feita em termos mais claros os resultados seriam melhores. Esta apresentava perguntas dúbias.

– Os professores de Português não são também responsáveis pelos resultados?

– Os professores são os mesmos do ano passado e centenas deles contactaram-nos logo na altura do exame indignados com o seu teor. Estes resultados são maus mas não é culpa dos professores nem dos alunos.

– A APP foi convidada pelo Ministério da Educação a participar na elaboração dos exames?

– Houve de facto um convite mas não quisemos entrar nessa revisão de prova. Sabíamos que mesmo que contestássemos o exame dificilmente seríamos ouvidos.
CM

Agressões investigadas


O Ministério Público (MP) está a investigar o caso de uma professora de Inglês da Escola EB 1/2/3 de Góis acusada pela mãe de duas alunas de as agredir, puxando-lhes os cabelos e ameaçando-as com uma colher de pau.




O inquérito foi instaurado na sequência de denúncias feitas em Março deste ano, altura em que ocorreram as alegadas agressões. A investigação, dirigida pelo MP do Tribunal de Arganil, ainda está a decorrer, faltando ouvir algumas testemunhas.

As duas irmãs, de dez anos, frequentam o 4º ano. A mãe, Margarida Carvalho, trabalha na Suíça, estando as meninas entregues ao cuidado de uma tia. Foram as filhas que lhe telefonaram a dizer que a professora lhes "puxou os cabelos" e levou uma delas para a casa de banho, onde a ameaçou de bater-lhe "com a colher de pau". Margarida Carvalho ficou "tão revoltada" que chegou a telefonar à GNR.

A tia e encarregada de educação das meninas, Dulce Barbosa, que ontem recusou prestar declarações por o caso estar em segredo de justiça, também contestava na altura os métodos usados pela docente. O MP está a apurar se houve crime, podendo acusar a professora, de cerca de 40 anos, ou arquivar o processo. Em caso de acusação, estará em causa um crime de maus tratos a menor, punido com pena até cinco anos de prisão.

PORMENORES

RISCO NO QUADRO

Segundo Margarida Carvalho, a professora "tinha por hábito fazer um risco no quadro à frente do nome de cada aluno que se portava mal. Quando chegava a determinado número, levava-os para a casa de banho, onde os trancava e agredia física e psicologicamente".

SEM QUEIXAS

O presidente do conselho executivo, José de Albuquerque, admitiu na ocasião que "aconteceu alguma coisa que não deveria ter acontecido mas não terá a dimensão que lhe estão a querer dar", adiantando que não havia queixas em relação à docente. Ontem não esteve na escola.



CM

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Resultados da 1.ª fase dos exames do Ensino Secundário revelam uma melhoria global

Os resultados da 1.ª fase dos exames do Ensino Secundário revelam uma melhoria global, verificando-se o aumento do número de disciplinas com média positiva, a subida das médias e a diminuição das reprovações.

O número de exames com médias de resultado abaixo dos 10 valores continua a descer: enquanto neste ano lectivo houve seis exames com médias abaixo dos 10 valores, no ano anterior foram sete e em 2006 treze.



Considerando apenas disciplinas homólogas, este ano a média mais baixa foi de 9,2 valores em História B, enquanto em 2007 foi de 7,1 em Física e Química.



Registam-se oito disciplinas com mais de 10 por cento de reprovações, enquanto em 2007 esta situação se verificou em 12 disciplinas. Particularmente, na disciplina de Físico Química a percentagem de reprovações desceu de 31 por cento para 22 por cento no mesmo período de tempo.



Matemática



Apesar do decréscimo na média da Matemática Aplicada às Ciências Sociais (passa de 11,3 valores para 9,6 valores), regista-se uma melhoria global de resultados, em particular na Matemática A (cuja média passa de 9,4 valores para 12,5 valores) e na Matemática B (cuja média passa de 7,5 valores para 11,4 valores), tendo diminuído a percentagem de reprovações.



Esta melhoria, que se verifica, pelo terceiro ano consecutivo, é seguramente o efeito combinado de três factores:



. mais tempo de trabalho e de estudo por parte dos alunos, acompanhado pelos professores, no quadro das actividades das escolas no âmbito do Plano de Acção para a Matemática;



. provas de exame correctamente elaboradas, sem erros e com mais tempo para a sua realização;



. maior alinhamento entre o exame, o programa e o trabalho desenvolvido pelos professores, designadamente através dos vários testes intermédios realizados nas escolas e da utilização do banco de itens disponibilizado pelo Gabinete de Avaliação Educacional por alunos e professores.



De salientar a elevada correlação (0,71) entre as classificações internas e as do exame nacional.













Português



Regista-se um decréscimo nos resultados do exame de Português (cuja média passa de 10,8 para 9,7), aumentando ligeiramente o número de reprovações na disciplina, que passa de 5 por cento para 8 por cento, não obstante o acréscimo de tempo para a realização da prova.



Este é o exame que abrange o maior número de alunos, sendo realizado pela quase totalidade dos estudantes que terminam o ensino secundário nos cursos científico-humanísticos.



Importa equacionar medidas de reforço do trabalho dos alunos nesta disciplina, designadamente estendendo ao ensino secundário as dinâmicas do Plano Nacional de Leitura.





Disciplinas de Ciências



Verificou-se uma melhoria nas disciplinas de Biologia e Geologia (cuja média passa de 9,1 valores para 10,5 valores) e de Física e Química (cuja média passa de 7,2 valores para 9,3 valores).



É de salientar que em Biologia e Geologia a média atingiu valores positivos, enquanto em Física e Química, apesar da melhoria registada, ainda apresenta um valor ligeiramente negativo.



Estas duas disciplinas são as que apresentam as mais elevadas correlações entre as classificações internas e externas (respectivamente 0,75 e 0,76).



Também nestas disciplinas se concretizou um esforço de alinhamento do exame com o programa e o trabalho dos professores, através dos testes intermédios, bem como do aumento do tempo para a realização da prova.



Registou-se, ainda, durante o ano lectivo que agora termina, um reforço dos tempos de leccionação destas disciplinas e das condições para a realização do trabalho experimental.



Os resultados indicam a necessidade de continuar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos professores e pelas escolas, com vista a consolidar esta tendência de melhoria.


Regras de funcionamento dos centros de formação de associação de escolas

As novas regras para a constituição dos centros de formação de associações de escolas, definidas em diplomas publicados no Diário da República, inserem-se no âmbito da formação contínua de professores e visam contribuir para a qualificação do serviço público prestado pelos estabelecimentos de ensino, tendo em vista a melhoria dos resultados escolares dos alunos.

Os centros de formação de associações de escolas devem, sempre que necessário, apoiar as escolas associadas no levantamento das suas necessidades de formação, que deverão estar na base da elaboração dos seus planos de acção.



Os planos de formação de docentes devem conter a explicitação do levantamento de necessidades, a indicação dos objectivos a atingir, a identificação das áreas de formação a desenvolver e das modalidades mais adequadas a utilizar, bem como o público-alvo a atingir.



Os referidos planos de formação deverão ser organizados para dois anos lectivos, sendo que o primeiro deverá incluir o período do ano lectivo de 2008/2009, não abrangido pelos anteriores planos de formação.



Posteriormente, os planos de acção elaborados pelos centros de formação devem ser objecto de acreditação por parte do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua de Professores, podendo ser financiados pelo Programa Operacional Potencial Humano.



As condições de concretização dos planos de acção são contratualizadas com entidades externas, designadamente instituições de ensino superior e associações profissionais de professores, que devem ser acreditadas para o efeito pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua de Professores.



Para a criação de um centro de formação de associações de escolas, o número de docentes, afectos aos agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas que constituem as associações que vêm integrar o centro de formação a constituir, devem obedecer aos seguintes referenciais:



2000 docentes para as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e para as áreas cuja densidade populacional seja equiparável;
1000 docentes para as áreas de fraca densidade populacional;
1500 docentes para as áreas que não integrem nenhum dos casos anteriormente referidos.


Por iniciativa da direcção regional de educação respectiva, mediante proposta devidamente fundamentada, pode ser autorizada a constituição de centros de formação de associações de escolas sem que se verifique a existência deste referencial, pelo membro do Governo competente, uma vez recolhido o prévio parecer favorável da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação.



A criação de um centro de formação de associações de escolas tem de respeitar o princípio da inclusão de todas as escolas de uma mesma área e da contiguidade geográfica.



A iniciativa da criação das associações de escolas e dos centros de formação correspondentes cabe aos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, através dos presidentes dos conselhos executivos ou directores, que para o efeito devem elaborar a respectiva acta de constituição e enviá-la para homologação à direcção regional de educação da área geográfica respectiva.



Compete às direcções regionais de educação, de acordo com os critérios que considerar adequados, determinar em que áreas deve ser integrado o centro de formação cuja constituição lhe foi solicitada para homologação.



São extintos todos os centros de formação de associações de escolas existentes, devendo ter lugar a iniciativa de criação de novos centros. A decisão de homologação deve ser conhecida até 31 de Agosto de 2008.



O director do centro de formação extinto deve permanecer em funções até à tomada de posse do novo director, cujo procedimento concursal deve iniciar-se nos cinco dias úteis seguintes à notificação da homologação e estar concluído no prazo máximo de 30 dias.



Para mais informações, consultar os despachos publicados no Diário da República.

Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola


Hoje de manhã acordei a pensar no Ministério da Educação. Num mundo ideal, eu seria professora de Português, consistindo a minha missão em sujeitar a exame todos os membros do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional), da DGIDC (Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular), do GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação), da DGRHE (Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação) e da ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) usando para o efeito uma “grelha” por mim elaborada.

Este desejo surgiu depois de ter lido os programas, os exames e os critérios de avaliação em vigor. Com filhos crescidos e netos demasiado pequenos para frequentar a escola secundária, tenho andado arredada da matéria, embora, pelo que ia ouvindo, por esquinas e ruas, suspeitasse de que a asneira tivera carta de alforria. Há três semanas, durante uma sessão de autógrafos na Feira do Livro, conversei com algumas professoras do ensino secundário. O encontro despertou o meu apetite por analisar as provas de exame de Português. Havia muito – exactamente desde 1997, quando publiquei "Os Filhos de Rousseau" – que o não fazia.

Não foi difícil obter, na Internet, o seu enunciado, ou antes, não foi difícil depois de o director deste jornal me ter enviado o devido link. Comecei pela Prova Escrita de Português do 12.º Ano de Escolaridade, a qual incluía um texto de Camões, outro de Luís Francisco Rebelo e outro de Guilherme Oliveira Martins. À cabeça, aparecia o extracto do Canto X de "Os Lusíadas", começando em “Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,/…” e terminando em “Que possuí-los sem os merecer”. Se a inclusão do maior poeta épico português não me admirou, o mesmo não posso dizer das perguntas sobre ele feitas.

No final da primeira parte, pedia-se ao aluno que comentasse, num texto de 80 a 120 palavras, a experiência de leitura de "Os Lusíadas". Com medo de que esta se reduzisse a nada, fornecia-se, em epígrafe, as seguintes linhas de Maria Vitalina Leal de Matos: “Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.” Não só o excerto era desnecessário, como podia causar perplexidade, uma vez que o esquema a preto e branco inventado pelo Gave não se coadunava com “complexidades”. Por outro lado, pareceu-me extraordinário que, a alunos de 17 e 18 anos, se tivesse de fornecer um glossário, no qual se explicava, por exemplo, o que era o Olimpo. Que andaram os meninos a aprender ao longo de dez anos de aulas de História?



Texto ideológico



Nos Grupos II e III, transcrevia-se um texto de Luís Francisco Rebelo sobre "O Memorial do Convento" de José Saramago, e outro, de Guilherme Oliveira Martins, sobre o P. António Vieira. Do ponto de vista ideológico, o segundo era inócuo, o mesmo não se podendo dizer do primeiro. Depois de um elogio rasgado ao livro, L. F. Rebelo defendia coisas tão etéreas quanto a “a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade, rio cujas águas nunca param e nunca se repetem”, desembocando o seu argumento no conceito de “luta de classes”, após o que remetia para o poema de Brecht, “Perguntas de Um Operário Letrado”, o qual servia de base para defender que "O Memorial do Convento reflectia o conflito entre um “rei beato” e os “servos da gleba”.

A fim de serem facilmente classificadas, muitas questões eram de escolha múltipla, ou seja, a seguir a uma frase vinham quatro opções, o que nos leva a pensar que, segundo a ideologia vigente, há uma e apenas uma Verdade. Como se isto não fosse suficientemente arrepiante, algumas das supostas respostas certas estavam erradas: a vice-presidente da Associação de Professores de Português chamou imediatamente a atenção para a falta de acordo entre os colegas no que dizia respeito às respostas para o grupo II, 7. No último grupo, o III, era pedida ao aluno uma redacção, entre 200 e 300 palavras, sobre a “temática da dignidade humana e do respeito pelos direitos humanos no nosso tempo”. Visto tratar-se de escrever sobre o que passa no século XXI, não entendo a vantagem da inclusão do texto do actual presidente do Tribunal de Contas relativo ao século XVII. Pelos vistos, o contexto temporal desapareceu da cabeça destes pedagogos.

Vale a pena abordar a filosofia subjacente à elaboração do exame. Claro que podia parafrasear algumas passagens do programa da cadeira ou até fornecer um resumo do texto — com 76 páginas — mas isso teria a desvantagem de afastar o leitor da linguagem de quem planeia o ensino em Portugal. Antes de saltar estes parágrafos, lembre-se, por favor, que o esforço que lhe peço não é nada comparado com aquele a que os professores são diariamente sujeitos. Aqui vão alguns extractos retirados do "Programa de Português para os 10.º, 11.º e 12º anos, dos Cursos Científico-Humanísticos e Cursos Tecnológicos", coordenado por Maria da Conceição Coelho, a qual foi, para o efeito, assessorada por João Seixas, José Pascoal, Maria Joana Campos, Maria José Grosso e Maria de La Salette Loureiro.

Eis o começo: “O Português é uma disciplina da formação geral comum aos cursos científico-humanísticos e tecnológicos do ensino secundário que abrange os três anos do ciclo. Visa a aquisição de um corpo de conhecimentos e o desenvolvimento de competências que capacitem os jovens para a reflexão e o uso da língua materna. Em contexto escolar, esta surge como instrumento mas também como conteúdo ou objecto de aprendizagem, tornando-se fundamental, neste ciclo, o aprofundamento da consciência metalinguística e a adopção de uma nomenclatura gramatical adequada que sirva o universo de reflexão.” Abordando a parte 2, eis o que encontramos: “Este programa pretende ser um instrumento regulador do ensino-aprendizagem da língua portuguesa nas componentes Compreensão Oral, Expressão Oral, Expressão Escrita, Leitura e Funcionamento da Língua, instituídas como competências nucleares desta disciplina. (…) Para realizar a interacção entre as diferentes competências, seleccionaram-se vários tipos de textos em que há uma evidente articulação entre protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo-explicativo, injuntivo-instrucional, dialogal-conversacional) e textos das relações dos domínios sociais de comunicação (relações educativas, relações profissionais, relações com os media, relações gregárias e relações transaccionais). Desta forma, a tipologia textual prevista para o ensino secundário adquire uma dimensão praxiológica, permitindo abordar textos que, cabendo numa das categorias de protótipos textuais, preparam os jovens cidadãos para uma integração na vida sociocultural e profissional.”





Máquina retórica em ritmo automático



No que diz respeito à escrita, eis o que têm a dizer: “Quanto à expressão escrita, pretende-se que seja instituída uma oficina de escrita, em que sejam trabalhadas as tipologias textuais previstas, a partir das quais se desenvolverão as competências naturalmente envolvidas neste tipo de actividade. Propõe-se que esta oficina seja entendida como um trabalho laboratorial, constituindo um espaço curricular em que a aprendizagem e a sistematização de conhecimentos sobre a língua e os seus usos se inscrevem como componentes privilegiadas.” Sobre a leitura, afirma-se: “No âmbito da leitura, promove-se o acesso a textos de várias tipologias, preferencialmente relacionados com a área de formação ou com o interesse dos alunos, bem como a textos dos domínios transaccional e educativo, que contribuem para a formação da cidadania. A leitura do texto literário deverá ser estimulada pois contribui decisivamente para o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, integrando as dimensões humanista, social e artística, e permite acentuar a relevância da linguagem literária na exploração das potencialidades da língua. Nesse sentido, são seleccionados para leitura obrigatória autores/textos de reconhecido mérito literário que garantam o acesso a um capital cultural comum.” O programador acrescenta: “O convívio com os textos literários acontecerá também quando se puserem em prática contratos de leitura a estabelecer entre professores e alunos.” Que significa um “contrato de leitura” que, ainda por cima, “acontecerá”? Mistério.

Do capítulo dos objectivos, seleccionei apenas três frases, as mais representativas: “Desenvolver capacidades de compreensão e de interpretação de textos/discursos com forte dimensão simbólica, onde predominam efeitos estéticos e retóricos, nomeadamente os textos literários, mas também os do domínio da publicidade e da informação mediática; utilizar métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação, nomeadamente com o recurso às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC); desenvolver práticas de relacionamento interpessoal favoráveis ao exercício da autonomia, da cidadania, do sentido de responsabilidade, cooperação e solidariedade.” Modernaço, não é?

A máquina retórica prossegue em ritmo automático: “A escola deverá promover, no âmbito da consciência linguística, o conhecimento do vocabulário, da morfologia, da sintaxe e da fonologia/ortografia; no que respeita a competência discursiva/textual, o conhecimento das convenções que subjazem à produção de textos orais ou escritos que cumpram as propriedades da textualidade; quanto à competência sociolinguística, o conhecimento das regras sociais para contextualizar e interpretar os elementos linguísticos e discursivos/ textuais; quanto à competência estratégica, o uso de mecanismos de comunicação verbais ou não verbais como meios compensatórios para manter a comunicação e produzir efeitos retóricos.”

Estão fartos? Desculpem, mas não resisto a outra citação: “A aula de Português (…) é, pela especificidade da disciplina, um espaço de transversalidade cultural e linguística, na sua condição de suporte estruturalmente integrado nos outros saberes. (…) Para que os alunos desenvolvam o hábito de ler, propõe-se a criação de um espaço dedicado à leitura recreativa de textos de reconhecido mérito literário, de autores maioritariamente contemporâneos, das literaturas nacional e universal, capazes de transformar os alunos em leitores mais assíduos, quer ao longo do percurso escolar, quer ao longo da vida.” Note-se a aberrante hierarquia: “Nesse espaço, deve ser dada importância aos gostos e interesses dos alunos, cabendo ao professor a sua orientação, sugerindo um leque diversificado de textos a ler. O professor deve constituir-se como entidade facilitadora de práticas de leitura (sublinhado meu) oferecendo aos alunos a possibilidade de encontro com textos interessantes e motivadores, procurando, contudo, suscitar respostas por parte dos leitores durante e após a leitura desses textos.” Só há duas explicações para o programa de Português: ou esta gente é doida ou pretende humilhar os professores.

Não é preciso ir longe para vermos em que fontes andaram os “especialistas” a beber. Basta olhar alguns dos títulos da bibliografia aconselhada: Lussier, D., "Évaluer les Apprentissages dans une Approche Communicative", Paris, Hachette, 1992, Tochon, F.V., "A Língua como Projecto Didáctico", Porto, Porto Editora, 1995, Gohard-Radenkovic, A., "L’Ecrit. Stratégies et Pratiques", Paris, Clé international, 1995, Broncart, J.-P., "Activité Langagière, Textes et Discours", Lausanne, Delachaux et Niestlé S.A., 1996 ou Weaver, C., "Teaching Grammar in Context", Portsmouth, Boynton/Cook Publishers, Inc, 1996 . Todo e qualquer livro, da "La Littérature en Péril" de T. Todorov a "On Looking into the Abyss" de G. Himmelfarb, que ponha em causa a ortodoxia foi banido.





Baixar o insucesso por via burocrática



Voltando ao exame, intrigou-me a ênfase nos autores contemporâneos. Um anjo da guarda explicou-me o motivo. A 4 de Outubro último, através da portaria 1322/2007, Valter Lemos determinou que, este ano, os exames de Português do 12.º ano passassem a ter como matéria, não o que fora dado ao longo do ciclo, como sucedia, mas apenas o leccionado no 12.º ano. Tal como sucedera no exame de Matemática, a mutilação foi deliberadamente planeada, no sentido de tornar mais simples os exames. Pelo meio, desapareceram autores como Eça de Queiroz e Cesário Verde – declaro, é evidente, um interesse pessoal – substituídos por Luís de Sttau Monteiro e José Saramago, cujas obras, "Felizmente Há Luar" e "O Memorial do Convento", são de leitura obrigatória (dada a fama internacional, Fernando Pessoa manteve-se). Em suma, dos clássicos, apenas Camões.

Como qualquer professor sabe, os alunos apenas estudam o que vem para exame, ficando indignados quando lhes “sai” uma coisa não estipulada. A portaria 1322/2007 deu-lhes autorização para esquecer o que eventualmente tivessem aprendido nos dois anos anteriores. Quem viu os telejornais, não pode ter deixado de notar as declarações no sentido de que o exame de Português tinha sido “canja” e que portanto o futuro iria ser risonho. Não, não vai. Porque os alunos, que hoje ostentam uma face optimista, não tardarão a chorar ao verificarem que não arranjam emprego.

A responsabilidade pelo desastre – porque é de um desastre que se trata – deve ser atribuída a quem ocupa o poder, isto é, em primeiro lugar, a Maria de Lurdes Rodrigues, uma ministra cujo objectivo passou a consistir em baixar o insucesso escolar por via burocrática. Qualquer dia até o meu neto, de seis anos, é capaz de responder satisfatoriamente às provas do final da escolaridade. Uma vez que já sabe escrever o seu nome e que responde prontamente a quem lhe pergunta quanto são dois mais dois, penso que não vale a pena matriculá-lo na 1ª classe, deixando-o no recreio até aos 15 anos, altura em que se poderá apresentar a exame como aluno externo. Nem a família terá de se dar à maçada de o levar à escola nem o Estado será forçado a gastar dinheiro com a sua educação. Aliás, foi isso que, após ter realizado o exame de Português, nos disse Felipe Hasslocher: “Não estudei; a Português ou se sabe ou não vale a pena estudar” ("Diário de Notícias", 19-06-2008). De facto, é assim: ou se aprende em casa ou não vale a pena ir às aulas.

Mas voltemos aos exames. A disciplina de Português, obrigatória para todos os alunos que frequentam o 12.º ano, não é a única que aborda temas literários. Existe uma outra cadeira, optativa, de Literatura Portuguesa, resultado da divisão entre a língua e as obras. Se não é a ler os grandes escritores que se aprende a escrever, então como é? Mas disto não querem saber as luminárias. O programa é, de novo, coordenado pela guru Maria da Conceição Coelho, assessorada, desta feita, por Maria Cristina Serôdio e Maria Joana Campos, não sendo, por conseguinte, necessário voltar a cansar o leitor com citações. Quero apenas notar que a bibliografia, além de tendenciosa, contém lacunas. Manda-se os professores lerem R. Andrews, "The Problem with Poetry", Piladelphia, Open University, 1991 e M. Bores et alia, "Estética Teatral: textos de Platão a Brecht", Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1996, mas a "História da Literatura Portuguesa", de A. J. Saraiva e Óscar Lopes, não aparece, como não aparece um único livro de João Gaspar Simões. E, por favor, não me venham dizer que são livros datados.

A prova de Literatura Portuguesa para os 11.º e 12.º anos é melhor do que o programa, até porque os escritores escolhidos para análise são Camões e Camilo Castelo Branco. Dado os adolescentes serem particularmente sensíveis ao tema — razão menor, mas que aceito —, a inclusão do soneto que começa com “Amor é um fogo que arde sem se ver…” e de um extracto do Amor de Perdição não me pareceu má ideia. Trata-se de clássicos cujo mérito ninguém disputa. No Grupo III, pedia-se aos alunos para, baseando-se na sua experiência de leitura da lírica trovadoresca, escreverem um texto sobre o tema do sofrimento amoroso nas cantigas de amor. O exame mais bem elaborado é aquele a que um menor número de alunos se sujeitou. Se calhar, uma coisa está relacionada com a outra.



Propaganda da "nomenklatura" europeia



No final, lembrei-me de ver a prova de Língua Portuguesa do 9.º ano, um exame a que foram sujeitos dezenas de milhares de estudantes. Do programa, simplório, não reza a História. Desta feita, o escândalo é o próprio exame. O principal texto – o A – versa a União Europeia. Retirado da Internet, é um artigo de propaganda. Espero que ninguém tenha a tentação de me vir explicar, a mim, que, nos idos de 1960, queimei as pestanas a tentar perceber o que, na opinião de Althusser, era um AIE (Aparelho Ideológico do Estado), e que, na década seguinte, se deliciou a ouvir o “We don’t need no education” dos Pink Floyd, que a escola transmite valores. Mas uma coisa é estar consciente do facto, outra aceitar que nela se transmita propaganda pura e dura. Ora, é isto que acontece nesta prova.

Não só os meninos foram sujeitos à ideologia veiculada pela "nomenklatura" europeia, como o que lhes era pedido se limitava a comentários de índole escolástica. Eis o início: “A União Europeia (EU) está empenhada no desenvolvimento sustentável. Para tal é necessário um equilíbrio cuidado entre prosperidade económica, a justiça social e um ambiente saudável. De facto, quando visados em simultâneo, estes três objectivos podem reforçar-se mutuamente. As políticas que favorecem o ambiente podem ser benéficas para a inovação e competitividade. Por sua vez, estas impulsionam o crescimento económico, que é vital para atingir os objectivos sociais.”

Se eu tivesse sido sujeita a este exame, reprovaria: não porque tivesse lido mal o que lá vinha, mas por saber que algumas das frases tidas como incontroversas são mais do que duvidosas. Dou um exemplo: “Inquéritos realizados têm demonstrado invariavelmente que a vasta maioria dos cidadãos da EU espera que os responsáveis políticos prestem tanta atenção à política ambiental como à política económica e à social.” Em que países se efectuou tal sondagem? Qual a amostra escolhida? Que margem de erro tinham as respostas? Ninguém sabe. Finalmente, a classificação das respostas – com um “V”, de verdadeira, ou “F”, de falsa – revela uma mente totalitária.

Seguia-se um texto de José Saramago sobre o sorriso. Não vou falar do suposto mérito literário do “nosso” Nobel, mas desejo reiterar que me parece absurdo fomentar a leitura com base em autores contemporâneos. Nem estes são de leitura acessível nem, mais importante, sabemos se têm mérito: um grande escritor é-o quando resistiu à erosão do tempo. Na segunda metade do século XIX, a elite nacional decidiu que o maior poeta português era Tomás Ribeiro, o qual, em 1862, publicara um poema intitulado "D. Jaime". O mais conceituado crítico da época, António Feliciano de Castilho, teve o desplante de considerar a obra como mais importante para o estudo da língua portuguesa do que "Os Lusíadas", o que não suscitou arrepios. Mas alguém é hoje capaz de ler, sem se rir, as linhas com que abre o "D. Jaime": “Meu Portugal, meu berço de inocente,/ lisa estrada que andei débil infante, variado jardim do adolescente,/ meu laranjal em flor sempre odorante/…”? Quem me garante que José Saramago não é o Tomás Ribeiro do século XX?





Fim da autonomia dos docentes



Faltava-me ler, com atenção, as instruções que o Ministério enviou aos professores encarregues de corrigir os exames. Escolhi o caso do exame de Português do 12.º ano. O que vi – quadradinhos com “níveis de desempenho”, listas com os “cenários de resposta” e grelhas com a “correspondência correcta” – deixou-me estarrecida. É certo que as instruções foram transcritas pelos jornais, mas, desacompanhadas dos exames, o leitor não tinha oportunidade de se aperceber da monstruosidade do esquema.

Não contente com a interferência na vida das escolas, o poder central entendeu por bem vigiar os examinadores de forma maníaca, não os deixando desviar uma linha do que os burocratas consideram “a” resposta correcta. A fim de que não se pense que sou tendenciosa, cito a primeira pergunta, relativa a "Os Lusíadas", na qual se pedia ao aluno que expusesse, sucintamente, o conteúdo das três primeiras estâncias. Nos critérios de avaliação enviados às escolas, especificava-se existirem três níveis de desempenho, o N3, no qual se expunha o conteúdo das três primeiras estâncias – a que se deveria dar 9 pontos – o N2, no qual se expunha o conteúdo de duas estâncias – que mereceria 6 pontos – e o N1, no qual se expunha apenas o conteúdo de uma das estâncias – ao qual se deveria dar apenas 3 pontos. É isto normal?

Na pergunta seguinte, depois de se ter afirmado que a “Fama” desempenhava um papel fundamental no processo de imortalidade, pedia-se ao aluno que referisse “três dos aspectos evidenciados nesse desempenho, fundamentando a sua resposta com citações do texto”. Seguia-se uma coisa designada como “cenário de resposta”, cujo objectivo era explicar aos professores o que eles sabem ou deviam saber: “A resposta deve contemplar os seguintes aspectos: a “ilha” (incluindo as Ninfas e Tétis) é o prémio, a recompensa dada aos marinheiros; os “deleites” são os triunfos, os louros (1ª estância); os prémios concedidos pela antiguidade eram atribuídos a quem fazia o difícil percurso da virtude (2ª estância); os deuses não passam de humanos que praticaram feitos de grande valor; daí terem recebido o prémio de imortalidade (3ª estância). Seguiam-se os critérios de avaliação, N3, N2 e N1, com a usual pontuação decrescente.

Na terceira pergunta, pedia-se, entre outras coisas, ao aluno para identificar a apóstrofe presente na estância 92. Lá voltavam a aparecer os “critérios específicos de classificação”, com a respectiva pontuação. No “cenário de resposta”, especificava-se que a resposta certa era “ó vós que as famas estimais”. Se um aluno respondesse, por exemplo, “ó vós” – o que estaria certo –, a resposta teria de ser considerada errada. É isto aceitável?

Demorei-me a analisar este texto porque, de entre todos – e como viram a escolha não é fácil – foi o que mais me escandalizou. Deste novo mundo, labiríntico, burocrático, totalitário, desapareceu a autonomia dos docentes, o dever de julgar e até o estímulo para separar os alunos marrões dos criativos. Se as perguntas de escolha múltipla já me tinham irritado, mais furiosa fiquei ao ver que o método era aplicado ao que antigamente se chamava uma redacção. Em grande medida, estas loucuras derivam da filosofia de avaliação expressa na obra de Valter Lemos, "O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem" (1986).

Se isto choca nas chamadas Ciências Exactas, o facto é, nas Humanidades, uma anormalidade, uma vez que analisar um texto literário não é o mesmo que resolver um problema de Química. Nos anos 1960, a crítica literária teve de se defrontar com o marxismo e, depois, e em rápida sequência, com o estruturalismo, o post-modernismo e a semiótica, correntes demasiado exotéricas para que delas possa, ou queira, falar. A partir de então, a crítica literária foi tida como uma espécie de ciência. Tudo ficou de pernas para o ar, não me devendo eu espantar que a Língua Portuguesa tenha sido separada da História da Literatura nem que a análise do texto o seja dos respectivos autores. A coroar o disparate, o ministério optou por elaborar exames cujo objectivo é escamotear o facto de estarmos a formar uma geração incapaz de pensar, de falar e de escrever.

À volta da elite burocrática sediada no Ministério da Educação, existe hoje um enxame de “especialistas” que determina o que é, ou não, “correcto”. Os exames que elaboram poderiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola, nos quais os alunos fariam ao acaso umas cruzinhas, sendo estas posteriormente contadas por uma máquina. O actual secretário de Estado da Educação e os seus anões não pertencem à tradição humanística que fez a glória da cultura ocidental, mas a uma corrente pedagógica que vê o aluno como um robot e o professor como uma máquina registadora. O Português não é a sua pátria.

Maria Filomena Mónica/Público

Docentes colocados nos agrupamentos

Os professores vão passar a ser colocados nos agrupamentos e não por Quadros de Zona Pedagógica. O Ministério da Educação pretende acabar, "progressivamente", com este tipo de organização a partir do próximo concurso, em Janeiro.

Esta quinta-feira, numa conversa com jornalistas, na 5 de Outubro, o secretário de Estado da Educação confirmou que os professores vão ficar colocados por quatro anos a partir do próximo concurso, que vai realizar-se em Janeiro.

Cerca de 33 mil docentes, estimou Valter Lemos, pertencem aos Quadros de Zona Pedagógica (QZP) e, por isso, podem ser colocados numa escola da "sua zona". O objectivo do Ministério, explicou, é que os professores passem a ficar afectos aos agrupamentos criando um corpo docente vinculado às escolas ainda mais estável e permanente, defendeu. "Prevemos que os QZP fiquem extintos com este concurso mas alguns grupos de docentes podem não ter lugar" nos agrupamentos onde desejam. Daí que a extinção seja progressiva, explicou Valter Lemos, sublinhando que os professores que não conseguirem lugar "mantém os direitos" que têm por pertencerem ao QZP.

"Até final do ano civil", todos os técnicos dos Centros Novas Oportunidades com recibos verdes regularizarão a sua situação, garantiu Valter Lemos. José Sócrates e Teixeira dos Santos já autorizaram o descongestionamento de 1588 admissões, "para celebração de contratos a termo".

Primeiro-ministro e ministro das Finanças também já assinaram o despacho que permite o descongelamento de 1596 vagas, para contratos por tempo indeterminado. Teixeira dos Santos deu o aval à renovação de sete mil contratos de assistentes operacionais e poderá, ainda descongelar mais 1600 lugares para os ex-auxiliares de acção educativa que terminam contrato a 31 de Agosto.

Valter Lemos chamou ainda a atenção para a publicação dos despachos que prevêem a profissionalização dos docentes do Ensino Artístico e do ensino privado e cooperativo. As regras são idênticas às aplicadas aos restantes professores: ficam dispensados da os que tiverem 45 anos e dez anos de serviço ou 15 anos de serviço.

Os restantes terão de fazer a qualificação até ao ano lectivo 2010/2011.

Carolina Michaëlis: Alunos envolvidos farão trabalho comunitário

Um aluno envolvidos no caso do vídeo da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, vai ter que cumprir trabalho comunitário num corpo de bombeiros e outro prestará idêntico serviço numa esquadra de polícia, afirmou hoje fonte conhecedora do processo.
Ana Espírito Santo, advogada da professora molestada pela aluna a quem tentou tirar o telemóvel, disse hoje que o jovem R., já com idade para responsabilização criminal (16 anos), que terá impedido outros colegas de socorrer a docente, cumprirá 40 horas de trabalho comunitário num corpo de bombeiros.

Por proposta do Ministério Público, o seu processo fica suspenso por seis meses.

Já RF., aluno menor que filmou o incidente, prestará 20 horas de serviço comunitário junto de uma instalação policial.

A advogada disse também que continua por definir a penalização a aplicar a P., a protagonista do incidente.

A jovem é ainda de menor idade, pelo que o seu processo corre no Tribunal de Menores e Família de Matosinhos.

Logo após o incidente, a aluna foi transferida para outra escola.

A professora da Escola Secundária Carolina Michaëlis alegadamente molestada pela aluna formalizou em Janeiro uma queixa judicial contra a alegada agressora e duas contra os colegas de turma.

Diário Digital / Lusa

Escola investiga indisciplina


Uma turma do 8º ano da escola 2/3 Gomes Teixeira, no Porto, está a ser investigada por actos de indisciplina. O caso remonta ao fim de Maio quando três alunos recusaram a ordem da professora de Educação Visual para sair da sala de aula. Já antes a docente tinha exigido que mudassem de lugar, o que também não foi cumprido.




"Houve uma situação de indisciplina", disse ao CM a presidente do Conselho Executivo, Manuela Pinto, desvalorizando o caso. Acrescentou que a professora saiu da sala face à insubordinação dos jovens e que a aula continuou com outro professor.

Os alunos já reconheceram o erro, mas o inquérito prossegue. Caso se prove a culpa dos estudantes, estes terão de cumprir um conjunto de medidas de integração, que passa por limpar e fazer pequenas alterações na escola.

CM

quinta-feira, 3 de julho de 2008

ME anuncia vinculação professores aos quadros dos Agrupamentos

O ministério da Educação (ME) anunciou hoje que os candidatos no próximo concurso de professores vão integrar os quadros dos Agrupamentos em que forem colocados, uma medida que pretende estabilizar os docentes na mesma escola.
Numa conferência de imprensa, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, realçou que o diploma que estabelece as regras do próximo concurso de professores, que fixa os docentes à mesma escola durante quatro anos, a partir do próximo mês de Janeiro, «prevê a possibilidade de os professores dos Quadros de Zona Pedagógica (QZP) integrarem os quadros de agrupamentos onde estão colocados».

Valter Lemos destacou que «a tendência é para o desaparecimento dos quadros zona e vincular os professores às escolas onde estão colocados».

Actualmente são cerca de 33 mil os professores que estão nos Quadros de Zona Pedagógica.

«Os QZP manter-se-ão para aqueles professores que não obtenham logo colocação, até à sua integração completa nos agrupamentos», disse, salientando que «enquanto não obtiverem lugar manterão os direitos que tinham no QZP».

O governante adiantou que a expectativa do ministério «é que mais de 2/3 ou 3/4 dos professores venham a obter lugar nos quadros de agrupamento» já nesta fase.

«Pela primeira vez os lugares que vão a concurso correspondem com rigor com àquelas que são as vagas de horários efectivos no agrupamentos escolares», encerrando «tanto quanto possível o ciclo de contratados adicionais pelas escolas», salientou.

Entre as medidas para a estabilização do pessoal docente, o governante realçou que no próximo ano os professores do particular e cooperativo e do ensino artístico (escolas de música e dança) poderão aceder à profissionalização nas mesmas condições dadas aos docentes do ensino público, sendo dispensados de profissionalização os docentes com mais de 45 anos de idade e 10 anos de serviço, uma medida que beneficiará cerca de 250 pessoas.

«Estes professores não tinham acesso à profissionalização e não ter acesso à profissionalização significa não ter acesso à carreira docente», disse, realçando que está a ser preparado um novo diploma para os professores de escolas de artes visuais que permite que os docentes do ensino artístico especializado com anos de serviço possam vir a ser integrados nos quadros das suas escolas definitivamente, permitindo a estabilização de professores «que durante anos sempre foram aceites no pressuposto de contratos temporários».

No que respeita ao pessoal não docente, Valter Lemos destacou a possibilidade de 1.600 dos contratados a prazo que terminava os seus contratos a termo a 31 de Agosto ficarem vinculados ao quadro, em concursos que serão abertos já nos próximos dias junto das escolas.

O secretário de Estado salientou ainda que estão já autorizadas para o próximo ano as renovações dos contratos de sete mil assistentes administrativos e auxiliares de acção educativa que tinham sido contratados desde 2002/03 em contratos a termo certo.

Entre as medidas do Governo nesta área, realçou também que «estão abertos concursos para 775 lugares de chefe de serviço de administração escolar, situação que aguardava no ME há anos» em todo o país, ainda um despacho recente que desbloqueia 1.596 vagas para assistentes técnicos e assistentes operacionais e o concurso a decorrer para 1.400 técnicos de Centros de Novas Oportunidades (CNO) actualmente a recibo verde, de forma que «até ao final do ano deixarão de existir pessoas a recibos verdes nos CNO».

«As escolas têm ordens para até ao fim do ano escolar procederem à reclassificação profissional de todo o pessoal não docente que adquiriu novas competências e habilitações nos últimos anos», disse ainda.

Diário Digital / Lusa

Autarquias vão gerir escolas a partir de Setembro

O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, afirmou hoje que as autarquias podem assumir a gestão das suas escolas a partir de Setembro segundo contratos defenidos caso a caso, mas nem todas estão preparadas para estas novas competências.
«Nem todas as autarquias estão em condições de assegurar esta gestão em termos imediatos e o objectivo quer para as autarquias e para o Ministério da Educação (ME) é que a transferência se faça em condições de conseguir melhorias de trabalho e de resultado«, disse Valter Lemos, referindo que a transferência de competências na gestão das escolas para as autarquias está apenas a aguardar publicação de um decreto-lei «nos próximos dias«.

«Há autarquias que já mostraram a sua disponibilidade e já estão prontas para assumirem essa transferência a partir de 01 de Setembro, outras a partir de Janeiro, nomeadamente autarquias um pouco maiores, que têm condições, mas pretendem reorganizar-se, e haverá outras autarquias que, no meu ponto de vista, nem em Janeiro terão condições«, disse o secretário de Estado, considerando que estas últimas «não serão muitas«.

Segundo Valter Lemos, «o decreto-lei estabelece as áreas e a forma como a transferência deve a ser feita, mas não estabelece uma transferência universal para todas as autarquias ao mesmo tempo«, pelo que a negociação com as autarquias está a ser feita caso a caso.

Valter Lemos assegurou que os encargos financeiros com pessoal docente e não docente serão no mesmo valor que actualmente e garantiu que «não será transferido nenhum funcionário para as autarquias sem o correspondente valor financeiro«.

«Estão neste momento asseguradas todas as expectativas de carreira e direitos de segurança social e assistência na saúde destas pessoas, que mantém direitos de concurso na Administração Central«, garantiu, explicando que «quando uma autarquia receber o pessoal nos seus quadros, receberá rigorosamente os encargos financeiros que esse pessoal trará, quer em comparticipação directa, como o salário, quer em comparticipação indirecta, com a segirança social, despesas de saúde, etc.«.

«A transferência de pessoal não é para poupar dinheiro, mas no pressuposto de que ganharemos eficiência com isso e que isso trará melhorias para as escolas e para o trabalho educativo«, acrescentou.

Segundo o secretário de Estado, esta transferência é inevitável. «Não percebo como é que uma autarquia explicaria aos seus eleitores não querer cuidar das suas escolas, das suas crianças«, afirmou.

Diário Digital / Lusa

Comissão Europeia quer investir na melhoria da qualidade do ensino dos 27

A Comissão Europeia quer que os sistemas escolares dos Estados-membros se adequem mais às necessidades dos alunos, pelo que é necessário melhorar a qualidade do ensino. Na comunicação "Melhorar as Competências para o Século XXI: Uma Agenda para a Cooperação Europeia nas Escolas", Bruxelas propõe três áreas de intervenção, a primeira das quais diz respeito à necessidade de a escola "garantir uma aprendizagem de alta qualidade a todos os estudantes".

A generalização do ensino pré-escolar, a redução do abandono escolar precoce e a melhoria do apoio dado nas escolas oficiais aos alunos com necessidades especiais estão entre os caminhos apontados pela Comissão Europeia. Por outro lado, Bruxelas que "dar a todos os alunos as competências de que necessitam para a vida".

Neste sentido, a comunicação aponta a necessidade de "melhorar os níveis de leitura, escrita e cálculo, reforçar as competências 'aprender a aprender' e modernizar os currículos, os materiais didácticos, a formação dos professores e os métodos de avaliação em conformidade".

A Comissão sente também a necessidade de "melhorar a qualidade do pessoal docente e não docente", nomeadamente através da formação e da garantia de um "recrutamento de professores mais eficaz". Para a Comissão Europeia, "o ensino escolar é cada vez mais considerado um elemento essencial para garantir o desenvolvimento dos Estados-membros e alcançar os objectivos da Estratégia de Lisboa para o Crescimento e o Emprego."

Segundo dados de Bruxelas, actualmente, 24,1 por cento dos jovens (17,6 por cento de raparigas e 30,4% de rapazes) da União Europeia têm um desempenho fraco em literacia.

publico

Educação inaugura galeria para lembrar os seus quase 100 ministros

Foi em 1870 que foi criado o Ministério dos Negócios da Instrução Pública. Em 138 anos de história, quase uma centena de ministros (93 até agora) foram titulares da pasta da Educação. Os retratos de todos estão desde hoje expostos no átrio do Ministério da Educação (ME), na 5 de Outubro, em Lisboa, numa espécie de reconhecimento aos que com “saber, esforço e sofrimento ajudam a construir o futuro deste país”, justificou a actual ministra, Maria de Lurdes Rodrigues

A inauguração da “galeria dos ministros da Educação” realizou-se hoje e justifica-se ainda mais “num país que nem sempre é grato, que nem sempre tem boa memória e que é pessimista”, declarou Maria de Lurdes Rodrigues, num átrio cheio de ex-titulares da pasta e ex-secretários de Estado; o ambiente da reunião, com tantos abraços, saudades e recordações, fazia lembrar uma reunião de antigos alunos.

Coube a Veiga Simão (1970-74) descerrar os panos que cobriam os painéis, felicitar a ministra pela ideia simbólica que valoriza “o amor à pátria e a confiança no futuro” e desejar que o retrato de Maria de Lurdes Rodrigues só venha a integrar a galeria em 2009, no final do seu mandato.

Se assim for, Rodrigues entrará para a história da democracia como a ministra que mais tempo se manteve à frente da pasta. Dos 25 ministros que por lá passaram desde o 25 de Abril, só dois – Roberto Carneiro (1987-91) e Marçal Grilo (1995-99) – cumpriram o mandato. E será com “orgulho” que figurará na galeria onde estão outros governantes que não aguentaram mais do que uns meses, como foi o caso da sua antecessora, Maria do Carmo Seabra (2004-05).

Livro de experiências

Numa pasta particularmente difícil, que vive sob o escrutínio de milhões de pais, alunos e professores, são vários os governantes que descrevem como muito positivos os anos vividos no ME. Esses testemunhos estão compilados no livro “1962-2005, Quatro décadas de Educação”, também apresentado hoje, e que sintetiza as medidas de política educativa tomadas por cada um.

“Estive em quatro ministérios e o da Educação foi indiscutivelmente o mais gratificante”, recorda Guilherme d’Oliveira Martins (1999-2000), actual presidente do Tribunal de Contas. “O contacto permanente com as escolas, os professores, os alunos e a comunidade educativa é uma coisa que nos enriquece. Aprendi a conhecer melhor o país ao longo dos cinco anos que estive na Educação”, diz o ex-ministro, que assume a expansão da rede do pré-escolar como a medida mais estrutural e importante do seu mandato. Marçal Grilo, que manifestou o “gosto” que sempre sentia ao visitar as escolas, afirma que de todos os cargos que exerceu, foi à pasta da Educação que mais se dedicou.

Mas fica também a “frustração de não se conseguir fazer mais do que se fez”, lembra David Justino (2002-04), ministro da Educação de Durão Barroso e actual assessor do Presidente da República para os assuntos sociais: “O mais importante é conseguir superar este ambiente que se vive há muitos anos, de uma luta constante, como se a educação fosse um campo de batalha. Enquanto não se identificar um conjunto de políticas que possa unir as pessoas em vez de dividir, torna-se muito penoso o exercício do cargo.”

Ensino Especial: Alunos surdos poderão optar por escola oralista ou ensino bilingue

Porto, 03 Jul (Lusa) - Os encarregados de educação de crianças surdas poderão optar, já no próximo ano lectivo, se querem os seus filhos numa escola oralista ou num estabelecimento de ensino bilingue, cuja primeira língua será a gestual, anunciou hoje fonte oficial.

Segundo Filomena Pereira, directora de Serviços da Educação Especial do Ministério da Educação (ME), agora os "jovens surdos e as suas famílias podem optar entre seguirem o ensino oralista, frequentando a escola que entendam, da sua área de residência, ou então o ensino bilingue, que implica a organização de turmas com alunos surdos".

"Nunca como até aqui os alunos e as suas famílias puderam fazer as opções relativamente à forma como querem ser educados", frisou Filomena Pereira.

A responsável adiantou que, actualmente, o ME "está a trabalhar no sentido de organizar uma rede de escolas de referência ao longo do país" para o ensino bilingue.

Esta rede "está a ser estudada em função do número de alunos surdos e das opções que estão a ser tomadas pelos pais" das crianças portadoras desta deficiência.

"Os alunos poderão frequentar turmas de ouvintes ou turmas de surdos, conforme a sua opção", sustentou, garantindo que a escolha dos pais será "criteriosamente respeitada" e que as escolas de referência, "escolas-modelo para ensino bilingue", serão espalhadas por todo o país em função do número de alunos existente nas várias localidades.

Para que seja possível a frequência numa escola com ensino bilingue, o ME está já a formar uma centena de profissionais surdos.

Filomena Pereira realçou a importância desta formação, explicando que "a língua gestual como primeira língua tem que ser ministrada por uma pessoa que a tenha como língua materna".

Considerando esta opção "um grande salto qualitativo", a responsável referiu que a rede de escolas de referência será "muito brevemente" disponibilizada nos sites da Direcção Geral de Ensino Especial e das direcções regionais de educação.

Filomena Pereira disse que actualmente existem 878 alunos surdos desde o pré-escolar até ao secundário, sendo que 71 por cento destes frequenta a escolaridade obrigatória.

A directora falava aos jornalistas no âmbito da conferência internacional a decorrer hoje no Porto sobre o "Projecto Spread The Sign".

Este é um projecto-piloto financiado pelo Fundo Social Europeu, que conta com o apoio de seis equipas europeias, constituídas por surdos e ouvintes da Suécia, Espanha, Lituânia, República Checa, Reino Unido e Portugal.

O projecto teve como objectivo principal a construção de um dicionário multilingue para surdos, digital, on-line, que visa promover o acesso dos surdos ao mercado de trabalho europeu.

Através do acesso a este instrumento, que está disponível em www.spreadthesign.com, os surdos têm acesso a cerca de 2000 palavras e a um vídeo com a tradução em língua gestual.

O projecto, que está implementado desde Outubro de 2006, conta já com um "número imenso de utilizadores", afirmou a coordenadora nacional do "Spread The Sign", Orquídea Coelho.

A coordenadora salientou, contudo, que "o número de utilizadores portugueses é muito superior ao de todos os outros países juntos".

"Pensamos que a comunidade portuguesa sente que há um défice muito grande a esse nível. Enquanto nos outros países os surdos têm muitos apoios e escolas vocacionais, em Portugal apenas existe uma escola dessas, em Lisboa", justificou.

JAP.

Lusa/Fim