domingo, 27 de maio de 2012

Pais e professores antecipam catástrofe nos resultados do 9.º ano a Matemática

Os resultados do teste intermédio de Matemática do 9.º ano elaborado pelo Gabinete de Avaliação Educacional (Gave) confirmam as piores expectativas e estão a assustar alunos, pais e professores.

Escolas do topo do ranking registam quebras de 20 a 30% nas notas e no país há turmas com apenas uma ou duas positivas. A menos de um mês do exame nacional do 9.º, a presidente da Associação de Professores de Matemática (APM) – que denunciou a desadequação do teste ao programa –, diz que "o Ministério da Educação está a deitar a perder o esforço de promoção do gosto pela disciplina". Os pais falam em "catástrofe".

Ontem, Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Associações de Pais (Cnipe), enviou mensagens escritas, por telemóvel, para outros encarregados de educação de jovens do 9.º ano de diferentes pontos do país. Pouco depois, as respostas começavam a cair, "assustadoras": "Na turma da minha filha só houve uma positiva, se o exame for assim é uma catástrofe." "O meu filho teve a primeira negativa na sua vida escolar." "O melhor aluno da turma, de nível 5, teve 45%."

Há duas semanas, Elsa Barbosa, dirigente da APM, e Raquel Azevedo, da Associação Nacional de Professores (ANP), denunciaram a "completa desadequação" do único teste intermédio do 9.º ano ao programa que está a ser ministrado na maioria dos estabelecimentos de ensino.

Na altura, o Gave assegurou – e reiterou esta semana – que a prova está "inteiramente de acordo" com o anunciado em Janeiro, quando foi dito que aquela teria "por referência os conteúdos/objectivos comuns aos dois programas de Matemática que estão a ser aplicados no corrente ano lectivo". As professoras mantêm, contudo, que, se os conteúdos são comuns, a abordagem (que assenta nas capacidades transversais, de resolução de problemas, de raciocínio matemático e de comunicação matemática) corresponde ao programa que apenas está a ser aplicado em escolas-piloto.

O prazo para a entrega dos resultados das provas ao Gave termina dia 31, mas uma sondagem feita pelas direcções das duas associações de professores e por associações de pais confirma "as piores expectativas", diz Elsa Barbosa.

Aparentemente, a quebra é geral. "Se aqui os resultados foram menos bons, como terá sido noutros lados?", comenta Maria da Glória Cordeiro, directora de um dos colégios privados que encabeçam o ranking dos estabelecimentos com melhores notas a Matemática no ensino básico, o Rainha Santa Isabel, de Coimbra. Ali, as classificações "caíram cerca de 20%" em relação ao ano passado.

Uma situação semelhante à verificada na secundária José Falcão, que, em 2011, ocupou um lugar de destaque entre as escolas públicas com melhores resultados à disciplina. "Caímos dos 63% para uma média negativa. Se isto é uma amostra do exame, vai ser lindo...", lamenta o director Paulo Ferreira. Na Escola Secundária da Sé, na Guarda, que também está entre as que conseguiram melhores classificações no último exame, as quebras "são de mais de 20%", confirma a representante do grupo da disciplina, Filomena Paixão.

Nas escolas que não são "de topo", o panorama é "desolador", diz Elsa Barbosa. A responsável também coligiu resultados que, frisa, são apenas indicadores. Aponta como exemplo uma escola "com três turmas de 9.º ano e um total de 77 alunos, dos quais zero com níveis 5 e 4; quatro com nível 3; e 73 negativas, das quais 39 de nível 1".

Noutra, relata, as turmas que no ano passado tiveram média de 46,5% no teste intermédio do 8.º ano viram agora, no do 9.º, "a média baixar para 27,6% e a taxa de sucesso cair de 43% para 12,5%". Raquel Azevedo, da ANP, reuniu e tratou dados de 14 escolas do Litoral Norte, cada uma com cerca de 160 alunos no 9.º ano: numa escala de zero a 100, a média da classificação do teste intermédio é de 33%, concluiu.

"Só agora os encarregados de educação começam a aperceber-se da dimensão do problema", explica Albino Almeida, dirigente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). "Quando uma criança aparece com uma negativa, alguns de nós pensamos que ela não estudou o suficiente. Depois percebemos que aconteceu a toda a turma e, finalmente, o desastre é nacional. Mas o que é que se passa? Como é que é possível que depois do enorme investimento feito no ensino da Matemática isto aconteça?", questiona Rui Martins.O responsável da Cnipe sublinha o desalento dos alunos e dos pais. Já Albino Almeida antevê "o completo descalabro nos exames".

Numa altura em que o exame de Matemática, marcado para dia 21 de Junho, já estará feito, a APM destaca, num parecer sobre o teste, os efeitos deste tipo de situação: "Cria um sentimento de incapacidade perante a disciplina e um desânimo que em nada contribuem para a melhoria das aprendizagens dos alunos".

O Ministério da Educação reiterou, através do gabinete de imprensa, que, "em caso de acentuada disparidade" entre a classificação interna e a nota dos testes intermédios, as escolas devem "privilegiar apenas uma cuidada análise dos resultados por item, com os alunos, identificando razões dos possíveis insucessos e ajudando-os a superar as suas dificuldades".

O uso das notas do intermédio de Matemática – que em muitas escolas está previsto desde o início do ano lectivo – tem sido discutido por professores e pais, dada a quebra generalizada dos resultados.

"É compreensível que um docente que considera o teste desadequado ao que ensinou não valorize o resultado, mesmo que tal estivesse previsto", defende a presidente Elsa Barbosa.

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