Do "scriptorium" do Mosteiro do Lorvão saiu em 1189 este manuscrito, talvez a primeira obra-prima da arte portuguesa. Mais de oitocentos anos depois, o "Apocalipse do Lorvão" foi considerado pela UNESCO um dos mais belos documentos da civilização medieval ocidental. Uma valiosa raridade que marca a arte românica e a história da iluminura em Portugal.
Fundado num lugar ermo, o Mosteiro do Lorvão era, no século XII, famoso pela sua biblioteca e pela produção de obras minuciosamente executadas na sua oficina ou scriptorium. Mas de tudo o que até aí fora realizado pela pequena comunidade de monges copistas, três manuscritos destacavam-se pela beleza das iluminuras e pela força da mensagem religiosa: “O Comentário de Santo Agostinho aos Peixes”, “O Livro das Aves” e este “Apocalipse do Lorvão”, texto bíblico atribuído a João Evangelista e que em 2015 foi inscrito no registo de Memória do Mundo pela UNESCO.
Se a leitura em gótico primitivo é inacessível ao comum dos mortais, as fantásticas imagens que decoram as páginas em pergaminho têm em si a simbologia e a força para nos prenderem à mensagem do último livro do Novo Testamento. Figuras humanas, animais e outros elementos decorativos, geométricos e abstratos, misturam-se em cenas narrativas que clarificam o que ali vem escrito. Como foi já dito, o valor deste códice “está principalmente nas suas bárbaras iluminuras, onde se encontram muitos espécimes autênticos de trajos, alfaias, arquitetura do século XII, raros em Portugal”.
Depositado no arquivo nacional da Torre do Tombo por iniciativa do historiador Alexandre Herculano, o “Apocalipse do Lorvão” marca, com as suas pinturas, a arte românica portuguesa. Algumas dessas raras ilustrações são mostradas e explicadas neste vídeo por Maria Adelaide Miranda, a especialista portuguesa em iluminura.
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