“Quando vou ao restaurante, demoro imenso a escolher o que vou comer. Não consigo fazer de outra maneira, mas não tenho a certeza de que essa deliberação me permita desfrutar mais da refeição do que se tivesse escolhido outro prato.” Foi com este exemplo da sua vida quotidiana que Zach Mainen, director do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, em Lisboa, explicou os resultados do trabalho que publicou online a revista Neuron.
O estudo foi liderado por este neurocientista norte-americano no Laboratório de Cold Spring Harbor, nos EUA, antes de ele ter vindo viver para Portugal. Entretanto, já foram obtidos mais resultados cá e outros artigos foram ou deverão ser submetidos para publicação. Mas aquele foi o ponto de partida.
“Muitas vezes, se demorarmos mais tempo, conseguimos melhorar o nosso desempenho”, explica Mainen. Mas há limites: mesmo num exame escolar, após várias horas, isso já não é possível. E, muitas vezes, a melhor decisão pode também consistir em optar sem pensar, intuitivamente. É essa diferença que os cientistas querem elucidar: “Estamos interessados em saber por que algumas decisões parecem beneficiar da atribuição de tempo e outras não; por que é que algumas decisões exigem mais tempo e outras menos. É algo que tem sido pouco estudado.”
Para o fazer, submeteram ratos a tarefas perceptuais simples de discriminação de cheiros. E mostraram que, uma vez treinados, os animais demoravam, quando muito, 300 milissegundos a decidir. E mais: mesmo que os obrigassem a retardar a decisão — ou que reduzissem a água que recebiam por cada resposta certa quando decidiam demasiado depressa (como quem diz “atenção, pensem bem antes de responder!”) —, o desempenho dos ratos não era melhor do que quando apenas dispunham de umas centenas de milissegundos.
O que pareceu funcionar melhor nestas experiências foram as decisões “intuitivas”, os palpites, e não as decisões ponderadas, pensadas. “Os palpites funcionam como uma espécie de processo de reconhecimento de padrões que pode ser realizado muito depressa pelo cérebro”, salienta Mainen. “Pensamos que, quando os animais se tornam peritos na tarefa, deliberarem torna-se supérfluo.”
O mesmo acontece, especula Mainen, nos humanos. “A questão de saber se a deliberação acrescenta alguma coisa permanece em aberto”, diz. E exemplifica: há pessoas que são muito boas a ler expressões faciais para detectar suspeitos. Mas quando se tornam exímios nisso, deixam de conseguir analisar realmente o seu processo de decisão e passam a funcionar só com base em impressões, em informação sensorial. “Se continuassem a olhar para um rosto durante uma hora isso não adiantaria nada”, diz Mainen. “A única coisa que os poderia ajudar era terem mais informação.”
O derradeiro objectivo é saber o que se passa no cérebro durante as decisões-relâmpago — e se os circuitos e mecanismos das decisões rápidas são diferentes dos que lidam com decisões mais lentas. “Os processos de decisão estão na base de tudo o que fazemos”, diz Mainen. “Temos de perceber como funcionam.”
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