Uma anedota destinada a crianças que compara o professor a uma vaca está a causar mal-estar junto da classe e até já levou docentes a queixarem-se à editora Civilização, responsável pelo livro infantil onde foi publicada (ver imagem). Os professores entendem que a piada surge na pior altura, precisamente quando sucedem casos de ataques de alunos à sua autoridade.
A editora já anunciou que vai retirar a anedota do livro 365 Piadas Novas, indicado para crianças a partir dos sete anos. "Recebemos duas ou três cartas de professores e como estamos a fazer uma nova impressão decidimos retirar essa anedota. Por isso, na nova edição já não aparece", adiantou ao DN a directora editorial da Civilização, Simona Cattabiani.
No entanto, este é um episódio que os professores dizem ser lamentável. "Da nossa parte só posso manifestar repúdio por essa piada", refere João Dias da Silva, dirigente da Federação Nacional da Educação (FNE). Já o professor Ramiro Marques, que foi o primeiro a denunciar publicamente o caso no seu blogue ProfBlog, vê a publicação da anedota como "uma falha de supervisão da editora". Apesar de desvalorizar o incidente, o professor admite que "a situação tem a sua gravidade". Até porque "há muitos alunos que chamam vacas às professoras. E esse é que é o problema", sublinha Ramiro Marques.
A intenção do autor é algo que os docentes querem ver esclarecido. O líder do Movimento Mobilização e Unidade dos Professores (MUP), Ílidio Trindade, defende que "é preciso saber se é pura invenção ou se o autor pretende ironicamente demonstrar o que será a forma como são vistos os professores pela sociedade". De qualquer modo, Ílidio Trindade entende que esta anedota "é uma vergonha".
Para Ramiro Marques, a anedota é levada ainda mais a sério devido às circunstâncias. "Veio numa altura má, porque os professores lidam com injúrias todos os dias e não conseguem travá-las. Os alunos desrespeitam-nos e os pais depois ainda os defendem", explica. O docente acrescenta que se o livro tivesse saído há seis anos ninguém ia levar a mal.
O autor do blogue conta que foram colegas da escola que lhe mostraram o livro com a anedota. Na sua opinião, este tipo de situações só acontece porque em tempos responsáveis, como secretários de Estado e directores regionais da Educação, puseram em causa a imagem dos professores (ver caixa). E claro que isto se reflecte no bem-estar e na motivação dos professores, alerta Ramiro Marques.
Quanto ao impacto que esta anedota pode ter nas crianças, o psicólogo Jorge Gravanita diz que cabe aos pais desvalorizar a situação. "É uma piada de mau gosto, mas os pais devem explicar o seu sentido", esclarece.
O livro está na 4.ª edição, o que significa que "já vendeu bastante", adianta Simona Cattabiani, da Civilização, que garante: "Não pensámos que pudesse ser ofensivo. A pensar assim todas as anedotas podiam ser entendidas como ofensivas."
DN
1 comentário:
Quando se pensa que já ouvimos de tudo surge mais uma. Já é superior ao poder editorial, é ao nível da boa educação e bom senso. Perderam-se estes valores pelo caminho. Querem que os professores sejam pais, médicos, assistentes sociais, professores de ensino especial, psicólogos, tudo menos professores transmissores de conhecimento e facilitadores de aprendizagens.
Além de planearmos as aulas didacticamente e lúdicas o suficiente para os meninos não terem dificuldades e se sentirem frustados, temos de ter estratégias diferentes para ensinar cada aluno porque se em 20 alunos, a dois deles não captamos a sua atenção é ineficiência é nossa. Porque se nos agridem verbal ou fisicamente é porque deixamos ou gostamos e o rol (de situações "caricatas") continua..
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