"Empty Space" é o título do primeiro álbum a solo deste músico e intérprete que, após vários anos de imigração nos Estados Unidos, resolveu 'regressar' à terra de origem em meados dos anos oitenta. A vinda deste Luís Bettencourt, (não confundir com o músico com o mesmo nome que já por cá andava e que tem o nome ligado aos Rimanço, Construção e outras aventuras), veio agitar positivamente a cena musical dos Açores.
Músico de grandes recursos, com um ouvido invulgar, muito dotado quer a nível de execução quer a nível de concepção de arranjos e composição, e de uma intuição prodigiosa, Luís Gil Bettencourt redescobre nos Açores as raízes do som de uma terra que havia deixado mas que ele teimava em redescobrir. Se na América, sempre bem acompanhado por bons músicos norte-americanos e pelos irmãos Roberto e depois Nuno (Extreme), foi a opção pelo "progressive rock", o regresso a Portugal é primeiro um tempo de transição e depois de uma enorme abertura para novos trilhos sonoros.
Para o 'Luisinho da Praia da Vitória', "o puto dos Mini-Sombras que esgalhava na guitarra em cima de mesas de salas de bailes e assaltos de outros tempos", começava então um tempo bastante produtivo e inspirado que viria a enriquecer, de forma muito particular, o que de bom se fazia e faz nos Açores em termos de música.
Salientamos ainda aqui a escolha de Luís Gil Bettencourt para produzir os álbuns "A Vez Primeira" (GVIT/1992) do Grupo de Violas da Ilha Terceira e de "Monte Formoso" (1989) da Brigada Victor Jara. Digna de nota também é a participação dele no álbum "Traz-os-montes" (EMI-VC/1994) de Né Ladeiras e a participação com o tema "Nado Morto", um poema de Vitorino Nemésio, no álbum "Manifestasons" (ACERT/1996). Na interpretação deste tema Luís Gil Bettencourt é particularmente bem acompanhado ao piano pelo jorgense Paulo Borges - uma das grandes confirmações da mais jovem geração de músicos açorianos.
A comprovar a versatilidade que, ao longo dos anos, lhe tem permitido trabalhar em várias frentes, faz sentido mencionar aqui o belíssimo trabalho de composição no tema "Lavadeira", com letra do poeta popular emigrado João Teixeira de Medeiros. "Lavadeira" faz parte do álbum "Açores, Um Convite" (Henda/1985) de Victor Cruz. Este álbum de música ligeira foi produzido por Luís Gil Bettencourt e inclui várias canções do 'histórico' músico, homem de piano bar e 'chefe de orquestra' micaelense Teófilo Frazão.
Quanto a discografia própria, para além do celebrado "Empty Space", Luís Gil Bettencourt conta com os singles "If There´s a Reason/In-Out" e "Tema d' Amor", o LP "Bilingual" e o CD "Antero.
Quanto ao álbum "Bilingual", para além de ser de um ecletismo e 'naiveté' perfeitamente assumidos, não gozou das possibilidades financeiras que merecia para permitir melhores condições de produção.
No que diz respeito ao CD "Antero", é um trabalho difícil de classificar. É complexo escrever música para sonetos de Antero. O Luís assumiu o risco. Em termos de voz, o álbum tem momentos muito sentidos, em que esta parece sair do mais fundo das entranhas e projectar-se até pairar no espaço. Por outro lado, alguns dos registos de voz terão ido além do que seria preciso e nem sempre se entendem muito claramente as palavras de Antero. Achamos também que é um disco para se ir aprendendo a ouvir.
Falar de Luís Gil Bettencourt também é lembrar o papel que ele teve no nascimento do Festival Maré de Agosto e num sem número de outras iniciativas das quais teremos de destacar o Festival "Jazz - Sons de Uma Longa História" e o Festival Internacional do Ramo Grande/Praia da Vitória.
ANTÓNIO MELO SOUSA / ILHAS DO SOM
Luís Bettencourt participou no Festival da Canção de 1986 com "Cais de Encontro".
DISCOGRAFIA
Empty Space (LP, MVM, 1985)
If There´s a Reason/In-Out (Single)
Tema d' Amor (Single)
Bilingual (LP)
Antero (CD)
Colectâneas
Manifestasons (1996) - Nado Morto
NO RASTO DE ...
A par de vários contributos nas bandas sonoras das realizações televisivas de José Medeiros e nos arranjos e produção de uma parte significativa dos temas incluídos no CD "7 Anos de Música" (Disrego/1992), Luís Gil Bettencourt tem também o nome associado a uma nova forma de "sentir" o mais açoriano de todos os instrumentos. Com virtuosismo, muita técnica e sensibilidade, ora respeitando a tradição ora reinventado sem barreiras, Luís Gil Bettencourt tem provado repetidas vezes que um instrumento, tao aparentemente 'rudimentar' como a viola da terra, pode ser portador de sonoridades "nunca dantes dedilhadas". Aliás, é esta vocação pelos mistérios e segredos da música popular portuguesa que estão na base da persistente caminhada de Luís Gil Bettencourt à frente do grupo Cantinho da Terceira e, posteriormente, da "Balada do Atlântico". (AMS/IDS)
Notícia retirada daqui
Sem comentários:
Enviar um comentário