quarta-feira, 16 de junho de 2010

Quando os alunos são mais do que um número numa pauta


Quando se apresentam a exames para concluir o equivalente ao 12.º ano português, os alunos das escolas inglesas que pretendem prosseguir estudos no ensino superior já têm em seu poder uma resposta pessoal das faculdades a que se pretendem candidatar. Na verdade, já a têm vários meses antes dos exames, o que lhes permite também uma melhor gestão de recursos e esforços. David Smith, director do St. Julian´s School, a escola inglesa de Carcavelos, frisa ao PÚBLICO que este é um processo mais personalizado do que aquele que se pratica em Portugal. Em Janeiro - os exames realizam-se entre Abril e Junho - todos os alunos que pretendam prosseguir estudos apresentam uma candidatura on-line, onde descrevem em 600 palavras as razões da sua escolha de curso. Pelo seu lado, acrescenta David Smith, os directores das escolas destes alunos têm que os apresentar às faculdades que escolheram. Para o efeito, na mesma altura, têm que elaborar um perfil do aluno e do seu historial escolar, acrescentando nesta declaração as classificações que se prevê venham a ter nos exames.

Com base nas candidaturas dos alunos e nas apresentações dos di rectores, as faculdades transmitem depois aos candidatos as suas ofertas: ou seja, se eles poderão ser aceites e, se sim, em que condições, indicando o número de pontos que terão de obter nos exames para garantir a entrada. A escolaridade obrigatória no Reino Unido começa aos cinco anos e vai até aos 16 anos, equivalendo ao 10.º ano português. Para ser candidato ao ensino superior, um aluno tem que concluir mais dois anos de escolaridade e realizar os chamados A-Levels (Advanced Level General Certificate of Education). Para garantir a aprovação, e posterior entrada no superior, os alunos terão que obter um mínimo de 40 pontos, que corresponde à classificação E. A nota máxima, A*, vale 140 pontos. "Descobri, como aluna, que o segredo de passar num exame aqui não está na quantidade de matéria que se "memoriza", mas sim na maneira como se aprende a mesma, e, acima de tudo, na maneira como se usa o nosso sentido crítico e de análise pa- ra responder às questões", conta Leonor Silva de Mattos, que concluiu o ensino superior no Reino Unido há um par de anos e é agora professora na Universidade de Hertfordshire.

Antes dos A-Levels, os estudantes já tiveram de prestar provas nacionais no final dos 11 anos de escolaridade. Com estes exames, que têm um peso para a nota final que varia, segundo as disciplinas, entre 100 e 25 por cento, os alunos obtêm o chamado GSCE - General Certificate of Secondary Education. Mesmo que obtenham maus resultados é-lhes atribuído um certificado comprovando que acabaram a escolaridade obrigatória. É um diploma destinado ao mundo do trabalho e que não permite o prosseguimento dos estudos.

Na Finlândia, apresentado como modelo de excelência no ensino, a escolaridade obrigatória é dos sete aos 16 anos. Depois seguem-se, como cá, três anos de ensino secundário, embora os alunos possam completar este nível em menos tempo. "É bastante flexível. Não conta o tempo efectivo, mas sim o ritmo escolhido pelos estudantes", explica Katriina Pirnes, adida de Cultura e Comunicação na embaixada em Lisboa.

Privilegia-se a "autonomia dos alunos", acrescenta. Não existe uma divisão de turmas por ano, mas sim por disciplinas. Nestas existe uma divisão por cursos. Uns são obrigatórios e outros de escolha livre. Deste modo aproxima-se o ensino secundário dos moldes em que é ministrado o superior. O número mínimo de créditos para a conclusão do secundário é de 75.

Para concluir este nível os estudantes têm de realizar exames nacionais, que decorrem em duas épocas, na Primavera e no Outono. Há quatro provas obrigatórias, entre elas o chamado conjunto de estudos gerais que inclui História, Biologia, Física, Química, Religião (luterana ou ortodoxa), Ética, Filosofia, Psicologia, Estudos Sociais, Geografia e Educação de Saúde). Dependendo do exame, o estudante responde entre seis e oito perguntas.

No final do 12.º ano são atribuídos dois diplomas: um com a média dos três anos; outro só com a média dos exames nacionais, que são convertidas numa menção qualitativa em latim. Os estudantes que quiserem prosseguir estudos no superior terão que realizar ainda provas de admissão à faculdade. A Finlândia é um dos poucos países europeus que mantêm esta prerrogativa. Segundo Katriina Pirnes, as universidades insistirem que a selecção deve ser feita essencialmente no acesso e não durante os estudos.

Já em França, conta Estelle Valente, de 33 anos, o regime é o contrário. As faculdades mais próximas da área de residência dos alunos são obrigadas a garantir-lhes lugar desde que estes tenham uma média mínima de 10. "A selecção faz-se durante o curso e há muitos casos em que, no final do 1.º ano, mais de 50 por cento dos estudantes desistem", acrescenta. Estelle nasceu e estudou nos arredores de Paris e está há um mês em Lisboa, Interrompeu um douramento em Economia. Diz que, em França, o final do secundário - chamado baccalauréat - "é uma instituição". É o limiar fixado por muitos pais." Estão sempre a dizer: tens que ter o bac", conta. Os alunos são obrigados a realizar exames a todas as disciplinas, incluindo algumas em vias de extinção em Portugal, como a Filosofia, mas as provas e a ponderação das notas são diferentes segundo os ramos escolhidos.

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