O pai de um dos alunos de Louis Pasteur na Universidade de Lille, Monsieur Bigo, era um produtor de álcool de beterraba e debatia-se com um problema: o processo de fermentação da beterraba, por vezes, não corria bem e o sumo não se transformava em álcool, azedando. Isto provocava uma grave quebra na produção de álcool.
Embora não possuísse muitos conhecimentos sobre fermentação, decidiu estudar amostras do líquido em boas condições e do líquido azedo. Após a observação da primeira amostra, verificou existirem minúsculos glóbulos amarelados que ele suspeitou serem leveduras. Á medida que as leveduras se multiplicavam, alimentavam-se do sumo de beterraba, produzindo álcool e dióxido de carbono. Na amostra de líquido azedo verificou não existirem leveduras, apenas minúsculos bastonetes negros que se agitavam numa espécie de dança. Compreendeu, então, todo o processo: os bastonetes dominavam as leveduras, impedindo-as de produzir álcool – em vez disso, produziam ácido láctico.
Pasteur não compreendia ainda todo o processo, mas tinha acabado de dar o primeiro passo para a resolução de um mistério com mais de dez mil anos: as leveduras eram a causa da fermentação!
Os primeiros Anos...
Louis Pasteur nasceu a 27 de Dezembro de 1822 em Dole, França, na Rue des Tanneurs – a rua dos curtidores. Cada casa era uma fábrica de curtidores, e a casa de Pasteur não era excepção. Quando tinha pouco mais de três anos, a sua família mudou-se para a cidade de Arbois, onde montou uma fábrica de curtumes. Durante a sua infância, não mostrou qualquer especial interesse pela Ciência; os seus talentos pareciam concentrar-se especialmente no Desenho e na Pintura. Gostava particularmente de brincar com as 3 irmãs e pescar horas a fio...
Mas Pasteur tinha a grande ambição de ir para Paris, estudar na École Normale Supérieure e tornar-se professor. Esta experiência durou apenas 6 semanas, pois os laços que o ligavam à família eram demasiado fortes. Porém, alguns anos mais tarde, determinado a atingir o seu objectivo, regressou a Paris. Desta vez, Pasteur formou-se em Química e Física, em finais de 1843.
Estudo dos cristais
O que realmente encantou Pasteur foram os cristais; na sua época, sabia-se muito sobre o aspecto dos cristais, mas pouco sobre a sua constituição. Pasteur verificou que os cristais provocavam deflexões a feixes luminosos. Iniciou, então, um estudo meticuloso sobre dois compostos que actuam na formação de cristais: o ácido tartárico e os tartaratos. Chegou à conclusão que a estrutura e constituição de um cristal podiam ser conhecidas observando a acção do cristal sobre o feixe luminoso.
Em finais de 1848 aceitou o cargo de Professor de Química na Universidade de Estrasburgo. Aqui, conheceu Marie Laurent, filha do reitor da Universidade, por quem se apaixonou e pediu em casamento 15 dias depois de a conhecer. Esta aceitou a total absorção do seu marido pelo seu trabalho e dedicou a sua vida a apoiá-lo. Ela não era apenas uma simples dona de casa; também discutia o trabalho dele e estimulava o seu pensamento, o que a fez um dos seus melhores colaboradores científicos. Durante a estadia em Estrasburgo, nasceram 3 dos seus 5 filhos.
O interesse pelo estudo dos microrganismos
Em Setembro de 1854, Pasteur aceitou o cargo de Professor de Química na Universidade de Lille; apesar de ser muito jovem, levava o ensino a séio e por isso foi um êxito entre os alunos. Foi aqui que conheceu o Monsieur Bigo e que iniciaram as suas investigações sobre as leveduras. Mas, após a observação dos bastonetes negros no líquido azedo, surgiu outro problema a Pasteur: a observação dos mesmos tornava-se muito difícil, quando misturados na polpa de beterraba. Assim, desenvolveu um meio de cultura onde estes pudessem crescer e ser visualizados nitidamente. Em 1857, num relatório apresentado à Academia das Ciências de Paris, explicava como a fermentação era um processo vivo. Esse relatório provocou muita excitação na comunidade científica, destruindo outras teorias de cientistas de renome.
O trabalho de Pasteur sobre a fermentação continuou. Demonstrou que as leveduras causam a fermentação em muitas substâncias. Desenvolveu igualmente uma forma de evitar que o vinho, o vinagre e a cerveja se estragassem, destruindo pelo calor os micróbios nocivos – a Pasteurização.
A teoria dos germes
Nos finais de 1857, Pasteur foi convidado para Administrador e Director dos Estudos Científicos da École Normale Supérieure. Aqui, idealizou uma experiência para provar a teoria de que não existia geração espontânea entre os microrganismos. Encheu 2 grupos de balões de vidro com um caldo de levedura e selou as bocas dos mesmos. Num dos grupos, abriu as pontas dos balões, deixou entrar ar, e selou-os novamente. Colocou ambos os grupos de balões numa estufa. Os resultados foram bem esclarecedores. Nos frascos que manteve sempre selados, nada aparecera. Nos restantes, apareceram leveduras e outros fungos. Para demonstrar melhor a sua teoria, criou um balão, ajudado pelo Professor Balard, com um gargalo em forma de 'S' alongado, para baixo. O ar poderia passar, mas as poeiras seriam impelidas para baixo pela força da gravidade, não conseguindo atravessar as curvas. Ou seja, o ar entrava nos balões, mas a poeira e os micróbios ficavam presos no comprido gargalo curvo, mantendo os balões puros. Ainda hoje, mais de um século depois, os balões mantêm-se puros.
Continuando as investigações, provou que a quantidade de poeiras no ar varia com o local. Como exemplo, demonstrou existirem mais poeiras numa rua de Paris do que no cume de uma montanha!
Após a publicação deste trabalho, Joseph Lister, professor de cirurgia em Edimburgo, utilizou as ideias de Pasteur para controlar as infecções nos hospitais. A taxa de mortalidade pós-operatória era muito elevada e depois de implementadas regras de higiene e de desinfecção do material esta taxa baixou consideravelmente.
Infortúnio
No dia 19 de Outubro de 1868, quando Louis Pasteur acordou, não conseguia falar, nem sequer mexer-se, todo o seu lado esquerdo estava paralisado... Conseguiu recuperar a fala numa semana, mas o braço e a perna esquerda continuavam ainda paralisados; no entanto, tal não o impediu de continuar o seu trabalho! Contudo, não foi mais capaz de manejar sozinho os instrumentos científicos, obrigando-o a apoiar-se nos seus colaboradores.
A Imunologia e a Vacinação
Pasteur afirmara inúmeras vezes que algumas doenças eram provocadas por micróbios – Robert Koch provou-o, através do estudo do carbúnculo. Pasteur imaginou a doença como uma forma de luta pela existência, uma competição entre os micróbios e os tecidos que aqueles tentam atacar, desenvolvendo-se uma doença, o que levava o corpo a criar defesas. Foram, assim, dados os primeiros passos para o nascimento de uma nova Ciência – a Imunologia.
Em 1878, Pasteur começou a estudar o micróbio que causava a cólera nos galináceos. Fez uma cultura de micróbios e após a sua inoculação, verificou que os frangos morriam pouco tempo depois. Mas uma inoculação com uma cultura mais antiga provocou uma ligeira doença no frango, que depressa recuperou. Entusiasmado, Pasteur inoculou mais frangos com a cultura antiga e nenhum adoeceu. Concluiu, então, que os micróbios enfraquecidos da própria doença originavam o desenvolvimento de defesas nos frangos, a ponto de poderem combater a doença – chamou a este processo Vacinação.
Em 1885, Pasteur dedicou-se a criar uma vacina contra a raiva. Era uma doença terrível: a vitima ou morria de asfixia ou ficava paralítica. Conseguiu criar a vacina, testou-a em cães e teve resultados espantosos; mas não teve coragem de a testar em humanos mordidos por cães raivosos.
Nesse mesmo ano, Joseph Meister, de nove anos, apareceu no laboratório de Pasteur, por ter sido mordido, dois dias antes, por um cão raivoso. A vacina ainda não estava pronta para ser testada em humanos, mas perante a gravidade do caso, decidiu correr o risco. Os resultados foram óptimos – Joseph nunca desenvolveu raiva.
Os últimos anos...
Pasteur trabalhou até quase aos setenta anos. Aos 64, um outro ataque de paralisia impediu-o de continuar o trabalho experimental, mas nada o impedia de colaborar em investigações. Em Novembro de 1888, o Instituto Pasteur foi oficialmente inaugurado. Morreu em 28 de Setembro de 1895, aos 72 anos, rodeado pela família, colegas e estudantes.
Glória Almeida
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