Os 40.000 turistas e cientistas que estiveram na Antárctida em 2007 levaram consigo, e sem o saberem, sementes de plantas exóticas invasoras, ameaçando um dos ecossistemas mais intocados do planeta, revela um estudo científico.
“Quisemos avaliar os riscos para a Antárctida como um todo, descobrindo que espécies estão a ser levadas para lá, de onde são originárias e quais os locais onde mais provavelmente se vão fixar”, disse o coordenador do estudo internacional, Steven Chown, da Universidade Stellenbosch, na África do Sul.
O estudo, publicado na segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), revela que foram inquiridas 5600 pessoas, sobre os seus locais de origem e trajectos de viagem, de um total de 33.000 turistas e 7000 cientistas que estiveram na Antárctida em 2007.
Depois, os investigadores passaram em revista a bagagem e equipamento de 853 voluntários. No final do trabalho concluíram que, cada pessoa levava, em média, dez sementes na roupa, bagagem, bastões, calçado e equipamento. As equipas de cientistas tendem a levar mais espécies exóticas, mas a média baixa porque o número de turistas é muito mais elevado.
Os investigadores concluíram que metade das 2600 sementes recolhidas veio de outras regiões frias do planeta. “Isto significa que muitas destas plantas conseguem sobreviver às baixas temperaturas da Antárctida, o que é preocupante”, disse Steven Chown, em comunicado. De acordo com a Universidade de Stellenbosch, muitas das sementes pertencem a famílias de plantas que já são invasoras no Árctico, por exemplo.
Tendo em conta que “algumas zonas da Antárctida vão continuar a aquecer nos próximos 100 anos”, os investigadores acreditam que “é elevada a probabilidade de muitas espécies exóticas se estabelecerem e prosperarem lá”. As zonas mais ameaçadas são a Península da Antárctida, o Mar de Ross e as regiões costeiras da zona Este. “Com as alterações climáticas, estas zonas serão muito sensíveis porque será mais fácil para as plantas sobreviverem e fixarem-se nos locais onde o gelo recuou”, disse Chown.
Actualmente, várias espécies invasoras já se fixaram na Antárctida, como a gramínea Poa annua, em Portugal conhecida por relva-dos-caminhos.
“O problema das espécies invasoras é mundial mas particularmente delicado nas ilhas onde os ecossistemas são mais frágeis”, disse à agência AFP Marc Lebouvier, da Universidade de Rennes, França, e um dos autores do estudo. “O risco em ilhas como a Antárctida é de um desequilíbrio do ecossistema que se pode traduzir na substituição progressiva destas espécies de origem por espécies importadas que podem eliminar as plantas locais”, acrescentou.
As implicações deste estudo para a conservação dos ecossistemas da Antárctida serão debatidas no próximo encontro do Tratado da Antárctida, marcado para Junho na Austrália. O estudo fez parte do projecto do Ano Polar Internacional (2007-2008) “Aliens in Antarctica” e foi apoiado pelo Comité Científico para a Investigação na Antárctida (SCAR, sigla em inglês).
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