Autor dos programas de Matemática do ensino secundário, Jaime Carvalho e Silva assume funções a 1 de Janeiro, sendo o primeiro português eleito secretário-geral da maior associação mundial dedicada à educação da Matemática, que engloba 85 países.
“Suspeito que vai haver falta de professores de Matemática em Portugal e que isso se começará a sentir já este ano”, disse o docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em declarações à agência Lusa.
Na sua opinião, “há 20 anos que não há qualquer investimento na formação inicial dos professores de Matemática em Portugal”.
“Devia haver um forte investimento, os professores do ensino primário são generalistas, a partir do 2º Ciclo há formação específica e vão faltar professores de Matemática em todas as áreas”, prognosticou.
A par da qualidade da formação dos docentes, há que disponibilizar mais horas para o ensino da Matemática, “uma área considerada difícil, por ser uma disciplina acumulativa (aprendizagem implica solidificação de conhecimentos anteriores) e pelo carácter de abstracção que implica”, disse.
“Em Portugal temos poucas horas para aprender Matemática nas escolas, é preciso mais, mas infelizmente não tem havido, à semelhança de outros países, a sensibilidade necessária para dar mais espaço horário à Matemática”, criticou.
O Investigador de Análise e História e Metodologia da Matemática do Centro de Matemática da Universidade de Coimbra (CMUC) está consciente de que a questão “levanta o problema do rearranjo das disciplinas escolares”, mas considera que “entre o 5º e o 9º anos de escolaridade há uma multidão de disciplinas”.
Alguns dos problemas com que se depara a Matemática estão relacionados com a cultura e com a língua.
“A nível internacional, a língua franca é o inglês e todos os estudos são publicados em inglês, mas a maior parte dos professores de Matemática em Portugal não domina a língua”, sustentou.
Essa é uma das razões que leva o futuro secretário-geral da ICMI a querer organizar um congresso de Matemática dos países de língua portuguesa, dento de dois anos.
“Além da língua, há uma cultura comum e problemas associados a essa cultura, como o de se considerar que a formação científica não é importante e que conseguimos improvisar o que será necessário”, disse, ressalvando que essa corrente não é específica destes países.
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