Na segunda-feira, a ministra da Educação, Isabel Alçada, anunciou que o 3.º ciclo do ensino básico terá um novo currículo, já a partir do próximo ano lectivo. A carga horária é para manter, logo, a tutela tenciona mexer no número de disciplinas. O objectivo, precisou Alçada, é que os alunos tenham "mais tempo" para trabalhar cada disciplina. Haverá "menos dispersão", acrescentou.
A semana passada, no Conselho Nacional de Educação, a ministra avançou alguns pormenores: além das competências básicas na área da leitura, escrita, Matemática e Ciências, também as Tecnologias de Informação e Comunicação são consideradas essenciais.
Se, no 1.º ciclo, os alunos têm quatro áreas obrigatórias, quando chegam ao 3.º ciclo estas disparam para mais do triplo, com 14 disciplinas, que podem ser 15 com Educação Moral e Religiosa (facultativa). No secundário, nos cursos gerais, as disciplinas diminuem para quatro de formação geral e cinco de formação específica.
Com a pressão que existe sobre a Matemática e a Língua Portuguesa, "o que é natural é que se aumentasse a carga horária" destas duas disciplinas, defendem Arsélio Martins, presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), e Paulo Feytor Pinto, presidente da Associação de Professores de Português (APP). Se, por cá, os alunos têm dois blocos de 90 minutos semanais para cada uma das disciplinas, há países onde têm o dobro, aponta Arsélio Martins. "São esses que "competem" connosco nos estudos internacionais da OCDE", lembra Feytor Pinto.
Também os professores de Educação Física defendem que, em vez de duas horas semanais, os alunos deviam ter uma hora diária de actividade física. Para isso, vão pedir uma audiência a Isabel Alçada para "garantir, pelo menos, quatro tempos semanais", informa Marcos Onofre, do Conselho Nacional das Associações de Profissionais e Professores de Educação Física. "É o mínimo previsto pelas normas internacionais e é fundamental nestes escalões etários por causa da obesidade e outros problemas de saúde", justifica.
As línguas vivas vão perdendo terreno na organização curricular, lamenta Cristina Avelino, da Associação Portuguesa de Professores de Francês. Em conjunto, as duas línguas estrangeiras têm três blocos no 7.º ano, que são reduzidos em 45 minutos nos 8.º e 9.º anos. "Não sei onde é que se pode cortar, talvez nas transversais [áreas curriculares não-disciplinares]", sugere. Contudo, estas são importantes, sobretudo para os alunos que não têm apoios em casa ou fora da escola, acrescenta.
"É infame que só tenhamos hora e meia de aula por semana", reclama Alberto Gaspar, da Associação Portuguesa de Professores de Inglês, para quem as áreas não-disciplinares devem ser "abolidas" porque os seus conteúdos podem ser trabalhados em todas as outras. O que é preciso, sugere, é formação para que os professores saibam trabalhar essas áreas.
Para Augusto Barroso, da Sociedade Portuguesa de Física, os "cortes não devem ser feitos no essencial, mas no acessório". Estudo Acompanhado e Introdução às Tecnologias de Informação e Comunicação podem desaparecer, na opinião de Emília Sande Lemos, presidente da Associação de Professores de Geografia. Quanto a Área Projecto, pode ser leccionada só no 9.º ano, porque é importante para preparar os alunos para o mercado de trabalho. Sobre a Geografia, considera que esta não deve estar ligada à História, como acontece no 2.º ciclo, mas não a "escandaliza" que seja semestral.
Os presidentes da APM e da APP denunciam que muitas escolas usam as horas de Estudo Acompanhado para dar matéria de Matemática e Língua Portuguesa. No próximo ano há novos programas para as duas disciplinas e estes foram pensados para a actual carga horária, alertam os dois responsáveis. "Não sei se em nove meses vai ser possível fazer uma nova organização curricular", diz Feytor Pinto. É preciso ouvir os professores, pedem.
C.Manhã
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