Sou a favor da avaliação dos professores. Sou contra discursos que falam em dar mais qualidade ao ensino, sem dotar as escolas dos recursos necessários. Sou a favor das cotas para professor titular, sou contra um sistema de ensino em que a respectiva tutela é incapaz de respeitar e fazer respeitar os professores. Sou a favor da indignação da classe docente, sou contra os sindicatos que criticam antes de ouvir. Sou a favor de uma cultura de exigência no campo da educação, sou contra aqueles que defendem que os professores trabalham pouco e não se interessam dos alunos. E tenho (bons) exemplos para apresentar.
No mês de Outubro, reservei alguns dias para analisar jornais escolares, uma tarefa que resulta da minha integração na equipa do projecto "Público na Escola", coordenado por Eduardo Jorge Madureira. Os títulos a concurso são oriundos das ilhas e do continente; de grandes centros urbanos e de discretas vilas; dos sectores público e do privado; dos jardins-de-infância e do ensino secundário. São centenas e centenas de jornais que a equipa analisa e pondera numa escala valorativa onde quem fica nos três primeiros lugares de cada escalão recebe prémios de valor significativo. Todos nós procuráramos integrar, entre os premiados, o maior número possível de escolas. Porque percebemos o mérito que tais iniciativas têm. Porque sabemos que grande parte do trabalho se faz fora do tempo escolar e não tem qualquer tradução imediata na subida de escalão dos professores ou nas notas dos alunos. Porque entendemos que todos aqueles que resistem à passividade merecem ser distinguidos. Nem todas as escolas apresentam bons jornais. Muitas revelam possuir meios muito escassos. Mas, nos artigos que publicam, consegue-se sentir a dinâmica de determinadas comunidades escolares, muitas delas situadas bem longe daquelas que ocupam o "ranking" dos estabelecimentos de ensino com mais sucesso. Leio os jornais escolares e penso nas horas que os professores gastaram na preparação dos alinhamentos, na correcção dos artigos, na edição dos textos… Leio esses jornais e penso na aprendizagem que os estudantes fizeram com todas as experiências que relatam. Quem viu os professores a desfilar pelas ruas de Lisboa nas Marchas de Março e de Novembro dificilmente calculará o trabalho que muitos deles desenvolvem nas respectivas escolas.
No entanto, o caso que me chama mais atenção é o de um estudante de Guimarães que tem um tumor, em tratamento há mais de um ano. Sujeitando-se a sessões de quimioterapia ou radioterapia, esta criança vê-se impedida de ir à escola e a escola não consegue autorização superior para fazer deslocar docentes a casa deste aluno. Os professores poderiam cruzar os braços e esperar que a Direcção Regional de Educação do Norte agisse, mas, como a ajuda tarda em chegar, há docentes que vão, por meios próprios e fora do horário das aulas, a casa deste jovem. Para o incentivarem na aprendizagem. Para procurarem que ele não fique para trás em relação aos seus colegas. Penso que seria justo o Ministério da Educação salientar o bom exemplo desta escola, não fosse a tutela o grande agente em falta em todo este processo. Do Estado que segue ainda um modelo social, esperar-se-ia uma ajuda efectiva e uma presença afectiva, traduzida no apoio dado aos professores que ajudam esta criança. Dizem-me que há aqui uma indiferença grande da tutela. Como é possível? Como é possível o Ministério da Educação não se importar com esta criança? Poder-se-ia dizer que ninguém poderá agir, quando não conhece a situação. Não é esse o caso. Por isso, acho ainda mais revoltante toda esta situação. E é exactamente por também pensarem assim que um conjunto de professores não abandona este menor. Ao contrário daquilo que parece fazer o Ministério da Educação.
Nas marchas dos professores de Lisboa, feitas em Março e em Novembro, viram-se cartazes e palavras de ordem contra a ministra. Não sei se todos os professores que se deslocaram a Lisboa são exemplos de bons profissionais. Sei que conheço experiências muito positivas em curso nas nossas escolas. E gostaria que isso não se perdesse no meio de um clima de desmotivação que parece estar a tomar conta da classe docente.
No mês de Outubro, reservei alguns dias para analisar jornais escolares, uma tarefa que resulta da minha integração na equipa do projecto "Público na Escola", coordenado por Eduardo Jorge Madureira. Os títulos a concurso são oriundos das ilhas e do continente; de grandes centros urbanos e de discretas vilas; dos sectores público e do privado; dos jardins-de-infância e do ensino secundário. São centenas e centenas de jornais que a equipa analisa e pondera numa escala valorativa onde quem fica nos três primeiros lugares de cada escalão recebe prémios de valor significativo. Todos nós procuráramos integrar, entre os premiados, o maior número possível de escolas. Porque percebemos o mérito que tais iniciativas têm. Porque sabemos que grande parte do trabalho se faz fora do tempo escolar e não tem qualquer tradução imediata na subida de escalão dos professores ou nas notas dos alunos. Porque entendemos que todos aqueles que resistem à passividade merecem ser distinguidos. Nem todas as escolas apresentam bons jornais. Muitas revelam possuir meios muito escassos. Mas, nos artigos que publicam, consegue-se sentir a dinâmica de determinadas comunidades escolares, muitas delas situadas bem longe daquelas que ocupam o "ranking" dos estabelecimentos de ensino com mais sucesso. Leio os jornais escolares e penso nas horas que os professores gastaram na preparação dos alinhamentos, na correcção dos artigos, na edição dos textos… Leio esses jornais e penso na aprendizagem que os estudantes fizeram com todas as experiências que relatam. Quem viu os professores a desfilar pelas ruas de Lisboa nas Marchas de Março e de Novembro dificilmente calculará o trabalho que muitos deles desenvolvem nas respectivas escolas.
No entanto, o caso que me chama mais atenção é o de um estudante de Guimarães que tem um tumor, em tratamento há mais de um ano. Sujeitando-se a sessões de quimioterapia ou radioterapia, esta criança vê-se impedida de ir à escola e a escola não consegue autorização superior para fazer deslocar docentes a casa deste aluno. Os professores poderiam cruzar os braços e esperar que a Direcção Regional de Educação do Norte agisse, mas, como a ajuda tarda em chegar, há docentes que vão, por meios próprios e fora do horário das aulas, a casa deste jovem. Para o incentivarem na aprendizagem. Para procurarem que ele não fique para trás em relação aos seus colegas. Penso que seria justo o Ministério da Educação salientar o bom exemplo desta escola, não fosse a tutela o grande agente em falta em todo este processo. Do Estado que segue ainda um modelo social, esperar-se-ia uma ajuda efectiva e uma presença afectiva, traduzida no apoio dado aos professores que ajudam esta criança. Dizem-me que há aqui uma indiferença grande da tutela. Como é possível? Como é possível o Ministério da Educação não se importar com esta criança? Poder-se-ia dizer que ninguém poderá agir, quando não conhece a situação. Não é esse o caso. Por isso, acho ainda mais revoltante toda esta situação. E é exactamente por também pensarem assim que um conjunto de professores não abandona este menor. Ao contrário daquilo que parece fazer o Ministério da Educação.
Nas marchas dos professores de Lisboa, feitas em Março e em Novembro, viram-se cartazes e palavras de ordem contra a ministra. Não sei se todos os professores que se deslocaram a Lisboa são exemplos de bons profissionais. Sei que conheço experiências muito positivas em curso nas nossas escolas. E gostaria que isso não se perdesse no meio de um clima de desmotivação que parece estar a tomar conta da classe docente.
Felisbela Lopes; Jornal "a Página"
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