A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) defendeu hoje uma nova forma de organização da escola pública, que em vez de chumbar os alunos com dificuldades se preocupe mais com uma aprendizagem de qualidade.
"Este sistema de percursos educativos que temos não serve nem o desenvolvimento do país nem os alunos. Se olharmos para o que se faz noutros países, as crianças têm mais apoios desde que começam a apresentar dificuldades", frisou Ana Maria Bettencourt. A responsável do CNE participava na conferência de abertura da cerimónia comemorativa do 30º aniversário do Instituto Politécnico de Setúbal, perante duas centenas de pessoas, sobre "Democratização da educação e pedagogia: questões e desafios".
"Temos um sistema de ensino público que se democratizou muito, que garantiu o acesso das pessoas, a construção de escolas magníficas e bons professores, mas temos uma organização muito diferente da que existe noutros países da Europa e em alguns da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos], como o Canadá e a Austrália", começou por dizer. "Ao contrário do que acontece nesses países, onde a retenção de alunos é residual, em Portugal temos alunos de 14 anos desde o 1º até ao 9º anos de escolaridade, com duplas e triplas retenções, alguns dos quais vão ficando pelo caminho", comparou.
A responsável do CNE começou por fazer um balanço positivo do trabalho desenvolvido no sentido da democratização do ensino após o 25 de Abril de 1974, mas defendeu que há novos desafios, que passam fundamentalmente pela qualidade da aprendizagem na escola. Para a presidente do Conselho Nacional de Educação, se é certo que os alunos têm de trabalhar mais nas salas de aula, também a escola pública terá que lhes proporcionar mais apoios para ultrapassarem eventuais dificuldades.
Ana Maria Bettencourt lembrou que no ensino privado em Portugal há menos retenções do que no público, justamente porque os alunos têm mais apoios. No ensino público, "há alunos que arrastam dificuldades a Matemática de ano para ano, vão chumbando sempre", exemplificou, argumentando: "Diz-se que isto é exigência. Mas não é. Exigência é fazer com que eles aprendam desde o princípio."
Ana Maria Bettencourt defendeu, por isso, uma maior responsabilização da escola pública, que, disse, "não pode estar à espera da ajuda das famílias, até porque muitas não podem ajudar os filhos, porque não andaram na escola ou porque não têm dinheiro para pagar explicações".
"Temos de conhecer bem as dificuldades do aluno e ter apoios mais individualizados para as ultrapassar", reforçou Ana Maria Bettencourt, reafirmando a ideia de que "a escola pública terá de se bastar a si própria".
Lusa
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