Um olhar fugidio pelo registo do professor de Isabel Alçada merece uma observação imediata: "Um caso exemplar!", diz Luís Fernando Costa, director da Escola EB 2,3 Fernando Pessoa (Olivais), quando confrontado com a ausência de faltas da então estagiária, que, entretanto, foi dirigente sindicalista e agora é ministra da Educação.
Esta é apenas mais uma das qualidades que o responsável junta às retidas nos anos de trabalho com Isabel Alçada. O retrato é quase perfeito. " É simpática", "com sensibilidade", "dialogante" e "boa profissional", enumera Luís Fernando Costa a partir da mesma sala em que conheceu uma outra faceta da nova ministra. "Dei com a Isabel a ralhar com um aluno. Fiquei surpreso porque a imagem destoava do normal, mas, quando era preciso, a professora simpática também punha ordem", lembra o responsável.
Mas também na luta pelos profissionais da área Isabel Alçada deixou uma marca. Na qualidade de dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, "esteve sempre ligada a questões pedagógicas e a acções de formação", recorda Luís Costa, que se cruzou pela primeira vez com Isabel Alçada na Escola Fernando Pessoa em 1980, era a ministra membro do Conselho Directivo, embora o seu percurso no estabelecimento tenha começado em 1976, aos 26 anos. Ao todo, foram oito anos a leccionar numa escola onde, se pudessem votar para ministro, as funcionárias mais antigas garantem que "seria nela", mas onde os actuais alunos apenas reconhecem Alçada como a autora de ‘Uma Aventura’.
Foi ainda na escola Fernando Pessoa que Isabel Alçada conheceu Ana Maria Magalhães, com quem criou estes livros de aventura. O novo cargo, garantiu ao CM Ana Maria Magalhães, não vai impedir Isabel Alçada de escrever. "Quando avizinhámos que poderia vir a ser ministra adiantámos o trabalho durante o Verão e entregámos o novo livro na semana passada. Geralmente entregamos em Dezembro. Agora, a partir de Janeiro voltaremos a escrever", contou a escritora.
A colecção ‘Uma Aventura’, das autoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, foi iniciada em 1982 e tornou-se um sucesso da literatura juvenil portuguesa. As aventuras das gémeas Teresa e Luísa e dos amigos Pedro, Chico e João fizeram as delícias dos mais jovens e a colecção já vendeu mais de seis milhões de exemplares. O sucesso de ‘Uma aventura’ chegou entretanto à televisão, com a adaptação das histórias para uma série televisiva e em breve vai chegar ao grande ecrã. Em Dezembro estreia nos cinemas o filme ‘Uma Aventura na Casa Assombrada’.
Dos 24 ministros que desde 1974 tiveram a pasta da Educação, 18 eram professores universitários, três militares e outros três licenciados, mas ninguém como Isabel Alçada contava com experiência de ensino no Secundário. Pelo Ministério passaram, em tempo de República, históricos como Magalhães Lima, António Sérgio, Ricardo Jorge e Duarte Pacheco. Isabel Alçada fez Filosofia na Faculdade de Letras da Clássica de Lisboa, tal como Sottomayor Cardia, que foi ministro no 1º Governo Constitucional e se doutorou muito depois, em 1992. Em termos femininos é a 4ª e terceira consecutiva na lista aberta por Manuela Ferreira Leite em 1993.
Quatro livros da colecção ‘Uma Aventura’ são recomendados pelo Plano Nacional de Leitura.
Em Março do próximo ano, será lançado o 52.º livro, com a publicação de ‘Uma Aventura no Pulo do Lobo’.
Cada livro da colecção ‘Uma Aventura’ custa 5,50 euros.
"VAMOS CONTINUAR A ESCREVER": Ana Maria Magalhães Co-autora de ‘Uma Aventura’
Correio da Manhã – Como vê a nomeação de Isabel Alçada para ministra da Educação?
Ana Maria Magalhães – O eng.º José Sócrates não poderia ter escolhido melhor. Ela é uma pessoa que conhece bem a escola, é inteligente, muito calma e corajosa. Aposta sempre no diálogo.
– Com a entrada de Isabel Alçada para o Governo, as aventuras ficarão suspensas?
– Não. Os leitores podem estar descansados, porque não vamos deixar de escrever. A partir de Janeiro vamos começar a trabalhar.
– Os fãs podem esperar ‘Uma Aventura no Governo’?
– No Governo não... coitadas das crianças. Na semana passada, entregámos o livro ‘Uma Aventura no Pulo do Lobo’, que será lançado em Março. Ainda temos de definir o próximo.
Artista entre pares, aplaudido por praticamente todos, o nome de Gabriela Canavilhas à frente do Ministério da Cultura é visto como uma lufada de ar fresco num sector que, legislatura após legislatura, tem vindo a ser esquecido. É a própria pianista quem acredita agora que aquele que foi sempre o parente pobre do Governo poderá passar a receber mais verbas.
Ana Patrícia Dias/Janete Frazão/J.V./D.
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