Um coral cor-de-rosa, um pequeno lagostim, 20 crustáceos, quatro bivalves e várias minhocas são algumas das novas espécies encontradas por uma equipa da Universidade de Aveiro junto aos vulcões de lama no oceano profundo, no âmbito de um projecto europeu.
Os navios oceanográficos do projecto Hermione, no qual participam 39 instituições europeias, estão desde 2009 a estudar os ecossistemas marinhos profundos da margem continental europeia. Os investigadores portugueses participaram em cerca de 20 campanhas no Golfo de Cádis, costa portuguesa, Mediterrâneo e Atlântico. Durante períodos de duas a quatro semanas - e graças à detecção por sonar, submarinos tripulados e veículos de operação remota - foram recolhidas amostras que permitiram identificar mil espécies num ecossistema único e ainda pouco conhecido: os vulcões de lama.
“Estão previstas para este ano três campanhas oceanográficas, uma das quais ao Golfo da Biscaia, no final da Primavera”, disse Marina Cunha, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.
“Neste momento estamos a estudar a colecção de amostras que recolhemos”, explicou, acrescentando que já foram descritas 30 novas espécies e ainda restam por descrever 15 por cento das mil espécies recolhidas.
Entre as novidades está o coral cor-de-rosa Corallium sp.nov. (espécie ainda não descrita), formando “maciços muito exuberantes”, encontrado a cerca de dois mil metros de profundidade em volta do vulcão de lama Carlos Ribeiro.
O pequeno lagostim branco Vulcanocalliax arutyunovi e as minhocas Spirobrachia tripeira e Bobmarleya gadensis estão na lista das descobertas, juntamente com os 20 pequenos crustáceos “que passam muito desapercebidos”.
Os investigadores já esperavam surpresas. “O mar profundo ainda é pouco estudado e os vulcões de lama são uma área científica relativamente recente”, justificou a Marina Cunha. Estes ecossistemas – “zonas de erupção de sedimentos finos, ou lama, ricos em compostos como o metano e outros hidrocarbonetos, que são trazidos de profundidades muito elevadas” – no Golfo de Cádis entre os dois mil e os quatro mil metros de profundidade, por exemplo, só são conhecidos desde o final dos anos 90 do século passado. “O isolamento destes vulcões nas margens dos continentes propicia a evolução de espécies diferentes”, acrescentou.
Um dos mistérios por resolver é a ligação entre estes vulcões de lama, muitas vezes separados por milhares de quilómetros. “Em 2008 encontrámos organismos da mesma espécie no Golfo de Cádiz e ao largo de Angola e do outro lado do Atlântico. Quais foram os mecanismos de transporte? Como conseguem passar de uns ‘oásis’ de vida para os outros?”, questionou Marina Cunha.
Para a investigadora, estas missões têm “um interesse muito grande. Com o alargamento da Zona Económica Exclusiva, temos o dever de conhecer e proteger estes ecossistemas. E ainda se conhece muito pouco”.
Os resultados obtidos na exploração científica das profundezas dos oceanos, financiada pela Comissão Europeia, serão aplicados na definição de estratégias para uma gestão sustentada dos recursos marítimos.
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