quinta-feira, 30 de julho de 2009

Novas Oportunidades ainda tem pouco impacto no mercado de trabalho

Demasiado tempo de espera, horários difíceis de compatibilizar com a vida pessoal e pouco impacto a nível profissional são os três maiores problemas identificados na Iniciativa Novas Oportunidades, de acordo com o primeiro estudo externo ao programa que será apresentado amanhã no Centro de Congressos de Lisboa. Contudo, para os autores, os ganhos na auto-estima dos participantes é um dos efeitos que mais compensou e que, a médio prazo, poderá revolucionar o tecido empresarial.

Ainda que os resultados abranjam apenas um ano e faltem dois e meio para as conclusões finais, o coordenador do estudo da Universidade Católica Portuguesa, o investigador e ex-ministro da Educação do Governo de Cavaco Silva, Roberto Carneiro, faz um balanço muito positivo das Novas Oportunidades.

Apesar de 66 por cento das chefias ainda não reconhecerem o esforço de qualificação e certificação que os seus trabalhadores fizeram, Roberto Carneiro acredita que os conhecimentos – em especial ao nível das novas tecnologias da informação e comunicação – serão indispensáveis numa altura em que “estamos a entrar no mundo da economia do conhecimento em que as empresas funcionam em rede” e não em pirâmide.

“As pessoas que estão certificadas sentem que não houve grandes avanços na carreira, na remuneração, nas oportunidades de emprego, como porventura teriam legítima esperança de ter antes de terem feito a certificação”, disse Roberto Carneiro, que acredita que um dos problemas é os gestores e empresários da maioria das empresas portuguesas serem eles próprios pouco qualificados. “Talvez fizesse falta uma Iniciativa Novas Oportunidades para as chefias das nossas micro e pequenas e médias empresas”, defendeu.

Sobre as críticas que têm sido feitas ao alegado “facilitismo” do programa, o coordenador explicou ao PÚBLICO que o grande dado novo é que “aproveitar a experiência pessoal de cada um” e que isto poderá dar “mobilidade profissional” aos que concluírem as Novas Oportunidades. E acrescentou: “Há uma pluralidade de vias para chegar às mesmas coisas”. Os autores do estudo consideram também muito positiva a “boa ligação entre a educação e a formação profissional” que é feita, apesar de defenderem que se deve investir mais na certificação.

No que diz respeito ao que leva as pessoas a voltar a estudar, Carlos Liz, da Universidade Católica Portuguesa, salienta que a “pressão familiar” é a principal impulsionadora e que os “ganhos do eu” são muito gratificantes. “Há várias pessoas que começam por querer apenas o 9º ano e que acabam por querer ir mais longe e completar o 10º ano”, contou, muitas vezes para acompanharem os filhos. Recorde-se que a média de idades dos frequentadores do programa é de cerca de 40 anos. Por outro lado, os autores asseguram que as pessoas ficam muito mais preparadas para exercer a sua cidadania e intervirem em diversas ocasiões de forma mais informada.

Como exemplo de novas competências adquiridas, é referido o acesso à Internet: 67 por cento dos que se inscreveram nas Novas Oportunidades utilizam este meio contra 27 por cento dos que nas mesmas condições de escolaridade optaram por não prosseguir os estudos. O número de pessoas que recorre à Internet para pesquisar informações é também três vezes superior nos que foram certificados pelas Novas Oportunidades. Porém, os autores sublinham que muito do trabalho feito consiste em dar confiança às pessoas em relação aos conhecimentos que reuniram ao longo da vida e sistematizá-los. E o balanço é muito positivo: mais de 80 por cento dos que completarem o programa consideram mesmo que o ensino é igual ou melhor que o regular.

O programa de requalificação Novas Oportunidades, apresentado em Setembro de 2005 pelo primeiro-ministro, é tutelado pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério da Educação. O objectivo é qualificar um milhão de activos até 2010, assim como envolver mais de 650 mil jovens em cursos técnicos e profissionalizantes. Segundo dados do Ministério da Educação, só 20 por cento da população adulta portuguesa completou o ensino secundário. Nos países da OCDE esta percentagem ronda os 70 por cento.

A rede nacional onde o programa se encontra implementado é composta por 453 centros e, recentemente, foi encerrado o concurso público para a criação de mais 44 centros para em 2010 se atingir os 500 pretendidos. O programa já chegou a 900.000 pessoas nas diferentes vertentes, numa altura em que a média mensal de novas inscrições atinge as 20.000. Um número “pioneiro” e “notável” a nível internacional, segundo o coordenador do estudo.

Romana Borja-Santos

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