domingo, 24 de junho de 2012

Escolosfera

“Cada vez um maior número de alunos e professores de todos os níveis de ensino descobrem na criação de blogues uma outra forma de aprender, de ensinar, de partilhar, de publicar, de comunicar”. Maria João Gomes

Os blogues andam pelas nossas escolas; é um facto. Tal significa que muito haverá para dissertar sobre o caso. O que são? Quando surgiram? Quem inventou? Onde? Para quê? Quem faz? Quem consulta? Que mudanças provocam? Qual o interesse? Como têm evoluído? Estas e outras são questões pertinentes que me vêm à ideia quando paro e olho para lá do blogue que tenho nos dedos; questões que aguçam a minha curiosidade. Hoje, contudo, apenas trago factos práticos e pontuais do imenso mundo da blogosfera, procurando, de alguma forma, corresponder ao solicitado no editorial do primeiro número desta Revista.

“Mostra lá” é um blogue escolar. Iniciou-se a 1 de Setembro de 2009 e tem por objectivo dar a conhecer actividades realizadas pelas escolas do 1º Ciclo do Agrupamento Vertical de Montemor-o-Novo. As 34 turmas, mais de 600 alunos e respectivos professores, têm a possibilidade de mostrar um pouco do seu trabalho a um amplo público.

Após uma década de experiências na concepção e dinamização de sites, e algumas dezenas de meses relativamente aos blogues, pensei que seria interessante concretizar um registo colectivo de trabalhos que possa orgulhar tanto os seus autores como os seus navegadores. Muitos dos trabalhos que realizei anteriormente mostravam a minha turma e/ou escola. Agora, com redução da componente lectiva – por conta da coordenação de departamento e da avaliação de desempenho docente –, lembrei-me de ser veículo de transmissão das boas práticas que se desenvolvem no concelho onde vivo.

Cultivar um espaço na internet é, para mim, uma tarefa entusiasmante, tanto no processo como no objectivo. Pretendo, sobretudo, divulgar para aproximar. E, neste ponto, refiro-me a várias aproximações: dos alunos aos seus produtos; da escola à família e vice-versa; das escolas entre si; das escolas à direcção e vice-versa; do departamento aos outros departamentos e vice-versa; das escolas à comunidade local e vice-versa; das escolas ao resto do distrito, ao resto do país e, porque não?, ao resto do mundo, não esquecendo o vice-versa.

Poder-se-á dizer que quem tudo quer, tudo perde, mas também é certo que quem espera sempre alcança (o que mais gosto no saber popular é que há sempre uma frase para contrariar outra que não nos convém); e é isso que me dá alento. Tenho até a esperança de vir a comentar um ou mais blogues que possam surgir de entre as turmas participantes, pois o espaço colectivo que está iniciado não invalida a criação de espaços mais próprios; pelo contrário.

Para que não surjam dúvidas a ninguém, o termo blogue é a grafia portuguesa sugerida pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação em Portugal para o estrangeirismo blog ou weblog. Pode dizer-se que um blogue é um documento virtual onde se publica informação de forma cronológica, ou seja, uma espécie de diário de bordo que coloca em primeira página sempre a notícia mais recente. O autor (ou autores) do blogue tem liberdade para publicar informação em diversos suportes (escrita, imagens, vídeo, áudio) na quantidade e tempo que considerar mais apropriados ao seu objectivo. No âmbito da exploração educacional, Maria João Gomes considera que o blogue pode ser categorizado como recurso pedagógico, estratégia pedagógica ou assumir ambas as situações.

O caso do “Mostra lá” pode muito bem ser um exemplo da terceira situação, mas não quero que se preocupem com esse aspecto, prefiro que visitem o já referido blogue que está disponível em http://mostrala1.blogspot.com/. Uma vez lá, façam uso de uma outra característica de um blogue que é comentar a informação. A escrita de um leitor crítico e justo surgirá logo disponível no espaço comentários, mesmo por baixo da informação, e será sempre bem-vinda.

E é precisamente nos comentários que entendo residir a grande força do blogue que tem por principal objectivo divulgar. Particularmente para os alunos, sentir que para lá das oito paredes alguém (des)conhecido deu conta do seu trabalho é motivo de alegria e empenho redobrados.

As ideias e os factos estão lançados. Aguardarei pelo final do ano lectivo para poder confirmar, ou não, as minhas expectativas.

A página N.º 187, série II Inverno 2009

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotoprotesto contra exames nacionais vai estender-se a todo o país

Catarina Albuquerque, Beatriz Pinto, dois baldes de cola, uma escova de pelo grosso e 120 cartazes com estudantes de todo o país dispostos a “dar a cara contra os exames”, fizeram o fotoprotesto organizado esta segunda-feira, de manhã, no Porto, no dia em que decorre a prova nacional de Português do secundário. A organização espera chegar a todo o país.

As duas estudantes, envolvidas num movimento contra estas provas que funciona nas redes sociais como o Facebook, preencheram o muro situado em frente à Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) com uma carta aberta ao ministro da Educação e fotografias com rostos de quem quer denunciar uma prova que aumenta as desigualdades e favorece os mais fortes no sistema de ensino.

“Não queremos facilitar nada. Não defendemos que o ensino seja facilitado. Queremos apenas uma avaliação mais justa que coloque os estudantes em pé de igualdade, uma avaliação contínua que tenha em conta factores como a progressão do aluno e a participação nas aulas”, explica Catarina Albuquerque, 18 anos, estudante do 12.º ano que também trabalha em part-time.

A desigualdade, explica, encontra-se de várias formas. Desde as condições dos estabelecimentos de ensino num cenário onde vemos “quem tenha tudo e mais alguma coisa” e também “escolas com tectos a cair, pragas de insectos, sem material adequado”. Está também nos alunos que vivem “este stress dos exames de forma diferente”, “alguns têm possibilidades de ter explicações por razões económicas enquanto outros não têm essa vantagem” e, no mundo das coisas desiguais, nota-se ainda que há quem tenha mais condições de preparação para os exames e quem não tenha sequer manuais de apoio para estudar. Depois, adianta Catarina, está nas provas que avaliam, em duas horas, um percurso de estudo de vários anos.

O fotoprotesto foi organizado com base numa recolha das fotos de estudantes de todo o país, através do Facebook. Os cartazes que foram colados em frente à DREN são a preto e branco, têm a foto do estudante com o nome e a escola a que pertence e a frase “Dá a cara contra os exames!”.

Hoje, Catarina e Beatriz vão deixar ali 120 fotografias num fotoprotesto que se deverá repetir noutras cidades. “Sabemos que somos muito mais do que 120”, diz Catarina que adianta que esta foi a forma encontrada para “dar vida ao protesto e às vozes de todos os colegas que estão contra os exames nacionais”.

“Os exames nacionais, desde que foram aplicados (em 1996), nunca fizeram mais pelo ensino que não elitizá-lo”, acredita Catarina Albuquerque. “Se colocarmos, lado a lado, os estudantes das escolas públicas e os das escolas privadas, essas diferenças são ainda mais evidentes, pelo que a injustiça ainda é maior. Podemos concluir, portanto, que os exames nacionais não colocam todos os estudantes em pé de igualdade, mas evidenciam as suas diferenças, dando prioridade a quem tem mais condições e recalcando aqueles não as têm”, refere a convocatória para o protesto.

No mesmo documento propõem: "Os estudantes deviam ser avaliados, apenas e só, de uma forma contínua e justa, que tenha em conta as características de cada aluno, os seus progressos e participações nas aulas. Por isso, defendemos que a escola deveria ser pública, gratuita e de qualidade para todos, para que essa mesma avaliação contínua seja possível e chegue a todos”.

Por fim, os estudantes avançam ainda uma explicação sobre os conhecidos maus resultados nos exames do 4.º e 9.º anos: “Se os resultados foram inferiores ao que era esperado, não será por os jovens de hoje terem menos apetência, mas sim porque o ensino está mais degradado. Mais uma vez, prova que as lacunas não podem ser preenchidas com exames, que simplesmente ‘tapam o sol com a peneira’; é necessária uma reestruturação no ensino, é necessário financiamento nas escolas, é necessário um real acompanhamento a este sector”.

Ordem alfabética desapareceu do exame de Língua Portuguesa do 6.º ano

Os alunos do 6.º ano que esta terça-feira se estrearam em exames não tiveram que mostrar se sabiam ou não colocar palavras por ordem alfabética, porque esta pergunta não estava contemplada na prova que realizaram de manhã.

Este é um dos itens que tem tido piores resultados nas provas de aferição que até agora eram realizadas pelos alunos deste ano de escolaridade.

No ano passado, 45,4% não conseguiram colocar por ordem alfabética um conjunto de palavras começadas por "c". Em 2010, esta percentagem foi de 67,2%. Nas provas de aferição – que não contavam para a nota final –, os alunos do 6.º ano tiveram habitualmente piores resultados no grupo que testava o chamado conhecimento explícito da língua (gramática), onde se integrava aquele item.

Mas, segundo os relatórios nacionais elaborados pelo Gabinete de Avaliação Educacional, revelaram ainda maiores dificuldades em conjugar diferentes tempos verbais do modo indicativo. Na prova de aferição do ano passado, 51% deram outra resposta na pergunta em que se pedia que reescrevessem a frase “o feitor é dedicado” em quatro outros tempos do modo indicativo. No exame de hoje são apresentadas quatro frases diferentes, pedindo-se ao aluno que escreva os verbos entre parêntesis no tempo e modo indicados para cada uma.

Num parecer à prova, a Associação de Professores de Português (APP) considerou que no texto proposto para interpretação (um excerto de "A maior flor do mundo" de José saramago), a inclusão de uma sequência narrativa em verso "complexifica a interpretação da globalidade do texto, implicando um grau de abstracção que alguns alunos neste nível etário ainda não desenvolveram”. “Esta situação poderá suscitar dúvidas, fazendo prever que o exame vá premiar os bons alunos”.

No geral, a APP considera que a prova “está bem estruturada e respeita os conteúdos centrais do programa de Língua Portuguesa do 2.º ciclo”. Indica também que “o exame segue a matriz das provas de aferição de 6.º ano de amos anteriores”.

No grupo destinado à produção de texto narrativo, a associação afirma que “é de louvar a substituição do pedido de número de linhas, como nas provas de aferição, por número, máximo e mínimo, de palavras”. Neste grupo pede-se aos alunos que relate “um acontecimento inesquecível, real ou imaginado, passado nume espaço natural e agradável, na companhia de alguém importante para ti”.

O exame de Língua Portuguesa contará 25% para a nota final do aluno. A partir de 2013 o seu peso passará a ser de 30%, igual ao que valem os exames do 9.º ano e do ensino secundário. Para a prova de hoje estavam inscritos 121.198 alunos.

Gave diz que imprecisões gráficas no exame de Biologia e Geologia não prejudicam resolução

O enunciado do exame de Biologia e Geologia, realizado esta tarde pelos alunos do 11.º ano, continha “imprecisões gráficas” em dois gráficos do último grupo, segundo informa o site do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave).

Estas imprecisões, que já estão corrigidas na versão disponibilizada online pelo Gave, “não têm qualquer implicação na resolução dos itens deste grupo”, assegura o organismo do Ministério da Educação e Ciência responsável pelos exames.

O grupo IV, último do exame, parte de uma experiência destinada a promover a produção de B-caroteno em larga escala a partir de algas unicelulares. Alunos ouvidos pelo PÚBLICO consideraram que algumas questões deste grupo eram das mais difíceis do exame, sobretudo por serem um “pouco confusas”.

Para o exame de Biologia e Geologia, indispensável para os cursos da área da saúde, estavam inscritos 56063 alunos. Segundo dados do Júri Nacional de Exames faltaram à prova 5216.

Esta é uma das quatro provas mais concorridas dos exames nacionais do ensino secundário. Em 200 pontos, as questões de escolha múltipla valem 150.

Por o exame só ter terminado por volta das 16h30, a associação de professores da disciplina só divulgará amanhã um parecer sobre a prova. No ano passado, a média na 1.ª fase deste exame subiu para 10,7, a melhor dos últimos cinco anos.

Segundo um dos responsáveis da associação de professores da disciplina, tal ficou a dever-se ao facto de terem sido “introduzidas questões para diferenciar os alunos”. “Havia um grupo que era relativamente fácil, um conjunto de itens de dificuldade média e outro de dificuldade muito elevada. Esta estratificação permite a um aluno que tenha as competências básicas ficar com 10 valores no grupo mais fácil, o que antes não sucedia." A subida deve-se, provavelmente, ao facto de existirem "menos maus resultados", acrescentou.

Esta terça-feira realizaram-se também os exames de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (10204 inscritos), História da Cultura e das Artes (5748) e História B (1096), todos do 11.º ano. A percentagem de presenças oscilou entre 84% (História B) e 90% (MACS).

Vídeo - Minerais e Rochas