segunda-feira, 8 de março de 2010

Legislação

Publicado em Diário da República
 
 
― Despacho n.º 3327/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23do Ministério da Educação - Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Subdelega competências no director Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, licenciado José Joaquim Machado Courinha Leitão.
 
― Despacho n.º 3328/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação - Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Subdelega competências no director regional de educação de Lisboa e Vale do Tejo, licenciado José Joaquim Machado Courinha Leitão, no âmbito do procedimento contratual de concurso público urgente para fornecimento de refeições.
 
― Despacho n.º 3329/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação - Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Subdelega competência no director regional de Educação do Alentejo, DoutorJosé Lopes Cortes Verdasca.
 
― Despacho n.º 3330/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação - Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Subdelega competências no secretário-geral do Ministério da Educação, licenciado João da Silva Batista.
 
― Aviso n.º 3847/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010- 02-23do Ministério da Educação - Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação
Publicação das listas definitivas de ordenação, de colocação e de exclusão, com os respectivos fundamentos, relativas ao concurso aberto pelo aviso n.º 1100/2010, publicado no Diário da República, 2.ª série, de 18 de Janeiro de 2010.
 
― Despacho n.º 3447/2010. D.R. n.º 38, Série II de 2010-02-24, dosMinistérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação
Regulamenta a atribuição de certificação aos formandos que frequentaram, sem terem concluído, os cursos de educação e formação de adultos.
 
― Despacho n.º 3451/2010. D.R. n.º 38, Série II de 2010-02-24, do Ministério da Educação - Gabinete do Secretário de Estado da Educação
Subdelega competências na directora-geral do Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação, licenciada Maria Luísa Ferreira de Araújo.
 
― Portaria n.º 114/2010. D.R. n.º 39, Série I de 2010-02-25do Ministério da Educação
Suspende a entrada em vigor dos programas de Língua Portuguesa do ensino básico homologados em 31 de Março de 2009 e altera a Portaria n.º 476/2007,de 18 de Abril.
 
― Despacho n.º 3606/2010. D.R. n.º 40, Série II de 2010-02-26doMinistérios do Trabalho e da Solidariedade Social, da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Constituição do Grupo de Representantes das Autoridades Nacionais perante a Comissão Europeia (GRAN), responsáveis pela supervisão e auditoria da Agência Nacional do Programa Aprendizagem ao Longo da Vida.
 
― Despacho n.º 3617/2010. D.R. n.º 40, Série II de 2010-02-26, do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Designa membro do conselho científico para a avaliação de professores na qualidade de individualidade de reconhecido mérito no domínio da educação o Professor Almerindo Janela Gonçalves Afonso, do Instituto de Educação da Universidade do Minho.
 
― Despacho n.º 3618/2010. D.R. n.º 40, Série II de 2010-02-26do Ministério da Educação - Gabinete da Ministra
Estabelece o regime regulador dos procedimentos a observar nas deslocações de representações nacionais a instâncias, organizações ou eventos internacionais, no âmbito da actividade do Ministério da Educação.
 
 
Programa de generalização do ensino do inglês e de outras actividades de enriquecimento curricular no 1.º ciclo do ensino básico

― Contrato n.º 132/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22do Ministério da Educação e Município de Alcácer do Sal
 
― Contrato n.º 133/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22, do Ministério da Educação e Município de Alter do Chão
 
― Contrato n.º 134/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22, do Ministério da Educação e Município de Barrancos
 
― Contrato n.º 135/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22, do Ministério da Educação e Município de Elvas
 
― Contrato n.º 136/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22do Ministério da Educação e Município de Fronteira
 
― Contrato n.º 137/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22do Ministério da Educação e Município de Marvão
 
― Contrato n.º 138/2010. D.R. n.º 36, Série II de 2010-02-22do Ministério da Educação e Município de Nisa
 
― Contrato n.º 141/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23do Ministério da Educação e Município de Almodôvar
 
― Contrato n.º 142/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação e Município de Avis
 
― Contrato n.º 143/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação e Município de Castelo de Vide
 
― Contrato n.º 144/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação e Município de Castro Verde
 
― Contrato n.º 145/2010. D.R. n.º 37, Série II de 2010-02-23, do Ministério da Educação e Freguesia de Cabrela
 
 

Para publicação em Diário da República
 
― Despacho do Secretário de Estado Adjunto e da Educação
Rectifica o Despacho Normativo n.º 6/2010, de 19 de Fevereiro
 
 

Informações Gerais
 
― Acesso ao Ensino Superior
Encontra-se disponível o Guia das Provas de Ingresso 2010—Ensino Superior Público.
Para mais informações: www.dges.mctes.pt
 
― Encontros FLE “100 Anos de República e o Futuro da Educação”.
Estes encontros a realizar no dia 24 de Fevereiro na Fundação Calouste Gulbekian pretendem aprofundar a reflexão acerca da “Educação no Regime Democrático”, tendo como pano de fundo a questão provocatória “Direito à Educação ou Estado Educador?”
Para mais informações: www.dgidc.min-edu.pt
 
― Concurso 'Ideia.Simplex'10'
Destinado a todos os trabalhadores que exerçam funções públicas na Administração Central , Regional ou Local.
Poderá submeter as suas ideias até às 24h do dia 4 de Abril de 2010.
 
― Projecto INDIE no MUDE
De 23 a 28 de Fevereiro alunos e professores e outro público em geral poderão visitar o Museu do Design e da Moda (MUDE) onde poderão ver em exibição os filmes realizados pelos jovens lideres no Stranger Festival. O vídeo com os 10 filmes alusivos à temática da inclusão e da diversidade fazem parte da última semana da exposição “É proibido proibir”.
Para mais informações: www.dgidc.min-edu.pt
 
― República nas Escolas - Comemorações do Centenário da República 1910-2010
O prazo limite para a submissão de projectos foi prolongado até ao dia 26 de Março.
Para mais informações: www.drel.min-edu.pt/
 
― Olimpíada da Ciência da União Europeia (EUSO)
A Olimpíada da Ciência da União Europeia é uma competição destinada a estudantes com menos de 16 anos, especialmente interessados no ensino das ciências, e, pretende estimular 
a escolha de carreiras científicas, desenvolver talentos, proporcionar troca de experiências e contactos entre estudantes que podem vir a participar nas olimpíadas Internacionais da Ciência, bem como comparar o currículo e as perspectivas do ensino das ciências entre os Estados-membros da União Europeia.
Para mais informações: www.dgidc.min-edu.pt
 
― Ler, é para já!
Ler, é para já! é um programa dirigido a jovens e adultos com poucos hábitos de leitura que necessitam de aumentar os níveis de literacia e de consolidar as aprendizagens necessárias à qualificação profissional.
Para mais informações: www.rbe.min-edu.pt/
 
― Seminário “Caminhos a percorrer… no Sentir de uma escola”
Este seminário a realizar no Auditório da Direcção Regional de Educação do Alentejo, em Évora, no dia 17 de Março de 2010, pelas 18 horas, tende a sensibilizar, alertar e mobilizar a população para o conceito de Necessidades Educativas Especiais
Para mais informações: www.drealentejo.pt
 
― Programa de Formação de Professores de Espanhol 2010
O prazo limite para a submissão de projectos foi prolongado até ao dia 26 de Março.
Para mais informações: www.drec.min-edu.pt
 
― Ensino Português no Estrangeiro
Divulgação das listas definitivas de ordenação, de exclusão e dos verbetes relativos ao concurso de recrutamento para o exercício de funções docentes de ensino português no estrangeiro, para o ano escolar de 2010, na República da África do Sul, na Namíbia e na Suazilândia.
Para mais informações: www.gepe.min-edu.pt
 
― Exposicao Portugal nas Trincheiras – a I Guerra da Republica
O Museu da Presidência da República promove, de 23 de Fevereiro a 23 de Abril, a Exposição “Portugal nas Trincheiras – a I Guerra da República”, nos Museus da Politécnica, na Rua da Escola Politécnica, n.º 60, Lisboa.
 
― TI 6.6, 8.6.6 e 9.6.6 – Abertura de candidaturas
Decorre entre os dias 22 Fevereiro e 31 de Março de 2010 o período para apresentação de candidaturas ao POPH no âmbito das Tipologias de Intervenção 6.6, 8.6.6 e 9.6.6 – Formação em língua portuguesa para estrangeiros, de acordo com o âmbito e as condições definidas no respectivo Aviso de Abertura.
Para mais informações: www.poph.qren.pt
 
― Concurso “Conta-nos Uma História – Podcast na Educação”
O concurso - “Conta-nos uma história” Podcast na Educação - lançado no início de Janeiro para os alunos dos ensinos pré-escolar e do 1.º Ciclo, conta já com 700 equipas inscritas de todo o país.
Para mais informações: www.dgidc.min-edu.pt/
 
― POPH Norte – Mudança de instalações
Informa-se que a partir do dia 1 de Março de 2010 entram em funcionamento as novas instalações do Núcleo Regional do Norte do POPH, sitas na Rua Direita do Viso, n.º 120, no Porto.
Para mais informações: www.poph.qren.pt
 

domingo, 7 de março de 2010

A escola prisional como possibilidade de liberdade


O estudo, em desenvolvimento, surgiu nas aulas do grupo de pesquisa na UFF, onde discutíamos algumas ausências no cotidiano escolar. Dentre as ausências educacionais, que são inúmeras, lembro-me do debate a respeito do saber ouvir as experiências dos alunos, incentivá-los a narrar suas experiências, aprofundando os processos de interação grupal. A partir dos debates no grupo procurei aproximar a discussão ao tema da minha pesquisa sobre educação prisional.
Passei a conceber a troca de experiências, como produção cultural, uma possibilidade para a construção da escola como um centro (re)criador da cultura local[1], por meio das narrações dos sujeitos que convivem e praticam o cotidiano da escola Roberto Burle Marx localizada no presídio feminino Talavera Bruce, na cidade do Rio de Janeiro ? Brasil.
Questiono-me sobre o papel da escola, em especial da escola prisional, buscando dar conseqüência prática ao que nos postulam Maturana e Varella (1997) aceitar o outro como legítimo outro (p38). É interessante pontuar o quanto a realidade da escola prisional é paradoxal à realidade das escolas extra-muros (fora da prisão). Todos sabemos que a prisão é uma instituição repressora, e que a escola dentro da prisão perde uma parcela de sua autonomia, por obedecer à ordem do cárcere. Mas, mesmo vivendo sob a égide do controle, a escola consegue ainda ser um espaço de prazer, no cotidiano da vida carcerária: as presidiárias sentem prazer em freqüentar as aulas. Segundo depoimentos, obtidos durante a pesquisa, que resultou na dissertação de mestrado, constatei que a escola prisional é local de aconchego, paz e tranqüilidade. Os depoimentos a seguir corroboram esta minha percepção: ao serem entrevistadas sobre a importância e a necessidade (para elas) da escola respondem:
- "Para ocupar a mente, porque a gente lá dentro, no coletivo, fica muito estressada, a gente fica muito presa lá dentro, a gente é tratada de um jeito! Aqui na escola nós somos tratadas como gente, aqui a gente tem carinho". (Aluna A)
- "...todos na escola são compreensivos e chegam a ser um pouco psicólogos" (Aluna B).
- Nós estamos presas e não somos presas. (Aluna C)
Isso demonstra o contraponto existente entre as escolas extra-muros e as escolas prisionais, sendo esta última concebida como um local de "liberdade", lugar onde as internas podem expor suas idéias, e principalmente serem compreendidas. Local, onde elas encontram um(a) professor(a) para conversar e narrar suas experiências - muitas vezes no cotidiano da vida carcerária e nas dependências da prisão, são julgadas e punidas, sem direito a tomar a palavra em sua defesa. No cotidiano de silêncio e medo a escola ainda é o lugar da palavra e do diálogo, um espaço de liberdade. Esse mesmo interesse em ir à escola, não ocorre quando falamos das escolas fora da prisão, pois, na realidade, parece que o cotidiano das escolas extra-muros marcado pelo enclausuramento, mantendo-se obediente a uma estrutura estabelecida, em que o aluno na maioria das vezes não tem direito a falar e não é sequer ouvido, sofrendo um processo de disciplinarização.
O cotidiano da escola prisional tem me ensinado o quanto a lógica escolar pode ser fraturada e como é possível que uma outra (nova) cultura escolar se produza e se estabeleça, nas escolas extra-muros. Afirmo sem medo de errar que o cotidiano de uma prisiosioneira, tem muito a ensinar à escola extra-muros.
Acredito ser fundamental debruçarmos sobre as questões marginais ( não estou a fazer nenhum tipo de trocadilho) que nos remetam à compreensão de educação como processo cultural, para vislumbrar outras possibilidades e dimensões para a escola extra-muros.

Referências Bibliográficas:
BENJAMIN, Walter. Experiência e Pobreza. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
______. O Narrador. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Nota: 1) A esse respeito ver Pérez, Carmen Lucia Vidal . O Lugar da Memória e a memória do lugar na formação de professores: o cotidiano como espaço tempo de (re)criação da história, da memória e da cultural local. Projeto de Pesquisa. Niterói, PIBIC-UFF, 2006, p. 8




Priscila Ribeiro Gomes

sábado, 6 de março de 2010

Uma escola, muitas trajetórias: o jogo democrático em questão


A escolha por construir uma escola-outra, cujo projeto político-pedagógico esteja amparado por princípios de liberdade e de reconhecimento da pluralidade social, não é uma decisão fácil, porque nos exige pensar nas relações que estabelecemos na diferença e nas atitudes que tomamos frente a ela.
O desenho curricular do Colégio de Aplicação Fernando Azevedo (CAp), situado em Cabo Frio, Rio de Janeiro/ Brasil caminha para a construção de espaços interativos e de diálogo que apontam para o reconhecimento do outro ? saber, fazer, existir ? que é múltiplo e complexo.
Ao situar o jogo político que atravessa as relações escolares, destaco a possibilidade da participação e decisão coletiva para um projeto emancipatório da escola. Oliveira (2005:28) destaca que, a construção da democracia implica em combater, com práticas reais, todas as formas de expressão do sistema de dominação social, (...) bem como todos os mecanismos de exercício de poder que subalternizem o outro. Nesse sentido, o CAp vem buscando formas de organização curricular que rompam com a hierarquia disciplinar e as conseqüências disso: privilégios de algumas disciplinas e professores, fragmentação do plano escolar, assim como o isolamento de grupos dentro da escola.
A todo o momento surgem questionamentos sobre as práticas de integração curricular da escola, tanto na comunidade, como nos próprios debates internos. As dúvidas e questões que surgem trazem um movimento reflexivo sobre a idéia de escola como unidade totalizante, possibilitando o reconhecimento de que os embates que emergem da trama cotidiana expressam as diferentes formas de conceber o currículo.
Entendo que lutar contra valores e crenças cristalizados na cultura escolar exige bem mais que determinação e desejo; é preciso reconhecer que os conflitos fazem parte do jogo democrático que faz movimentar a trajetória social de cada sujeito. A escola, dentro da sua dinâmica social, constrói maneiras coletivas de existência, algumas aprisionadas pela sua ação homogeneizadora, e outras, que resultam plurais e imprevisíveis. A compreensão dos espaços de subjetivação existentes na escola coloca-nos a pensar nas possibilidades de invenção criativa na diferença, onde possam eclodir expressões e práticas diversas daquelas previamente determinadas.
Recentemente (junho/08), o CAp recebeu, em dia letivo, a visita do educador português José Pacheco, que, ao conhecer o projeto pedagógico da escola, decidiu participar da sua rotina. Percorreu as salas de aula e observou a dinâmica do trabalho nelas realizada, trocou experiências com alunos, pais e professores. Foi um dia especial para a comunidade escolar, que percebeu a dimensão da responsabilidade que tem ao tentar dialogar com diferentes concepções e culturas no espaçotempo escolar.
Esta escola real, múltipla e complexa vive a sua história, repensando cotidianamente a cultura hegemônica na organização do currículo e permitindo que a rede tecida ali possua variadas cores e tessituras, em movimentos singulares e, ao mesmo tempo, fazendo parte de um mesmo processo.

Referências bibliográficas

OLIVEIRA, Inês Barbosa de (org). A democracia no cotidiano da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 3ª ed. 2005.


Angela Chades

sexta-feira, 5 de março de 2010

"Os alunos devem aprender a ser professores de si próprios"


Nascido em Lisboa a Janeiro de 1948, Vítor Oliveira Jorge licencia-se em História pela Faculdade de Letras de Lisboa decorria o ano de 1972. No ano seguinte viria a tornar-se professor assistente dos Cursos de Letras da Universidade de Luanda, lugar que ocupou até Setembro de 1974, tendo, após o seu regresso a Portugal, ocupado este mesmo cargo na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) até 1982. Nesse ano doutorou-se em Pré-História e Arqueologia nesta faculdade, prova na qual obteve a classificação máxima. Em 1984 torna-se professor associado da FLUP, e seis anos depois, em 1990, toma posse como professor catedrático.
No âmbito da sua actividade docente, foi durante vários anos coordenador do mestrado de Arqueologia da FLUP, desde a sua fundação, no ano lectivo de 1989/90, naquela que constituiu a primeira formação autónoma nesta área em Portugal. Foi também presidente do conselho directivo da FLUP entre Dezembro de 1994 e Dezembro de 1995. Ainda nesse ano, e até Setembro de 1996, presidiria à Comissão Instaladora do Instituto Português de Arqueologia, organismo tutelado pelo Ministério da Cultura.
Tem presidido à direcção da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia ao longo de diversos mandatos, e em 1997 fundou, no Porto, juntamente com outros colegas, a Associação para o Desenvolvimento da Cooperação em Arqueologia Peninsular, a cuja direcção preside também actualmente. Arqueólogo, poeta e ensaísta, Vítor Oliveira Jorge publicou cerca de 300 trabalhos científicos e de divulgação e várias dezenas de livros. É colaborador regular deste jornal desde 2006, assinando a rubrica "Consumir-se e Consumar-se no Consumo".

Apesar de ser formado em História, é sobretudo um investigador apaixonado pela arqueologia. Enquanto professor, sente que existe interesse por parte dos alunos por esta área?

Sim, bastante. Acontece-me inclusivamente ser abordado por pessoas que, estando a tirar outros cursos, me dizem que gostariam de ter tirado arqueologia. Não há, portanto, aquela ideia de que a arqueologia é uma formação de banda curta, pelo contrário. Porque de facto ela incide desde os tempos mais remotos da humanidade até à actualidade. Ainda recentemente, o caso da nau portuguesa encontrada ao largo da Namíbia é testemunho do interesse bastante generalizado pela arqueologia.

E que demonstrará, provavelmente, que esse interesse terá frequentemente o seu quê de comercial...

Sim, mas infelizmente o que é que hoje em dia não tem um carácter comercial a gravitar em torno de si? Há, de facto, empresas internacionais especializadas na caça ao tesouro. Mas compete a cada país ter os meios de vigilância e de controlo adequados a esta actividade. E não apenas no domínio da arqueologia subaquática, mas também na protecção e na construção de uma ideia de património público, possibilidade que, no nosso país, ficou comprometida por várias décadas de ditadura, que impediu a construção de uma modernidade. Ao mesmo tempo que se democratiza, descoloniza e faz retornar cerca de um milhão de pessoas ao país, Portugal quis modernizar-se, mudar de ciclo e entrar na Comunidade Económica Europeia. Tudo isto é feito encavalitando períodos históricos uns nos outros, o que nos fez, na prática, transitar de uma pré-modernidade para uma pós-modernidade.
E toda a estrutura de inventariação, protecção e uso comum do património como recurso cultural - para aplicar uma expressão muito do agrado dos actuais gestores - está muito ligada à modernidade europeia. Nos países industrializados, sobretudo os do norte da Europa, desde o século XIX que se criou uma indústria de turismo condensada em torno do interesse pelo património, pelo pitoresco.

É uma profissão difícil de exercer?

A nossa sociedade criou uma ideia, na minha opinião ao mesmo tempo pragmática e perversa, assente num funcionalismo e num utilitarismo excessivos, ou seja, esquecendo que tudo aquilo que não é imediatamente útil hoje poderá revelar-se de extrema utilidade no futuro. Ora, se existe uma indústria que cresce e que cria empregos a nível mundial ela é a cultura, no sentido geral do termo. E com ela a arqueologia. A indústria do turismo precisa de vender os sítios, e para isso é preciso ter museus, monumentos e locais de interesse para mostrar. Neste sentido, a arqueologia não será mais do que o processo de fabricação de sítios arqueológicos, ou seja, daquilo que se vai vender. Tudo isto, para dizer que o mercado de trabalho na arqueologia existe, e que actualmente existirão talvez cerca de mil arqueólogos (ou perto disso) credenciados, ou seja, que estão autorizados a dirigir escavações arqueológicas no nosso pais.
O problema é que, tendo em conta que o sistema empresarial nesta área está numa fase pouco amadurecida, as empresas ligadas a ela tendem a funcionar numa lógica que, em certa medida, é contrária àquela a que me habituei, ou que sempre quis seguir quando optei pela carreira de professor universitário, que é a lógica do investigador.

A conservação do património tem de passar necessariamente por esse intuito de carácter comercial?

Nós conhecemos o mundo e o país onde vivemos e a situação que atravessamos actualmente...
Além disso, a arqueologia, tendo na sua matriz uma ideia de antiguidade, de história, de origens, é uma área do saber que, enquanto disciplina científica, surge, como muitas outras, no século XIX, com o advento da industrialização. Portugal tem aí, desde logo, um primeiro atraso, e quando no século XX teve oportunidade de modernizar-se e acompanhar o desenvolvimento da arqueologia, a ditadura provoca um corte profundo, de base política, que impediu a sua promoção e modernização como sistema, quer do ponto de vista de uma investigação séria, profunda e continuada, quer do ponto de vista da organização estatal, regional e local dos serviços de protecção, acautelamento e prevenção do Património. O que significava um ordenamento do território que incluísse a arqueologia.
Ora, se o ordenamento do território não existiu em termos geográficos e ambientais, ou se traduziu em legislação que nunca se cumpriu, evidentemente que a arqueologia tinha de ter ficado - e continua a ficar - na cauda de toda essa falta de controlo sobre o que é o ordenamento do território, que é um conceito moderno, de planeamento, prevenção e de estudo atempado.
Ao mesmo tempo, não houve também ainda tempo de fazer a devida articulação entre as universidades, que no fundo concedem os graus, a formação e preparam as pessoas, e o mundo real. Apesar de hoje existir um número bastante razoável de arqueólogos licenciados, a primeira licenciatura autónoma nesta área aparece na Faculdade de Letras do Porto no ano lectivo 1999/2000. Antes disso, ela era apenas uma variante dos diversos cursos de História. Ou seja, a maioridade da arqueologia como área de ensino ocorre apenas no final dos anos noventa.

Mas esse carácter comercial está ou não presente na ideia de preservação do Património?

Comercial talvez num sentido muito mais geral, da economia imediata comandar tudo, mas na verdade nada pode subsistir sem ser pago pelos contribuintes ou pelos utentes...

Ou financiado pelas grandes empresas, que actuam como mecenas...

Sim, apesar de aqui o mecenato não ter a mesma expressão de outros países, como acontece com o sector bancário em Espanha, por exemplo, que financia muitas publicações e iniciativas diversas na área da arqueologia, da defesa do património e da promoção da cultura em geral. Em Portugal nunca tivemos essa tradição, e para os bancos é mais vantajoso promoverem espectáculos de grande impacto mediático que garantam uma maior repercussão pública. Não faz sentido, na sua lógica empresarial, patrocinar as pequenas entidades.
Em Portugal faz falta a existência de um tecido associativo forte, difícil de consolidar-se porque, mais uma vez, não existe uma tradição de modernidade, de associativismo, de voluntariado, enfim, a ideia de um espaço público onde se pode intervir de uma maneira não lucrativa. O voluntariado que ainda vai subsistindo é praticamente inexistente na área da arqueologia, porque na perspectiva do funcionalismo e do utilitarismo imediatos a que a nossa sociedade está confinada não é considerada uma necessidade prioritária. A factura que Portugal herdou do salazarismo - muitas pessoas escamoteam isto e os jovens simplesmente ignoram-no ? irá perdurar por décadas.

Considera, ainda assim, que exista algo como uma política coerente de salvaguarda do Património?

Leis existem muitas, e em Portugal elas serão até das mais coerentes a nível europeu. E também não será pela ausência de formação ou da competência dos profissionais ligados esta área. O problema, na minha opinião, está na falta de recursos e, sobretudo, na ausência de uma ampla discussão pública sobre este tema. Que deriva, ela própria, da falta de consciência pública para a questão. A organização do aparelho de Estado e a importância que os diversos governos atribuem à cultura, que ficou agora patente na aprovação do Orçamento para 2009, tudo isso é o reflexo da consciência pública dos cidadãos ? ou da falta dela, neste caso. Se a isso acrescentarmos o facto de estarmos a viver numa época de grande crise económica e de instabilidade global, evidentemente que se torna muito difícil traçar uma política para a arqueologia com efeitos concretos.
O problema de fundo, a par da desarticulação do debate político e cultural em Portugal, é que não há uma consciência pública do valor do Património, que é um valor a longo prazo, que não se coaduna com os ciclos eleitorais, por um lado, e com a mercantilização e o desejo de retorno financeiro imediato de quem nele investe ? mesmo que muitas vezes esse dinheiro seja público. Há, portanto, uma espécie de choque ideológico e prático entre o que seria desejável e o acontece decorrente de uma falta de planeamento que já vem muito de trás.
Ou seja, a política que existe é talvez a possível. Cada país tem o que merece e o que os seus cidadãos querem - ou que são induzidos a querer, que é uma questão um pouco mais complexa. O espólio da nau portuguesa recentemente encontrada na Namíbia, por exemplo, irá ficar, julgo, exclusivamente na posse do governo deste país, que nos autorizou apenas a estudá-lo. E talvez, apesar de tudo, Portugal estivesse em condições económicas de negociar a vinda de uma parte deste espólio para o país.

Paralelamente a este tema, existe uma outra questão que, de certa forma, reflecte também essa consciência pública a que se refere: o ensino da História. Formulo esta pergunta nos mesmos termos com que iniciei esta entrevista: existe hoje em dia interesse pela aprendizagem e pelo ensino da História?

Julgo que sim. Aqui na Faculdade de Letras, aliás, nunca tivemos falta de alunos nesta área, e a minha percepção é de que existe uma crescente curiosidade pela História. E este interesse acompanha, evidentemente, o grau de escolaridade e de modernização do país. Veja-se, por exemplo, o fenómeno José Hermano Saraiva, que através da televisão se transformou num "best-seller" nacional... Claro que não se trata de um tipo de abordagem que traduza a minha perspectiva, mais problematizante, da História, mas mostra que, apesar de tudo, há uma aptidão popular pelos assuntos a ela ligados.

Pensa que esse rigor está patente no ensino da História nas escolas ou ela é, de alguma forma, mistificada para passar uma imagem glorificadora do passado de Portugal?

A História tem sempre uma perspectiva política, porque ela é sempre elaborada de um determinado ponto de vista. Evidentemente que a História séria é aquela que, assumindo essa necessária subjectividade e ponto de vista, se procura munir de elementos de contrastação para atingir aquilo que se poderá designar por uma certa objectividade. Mas não há nenhuma História que seja como a matemática, ela não é passada pelo éter, digamos assim... A História é toda ela uma visão dos acontecimentos passados através da qual se procura uma ordem que de, certo modo, justifique e consolide uma perspectiva presente. Ou seja, existe sempre uma perspectiva interessada da História, qualquer que ela seja.

Mas será assim tão subjectiva que cada país tenda a construir e a promover uma perspectiva histórica própria?

Penso que essa tendência estará intimamente relacionada com a tradição nacionalista que se origina no século XIX. É preciso ver que muitos países se constituiram-se enquanto tal já na modernidade; não tinham, por exemplo, a unidade territorial e linguística que Portugal tem desde há séculos. E, no caso português, talvez essa tenha sido uma das razões pela qual nunca houve um grande interesse pela arqueologia, em particular por parte da ditadura.
Porque as grandes ditaduras ? veja-se o caso do nazismo e da cruz gamada, um antiquíssimo símbolo solar, ou do nacional socialismo italiano, que recuperou algum do aparato do antigo império romano ? foram buscar à arqueologia a inspiração para muita da sua imagética. Também na União Soviética e nos países da sua esfera de influência se promoveram grandes escavações arqueológicas de prestígio, tal como aconteceu com países sociais democratas do Ocidente, como a França, que apostou na recuperação de locais carismáticos, particularmente aqueles que se relacionavam com Vercingetorix e a sua resistência ao império romano. Uma recuperação, enfim, do nacionalismo, ao qual a arqueologia está muito ligada, sobretudo a partir dos séculos XVIII e XIX, com a valorização das raízes que deram sustentação ao Estado nacional.

Nesse caso, que visão subjectiva da História deveria Portugal promover?

Nunca teria, obviamente, a pretensão de sugerir a promoção de qualquer tipo de receita para a História de Portugal. Considero é que a História deve, tal como todo o ensino, seja ele da arqueologia ou de qualquer outra matéria, envolver de perto os dois elementos fulcrais do acto de comunicação: o professor e os alunos. Julgo que os alunos devem aprender a ser os professores de si mesmos, em todos os graus de ensino. E para isso tem de haver um ensino activo, em que o aluno seja levado a tal e não obrigado. Ao mesmo tempo, tem de haver disciplina - até para que eles se possam revoltar contra ela.
Acima de tudo, porém, é fundamental dar-se a possibilidade a cada estudante de construir a sua própria visão da História, começando desde logo pelo ensino primário, senão mesmo antes. E de não se fixar o ensino apenas nas grandes figuras, nos reis, nas batalhas ou nas chamadas descobertas ? do nosso ponto de vista, claro, porque quem lá estava descobriu-nos a nós também ? que mais não foram do que pontos de encontro de culturas. Há que reformular essa visão da prática da História, porque ela deve ser uma prática vivida pelos povos, tanto quanto possível com algum cuidado e rigor para não cairmos por exemplo em certas ridicularias folclóricas de cortejos históricos que de histórico têm muito pouco... Mas que, enfim, são melhores do que nada, mostrando uma certa aptidão e vontade públicas de apreender a História.

Concorda com a ideia de que a perspectiva histórica ensinada nas escolas parte quase invariavelmente de um olhar ocidentalizado e que se esquece frequentemente o papel das outras civilizações?

Esse é um problema muito mais profundo. Como já referi há pouco, a História não é inocente e evidentemente que está eivada de uma ideologia que considera o Ocidente como a linha da frente. E esta perspectiva está associada a uma ideia de progresso hoje em crise através da qual ainda nos consideramos superiores a praticamente todo o resto do mundo. Quanto muito temos uma atitude tolerante de afirmar que os outros também têm muito interesse - até porque são parceiros comerciais -, mas há de facto uma discriminação subjacente a muitos discursos bem intencionados.
Um exemplo disto mesmo é o exótico que se encontra dissimulado numa certa ideologia orientalista, toda uma mistificação que hoje em dia vende imenso, seja em termos musicais ou turísticos. Hoje o que se vende é o exótico, as pessoas querem ir cada vez para mais longe, terem experiências, se possível, no limite. E nós somos atraídos por isso de uma maneira um pouco fácil.
A História dessas civilizações "exóticas", como elas surgiram, o interesse que têm para o estudo de uma História descentrada e não eurocêntrica, esse é que é o problema fundamental. Mas isso é muito difícil de conseguir porque ainda existem em todos os países fortes tradições nacionalistas que cerceiam essa perspectiva. E essas tradições acentuam-se na medida em que há um sentimento de globalização que se associa a uma certa perda de identidade, havendo, portanto, uma procura de novas âncoras identitárias. E essa procura faz-se habitualmente no sentido da valorização do nacional, do regional e do local. Cada terra quer ter o seu herói, o seu doce, o seu festival, o seu centro cultural, qualquer coisa que chame a atenção. E também a sua História. Só que essa História muitas vezes não se apoia numa investigação científica rigorosa e não passa muitas vezes de uma historieta.

Referiu-se à procura de âncoras identitárias. A rubrica que o professor assina mensalmente na PÁGINA designa-se "Consumir-se e Consumar-se no Consumo" e vai um pouco de encontro a isso mesmo, ou seja, a procura de uma identidade baseada no consumo. Concorda com esta ideia?

Sim. Até porque o consumo é um sistema que se baseia no desejo. Nós consumimos porque temos desejo de ter alguma coisa. Hoje em dia é ridículo e inocente afirmar uma divisão entre necessidades básicas e necessidades superfluas, isso está completamente ultrapassado. Basta irmos a um supermercado ou a um centro comercial para reparar que as pessoas vão lá atraídas principalmente não por aquilo que é absolutamente necessário, mas pelos extras. As pessoas querem sempre levar qualquer coisa mais, esse "quanto mais" do desejo que Lacan designava como o "pequeno objecto a", que, em boa verdade, é o que de facto nos leva a ir lá consumir.
Evidentemente que os publicitários, os economistas e as pessoas que gerem toda esta sociedade de consumo sabem perfeitamente disso. Desde a disposição dos stands, passando pela publicidade e pela maneira como o produto é apresentado, a embalagem, etc. Tudo é pensado para nos levar a consumir. Ou seja, a imagem, o signo, sobrepõe-se à suposta "utilidade" do objecto; o significante sobrepõe-se ao significado, se quisermos. Vivemos numa sociedade de signos, isto é, temos de perspectivá-la como uma economia política do signo, como dizia Jean Baudrillard.
Vivemos, portanto, nessa base do desejo, que nos mantém permanentemente activos e a pensar no que vamos comprar a seguir. O desejo cria-nos essa necessidade. E para não nos sentirmos culpados desse impulso, sobretudo se for uma compra dispendiosa, compramos a crédito ou de uma forma que seja muito justificada pelo nosso desejo. E nessas alturas somos capazes de arranjar as mais incríveis justificações para o fazer.

Acha que se pode então dizer que somos hoje o que consumimos?

Sim, concretizado numa espécie de tríade: o consumo, que se sobrepõe a tudo o resto; o turismo, que é uma forma de consumo que nos leva a deslocar-nos para sítios mais ou menos exóticos ou apresentados como tal; e no outro vértice o museu, com tudo aquilo que não é lixo e não se destina à reciclagem a ser musealizado. Musealiza-se o mundo, portanto, transformando-o numa máquina de memória.
E neste processo há sempre um diálogo conflitual e extremamente complexo, político, entre aquilo que se deve conservar, já não apenas objectos para pôr em vitrinas mas até modos de vida, e aquilo que não cabe nesses parâmetros. Mas é preciso ver que as pessoas não são animais em jardins zoológicos, ou não deveriam sê-lo. As pessoas têm direito a ter as suas casas com conforto, a modificar os seus modos de vida, a terem boas acessibilidades e a não viverem numa espécie de mundo mais ou menos musealizado para prazer do resto da população que os vai ver e até compra bilhetes para esse efeito.
Esse é que o grande problema do mundo: uma parte tem dinheiro para comprar a outra parte que está exoticizada. Nessa outra parte do mundo actuam minorias, empresas e algumas das vezes até organizações mafiosas que exploram essas pessoas, que são musealizadas, fotografadas, produtos de visita, mas que não ganham muito com isso, ganham os intermediários de todo esse comércio.
As pessoas nunca viveram numa sociedade tão invadida por dispositivos de controlo. Toda a gente se sente, em maior ou menor grau, extremamente controlada. E quem tem possibilidade para isso procura fugas de todo o tipo, incluindo as fugas turísticas. O turismo tornou-se, assim, numa indústria da evasão de um mundo que se tornou desumano, maquínico.
E essa, infelizmente, é a base actual do próprio ensino. Porque razão os alunos se desinteressam das aulas por mais que o professor faça um esforço no sentido de cativá-los? Porque eles percebem que estão a ser alvo de um sistema de integração um pouco forçado e que não tem em vista o seu envolvimento afectivo, que não tem em conta eles o facto de eles terem uma outra cultura, uma outra forma de estar, uma respiração e um desejo orientado para outros sentidos. Como vamos conseguir que esse desejo, orientado para outras perspectivas, conserve, apesar de tudo, alguma da velha dialéctica entre herança e criatividade? De que forma conseguir que essas pessoas, que têm vontade de fazer coisas, que podem e devem ser mobilizadas para fazer coisas, para criar as suas vidas, não percam valores que vêm do passado e são fundamentais ? coisas tão simples como ler e tirar prazer da leitura? O que a escola faz, como já dizia o Bourdieu, é reproduzir as diferenças sociais e até acentuá-las de forma evidente. Mas não podemos passar sem integrar as pessoas no conhecimento. O problema é: que conhecimento e para que fins? Sou por um conhecimento plural, livre, exigente, e participado.



Vítor Oliveira Jorge
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, DCTP- FLUP
Ricardo Jorge Costa

quinta-feira, 4 de março de 2010

Vídeo - Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?


Mundo precisa de 18 milhões de professores no ensino primário, segundo a Unesco


O mundo precisa de 18 milhões de professores qualificados, dos quais quase quatro milhões na África, para alcançar o objectivo de um ensino primário universal, sublinhou a UNESCO por ocasião da celebração do Dia Internacional dos Professores.
"A escassez de docentes qualificados continua a ser um problema fundamental", declarou a UNESCO num comunicado divulgado em Paris.
"As necessidades são agudas, principalmente em África, onde seria necessário contar com mais 3.800.000 professores para se obter o ensino primário universal", indicou a organização.
Nalguns países, como o Ruanda e Moçambique, o deficit de docentes traduz-se na "existência de turmas de até 60 alunos, quando por regra geral se considera impossível fornecer um ensino correcto em salas de aula com mais de 40 estudantes". A UNESCO também chama atenção para a insuficiente formação dos professores. "Nos países em desenvolvimento não é raro encontrar professores que não têm nenhum tipo de formação superior", segundo a nota, que pede uma "política coerente" que permita contratar professores em número suficiente, garantir os seus direitos e assegurar uma formação de qualidade.
O compromisso de estabelecer um ensino primário universal (EPU) antes de 2015 foi adoptado por 164 países durante uma conferência em Dacar em 2000.
Apesar de alguns progressos, a UNESCO constatou a persistência de desigualdades profundas em relação ao acesso à educação, entre zonas urbanas e rurais, entre categorias sociais e sexos.
A organização estimou neste relatório que nas condições actuais 58 dos 86 países que ainda não atingiram o EPU não conseguirão fazê-lo até 2015.



Agence France-Presse

quarta-feira, 3 de março de 2010

Teste de Avaliação - Ciências Naturais - 8º Ano (Ambientes e Células)


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Para além da paixão pela educação...

Há já algum tempo, assistia a um programa de um dos canais da televisão norte-americana em que o anfitrião é o Jay Leno. A determinada altura, já não sei em que contexto, é abordado um dos membros da audiência. Jay Leno pergunta-lhe o que faz; o jovem responde que está a completar os estudos para ser professor; o público, aparentemente de forma espontânea, aplaude. E eu dei imediatamente por mim a pensar quão inesperada era aquela reacção ? o que é certamente sintomático.
É certamente banal dizer-se que a atitude nacional face aos professores mudou. Poder-se-ia, aliás, dizer-se que as atitudes face à autoridade (a qualquer autoridade) mudaram nas últimas décadas ? e isso é não só um sinal de uma cultura democrática, mas também do questionamento contemporâneo de formas tradicionais de legitimação da autoridade. Em todo o caso, é usual ouvir-se dizer que os professores eram figuras de autoridade relativamente às quais haveria uma atitude quase reverente, enquanto hoje em dia se assistiria a uma desvalorização dos professores, que seriam, assim, responsabilizados pelo suposto fracasso da educação em Portugal.
Desde logo, convém atender aos sinais que contrariam este discurso: lembrar-se-ão, certamente, dos resultados de uma sondagem, efectuada pela Gallup e divulgada em Janeiro passado, que referia os professores como o grupo profissional que mais confiança merece aos portugueses, aliás de forma similar com o que acontecia na Europa Ocidental. Convém lembrar que as escolas são, para a grande maioria dos portugueses, instituições muito familiares com que interagem diariamente e os professores são os interlocutores de muitas das inquietações do quotidiano ? nesta medida, a confiança não é um resultado surpreendente.
Para além disso, se olharmos para a educação em termos da evolução dos últimos 30 anos, os resultados são francamente positivos. Notem que não o são apenas na educação: na saúde, a taxa de mortalidade infantil, por exemplo, evoluiu de forma absolutamente espantosa; certamente que as empresas portuguesas, em vários domínios, estão hoje incomparavelmente mais avançadas do que há 30 anos. Mas, no domínio da educação, a mudança é igualmente significativa. A taxa de frequência da educação pré-escolar evoluiu de 29%, em 1985, para 78%, em 2005; a percentagem de adolescentes a frequentar o ensino secundário era de 9% em 1977 e de 60% em 2004. Taxas de crescimento análogas poderiam ser referidas quanto à frequência do ensino superior. Dir-me-ão que tudo isto podia ter sido feito com menos desperdício e mais eficácia. Estou disposta a acreditar. Mas acreditem também que tudo isto foi feito com os professores e não apesar deles: ou seja, parte desta evolução deve-se certamente à competência e investimento de muitos profissionais da educação por todo o país que têm assumido como sua a responsabilidade pela educação de muitas crianças e jovens.
O que, confesso, me tem causado alguma inquietação é a forma como os professores se vão sentindo, por estes dias, acossados. Os mesmos professores que foram capazes de uma mobilização política sem precedentes, vão demonstrando um desconforto crescente. São os primeiros a admitir que ser professor é uma profissão desvalorizada, e os primeiros a ficar surpreendidos com os sinais de confiança que parecem merecer dos Portugueses. Não gostaria aqui de diabolizar o Ministério da Educação ou os Sindicatos, embora acredite que ambos têm responsabilidades neste estado de coisas. Mas é tempo de assumirmos que esticar a corda do desconforto dos professores serve de muito pouco a muito poucos. Porque não é da resistência à mudança de que aqui falo, é de um sentimento profundo de incapacidade e de desconfiança que minará não só a qualidade da vida nas escolas como a confiança de que dependemos todos: mães e pais, professores, sindicalistas e autarquias, dirigentes dos departamentos centrais e regionais do Ministério da Educação ? a confiança de que estamos todos mutuamente comprometidos com o projecto de educar as novas gerações.
É por isso que quero saudar todas e todos que, quotidianamente, dão o melhor da sua competência e do seu "colo" (em sentido figurado, naturalmente), compreendendo que a educação de crianças e jovens depende tanto do saber quanto da relação, para promover a aprendizagem. E por isso: obrigada professor Francisco, obrigada professora Elsa, obrigada educadora Marta, obrigada professora Susana, obrigada professora Alexandrina ? (e juro que são mesmo professores e professoras de verdade).


Isabel Menezes

terça-feira, 2 de março de 2010

Ficha de Trabalho - Sistema Respiratório


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Angola precisa de professores


Se chegar a bom termo o acordo assinado por José Sócrates durante a sua visita, em Julho, a Luanda, para o envio de 200 professores que coadjuvarão no plano "Educação para todos" que o Governo de Angola pretende concretizar até 2015, seria bom que os candidatos a esta nova navegação para aquela que foi a mais duradoira colónia de Portugal não se deixassem inibir pelas leituras demolidoras que, antes das eleições legislativas realizadas em Setembro, se fizeram em importantes órgãos de comunicação social sobre o modo como é governado aquele país.
Eram tópicos dessas leituras o autoritarismo, o nepotismo, a corrupção e a incompetência, frutos de um poder geralmente considerado sectário e ditatorial, que não permitia o exercício de elementares liberdades civis e políticas, como é a prática do contraditório. E, nesta visão, esses analistas incluíam a previsibilidade de eleições fraudulentas e o mais que fosse imaginável para garantir que o Partido do Governo continuasse incólume, apenas cedendo em arremedos de democracia à europeia "para inglês ver".
Mas depois das eleições só vimos o clamoroso silêncio dos mesmos analistas, também chamados "guias de opinião", que, talvez por não estarem ainda imunizados contra uma espécie de síndrome pós-colonial, se tinham "esquecido" do aviso de Frei Tomás e de que o argueiro nos próprios olhos os impedia de ver que, na "sua" Europa, as práticas do poder estavam longe de servir como receita universal.
Afinal, os eleitores puderam votar em paz e liberdade, depois de terem escutado, nos comícios e órgãos de comunicação social, as vozes do contraditório representado por uma dezena de prolíferos partidos de oposição ao Governo. E, contra as expectativas dos observadores ocidentais, compenetrados de que o paradigma da "verdadeira" Democracia (literalmente o poder do povo) é uma inspiração euro-americana, de génese greco-latina ? a "corte" do MPLA (histórico e/ou refundido) captou 80% dos votos democraticamente expressos! Só que não ficaria bem àqueles analistas, assumidos democratas, dizer depois que a maioria esmagadora dos eleitores angolanos, inclusive nas áreas onde tinham pontificado os grandes partidos adversários do MPLA ? a UNITA e a FNLA - se enganaram votando no partido do Governo ...
E não se enganaram. Porque logo num aspecto o desenvolvimento alcançado (sobretudo no domínio da Educação e da Cultura), depois que terminou a guerra civil, era indício de que, como ensinavam os mais-velhos, "amanhã será melhor": melhor, para as grandes massas populares salvas dos campos minados e das aldeias bombardeadas, recolhidas "in extremis" nas costuras das cidades desestruturadas pelo sobrepovoamento (em Luanda mais de 2 milhões); melhor também, para que "os meninos de rua" sem eira nem beira pudessem (como "os meninos do Huambo" da canção) voltar a sentar-se à roda da fogueira cantando à Bandeira e à Independência. Esses meninos são hoje mais de 5 milhões que vão às escolas do ensino primário, secundário e superior, distribuídas por todo o País e administradas por cerca de 180.000 professores, ainda, dos quais mais de 70% no ensino primário e o resto em 53 escolas secundárias, 16 instituições públicas de ensino superior e 13 privadas.
Certo foi que maioria do povo que votou no Partido do Governo, mesmo só como numa nova Sagrada Esperança, não se deixou impressionar com o uso que os governantes faziam do Poder, à sombra do qual se havia constituído uma classe privilegiada, rica e poderosa, de amigos e familiares do Chefe. Pois já diziam os "misosos": "Montas um elefante, tens admiradores à tua volta"; "quem obedece sempre comeu"...
Nada de novo: fora sempre assim, em todos os tempos e lugares do mundo... No antigo Livro da ética judaico-cristã, em que se perfila um Homem Novo, já se regista que prudentemente ninguém deverá sentar o inimigo a seu lado e que Jesus censurou os doutores fariseus pelo seu presunçoso e hipócrita apego ao formalismo da lei. Na "teleologia" tradicional angolana, prelecciona-se que "não se deve castigar um cão pelos defeitos próprios de todos os cães". Sempre a Moral foi moldada pelos costumes e as vontades...
Um professor português, conhecedor da literatura medieval do seu país e lembrando-se da crónica de Fernão Lopes sobre a Geração de Aljubarrota, perante a natureza do Poder constituído em Angola, tendo como suporte um grupo de escolhidos entre os filhos, civis e militares, da Geração da Luta pela Independência, não será acometido pelo furor farisaico daqueles "analistas" sem bastante memória nem ciência da sua própria História, e menos ainda da História de África, que aqui se desenvolve vertiginosamente, ao correr dos dias. Esses não poderão compreender que, num país tão "atrasado" como consideram Angola, o novo Governo saído das eleições de Setembro tenha dez ministros do sexo feminino ? quando no mundo "desenvolvido" ainda se discute o recurso a quotas para as mulheres ascenderem à governação...
Mas recordemos a crónica de Fernão Lopes:
Nos, com ousamça de fallar, como quem jogueta, por comparaçom, fazemos aqui a septima hidade, na quall se levamtou outro mundo novo e nova geeraçom de gemtes; porque filhos d'homeês e de tam baixa comdiçom, que nom compre de dizer, per seu boom serviço e trabalho, neste tempo forom feitos cavalleiros, chamamdo-sse logo de novas linhageês e apelidos.
Por fim, um "aviso" aos professores candidatos a navegantes e aos promotores da navegação: não se atrasem demasiado, fazendo jus ao apodo com que os nativistas brasileiros nordestinos, no século XIX, mimoseavam os portugueses - "pés-de-chumbo" - mofando do seu proverbial "devagar que tenho pressa". Perante o descenso que já se verifica nas escolas superiores portuguesas sobre os estudos africanos (e as Humanidades em geral), não é impensável que Angola tenha de recorrer a professores brasileiros para ensinar português.



Leonel Cosme

segunda-feira, 1 de março de 2010

Powerpoint - Como decidir com quem casar



Educação para o consumo em meio escolar


Os estilos de vida são uma das quatro grandes áreas de intervenção do Programa Nacional de Saúde Escolar, tendo, no contexto daquela, sido considerados doze subáreas prioritárias, muitas das quais temos vindo a abordar em crónicas anteriores. Este mês, concentrar-nos-emos na educação para o consumo.
Actualmente, vivemos numa sociedade de consumo, i.e., uma sociedade caracterizada pela extrema variedade e abundância de bens e serviços disponibilizados ao consumidor, em que se desenvolvem técnicas agressivas de estimulação ao consumo, nomeadamente a publicidade, o marketing e a facilitação do acesso ao crédito. As suas principais características são: 1) a uniformização dos gostos dos consumidores; 2) a cultura ter-se transformado numa "cultura de massa"; 3) a redução do ciclo de vida dos produtos, a denominada obsolescência planeada; 4) o lazer implicar consumo; 5) a compra ser por vezes encarada só por si como um divertimento; 6) a presença constante do marketing; e 7) a passividade do consumidor.
Podemos dividir em quatro as ideias-chave do nosso comportamento enquanto consumidores: 1) O consumidor busca obter o máximo de benefícios e prazer dentro dos seus recursos; 2) o ser humano é emocional e motivado por afectos conscientes e/ou inconscientes; 3) o ser humano é social e movido por regras do grupo (realização da vida social, integração social); e 4) o comportamento do consumidor é um dos fenómenos que mostra a estrutura do ser humano, no sentido em que, apesar da enorme variedade do comportamento humano, parece existir uma base comum e finita de objectivos e necessidades, que transparecem numa infinidade de modos de satisfazê-las.
O consumismo, conjunto de comportamentos e atitudes que levam ao consumo indiscriminado, excessivo e compulsivo de bens sem qualquer critério de racionalidade, origina graves consequências, tais como o sobre-endividamento das famílias, a degradação ambiental e os riscos para a saúde.
Nos países desenvolvidos, em grande parte devido à acção dos movimentos dos consumidores, a psicologia do consumidor está a evoluir no sentido do consumerismo. Por consumerismo entende-se a acção social permanente de grupos ou instituições que exprimem os interesses dos consumidores, acção essa conduzida a vários níveis para legitimar ou aprofundar os seus direitos, incluindo-se aqui a intervenção no mercado, com os objectivos de aperfeiçoar a qualidade de vida e valores sociais.
A responsabilidade social do consumidor consiste sobretudo numa consciência crítica perante os abusos gerados pela sociedade de consumo e no reconhecimento não só dos seus direitos como também nos seus deveres. Através de uma acção consumerista, o consumidor é levado a comportar-se como um consumidor esclarecido, recusando o consumismo.
Em meio escolar, quando integrada num projecto de intervenção, esta temática deve ter uma abordagem transversal, englobando, p.e., as disciplinas de português (conceitos e reflexão sobre consumo, consumismo, sociedade de consumo), matemática (exercícios relacionados com a prática do consumo), estudo do meio (estratégias do marketing, consequências da sociedade de consumo) e expressão plástica (manifestações críticas face à sociedade de consumo, através do desenho, pintura, teatro), entre outras. Anteriormente, como temos vindo a defender, deve ser explorado o auto-conceito, a resiliência e o empowerment, úteis à tomada de decisões conscientes, de modo a se desenvolverem atitudes e comportamentos que tenham em conta o equilíbrio entre as necessidades e os recursos e a consciência crítica enquanto consumidores, bem como um posterior treino das competências adquiridas.



Paula Aires Pereira
Enfermeira de Saúde Escolar na Unidade de Saúde da Batalha. Porto
Nuno Pereira de Sousa
Médico de Saúde Pública - ACES Guimarães