As famílias portuguesas gastam pelo menos 118 euros por mês em explicações para que os seus filhos recuperem de maus resultados ou simplesmente consigam as notas exigidas para entrar num curso superior.
Esta é uma das conclusões de um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro, no âmbito de um projecto de investigação XPLICA que visa estudar e analisar o mercado das explicações.
A comparação entre um estudo de campo sobre a oferta de explicações numa cidade portuguesa à qual chamaram «cidade aguarela» e um inquérito desenvolvido pelo próprio Ministério da Educação permitiu chegar ao valor dos 118 euros de gastos em explicações por mês.
Este valor parte do princípio de que cada hora custa 14,80 euros e que os alunos são apoiados por explicadores oito horas por mês.
Contudo, na amostra local, na tal cidade aguarela que incide em quatro escolas secundárias, os valores encontrados variam entre os 71 e os 140 euros para 48 por cento dos alunos inquiridos e os 141 e os 210 euros em 14 por cento dos casos.
Estes custos são assim um peso considerável na economia familiar de um grupo de alunos cujos pais são, na sua maioria, da classe média e média alta, o que, segundo os investigadores, põe em causa a equidade no acesso ao ensino.
António Neto-Mendes, um dos investigadores, explicou, em declarações à Agência Lusa, que quem mais procura as explicações são de facto os filhos das classes mais elevadas e com nível académico superior.
Nas quatro escolas estudadas, em todas existe uma predominância de mães com diploma de ensino superior.
As famílias com rendimentos mais elevados podem assegurar mais e melhores explicações.
As explicações, revela a investigação, não só mantêm e exacerbam desigualdades sociais, como também as geográficas uma vez que nas cidades do interior existe muito menos oferta.
O estudo de caso permitiu ainda revelar que existia uma percentagem relevante de alunos com explicações nas quatro escolas, uma média de 56,4 por cento.
«Há mais alunos a despender entre uma a três horas semanais em explicações, mas é mais significativa a percentagem daqueles que passam entre quatro e seis horas nessa actividade», refere o trabalho.
Nesta «cidade aguarela» existem 15 centros de explicações, cinco escolas de línguas e 132 explicadores domésticos.
Apesar do custo, as famílias e os alunos consideram que este apoio extra-escolar tem um impacto positivo directo no respectivo sucesso académico.
«Constatámos que a grande maioria dos inquiridos tem uma opinião muito positiva sobre a instrumentalidade das explicações para incrementar os níveis de sucesso académico», explicam os investigadores.
Todos estes alunos planeavam prosseguir estudos no ensino superior.
Matemática, Física, Química, Geometria Descritiva e Português são as disciplinas com mais procura no mercado das explicações.
O estudo revela que a sua relação com os exames nacionais de acesso ao ensino superior não é inocente.
Se tradicionalmente as explicações eram uma ajuda na recuperação de notas, agora o cenário mudou: há os alunos da nota 10 e os alunos da nota 20.
«Antigamente, era o aluno em dificuldades que procurava explicações. Agora há dois tipos de alunos: os que precisam para passar na disciplina e os que precisam de uma classificação que lhes garanta a entrada em cursos difíceis, como Medicina ou Arquitectura, por exemplo», explicou à Lusa António Neto-Mendes.
Tudo isto, adiantou, tem a ver com o carácter selectivo do acesso ao ensino superior, que acaba por criar dois campeonatos de explicações.
Aliás, foi exactamente o fenómeno dos campeonatos entre escolas que levou os investigadores a estudar o mercado das explicações. A ideia surgiu com o aparecimento dos rankigs das escolas e com as questões que a elaboração dos rankigs suscitou.
«Quisemos perceber melhor o fenómeno dos rankigs e acabámos por encontrar elementos não visíveis nesses dados e que se revelaram noutro fenómeno, o do crescimento do mercado das explicações», explicou.
E as explicações, adiantou, têm ajudado ao sucesso escolar. Não porque as escolas não tenham qualidade mas sim porque os alunos pagam treinos intensivos como se de um desporto de alta competição se tratasse.
«É um treino intensivo para o exame e é claro que esse treino tem consequências. Os alunos ficam melhor preparados para enfrentar o tipo de exigência que o exame coloca», acrescentou.
Lusa
Esta é uma das conclusões de um estudo realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro, no âmbito de um projecto de investigação XPLICA que visa estudar e analisar o mercado das explicações.
A comparação entre um estudo de campo sobre a oferta de explicações numa cidade portuguesa à qual chamaram «cidade aguarela» e um inquérito desenvolvido pelo próprio Ministério da Educação permitiu chegar ao valor dos 118 euros de gastos em explicações por mês.
Este valor parte do princípio de que cada hora custa 14,80 euros e que os alunos são apoiados por explicadores oito horas por mês.
Contudo, na amostra local, na tal cidade aguarela que incide em quatro escolas secundárias, os valores encontrados variam entre os 71 e os 140 euros para 48 por cento dos alunos inquiridos e os 141 e os 210 euros em 14 por cento dos casos.
Estes custos são assim um peso considerável na economia familiar de um grupo de alunos cujos pais são, na sua maioria, da classe média e média alta, o que, segundo os investigadores, põe em causa a equidade no acesso ao ensino.
António Neto-Mendes, um dos investigadores, explicou, em declarações à Agência Lusa, que quem mais procura as explicações são de facto os filhos das classes mais elevadas e com nível académico superior.
Nas quatro escolas estudadas, em todas existe uma predominância de mães com diploma de ensino superior.
As famílias com rendimentos mais elevados podem assegurar mais e melhores explicações.
As explicações, revela a investigação, não só mantêm e exacerbam desigualdades sociais, como também as geográficas uma vez que nas cidades do interior existe muito menos oferta.
O estudo de caso permitiu ainda revelar que existia uma percentagem relevante de alunos com explicações nas quatro escolas, uma média de 56,4 por cento.
«Há mais alunos a despender entre uma a três horas semanais em explicações, mas é mais significativa a percentagem daqueles que passam entre quatro e seis horas nessa actividade», refere o trabalho.
Nesta «cidade aguarela» existem 15 centros de explicações, cinco escolas de línguas e 132 explicadores domésticos.
Apesar do custo, as famílias e os alunos consideram que este apoio extra-escolar tem um impacto positivo directo no respectivo sucesso académico.
«Constatámos que a grande maioria dos inquiridos tem uma opinião muito positiva sobre a instrumentalidade das explicações para incrementar os níveis de sucesso académico», explicam os investigadores.
Todos estes alunos planeavam prosseguir estudos no ensino superior.
Matemática, Física, Química, Geometria Descritiva e Português são as disciplinas com mais procura no mercado das explicações.
O estudo revela que a sua relação com os exames nacionais de acesso ao ensino superior não é inocente.
Se tradicionalmente as explicações eram uma ajuda na recuperação de notas, agora o cenário mudou: há os alunos da nota 10 e os alunos da nota 20.
«Antigamente, era o aluno em dificuldades que procurava explicações. Agora há dois tipos de alunos: os que precisam para passar na disciplina e os que precisam de uma classificação que lhes garanta a entrada em cursos difíceis, como Medicina ou Arquitectura, por exemplo», explicou à Lusa António Neto-Mendes.
Tudo isto, adiantou, tem a ver com o carácter selectivo do acesso ao ensino superior, que acaba por criar dois campeonatos de explicações.
Aliás, foi exactamente o fenómeno dos campeonatos entre escolas que levou os investigadores a estudar o mercado das explicações. A ideia surgiu com o aparecimento dos rankigs das escolas e com as questões que a elaboração dos rankigs suscitou.
«Quisemos perceber melhor o fenómeno dos rankigs e acabámos por encontrar elementos não visíveis nesses dados e que se revelaram noutro fenómeno, o do crescimento do mercado das explicações», explicou.
E as explicações, adiantou, têm ajudado ao sucesso escolar. Não porque as escolas não tenham qualidade mas sim porque os alunos pagam treinos intensivos como se de um desporto de alta competição se tratasse.
«É um treino intensivo para o exame e é claro que esse treino tem consequências. Os alunos ficam melhor preparados para enfrentar o tipo de exigência que o exame coloca», acrescentou.
Lusa
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